Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 15

Capítulo 145: OPERAÇÃO MOTIM.2 (Luta nas Nuvens)

DIA 1, DISTRITO DA RESERVA — TARDE GÉLIDA. 

Por trás da colina, os mirins acompanhavam a batalha através dos estampidos, pouco abafados pela tenda onde estavam. Nakama ainda encontrava-se desmaiado na mesa, Yachi ao seu lado de pé. Kazuya permanecia deitado com as pernas erguidas, olhar fixo no teto, porém Jin espiava por uma abertura pequena o que sobrou dos Heishis patrulhando o acampamento, quando Effei voltou correndo para dentro. 

— Como tá lá fora? — Jin fechou a tenda.

— Não deve ter cinquenta Heishis depois que o último pelotão partiu. Todo mundo foi para a batalha — outro estrondo sacudiu o acampamento — E mesmo assim aquele capitão maluco ainda fica.

— Aquele Yamiyo? — Yachi lembrava-se — Ele tem alguma implicância com o professor, tá na cara. Esses Heishis ainda guardam algum rancor da Guerra do Sangue. Tudo vira motivo, eu só queria que alguém visse isso.

— O professor cortou a orelha de alguém sem motivo algum — respondeu Kazuya.

— Você acha que eles tão certos?! — Effei colocou as mãos na cintura, se projetando para cima de Kazuya no chão.

— Acho — deu as costas.

— Ele deve ter algum motivo — Jin espiou de novo para fora da tenda — Às vezes ele só não confia na gente ainda. Precisamos mudar isso.

— Você tá mesmo sugerindo o que tô pensando? — Yachi se virou para os três mirins — Tomio já não falou que somos muito novos para entender o que se passa? Ele vai mandar a gente embora.

— Tomio nunca diria isso para mim.

— Talvez ele tenha dito aquilo para gente em Doa pela emoção do momento. As pessoas podem mentir — Kazuya explicou — ou se enganar. Não somos Senshis e precisamos entender o nosso lugar.

— Qual é? E ele? Tem alguma escolha? O cara tá preso — Effei chutou chão — Ou ele confia na gente ou essa tal ameaça nunca é descoberta.

— Eu quero ficar com meu irmão — disse Yachi — Se ele acordar, eu vou ter uma conversa muito séria com ele.

— Fechou. Somos só nós dois, Jin — Effei bateu nas costas do mirim.

— Se Kazuya vai ficar, você não precisa ficar, Yachi — questionou Jin — Em três fica mais fácil.

— Você faria isso? — perguntou Yachi, dando um leve chute em Kazuya no chão.

Kazuya não disse nada. O rapaz apenas ficou de pé, e sentou-se na mesa beirando os pés de Nakama.

— Tá bom, qual o plano? — perguntou Effei.

Quando os batedores de Kurome deixaram o acampamento após aprisionar os Senshis, Yamiyo ficou sozinho com seus homens.

— Eles piraram de vez — um Heishi comentou — E logo no quintal de casa.

— Pirar? — Yamiyo respondeu — Eles sempre foram assim. Vocês lembram da Guerra do Sangue.

— Pensei que fosse um Chisei promovido, capitão.

— E sou, mas o Império contratou muitos mercenários. Eu tive o azar de ter ido para batalha errada — desamarrou as abraçadeiras, mostrando o antebraço queimado — Meu escudo derreteu nas minhas mãos. Isso foi depois que declaramos rendição. Esses Aka não mudaram, nós, sim.

— Saudades do antigo imperador? — os Heishis riram.

— Saudades dos líderes de verdade — se voltou para colina — Kurome é fraco, como toda a laia dos Tsuki. 

— Mas até que não mudou muita coisa. Ainda somos mercenários, só ganhamos um sobrenome. Olha só para você, lutando ao lado e obedecendo ordens de quem não gosta. 

— Estão enganados. Meu desprezo nunca foi sinal de recusa. Eu escolhi vir para cá.

Os Heishis trocaram olhares confusos.

— A morte de Uchida foi um sinal de força do imperador Satoru. Kurome é um Tsuki, ele está a favor do governo porque esgotou suas opções. 

— E você? De que lado está?

