O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Enrico Ferr


A1 – Vol.3

Capítulo 51: Há uma semana...

Alguns minutos se passaram. A atmosfera no apartamento ainda era pesada, espessa com uma dor silenciosa. Estavam todos reunidos na mesa da cozinha, xícaras de chá intocadas fumegando diante deles. Emília e Ricardo sentavam-se juntos, de mãos dadas sobre a mesa. Adam e Yohane estavam do outro lado, tensos. Ruby permanecia afastada, escorada na parede perto da geladeira de braços cruzados, seu rosto julgava sem disfarçar. Tera ficara do lado de fora, no corredor. A deusa era uma complicação que eles não precisavam explicar agora.

Magda, na lateral da mesa, quebrou o silêncio com a expressão focada.

— Sr. Garcia — ela disse, a voz calma, mas cheia de autoridade. — Pode nos explicar exatamente o que aconteceu?

Ricardo respirou fundo, os ombros pesados. — Foi há uma semana. Eu levei a Abigail e a Aisha para brincar no Central Park com o Hank, no início da noite...

— A Aisha também foi levada? — A voz de Yohane se elevou, a preocupação rasgando sua compostura.

Ricardo assentiu, o rosto contraído de dor. — Sim.

— Quem é Hank? — perguntou Magda.

Antes que Ricardo pudesse responder, um grasnado alto e indignado ecoou da sala. Um grande ganso branco, usando uma coleira azul, entrou na cozinha e parou em frente a Ruby.

— Esse é o Hank — disse Ruby de sua posição na parede, dando um petisco para o ganso doméstico.

Os olhos de Magda se arregalaram por um momento, e ela balbuciou um silencioso "uau" antes de se recompor.

— Bem, eu estava sentado no banco, observando as duas brincarem. — Ricardo continuou, a voz trêmula. — Estava tudo tranquilo, elas tinham acabado de comer cachorro-quente, estavam energéticas como sempre. Mas de repente, senti uma pancada na nuca. Ficou tudo preto. Quando acordei, um casal de adolescentes estava junto de mim, ligando para uma ambulância. Abigail e Aisha... já tinham desaparecido. — Ele passou a mão pelo rosto. — Fiquei horas procurando, revirando cada canto daquele parque. Chamei a polícia. E só depois consegui vir pra casa e... e contar para a Emília."

— Ela desmaiou — completou Ruby, a voz firme. — Quando soube, a tia Emília desmaiou. Sinceramente, se eu não estivesse aqui acho que ela nem estaria comendo direito.

— Contar para os pais da Aisha foi... difícil — disse Emília. — O Sr. Ahmed... acho que ele teria matado o Ricardo de tanto o bater se a Ruby, a Sra. Ahmed e eu não estivessem lá para acalmá-lo.

Magda ficou em silêncio por vários segundos, absorvendo a informação, seus olhos afiados fixos em Ricardo. — Você é o pai da Abigail, certo, Sr. Garcia?

Ele tentou um sorriso fraco, uma piada para quebrar o clima fúnebre. — Desde que ela nasceu em Bogotá, sim.

Magda pensou por mais um momento, o olhar calculista. Então, ela firmou as duas mãos na mesa e se levantou com uma nova determinação. — Eu tenho um plano — anunciou, olhando diretamente para Emília. — Fique tranquila Sra. Pride, nós vamos encontrar a Abigail. Isso eu prometo.

Ruby se desencostou da parede, aproximando-se com passos lentos e desconfiados. — E como pretende fazer isso? Aliás, por que deveríamos confiar em você em vez da polícia?

— É uma longa história — respondeu Magda, sem tirar os olhos de Emília. — Mas eu devo minha vida à Yohane. E eu não vou deixar a família dela ser destruída dessa forma. — Ela se virou para a ruiva. — Preciso falar com você lá fora. — Após frisar para Emília não se preocupar, ela saiu do apartamento.

Yohane se virou para sua mãe, a mão sobre a dela. — Nós vamos encontrá-la, mãe. Custe o que custar. — Ao se virar para a porta, murmurou tão baixo que apenas ela mesma pôde ouvir: "...e quando eu encontrar quem fez isso, ele morre." Por um segundo fugaz, seus olhos brilharam com um tom carmesim, a promessa fervendo em sua alma, se não tivesse sido exatamente ela quem falou aquilo.

Assim que a porta se fechou, a força de Yohane a abandonou. Ela escorregou com as costas pela madeira até se sentar no chão do corredor, abraçando os joelhos e afundando o rosto neles. Respirou fundo e olhou para Magda. — Você tem mesmo um plano, ou só disse aquilo pra acalmar a mim e a minha mãe?

Magda cruzou os braços.

— Eu conheço uma pessoa. Uma bruxa com quem já trabalhei na minha época das Virtudes. Não existe nada nem ninguém que ela não possa rastrear. E com uma semana de atraso, ela é nossa melhor chance, mas... — Magda hesitou. — ...pode ser difícil convencê-la a ajudar.

— Calma aí. Você já foi uma das Virtudes?! — Adam questionou, os olhos brilhando como os de uma criança que conhece seu herói. — Qual delas?!

— Não fui. Trabalhei com elas. Foco, Adam. — Magda cortou a animação do irmão de imediato.

Do lado deles, Tera rosnou, nervosa. — Podemos tentar qualquer coisa, menos aquela bruxa. Ter ela perto sempre traz problemas, Yohane! Acredita em mim.

— Estou aberta a sugestões, Tera — respondeu Yohane, a voz abafada pela tristeza. A raposa não respondeu. Com a falta de opções melhores, a ruiva se levantou, limpando o rosto com as costas da mão. — Onde a gente encontra essa bruxa?

— Rússia. — Magda respondeu, direta.

Yohane colocou a mão no rosto. — Meu Deus. — Ela murmurou, respirando fundo.

— Outra viagem? Honestamente, nem sei mais em que fuso horário meu corpo tá. — Adam reclamou, a voz cansada.

— Tudo bem... —, Yohane disse, tomando as rédeas. — Vão se trocar, peguem o que precisarem. Encontro vocês no apartamento do Adam em quinze minutos.

Todos concordaram. Enquanto Adam e Magda subiam as escadas para o andar de cima junto de Tera, Yohane respirou fundo e voltou para dentro. Seu olhar cruzou com o de Ruby, que apenas balançou a cabeça em desaprovação antes de dar as costas e caminhar em direção ao quarto.

— Filha — disse Emília, a voz suave. —Vai falar com ela. Não deixa aquela intriga destruir a amizade de vocês.

Yohane assentiu, o coração pesado, e seguiu Ruby pelo corredor. Ela empurrou a porta de seu quarto, fechando-a suavemente atrás de si. Ruby estava deitada de costas na cama, jogando uma bola de basquete para o teto e a pegando com um ritmo monótono e irritado.

Yohane cruzou os braços, respirando fundo para encontrar as palavras. — Obrigada.

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