Volume V – Arco 15
Capítulo 146: OPERAÇÃO MOTIM.3 (Medo)
DIA 2, DISTRITO DA RESERVA — MADRUGADA DA LUA CRESCENTE.
Depois que a Guarda Pacificadora recuou, Onochi retornou para o acampamento junto com Kurome inconsciente, apenas para encontrar o lugar em ruínas, resultado de uma segunda guerra, desta vez travada internamente. A ausência de Senshis chamou atenção da dupla, mas não havia tempo para discussão. Assim que avistaram o estado de seu capitão, os Heishis foram logo ao seu socorro.
Com estacas envergadas e lonas rasgadas, os homens de Kurome construíram uma morada para protegê-lo da neve gelada que caia. Ele ficava deitado sobre uma pilha com mudas de roupas, cuidadosamente montada para sua altura. Dos Senshis que retornaram com vida, alguns esquentaram água para limpar a seiva da noite de sua pele e manter a guarda do local em caso de uma visita inesperada.
Passaram-se algumas horas até que o Kurome acordasse, cercado por seus homens e Onochi.
— Deixe-me a sós com o Shiro.
Seus homens deixaram a barraca sem protestar.
— Perdemos? Eu ainda escuto meus homens lá fora e o sopro da nevasca. Ainda estamos na reserva.
— Esse é o acampamento — disse Onochi — Ou as sobras dele.
— O ataque aéreo de mais cedo… Quantos se foram?
— A maioria sofreu ferimentos leves. O problema foi a partida dos tais rebeldes.
— Eles escaparam? Aquele disparo não deve ter sido por acaso.
— Para alguns foi até mais do que isso.
— O que quer dizer?
— Tem algo que você precisa ver. Esperei que acordasse para me ajudar.
No caminho, Kurome foi atualizado dos acontecimentos, ao ponto de saltar de sua cama improvisada às pressas. Caminhando junto com Onochi, ambos encontraram os mirins com as mãos e pernas amarradas em um tronco, supervisionados por Yamiyo.
— Qual o significado disso? — Kurome marchava para as costas de seu subordinado.
— Você viu o que sobrou do seu acampamento, capitão? Meia dúzia de pirralhos presos é a coisa menos catastrófica disso tudo. Fiquei sabendo do ataque na retaguarda — Yamiyo olhou para os garotos — Tá vendo o que fizeram?
— Toda essa destruição foi resultado daquela súdita do caos — interrompeu Onochi — Eu estava lá, vi acontecer.
— Ora, mais um que devo culpar por tudo isso — retrucou Yamiyo.
— Basta — Kurome se colocou no meio de ambos — Explicações. É uma ordem.
— Falta um garoto — Onochi contou os mirins — O que aconteceu com ele?
— Fugiu dos outros. Quem você acha que orquestrou tudo?
— Eu não fiz nada — Kazuya virou o rosto.
— É claro que não fizemos — gritou Jin, se contorcendo nas cordas.
— Eu peguei esse aí conversando com o líder do motim. Estava prestes a dar a espada para ele.
— Eu não vejo Tomio. Era ele?
— A gente tá tão confuso quanto você nessa, gordão — disse Effei, recebendo uma cotovelada de Yachi — quer dizer, mestre do Yanaho.
— Tomio nunca faria aquilo, eu juro — Jin tomou a palavra — Eu só… Queria entender o lado dele.
— Não faz sentido nenhum. Um minuto ele tava ajudando a gente com o Nakama e no outro… — Yachi se deteve de falar por um instante — Espera um pouco, o lago! Foi lá.
— Um lago mudou eles? — Yamiyo ria — É nesses aí que eu deveria acreditar?
— Eles tão fora de si. Quando falei com o Tomio, ele nem lembrava do professor Arata.
Kurome desviou o olhar dos mirins.
— O que ele fez? — perguntou Yachi.
— Ele ficou parado me encarando. Parecia que tava tentando se lembrar de alguma coisa. Por quê?
— Eu mencionei o pai e a mãe pro Nakama. Ele agiu do mesmo jeito, depois foi embora.