— Do vencedor. Satoru em breve terá o exército nas suas mãos e eu estarei ao seu lado, provando minha superioridade — uma fumaça subiu na montanha — O que é isso?

O alarme soou.

— Senhor Heishi — Effei corria na sua direção — fogo nas colinas. Acredito que estamos sendo atacados.

— A retaguarda não viu isso? Como passaram por eles? — questionou Yamiyo.

Juntos o grupo iniciou a subida até a torre do alarme. Quando chegaram, Yamiyo encontrou somente um pequeno monte de lenha sendo queimado ferozmente, cheiro de óleo permeava o ar. 

— Isso não era ataque! — gritou para o homem na torre do alarme.

— Que ataque? Eu estava no banheiro.

— Então você não soou o alarme? — questionou Yamiyo.

— Foi isso que me fez voltar — ajeitou as calças — Não tinha sido você?

Yamiyo soltou um grunhido forte, pisoteando seu caminho de volta para a descida às pressas, seguido por seus homens.

A gaiola contendo os Senshis estava finalmente abandonada. Tomio estava no chão, apoiado nas grades, quando Jin saiu de um arbusto:

— Professor, como você está?

— Você, aquele garoto — o Senshi olhou ao redor — o que faz aqui?

— Eles te bateram muito? — acompanhou o olhar do professor, parecia que estava procurando por algo — o que fizeram com você?

— Essa espada — apontou para a arma na cintura de Jin — Anda, me tira daqui.

— Me responde primeiro! O que deu em você? 

— Eu sou seu superior — esticou o braço para pegar Jin, mas o garoto rastejou para trás — Me tire daqui ou haverá consequências!

— Professor, esqueceu do Arata? 

— A-rata — olhou para as mãos — Sim, eu lembro…

— Pois é, se você continuar assim vai ficar difícil impedir você de acabar igual. Qual é, a gente saiu de coisa pior em Doa. Confia em mim, como eu confiei no senhor.

Envolvido pela armadilha incandescente de Mayuri, Onochi caía vertiginosamente para o campo enquanto o calor atravessava suas roupas e rasgava sua pele. Uma verdadeira tumba flamejante até que de repente, sua queda foi desacelerada. Após flutuar, seus destroços foram dissipados, iluminando o céu nublado por poucos segundos.

Mayuri assistiu sua jogada se transformar em munição para o inimigo, na medida em que os destroços eram guiados pelos ventos do Shiro na direção dela e dos pretorianos. Apesar disso, a artilharia improvisada de Onochi terminou presa na órbita do campo de força da súdita:

— Vocês, do fogo, me ajudem.

“Essa foi por pouco. Ela me transformou num atrator dessas coisas por um instante, assim como ela só que com uma força muito maior”, raciocinou Onochi, despejando o último destroço. “Alguns objetos orbitam de perto, outros de longe, as concentrações de terra, o que houve comigo, são só projeções da mesma técnica de campo de força. Se desfiz a armadilha, posso aplicar a mesma coisa com ela. Tudo que preciso é chegar mais perto.” 

O fogo da chuva de terra lançada contra Mayuri, era manipulado pelos pretorianos e alimentado de volta ela, gerando uma imensa bola flamejante sob a palma de sua mão. 

Mesmo distante, Onochi mal podia manter seus olhos em contato com a luz que vinha em sua direção. Guiado somente pelo calor que se aproximava, suspirando fundo, ele uniu as mãos em um sussurro a si mesmo:

— Kazedamu. 

A rajada de ventou canalizou a friagem daquele dia, costurando as chamas até finalmente dissipá-las. Depois, Onochi alçou voo para além por cima dos inimigos, tomando para si o vento residual do seu último golpe. Dessa vez, com um pequeno espaço entre as mãos ele atacou novamente: 

— Kazeyari!

Lanças de vento foram disparadas da ponta de seus dedos, acertando as plataformas que sustentavam os pretorianos de fogo na órbita de Mayuri. Ela ainda tentou se defender atraindo rochas para si, mas o ataque perfurou o bloqueio atingindo a súdita para fora de seu campo de força. 

Eles ainda se recuperavam do golpe, quando o irmão de Imichi pousou com as palmas de sua mão direcionadas ao solo:

— E por último — a aura de Onochi cresceu, um vento raiou ao céu em sua posição — Kazeuzu! 

