A1 – Vol.3
Capítulo 53: Partida
— Nossa. Isso foi dramático ao estilo grego!
Uma pequena harpia feita de fogo puro se materializou, pousando no ombro de Yohane.
— É, eles ficariam orgulhosos com minha tragédia. — Yohane murmurou, mas não tinha tempo para discutir com Nikéia. Tinha que se preparar. Foi quando viu uma maleta ao lado da cabeceira da cama, com um bilhete. Ela a colocou sobre a cama e leu a caligrafia impecável. "Cuidado para não deixar suas roupas em outros continentes, Yohane. Assinado, Astrid."
Um sorriso de canto surgiu nos lábios de Yohane. Ela abriu a maleta: todas as suas roupas, do hotel em Londres e do castelo em Tórshavn, estavam ali. Rapidamente, ela se livrou do vestido de festa e vestiu seu traje tático à prova de fogo. Em seguida, parou, encarando a mala. Precisava de algo por cima.
— Você realmente pretende usar duas camadas de roupa? — Nikéia reclamou.
— A Rússia é bem fria — respondeu Yohane, fingindo que o frio realmente a incomodava. — E mais importante, eu não quero ficar nua de novo caso precise usar meus poderes.
— De novo... — Nikéia murmurou. — Bom, eu posso ter uma solução melhor. — A harpia alçou voo, girando em torno de Yohane e mergulhando em seu peito. Chamas alaranjadas cobriram o corpo da ruiva, transformando o traje tático em uma roupa casual: um boné, um moletom masculino largo, calça jeans rasgada e um tênis de corrida.
Yohane se encarou no espelho, surpresa. — Como você fez isso?
— Na Grécia Antiga eu costumava alterar minha forma de ave para um corpo humano. — A voz da Fênix ressoou na mente da ruiva. — A essa altura, é difícil dizer se somos entidades completamente opostas, então eu consigo facilmente alterar suas vestes. Não só isso, como todo a sua aparência.
— Tipo mudar a cor do meu cabelo?
— Você pensa pequeno, humana.
Nesse momento, as mesmas chamas novamente cobriram seu corpo. Mas dessa vez, alteraram muito mais que suas roupas. Quando Yohane se olhou no espelho, não conseguiu segurar seu queixo. Os olhos que se viam refletidos tinham uma cor verde esmeralda, como uma joia, entrando em contraste com seus cabelos de tom carmim escuro.
— Eu virei o Adam?! — Foi o que ela exclamou ao apalpar seus peitorais recém adquiridos. Seu rosto esquentou, a deixando totalmente envergonhada. Mas isso não a impediu, e ela lentamente levantou a camisa que estava vestindo, como quem espia por trás de uma cortina, observando a barriga definida que estava sendo refletida.
— Foco, Yohane! — disse Nikéia, trazendo a ruiva de volta ao seu corpo habitual e a puxando forçadamente de seu devaneio.
Yohane assentiu, balançando a cabeça enquanto voltava a focar em seu objetivo. — Certo. Vamos salvar minha irmã.
— E fazer o responsável desejar o conforto das caldeiras efervescentes de Hades.
A ruiva desligou a luz, se despediu de sua família na sala e subiu para o apartamento de Adam. Ao abrir a porta, viu Magda e Adam já prontos. Magda usava uma touca e um sobretudo preto, seu pingente dourado com um "V" se destacando. Adam, de óculos de grau e jaqueta de couro, lutava para enfiar o pé em um tênis sem desamarrar o cadarço.
— Não seria mais fácil desamarrar? — Yohane perguntou.
— Não... precisa! — Adam grunhiu, forçando o pé, que finalmente entrou com um som sutil de tecido se rasgando.
— É por isso que ele só ganhava sandálias de velcro quando era criança — disse Magda.
— Okay. Onde está a Tera? — Yohane perguntou, ignorando a cena.
—Usando o banheiro.
— Deuses precisam usar o banheiro? Ou melhor, você tem certeza que ela é uma deusa?
— Honestamente, me pergunto a mesma coisa desde que a conheci — disse Magda. — Ela só precisa em sua forma humana, e o banheiro é o único lugar onde ela a usa, por causa de... uma promessa antiga. Enfim, essa história não é minha pra contar. Tera, vamos!
A porta do banheiro se abriu e uma pequena feneco branca, cheirando a perfume feminino, saiu.
— Adam, querido. Por que você possui tanto produto feminino no banheiro? a raposa questionou, pulando no cabelo de Hoffman..
— Na verdade, também achei umas roupas femininas no guarda-roupa. — Magda comentou, olhando para o irmão.
Adam deu de ombros. — Eram da moradora antiga. Tenho preguiça de me livrar delas.
Ninguém acreditou, mas não havia tempo. Yohane entregou o cristal para Magda. — Gente... Obrigada por me ajudarem.
Adam e Magda sorriram.
— Você já fez o mesmo por mim — disse Magda, olhando para o irmão.
Yohane sorriu de volta e todos seguraram em Magda, que fez o cristal brilhar.
— Abby, eu estou indo — Yohane sussurrou, antes que uma luz ofuscante engolisse a todos, deixando apenas o cheiro de cinzas para trás.
***
O ar no laboratório era frio, estéril e pesado com o zumbido baixo de máquinas. No centro da sala, sob a luz branca e impiedosa de painéis de LED, duas macas de metal sustentavam os corpos de duas crianças.
Aisha e Abigail, inconscientes, pareciam meramente adormecidas, sem nenhum ferimento aparente em sua pele. Finos tubos translúcidos saíam de cateteres em suas veias, conectando-as a duas joias brutas que flutuavam em cilindros de contenção. A energia de um cristal verde-limão pulsava através dos tubos e adentrava o corpo de Aisha, enquanto a de um topázio dourado fluía para Abigail.
Um homem se aproximou, o som de seus sapatos ecoando no chão de concreto polido. Usava uma máscara de ópera branca e imaculada, que escondia completamente seu rosto, e um jaleco de cientista impecavelmente limpo. Ele parou entre as duas macas, olhando para cada uma das meninas, e seus ombros caíram ligeiramente. Seus lábios, visíveis sob a máscara, se moveram em um pedido de desculpas silencioso que ninguém, exceto ele, pôde ouvir.
— Não vai querer desistir agora, certo, Doutor?
A voz surgiu das sombras do canto da sala. Era suave e gentil, melodiosa como a de uma sereia, mas carregada de uma autoridade fria.
O homem se endireitou, a hesitação desaparecendo. — Não — ele respondeu, a voz firme, embora abafada pela máscara. — Se este é o preço para garantir que o mundo sobreviva; para que a Abigail sobreviva... eu pagarei.
A dona da voz se aproximou, saindo da escuridão. Seus passos eram suaves, seu caminhar era majestoso e deliberado. Em seu habitual vestido negro, longo e fluído, que contrastava dramaticamente com os cabelos completamente brancos e lisos, ela sorria enquanto observava as crianças deitadas.
Ela parou ao lado do Doutor, o sorriso nunca vacilando enquanto seus olhos negros passavam pela energia que pulsava nos tubos.
— É um pequeno preço a se pagar pela sobrevivência, eu diria.
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