— Isso me lembra o que li sobre Nokyokai — disse Onochi.
— Comportamento fora do padrão a partir de grupos que se isolaram em algum momento — Kurome sussurrou para si mesmo.
— Não é possível. Vocês acreditam neles?!
— A Batalha de Nokyokai também foi sabotada por Heishis fora de si. Descobrimos tarde demais que se tratava de um desses súditos, eu encontrei ele pessoalmente — cerrou o punho.
— Aquele monstro — Jin sacudia a memória da cabeça — só pode ser ele, demorei para notar!
O mirim trazia na memória cenas do fatídico dia. Pelo que pareciam os mais longos dez segundos na cabeça de Jin, seu pai adotivo ficou parado diante do sujeito desfigurado no meio da floresta nas montanhas, indefeso. De repente, os olhos de Iori despertaram da escuridão.
“Você percebeu de novo”, Kimijime dizia,”mas agora foi tarde demais.”
“Eu não sou o pai dele” respondeu Iori, “e é por isso que enquanto eu estiver vivo, não deixarei o sonho morrer!”
— As ilusões desse cara não são perfeitas. Só precisamos de um jeito de convencê-lo da verdade. Dá para trazer todo mundo de volta.
— Jin — Onochi abaixou a cabeça — O caso do seu pai é muito delicado. Eu não sei se o comandante Tomio vai ser diferente.
— Iori se safou algumas vezes, eu vi!
— Do mesmo jeito que eu vi meu irmão lutar contra essa coisa induzindo ele — insistiu Yachi.
— Temos um mistério nas nossas mãos, homens — Kurome ergueu os braços — Desamarre as crianças, Yamiyo. Ou o próximo a ficar amarrado a um tronco será você, flutuando pelo lago.
Enquanto os garotos eram libertos, os batedores de Kurome foram enviados ao lago para procurar pistas do suspeito de provocar o motim. Infelizmente, o grupo retornou de mãos vazias para Kurome. O capitão das tropas Heishis permanecia reunido com Onochi e Yamiyo no tronco onde os mirins ficaram.
— Eu falei — disse Yamiyo — Se eles partiram, esse cara de quem falou deve ter ido junto.
— Isso não muda o plano — Kurome respondeu e se virou para seus batedores — Pelo menos sabemos onde ele não está. Até ouvirmos o retorno dos Kuro, ninguém sai deste acampamento. Se alguém espirrar há cem metros deste lugar, eu quero saber.
— Sim, senhor — despediu-se o batedor, entregando um papel para o capitão.
— Eu gostaria de ajudar, mas — Onochi se sentiu no tronco, ofegante — A súdita ainda é um problema indigesto. Minhas habilidades atrasaram seus poderes apenas temporariamente.
— Você tem é que se cuidar — Kurome abriu o papel que recebeu, um mapa com rotas traçadas — Fora do campo após essa colina tem uns caminhos por onde eles poderiam ter fugido.
— Eles foram pelo leste — respondeu Yamiyo — Não precisa pensar muito sobre isso.
— Leste tem dois destinos possíveis — retrucou Onochi — Novo Caminho, a estrada mais longa, ou uma vila abandonada de pastoreio há pouco menos de um quilômetro.
— Um bom lugar para uma base inimiga — disse Kurome — Exceto que meus batedores não detectaram nenhum movimento inimigo em quilômetros.
— Podem ter mudado de posição depois do que aconteceu hoje. É só uma questão de fazer as iscas certas.
— Se nosso suspeito, é quem estamos pensando, os mirins vão ser de grande ajuda. O detecção entre os Aka vai permitir que sintam a proximidade deles e não podemos abrir mão dos Senshis que temos se aquela outra vai voltar.
— Está sugerindo que as crianças sejam iscas? Os garotos não sobreviveriam a um encontro com esse súdito — Onochi ficou de pé — Eu posso…
— Nem a retaguarda se você não ficar — disse Kurome — Já vamos perder nossos homens para procurar por uma ameaça que nem sabemos se existe. Ficaremos completamente expostos.