Um vendaval circundou seus inimigos, criando uma espiral de vento que raiava até o céu por uma cauda, como um tornado invertido. Os pretorianos foram arrastados pelo redemoinho, ao passo que Mayuri usava sua técnica para se manter pesada e imóvel no olho do furacão. 

“Bem aquilo que se espera de um Shiro. Isso ainda tá longe de acabar.”, percebia erguendo sua mão para o alto. “Ele calculou bem os riscos. Sabe que nunca usaria os ventos contra ele, e até eu absorver tudo levará tempo. Mas isso não é tudo que posso fazer” 

Onochi notava o brilho da aura de Mayuri por trás do véu do tornado embranquecendo, quando suas mãos foram presas pela terra que se projetava do chão até seus pulsos. Pretorianos de terra o cercavam.

“Ainda há pretorianos de fogo presos no vórtice. Ganhei tempo com kazeuzu, mas ela não vai durar muito tempo lá dentro. Preciso usar isso!”. 

A terra em suas mãos foi soprada de dentro para fora, permitindo que Onochi voltasse a flutuar. Os pretorianos de terra tentaram segui-lo por meio de plataformas de terra, porém o tornado era forte demais. Surfando em seus ventos, o Shiro recolheu os pretorianos de fogo, os arremessando no meio dos seus perseguidores.

Aterrissando no meio deles, Onochi deixou que ativassem suas auras até que uma enorme força incorpórea pressionou sobre seus corpos. Nenhum pretoriano podia se mover, ao mesmo tempo que suas auras eram sufocadas do seu brilho, desaparecendo completamente.

Os Kuro estavam todos exaustos, caídos no chão e suados.

— Que poder é esse? — eles sacaram espadas — O que você fez?

— A última vez que usei isso em batalha foi há muitos anos — respondia Onochi aos Pretorianos que se levantavam com armas nas mãos — criei uma distorção invisível de espaço ao redor de vocês, esticando o tempo que seus corpos experienciam. O que para mim foram breves segundos liberando energia, para vocês foram dias. 

— Seu traidor desgraçado! — gritou o da dianteira, avançando com sua espada. 

Com um kazedamu discreto, ele soprou seus inimigos enfraquecidos para longe. Nenhum tinha forças para se levantar mais: 

— Eu nem ao menos o conheço para ter te traído. 

Após derrotá-los, Onochi notou que as três enormes rochas que antes sobrevoavam sob a súdita desceram ao solo. Uma vitória parcial, se não fosse por Mayuri, se atirando para fora do tornado com o vento que absorvera. De posse do elemento do Shiro, ela pairou no ar arrastando duas das formações de rocha caídas com seus ventos.

“Essa não”, Onochi se lançou no ar para alcançá-la. “Ela acumulou o tornado só o suficiente para armar um contra-ataque. Eu não posso deixá-la lançar essas coisas de volta no ar”

Os dois projéteis enormes foram atirados ao céu, sobrevoando as forças aliadas, com endereço na retaguarda da colina. Onochi interceptou um deles, mas foi atingido em cheio por sua velocidade, o afastando da sua trajetória. 

Um grande vendaval empurrou os projéteis em uma velocidade meteórica contra a base da aliança. O impacto estremeceu toda a Reserva. 

— Não! — o grito de Onochi chamou atenção dos soldados da aliança, que avistaram horrorizados o ataque na retaguarda. 

Com o restante do vento absorvido, Mayuri ainda disparou na direção de Onochi, ainda se recuperando da colisão com um dos projéteis, e o atirou de volta para o chão. 

No final das suas reservas de vento, ela aproveitou para voltar suavemente para o chão:

— Roubar o primeiro meteoro foi uma boa ideia, gorducho! Mas a experiência me faz uma ladra melhor. estou a um passo à frente de você nisso. 

Enquanto se recompunha, Onochi reparou que a última concentração de terra havia voltado a orbitar Mayuri:

“Eu nunca fui o objetivo dela”, olhou para trás, a fumaça subir do acampamento atrás da colina. “Espero que possam me perdoar."

— Sua fome por mortes — a aura de Onochi cresceu — acaba aqui.

