O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Enrico Ferr


A1 – Vol.3

Capítulo 49: Partindo ao resgate

O silêncio do outro lado da linha foi a pá de cal. — Cat, a Abigail… ela foi sequestrada. — A voz de Ruby confirmando a tragédia foi apenas um eco distante, abafado pelo som do sangue que pulsava nos ouvidos de Yohane. O mundo ao seu redor perdeu o som e a cor, restando apenas o desespero.

Então, o frio da noite dinamarquesa recuou, empurrado por uma onda de calor que emanava do corpo da ruiva. Um chiado sutil preencheu o ar, o som da neve derretendo em poças escuras sob seus saltos. Um vapor denso começou a subir de sua pele, como se a angústia em seu peito tivesse se transformado em uma fornalha; sua força fez seus cabelos e os de Astrid balançarem, além de lançar a tiara da nova rainha para longe. O celular amoleceu em sua mão como cera, os componentes eletrônicos derretendo e se fundindo em uma massa disforme de plástico e cobre que caiu com um baque surdo na neve molhada.

Seus olhos, faiscando com uma fúria carmesim, se cravaram em Astrid.

— Você… — A voz de Yohane era um rosnado baixo e perigoso. — Você sabia? Você sabia disso?!

Astrid manteve a compostura, seu rosto era uma máscara de seriedade melancólica. — Sim... Eu estava tentando te preparar para essa notícia, e as próximas que virão.

— Me preparar pra notícia? Minha irmã não é uma manchete, Astrid! — O grito de Yohane rasgou a atmosfera festiva da clareira. A música parou abruptamente. Os casais dançantes congelaram no lugar, os sorrisos morrendo em seus rostos. Todos os olhares se voltaram para a mesa do buffet, onde a rainha recém-casada e a nefilim estrangeira se encaravam como dois polos opostos prestes a colidir.

Adam e Magda se afastaram da pista de dança, correndo em direção a elas. —Ruiva, o que foi? — Adam perguntou, a preocupação evidente em seu rosto.

E assim, a raiva no corpo de Yohane se esvaiu tão rápido quanto veio, deixando para trás um vácuo preenchido por um desespero avassalador. A força que a mantinha de pé pareceu abandoná-la. Seus ombros caíram e um soluço seco escapou de sua garganta. Ela tentou chorar, mas o calor intenso que ainda irradiava de seu corpo evaporava cada lágrima no instante em que tocava sua pele.

— A Abigail… — ela conseguiu dizer, a voz embargada. — A Ruby ligou. Sequestraram a Abigail.

O choque atingiu os irmãos como um soco. A cor sumiu do rosto de Adam. — O quê? Como?

— Eu não sei! — Yohane disse, passando as mãos trêmulas pelo cabelo. — A gente tem que ir. Voltar para Nova York. Agora!

— Ruiva, calma — disse Adam, tentando ser a voz da razão. — Não podemos simplesmente pegar um avião. Somos fugitivos internacionais, lembra? Seríamos presos antes mesmo de embarcar.

— Merda! — ela gritou, a frustração a dominando novamente. Então, uma ideia. — Tera! — ela chamou. Em um piscar de olhos, a pequena raposa de pelos brancos correu de trás do buffet, olhando para cima com seus olhos dourados. — A gente tem que ir pra casa. Faz aquilo que fez quando trouxe a gente pra cá, por favor!

A raposinha se encolheu, sem jeito, as orelhas baixando. — Eu... não posso, Yohane. Não agora. Meu poder vem diretamente do sol, o que significa que não consigo usar nenhuma magia durante a noite. Se você puder esperar até amanhecer...

A resposta foi um gatilho para a crueldade fria nascida do pânico. — Esperar?! Afinal, qual é a sua utilidade, sua deusa de merda?

— Yohane! — Magda interveio, a voz firme como aço. — Chega. Se acalma. — Ela segurou os ombros da ruiva, forçando-a a encará-la, só pra remover suas mãos de imediato por conta do calor. — Nós vamos encontrar a Abigail. Eu te prometo isso. Mas você não pode sair descontando na Tera ou na Astrid! Primeiro, vamos descobrir uma forma de irmos para sua casa, ok?

Yohane assentiu, os olhos carmesim retornavam ao seu tom oceânico habitual enquanto a garota tentava se acalmar.

— Não se preocupem com a volta — disse Astrid, sua voz calma cortando a tensão. Ela se abaixou e puxou uma caixa preta, de madeira polida, de debaixo da mesa. Ao lado dela, colocou uma rocha de cristal opaco que pulsava com uma luz interna tênue. — Um Cristal de Transporte. Levará vocês para qualquer lugar que desejarem, imediatamente.

Ela moveu a pedra e a caixa na direção de Yohane. — E quando tudo isso acabar, entregue esta caixa para Abigail, por favor.

Yohane olhou para a rainha, desconfiada. — E por que eu deveria confiar em você?

Astrid permaneceu em silêncio, sua expressão indecifrável. Não havia resposta que pudesse dar.

— Você não precisa — disse Magda, com uma convicção inabalável. — Mas confia em mim.

Yohane respirou fundo, o vapor ao seu redor diminuindo. Ela olhou para Magda, depois para Adam, e assentiu lentamente. Pegou a pedra, que era fria ao toque. — Se você sabe o que vai acontecer, por que não me diz como salvá-la?

— A Visão de Odin não funciona assim — explicou Astrid. — Eu apenas vislumbrei o início da tempestade, não como ela terminará. E, de qualquer forma, seria perigoso demais para você saber muito sobre o seu próprio futuro. Cada palavra que eu dissesse poderia solidificar um destino que ainda pode ser mudado. Agora vão. Cada segundo conta.

Yohane se virou para a pequena raposa, a culpa pesando em seu peito. — Tera... me desculpe. Eu não...

— Tá tudo bem, Yohane. Sinceramente, eu já fiz coisa pior por muito menos. Agora vamos salvar sua irmã.

Com um último aceno, Yohane agarrou a mão de Adam e Magda, enquanto Tera pulava em seu ombro. Ela apertou o cristal, fechou os olhos e imaginou com toda a força de sua mente a fachada de seu prédio em Manhattan, o cheiro de asfalto molhado e a sensação de estar em casa.

Um brilho ofuscante e silencioso os engoliu. Por um instante, eles se tornaram silhuetas de pura luz e então desapareceram, deixando para trás nada além do cheiro de cinzas no ar gelado.

A festa havia terminado. Enquanto os convidados se dispersavam em silêncio, Heimdall se aproximou de Astrid, que observava o local onde o grupo havia sumido.

— Nenhum mortal deveria ter que suportar o fardo que aquela garota está prestes a carregar — comentou o deus, o olhar preocupado que tivera antes, agora carregado de pesar.

Astrid não se virou, seus olhos fixos no horizonte distante. — Eu concordo — disse ela, sua voz carregada de uma angustia pelo futuro. — Mas para que o mundo sobreviva ao que está por vir, a mente e o coração de Yohane Pride devem ser destruídos.

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