— Pensando bem, são duas estradas. Espera-se que sejam duas equipes — disse Yamiyo — Eu posso ir em uma delas.
— Mandarei meus melhores homens para a outra, e está decidido — Kurome dobrou o mapa — Vocês têm meia hora para se prepararem.
Onochi ainda se colocou trêmulo com a sitação, elevando seus olhos ao céu, pôde sentir a neve caindo sob o rosto, esfriando sua mente para se tranquilizar.
As iscas lançadas por Kurome se dividiram pelas duas estradas. Chegando na vila abandonada, o trio de mirins avisou aos Heishis que lideravam o bando:
— Eles estão aqui — disse Yachi — Posso senti-los.
— E onde eles estão? Aponta — ordenou o Heishi.
— Esse é o problema — ele olhava ao redor — Estão em todos os lugares.
Os Senshis brotaram dos telhados, cercando o trio de mirins e a dupla de Heishis que os conduziam. A frente deles, estava Tomio:
— Não vamos tolerar invasores, muito menos traidores.
— Irmão — Yachi encontrou Nakama em um dos telhados — Isso tem que acabar aqui. Eu preciso levar você para mãe e o pai inteiro.
— A mãe e o pai não gostariam de ver você se juntando com o inimigo.
— Eles estão mais coerentes — disse Kazuya — O poder da ilusão sobre eles tá mais forte.
Os Heishis levaram suas mãos às suas espadas.
— O que quer que você pensou em fazer Yachi — dizia Effei — Faz logo.
— Professor — Yachi tomou a frente dos Heishis — Jin me contou o que aconteceu em Doa. Ele e Kazuya deviam ser Senshis agora. Essa opinião mudou? E eu e ao Effei? Não passamos de mirins?
— Fogo — respondeu Tomio.
Os Senshis riscaram suas lâminas, fazendo chover labaredas contra os visitantes da vila. Aproveitando da neve ao redor, derretida pelo ataque de calor, a guarda imperial envolveu os mirins em uma bolha de água.
— Boa, moleques — provocou o outro Heishi — Mais alguma ideia brilhante?
— Não vai ter jeito. Temos que lutar — disse Kazuya.
— Tá bom — Yachi sacou do bolso duas bombas de seiva da noite e entregando para Effei — Mas sem mortes.
Os Heishis dividiram a bolha maior em pequenas proteções individuais, que passaram a acompanhar os movimentos do grupo. Kazuya saltou pelas barracas na rua, alcançando altura para alcançar Tomio. O primeiro Heishi vinha logo atrás.
Yachi por outro lado, tinha Effei e o segundo Heishi ao seu lado, se projetando para os telhados com um pequeno gêiser. Caindo sobre os Senshis, Effei deixou o par de bombas aos pés de seus oponentes enquanto seu parceiro se atirou para cima do irmão. A bomba explodia, imobilizando os Senshis, porém Nakama entrava na casa ao lado pela janela, atingido por Yachi.
— Essa loucura tem que acabar — gritava Yachi, disputando forças com o irmão — Não piora isso mais.
— Eles vão te trair, Yachi. Só você não enxerga isso.
— A única pessoa traindo a gente foi você — envolveu o braço pelo pescoço de Nakama — e eu não vou te deixar fazer uma coisa pela qual vai se arrepender pelo resto da sua vida.
— Sai de perto. — puxava ar — Me… solta… deixa e-eu… ajudar
— E essa é a melhor forma de você me ajudar — apertava com força, na medida em que Nakama perdia a consciência.
Na estrada para Novo Caminho, o segundo grupo já havia encontrado um primeiro grupo de Senshis. Um trio de homens saltou da floresta, assim que sentiram a presença de Jin entre eles. O mirim avisou aos Heishis que reagiram com força máxima, terminando com dois feridos e um último preso numa árvore, transpassado pela lâmina de Yamiyo.
— Por que você fez isso?! — Jin deitava o homem, no chão — Droga, você o matou.