De volta ao acampamento, Tomio havia escutado um nome familiar que acalmou sua inquietude. As palavras de seu aluno trouxeram um pouco do homem que conhecera, mas tudo foi posto a perder, assim que escutou passos apressados na grama. Alguém se aproximava aos berros:

— Cadê você, pirralho? Pensa que pode me enganar?

— Rápido — Tomio voltou a si — Me dê sua espada.

— Mas professor…

— Agora — sua voz atraiu Yamiyo.

De repente, uma grande formação de terra e rocha fez sombra no acampamento inteiro. Um verdadeiro meteoro, se desfazendo em pleno ar enquanto se precipitava sobre todos ali. Em poucos segundos tudo que podia-se ver do acampamento era uma grande nuvem de poeira subindo por cima da colina.

Jin acordou atordoado. Cabeça latejando, visão turva, corpo balançando. Quando seus olhos conseguiram conjurar imagens, estava nas mãos de Yamiyo que o sacudia:

— Cadê ele? Anda, seu moleque, para onde ele foi?

— Ele… quem? — olhou para o lado, a gaiola havia sido destruída, alguns foram amassados por pedras mas a maioria fugiu — professor Tomio!

— O que pensa que estava fazendo! — gritou Yamiyo.

Levando as mãos à cintura atrás da sua espada, Jin não a sentiu. Alguém a tomou.

— E-Eu não sei — confessou o mirim — Só queria conversar.

Yamiyo o jogou de volta no chão. Retomando a consciência, Jin pôde ouvir os gritos dos outros sobreviventes do impacto. Não demorou para um dos seus colegas alcançá-lo.

— Jin — Effei se agarrou a ele, suas roupas estavam rasgadas e sujas de terra — eu acordei o Yachi não tava mais comigo. Você viu ele?

— Ele pode ter ido até Nakama.

Cambaleando de volta à sua tenda, tudo que havia sobrado eram os panos rasgados sustentados pela única haste ainda de pé. Kazuya rastejava para fora, com um corte ainda aberto no rosto e sem espada na cintura.

Ao mesmo tempo, Yachi disparava perseguindo uma figura que sumia na névoa de poeira:

— Nakama!

— Effei vá atrás deles — disse Jin, puxando Kazuya para fora — O Nakama, ele…

— Algo caiu em cima da gente. Ele acordou logo depois, como se nada tivesse acontecido.

Chamados dos Heishis atraíram o olhar dos mirins. Membros do motim de mais cedo, atacando os sobreviventes do ataque surpresa. Compensando por seu atraso, Kazuya e Jin perseguiram seus outros dois companheiros, encontrando Nakama em disputa com seu irmão mais velho novamente. 

— Eu não quero te machucar — Yachi batia espadas com ele — Mas você tem que parar com isso.

— É a única maneira — tomou impulso para um golpe que jogou Yachi contra pedra no chão — Eu não vou parar, por ninguém.

— E pela mãe e o pai? — ele recuava — Não vai parar por eles também?

— Mãe… Pai…

O irmão mais novo de Yachi contemplou a possibilidade de abandonar sua espada até que a visão de seus outros companheiros mirins vindo na sua direção afastou a ideia. Junto com os outros Senshis ele correu para a floresta.

— Nakama — Yachi ainda se levantou para persegui-lo — Volta aqui. É o seu irmão que tá te chamando, seu idiota! — caiu de joelhos no caminho — Isso já perdeu a graça. 

— Tomio escapou também — Jin agachou para confortar seu amigo — Ele teve o mesmo lapso de memória quando mencionei o professor Arata — essa loucura me lembra...

— E agora adianta? Procurar eles e lutar essa batalha é impossível — socou o chão — Quem fez isso vai matá-los ou vai mandar todo mundo na direção da Guarda Pacificadora. 

— Isso é tudo culpa de vocês — uma voz chamou a atenção dos quatro mirins.

Rapidamente os garotos foram cercados pelos Heshis de Yamiyo.

— A gente? — dizia Effei — Da última que vi foi uma rocha que caiu em cima de nós para virar esse pandemônio.

— Vocês acham que são tão espertos — parou na frente de Effei, o encarando de cima para baixo — Como se essa coincidência fizesse sua tentativa de libertar os Senshis passar despercebida por mim. Prendam-nos. 

