O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Enrico Ferr


A1 – Vol.3

Capítulo 50: Tensão entre gemas

A chamada terminou de forma tão abrupta que Ruby ficou encarando a tela do celular por um segundo, confusa. — Desligou —, ela murmurou, a irritação começando a borbulhar. — Que porra a Cat tá fazendo na Dinamarca? — Uma mexa do cabelo negro repicado caia sobre o rosto, apenas para ser movido para trás da orelha em seguida.

Ao seu lado, o lamento de Emília recomeçou, um som de puro sofrimento que rasgava o coração. — É minha culpa — ela soluçava, o corpo tremendo nos braços de Ricardo.

— Eu nunca deveria ter deixado ela ir embora. Sem a Abigail e a Yohane... eu não sei se vou aguentar isso...

Ricardo a abraçava com força, sussurrando palavras de conforto que se perdiam na imensidão da dor dela. Era como tentar segurar a maré com as mãos.

Ruby guardou o celular no bolso e se ajoelhou em frente a Emília, pegando em suas mãos trêmulas.

— Ei, tia Emília. Olha pra mim — ela disse, a voz firme, mas gentil. — A Cat tá vindo. Tá bom? Ela vai chegar logo, e a gente vai encontrar a Abigail. E nós estaremos todas juntas de novo antes que você perceba.

Emília conseguiu um sorriso triste e aguado, um vislumbre de esperança em meio ao desespero. Foi nesse exato momento que a porta da frente do apartamento voou aberta com um estrondo, batendo contra a parede. Uma figura atravessou a soleira, a voz embargada de pânico gritando uma única palavra: "Mãe?!"

Yohane chegara. Emília se soltou de Ricardo e correu, movida por puro instinto. As duas se chocaram em um abraço desesperado, um reencontro de meses de saudade e medo. As lágrimas de Emília molharam o ombro da filha, um alívio momentâneo inundando seu peito. Apenas para, no segundo seguinte, ser substituído pela raiva. Ela se afastou e, com a mão aberta, deu um tapa estalado no rosto de sua filha.

— Onde você estava?! — Emília gritou, a voz rouca de tanto chorar. — Como você some por meses sem dar uma única notícia? Nós vimos você no jornal! No jornal, Yohane! Acusada de terrorismo! Você tem ideia do que foi isso pra mim? Pra Abigail?!

A marca vermelha no rosto de Yohane ardia, mas a dor da culpa em seu peito era infinitamente pior. — Mãe, eu... — ela tentou, mas engoliu as palavras. Precisava focar. — Eu vou explicar tudo, eu prometo. Mas agora... —

— Agora nada — interrompeu Ruby, aproximando-se com um olhar duro e desconfiado. Seus olhos passaram de Yohane para Adam e Magda, que permaneciam na porta, constrangidos. As roupas deles – um vestido de noiva elegante, um terno bem cortado – contavam uma história que contrastava brutalmente com a tragédia no apartamento.

— Os rostos deles também estavam no jornal. Enquanto sua mãe tava aqui se afogando no choro e sua irmã desaparecia, você estava curtindo uma festa de casamento, Cat?"

Yohane desviou o olhar, a culpa a sufocando.

— É uma longa história, Ruby.

— Longa história? — Ruby deu um passo à frente, a voz carregada de um desprezo cortante. — A Yohane que eu conhecia não tinha 'longa história'. Ela falava. Ela enfrentava. E ela nunca, jamais, abandonava a família dela. Agora você some sem avisar a pessoa mais importante da sua vida — ela apontou para Emília —, e aparece vestida como se viesse de um baile? O que diabos você estava fazendo na Dinamarca?

— Não estávamos na Europa, se é o que quer dizer. — Adam interveio rapidamente, dando um passo à frente. — Dinamarca é um bar em Hell's Kitchen, na verdade. Estávamos na festa de noivado da minha irmã mais cedo. — Ele colocou a mão no ombro de Magda de forma protetora. — Íamos fazer uma surpresa para a Emília quando a Yohane recebeu a ligação.

Ruby ergueu uma sobrancelha, o ceticismo estampado em seu rosto. Ela não comprou a mentira nem por um segundo. — E sua irmã resolveu se casar enquanto o rosto dos três estava estampado em cada noticiário do planeta, Adam Hoffman?

— Como você sabe... Ok, entendi. Como a Yohane falou, o que houve em Londres é uma longa história.

Ruby cruzou os braços, um sorriso falso e frio se espalhando por seus lábios.

— Então vocês estavam, sim, na Europa. — Sua atenção voltou para Yohane como um chicote. — Espero que suas férias tenham valido a pena. Sua mãe me ligou há um mês pra eu vir fazer companhia pra ela e pra Abigail. E eu estou tentando falar com você há uma semana. Desde que...

Os olhos de Yohane se arregalaram em puro horror. — Uma semana? —, ela sussurrou. — A Abigail... desapareceu há uma semana?"

Emília, ao lado dela, confirmou com um aceno de cabeça, a força abandonando seu corpo enquanto ela desabava no sofá, o rosto entre as mãos. A culpa atingiu Yohane como uma onda, roubando-lhe o ar.

— Pois é... — Ruby continuou, implacável. — E como vamos pedir ajuda da polícia agora? Hein? Com três dos terroristas mais procurados da Europa parados no meio da sala?

Foi a gota d'água. A dor de Yohane se transformou em fúria. Ela avançou e agarrou o colarinho da jaqueta de Ruby, puxando-a para perto. — Você não sabe de nada! — ela rosnou, o rosto a centímetros do de sua amiga. — Você não tem ideia do que eu passei pra proteger esta família! O motivo de eu ter ido embora!

— E como isso tá indo até agora pra você? — Ruby retrucou, o olhar desafiador.

Yohane cerrou o punho livre, pronta para socá-la, mas a mão de Adam agarrou seu pulso com firmeza, parando o golpe. Ele se colocou entre as duas, afastando-as.

— Ei, chega! Isso não vai ajudar em nada!

Ruby apenas ajeitou a jaqueta, lançou um último olhar de decepção para Yohane e, sem dizer mais nada, deu as costas enquanto ia para a cozinha.

A tensão se dissipou, e com ela, toda a força de Yohane. As pernas fraquejaram e ela desabou de joelhos no chão, o rosto finalmente se contorcendo em lágrimas que agora caiam livremente.

— Ela tá certa... Eu não deveria ter ido embora. Mãe, me perdoa...

Emília se ajoelhou, envolvendo a filha em seus braços. Em meio aos próprios soluços, ela tentava acalmar Yohane, afagando seu cabelo.

— Tudo bem, meu amor. Nós vamos encontrá-la. Nós vamos encontrar a Abby.

Yohane se agarrou à mãe, chorando em seu ombro como uma criança perdida.

Do outro lado da sala, Ricardo se levantou do sofá, o rosto cansado, mas resoluto. — Eu vou preparar um chá — ele disse com a voz calma. — Assim podemos atualizar vocês de tudo o que aconteceu.

Em meio às lágrimas, Yohane levantou a cabeça do ombro da mãe e olhou para Ricardo, seus olhos vermelhos e inchados, a confusão nublando sua dor. Com uma inocência genuína, ela perguntou: — Ricardo? Desde quando você está aqui?

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