— Os outros estão vivos. Esse aí foi mais rápido — Yamiyo retirou sua espada, olhando para trás onde um de seus homens tinha o ombro enfaixado — Se não tivesse agido a tempo alguém teria morrido.
— Alguém acabou de morrer — socou a árvore — Por que vocês não conseguem entender isso?
— Você é que não entende. Sem prova de que dá para reverter a cabeça deles, esses Senshis são nossos inimigos.
— Isso é tudo que ele quer.
— Não, tudo que ele quer é vencer essa batalha. E para isso ele está isolando… — Yamiyo se impediu de falar, quando de repente saltou para o seu cavalo — droga, como fui tão burro?
Seus Heishis e Jin logo o seguiram com atraso, deixando os Senshis presos abandonados na estrada. Na cabeça de Yamiyo só havia um raciocínio ecoando através de memórias:
“Já vamos perder nossos homens para procurar por uma ameaça que nem sabemos se existe. Ficaremos completamente expostos.”
Sob a luz de uma lua quase crescente, Kurome descia a colina com seu exército, um cheiro de sangue fresco subiu, já sentindo a terra estremecer com o retorno de seus inimigos no campo de batalha. Onochi disparou para o céu sobrevoando checando a aproximação inimiga para além da segunda colina. O comandante seguiu com seus Heishis ameaçando a subida do próximo morro, mas pausou assim que escutou uma presença, descendo a ladeira na direção deles.
Antes mesmo que pudesse cogitar agir, um cadáver suspenso por fios de sangue saltou na direção deles. Era um Heishi cujos braços e pernas se moviam como marionetes puxadas pelos cabos líquidos. Os homens de Kurome sacaram suas espadas, mas o cadáver era balançado rapidamente, tirando um depois outro do caminho.
A distração concentrou os homens de armadura para além do líder Tsuki, que notou uma aproximação pelos lados, chegando perto o bastante de Kurome para saltar no ar sacando sua espada da capa negra que cobria seu corpo. Também sacando sua lâmina o Tsuki reconheceu seu possível algoz:
— Sua furtividade sugere que seja o manipulador que procurávamos.
Ambos bateram espadas, o encapuzado fez questão de mostrar seu rosto desfigurado com um sorriso, antes de rolar no chão na descida se afastando. Porém antes mesmo de se reerguer, duas bolas foram lançadas até ele. A explosão atraiu Onochi, que viu o cadáver se tornar um escudo para o líquido negro.
“Finalmente, ele apareceu. O responsável pelo caos em Nokyokai”, pensou Onochi.
— Quando olham para mim, o que vêem? Para terem repetido o mesmo truque, acho que é burrice — disse Kimijime passando sua espada no cadáver sujo, cobrindo sua lâmina com seiva da noite — A partir de agora, vão olhar para mim e sentir medo da sua própria fraqueza.
A marionete foi despedaçada pelos fios de Kimijime, lançando seus membros, torso e cabeça em cima dos Heishis. Os batedores de Kurome desviaram, mas os guardas tiveram seus rostos tomados pelo sangue jorrado do esquartejo, que ganhou vida, limpando os rostos deles da seiva da noite em seus olhos.
Do alto, Onochi via as tropas erguendo a defesa e atacando o ar, enquanto Kimijime escolhia um alvo de cada vez para matar. O mestre de Yanaho correu para interferir, quando ouviu um chamado acima dele:
— Ei, gorducho, pensa rápido!
Ao se virar, uma lança foi atirada por Mayuri de uma plataforma de terra erguida do chão. Onochi rodopiou no ar, permitindo somente sua capa ser rasgada pelo projétil.
“Ela não pode ter recuperado os poderes tão rapidamente?”, olhou para baixo, percebendo pretorianos.
A coluna que suspendeu a súdita foi despedaçada, se precipitando sobre o Shiro, que preparou um kazedamu para soprar os restos para o lado. Contudo, Mayuri acendeu os braços mais rapidamente, despejando uma pilar de chamas que lançou o mestre de Yanaho contra a montanha.