— Por que vão me levar junto? — Kazuya respondeu — Não participei de nada.

— Seu pilantra — disse Effei empurrando Kazuya, que mal se moveu. 

— E-é, o Kazuya nunca tomou parte da nossa fuga — exclamou Jin — Na verdade ele nem sabia. Você nem viu ele junto com a gente antes de tudo cair.

— Até que os responsáveis por isso sejam pegos, toda a sua turminha é minha suspeita — disse Yamiyo, enquanto os Heishis amarravam os mirins — Esse lugar precisa de uma liderança forte. Eu serei ela. 

Onochi e Mayuri se caçavam no ar, após o ataque ao acampamento, quando o Shiro reparou na movimentação das tropas aliadas. Em vez de se afastarem da órbita da súdita, eles convergiram para o mestre de Yanaho. Sua oponente também reconheceu os reforços, disparando até eles, porém recebeu um kazedamu que a desviou temporariamente.

— Ei, vocês — Onochi baixou a altura da sua levitação para avisar — Se afastem! 

Mesmo assim, o campo de Mayuri se expandiu ao ponto de puxar todos para perto dela. No caminho, pretorianos de terra faziam do campo um mar de espinhos para empalar suas vítimas. 

Onochi não perdeu tempo, soprando outro kazedamu para trás, se lançando à frente dos seus companheiros e outro para destruir as lanças. Senshis e Heishis caíram rolando no chão. 

— Por que estão aqui?  — Onochi pousou na frente deles. 

— O Comandante Kurome está sob ataque na retaguarda — explicou um Heishi com olhos tingidos de preto — ele precisa da sua ajuda.

— Meu prato está um pouco cheio agora.

Mayuri desceu para o chão, puxando uma espada de um dos membros da Guarda Pacificadora com seu campo. Os pretorianos se alinharam ao lado dela.

— Contra quem, ou o que estamos enfrentando, senhor? — questionou o Heishi.

“Ela não quer assumir o risco de atraí-los de novo comigo aqui. Isso é bom, porque eu já vi tudo que ela pode fazer. Ela, por outro lado…”, concluiu juntando as mãos. 

— Quantos arqueiros vieram? — olhou para trás, vendo algumas dezenas de homens se alinharem — Preparem uma saraivada, agora! 

Mayuri disparou como um foguete, sendo logo atingida por um kazeyari. Tendo absorvido a técnica ela rodopiou no ar com seu impacto tempo o bastante para permitir que os arqueiros disparassem. Ela ainda tentou devolver a lança de vento, na intenção de dispersar alguns projéteis, porém Onochi passou na frente, redirecionando seus ventos.

Sem alternativas, ela lançou mão da última concentração terra que tinha. Algumas flechas sobrevoaram a barreira, atingindo a Guarda Pacificadora. Aproveitando a visão ofuscada da súdita, Onochi desferiu mais tiros de Kazeyari, que lascavam a proteção de Mayuri aos poucos, além de pregá-la em posição, permitindo que a aliança flanqueassem as forças Kuro.

— Ninguém passa — gritou Mayuri, expandindo novamente seu campo.

Não somente os subordinados de Onochi em terra foram pegos, como o segundo disparo de flechas perdeu velocidade parando no ar. O próprio Shiro também se viu preso na teia de forças projetada por sua oponente mais uma vez.

— Eu acho que você tem que aprender mais sobre mim — disse Mayuri, empurrando seu meteoro na direção dele.

Ao liberar a concentração de terra para fora de sua órbita, Mayuri disparou um verdadeiro canhão que mandou Onochi para além das nuvens.

— Pronto — bateu a poeira das mãos — agora tudo aqui será nosso. 

Contudo, um destroço de rocha enorme caiu sob a súdita. Ela desviou, porém veio outro e mais outro. Onochi estava a caminho, carregando consigo os destroços do último golpe de Mayuri. O meteoro estava fragmentado, ganhando calor na medida em que caía. Ela foi encontrá-lo no céu, mas seu campo não podia segurar todos ao mesmo tempo, enquanto sofria influência dos ventos que o Shiro usava para conduzi-los.

