A1 – Vol.3
Capítulo 52: Rubi e Safira
Yohane assentiu, o coração pesado, e seguiu Ruby pelo corredor. Ela empurrou a porta de seu quarto, fechando-a suavemente atrás de si. Ruby estava deitada de costas na cama, jogando uma bola de basquete para o teto e a pegando com um ritmo monótono e irritado.
Yohane cruzou os braços, respirando fundo para encontrar as palavras. —Obrigada.
Ruby pegou a bola, sem olhar para a ruiva. — Pelo quê?
— Por ter cuidado da minha mãe e da Abigail enquanto eu tava fora — disse Yohane, a voz baixa. — Agora, sabendo o que aconteceu... mesmo tendo meus motivos, eu me arrependo de ter ido embora. Mas fico feliz que, pelo menos, você estava aqui para elas. Principalmente porque... eu achei que você não ia querer mais saber da gente depois do que houve.
Ruby estalou a língua e deixou a bola quicar na cama, sentando-se.
— Eu fico até ofendida de você pensar uma coisa dessas — disse ela, finalmente encarando Yohane. — Independente da nossa briga, a tia Emília e a Abby são família pra mim. Eu sempre vou estar aqui se elas precisarem. Assim como eu estaria pra você, se você tivesse pedido. — A acusação em sua voz era inconfundível. — Mas desde aquela noite, você não mandou uma mensagem. Não respondeu as minhas. E o jeito que você me afastou no funeral da sua amiga Carolyn... bom, ficou bem claro que você não queria mais saber de mim.
Uma lágrima discreta e teimosa escorreu pelo rosto de Yohane. Ela se sentou ao lado de Ruby na cama. — Me desculpa — sussurrou. — Naquela noite... quando eu finalmente tomei coragem pra te beijar, depois de anos guardando aquilo... e você simplesmente foi embora sem dizer nada... eu fiquei com tanta raiva. Eu não queria mais olhar no seu rosto. Aí, pouco tempo depois, a Carol morreu e você apareceu no funeral... e eu descontei todo sentimento ruim que eu tinha guardado em você. — Ela fungou, a vergonha pesando em sua voz. — Eu me arrependi na mesma noite, mas estava envergonhada demais para me desculpar. Então, mesmo que não tenha mais valor agora... eu peço perdão.
Ruby olhou para Yohane, que tinha os olhos cheios de lágrimas acumuladas. Até ela, que tentava manter a pose de durona, sentiu uma lágrima escapar. — Sua idiota — disse ela, a voz embargada. — Era só isso que eu queria ouvir. — Sem aviso, ela a puxou para um abraço apertado, que terminou tão rápido quanto começou. Ruby se levantou, desconfortável com abraços longos. — Ah, espera a Ashley saber que fizemos as pazes.
— Ok, isso foi... mais rápido do que eu esperava.
— Yohane, você é minha melhor amiga. Não existe nada nesse mundo que vai fazer eu te odiar permanentemente. Contanto que você peça desculpas pelas merdas que faz. — Uma risada escapou dentre a voz emocionada, enquanto Ruby limpava os cantos dos olhos antes que mais lágrimas tentassem fugir.
Yohane sorriu, um alívio genuíno lavando sua alma, como se um peso tivesse sido tirado de suas costas. Ruby olhou para cima, controlando as emoções. — Mas, de novo, eu não entendo. O que faria você sair de casa e deixar a tia Emília e a Abigail sozinhas? E Londres? Pessoas morreram, Cat! O mundo inteiro acha que você é uma terrorista.
Yohane se levantou, tomando uma decisão. Não conseguia pensar em um motivo para esconder seu segredo.
— Você lembra dos meus pesadelos?
Ruby franziu a testa. — Aqueles sobre o fim do mundo, assassina de corações e tudo mais? Sim, lembro.
— Bom... — Yohane encarou Ruby nos olhos. — ...não eram simples pesadelos. — Ela ergueu o antebraço. Chamas alaranjadas brotaram de sua pele, dançando em espirais silenciosas, iluminando os arredores com um brilho quente.
Ruby perdeu a força nas pernas e caiu sentada na cadeira do computador, os olhos arregalados. — Que. Porra. É. Essa?! —, ela falou pausadamente, incrédula.
— Vai soar clichê. Mas eu descobri segredos que podem virar o mundo de ponta cabeça. E, de alguma forma, eles se conectam com meus pesadelos — explicou Yohane. — Por isso eu fui embora. Para entender mais, e garantir que eles não fossem alguma visão do futuro.
— Visão do futuro? — Ruby gaguejou. — Yohane, você teve pesadelos com o fim do mundo! Com você matando gente!
Yohane apagou as chamas com um gesto e cruzou os braços. — Se você tivesse visto as coisas que eu vi nos últimos oito meses, deixaria o ceticismo de lado.
Ruby apertou os olhos ao respirar fundo e apontou, com a mão trêmula, para a cicatriz no pescoço de Yohane. — Então... essa cicatriz não foi uma queimadura qualquer, foi?
— Eu morri, Ruby — Yohane disse após um longo suspiro. — A explosão no Brooklyn, os sequestros do ano passado... tudo foi bem maior do que o público ficou sabendo. E eu morri naquela noite. Mas esse poder, essas chamas, me trouxeram de volta. E eu estou determinada a entender qual o meu papel nisso tudo. Mas antes eu preciso encontrar a Abigail. E você não pode contar pra ninguém.
— Ei, relaxa — disse Ruby, processando tudo. — Não é como se alguém fosse acreditar em mim. Não sei nem se eu acredito. — Uma realização preocupante tomou conta de seu rosto. — Espera... então você acha que o sequestro da Abigail pode ser algo...
— Maior? Sim — Yohane completou. — Esse poder me fez criar inimigos, e meu rosto é mais do que público agora. Não pode ser coincidência a Abigail ser sequestrada logo depois do que houve em Londres.
— O que de fato aconteceu em Londres? — Ruby perguntou, mas Yohane balançou a cabeça.
— Eu vou te explicar tudo, em detalhes, quando a gente encontrar a Abigail. Mas agora, eu só preciso que você cuide da minha mãe mais um pouco. Tudo bem?
— Claro, pode deixar. — Ruby assentiu. Ela se levantou para sair do quarto, mas parou na porta. Virou-se, caminhou de volta até Yohane e, antes que a ruiva pudesse reagir, lhe deu um beijo curto e suave nos lábios. — E pra ser justo... esse é o meu pedido de desculpas por aquela noite — ela sussurrou, e saiu.
O rosto de Yohane esquentou, um rubor se espalhando por suas bochechas.
— Nossa. Isso foi dramático ao estilo grego!
Uma pequena harpia feita de fogo puro se materializou, pousando no ombro de Yohane.
— É, eles ficariam orgulhosos com minha tragédia.
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