Ela foi acertada por um, depois outro, forçando a expandir seu campo no céu, na medida em que o brilho da aura de Onochi se fazia visível. Sangue descia pelo nariz, na medida em que se esforçava no cabo de força em pleno ar com o Shiro. Os destroços a circundavam a toda velocidade, gerando um novo redemoinho ao seu redor. 

Desfazendo-se de seu campo, ela procurou absorver o vento novamente, mas tão rápido ele veio, tão rápido se dissipou, revelando o mestre de Yanaho a toda velocidade e sem o efeito da força invisível de Mayuri para freá-lo. Ao colidirem, os dois caíram no campo aberto.

Após ficar de pé, ela correu para encontrá-lo, mas seus pés se descolaram do chão. Ela já não podia se mover.

— Você! — ela gritou.

Saindo da cratera com as roupas rasgadas, cabeça sangrando, embora vivo, Onochi declarou:

— Acabou. Está sob minha força invisível agora. 

— O que você fez comigo?!

— Como eu falei, guardo minhas explicações para meus alunos.

— A maioria dos meus inimigos faz a mesma coisa, tentando tirar minha defesa — Mayuri planava no ar de ponta cabeça — Dentre todos os meus inimigos, nenhum dividia a mesma força que eu. 

— Compartilhamos do mesmo poder divido, deveria usar eles de forma altruísta, não para o seu próprio bem — uma de suas mãos vacilava, mantendo um joelho no chão.

— Não consigo sentir meus poderes, isso que fez comigo agora… — tentava se mover sem sucesso — no começo pensei que sua habilidade era como a minha, só que ao invés de atrair, você repelia. Na verdade, você controla a força invisível por completo. Tirou meu peso, assim como tiraria de um objeto qualquer.

— Eu e meu irmão temos muitas perguntas a você.

— Acho que — escutava passos ao redor dos pretorianos remanescentes vindo na sua direção — Você tem mais com o que se preocupar.

De repente a terra ao redor do Shiro ganhou forma, o prendendo numa redoma de lama. Ele levou a prisão junto consigo para o ar, dissipando-a com os ventos, enquanto o campo abaixo dele era desnivelado, formando uma barreira entre as forças aliadas e Mayuri. Ele ameaçou ir de encontro ao grupo em fuga, quando foi chamado:

— Senhor Onochi — um Heishi gritou — Kurome! Escutamos um estouro lá de baixo!

Imediatamente Onochi uniu suas últimas forças, dando um salto em seu último voo até a base da colina. Seu pouso abalou as estruturas ao redor, porém tudo que antes tremeu parou de se mover. O shiro olhava ao redor, notando feridas abertas dos dois lados de um fronte, mas a única coisa preta que encontrou foi da selva da noite que cobria todos que ali estavam.

— Nos solte! Precisamos acabar com esses azuis! Eles são a verdadeira ameaça! — gritou um dos Senshis

— Esses Aka precisam morrer, estão comprometendo a missão! — um Heishi de armadura gritou. 

Os avanços dos dois lados quase fez Onochi vacilar seu controle sob o ambiente ao redor, mas em um berro de esforço ele fez todos flutuarem com seu campo de força:

— Já chega!

O líquido preto escorria dos homens flutuando que pareciam hipnotizados, com exceção de um que estendia seu braço. Ele estava coberto da cabeça aos pés do líquido negro, porém foi o único que dirigiu sua fala vacilante ao mestre de Yanaho:

— Onochi… obrigado, se não fosse você...

— Kurome?! Você está envolvido também?! — trazia ele para o solo. 

— Na verdade ele foi atacado, a bomba de seiva foi arremessada  — se aproximou pelas costas de Onochi — se não tivesse chegado seria díficil tirar ele dessa — concluiu o antigo mercenário.

— São poucos homens do primeiro Motim, o que acontec...

— O restante fugiu, desde que as rochas caíram do céu — interrompeu Yamiyo explicando.

No momento que pousou o comandante Tsuki no solo, ele desmaiou enquanto os demais vinham ao seu resgate. Onochi finalizou trazendo os arruaceiros para próximo do chão, ainda paralisados: 

— Prendam eles, teremos tempo até a noite para entendermos exatamente o que está acontecendo aqui. Eu vou resolver tudo.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 

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