“Ela recuperou a capacidade de absorção”, erguia-se da cratera, Mayuri pousava na margem. “Provavelmente é uma versão miniaturizada do poder de atrair as coisas. O que quer dizer que eu tenho que acabar com essa luta logo, antes que ela possa expandir o campo atrator novamente. Capitão Kurome, resista só mais um pouco.”
No pé da montanha, os Heishis voltavam suas lâminas para seu próprio capitão:
— O inimigo, rápido, capitão!
— Avancem, estou logo atrás de vocês! — disse Kimijime, contendo as risadas.
Kurome e os demais Tsuki subiram para as árvores, longe da lâmina inimiga.
— Quando te vi em Nokyokai, pensei que usavam essa coisa só para esconderem seus rostos de vergonha — Kimijime apontava para os próprios olhos — Na época até que vocês eram covardes espertos. Hoje eu vou torná-los covardes mortos.
Os Heishis cortavam o árvore onde Kurome estava, obrigando o capitão a saltar para outro galho até que um fio de sangue mordeu seu tornozelo o trazendo o para o chão. Os batedores não tiveram outra escolha fora descer dos galhos para atacar os Heishis.
— Por que vocês lutam e fogem? — Kimijime se aproximava de Kurome, sangue rastejava pelos seus pés como uma sombra — Uma vez na escuridão, vocês não encontram a saída.
— Minha família enxerga muito bem na escuridão — disse Kurome.
— Isso porque você ainda não viu a minha — a poça de sangue se projetou ao redor de Kurome — Eu vou mostrá-lo.
As linhas de sangue se entrelaçaram no torso de Kurome, subindo até o seu pescoço para sufocá-lo. Com a visão turva, ele olhou para seus batedores, na defensiva contra os Heishis ensandecidos. Kimijime preparou sua lâmina para estocar o peito do capitão do exército azul, quando jato d’água o atingiu pelas costas, até virar uma bolha que o afogava.
Kurome foi liberto da forca de sangue instantaneamente, na medida em que o líquido vermelho mudava de forma para garras que furaram a esfera de água.
Reforços chegaram, executando os Heishis enfurecidos.
— O que vocês estão fazendo?
— Salvando você — disse Yamiyo, cavalgando para o seu lado — Esses aí estão perdidos.
— Por que está aqui, Yamiyo?
— Digamos que tive um momento de lucidez — apresentou-se, na medida em que seus homens cercavam o súdito acabar com a vida dos comandantes era a melhor forma de desarticular a formação.
— É ele mesmo — disse Jin, na montaria — Devolve o senhor Iori, agora!
— Você, o pirralho amigo das medrosas — Kimijime se levantava da poça d’água — Não trouxe nenhuma delas para cá, trouxe?
— Eu vou… — Jin ameaçou descer do cavalo, mas Yamiyo o conteve.
— Só por hoje, vou me contentar com você.
— Haja o que houver, não façam contato direto com ele — disse Kurome.
— Como? Estamos sem seiva da noite agora — provocou Yamiyo.
Na frente deles, o estampido da batalha rugia mais alto. Kurome e seus batedores podiam ouvir a derrota da aliança na distância. Onochi então brotou no céu, perseguido por pilares de fogo, até cessar sua fuga, dispersando o ataque com um kazedamu. Os ventos, porém, duraram pouco no ar, sendo absorvidos pela súdita mesmo a longas distâncias.
“O campo dela cresceu”, pensou Onochi, juntando as mãos novamente.
Com um braço esbranquiçado e outro brilhando em laranja, Mayuri liberou um redemoinho de fogo que ameaçava engolir o Shiro, se não fosse por um kazeyari abrindo caminho pela redoma, permitindo a ele escapar.
Em um voo rasante, ele tentou pegar Mayuri, mas ela saltou com mais um sopro de ar. Onochi ajustou a trajetória, subindo até alinhar-se com a súdita. Ambos prepararam um ataque, mas o kazedamu do mestre de Yanaho era grande demais, engolindo a técnica absorvida de sua adversária.
O choque dos dois lançou Mayuri montanha abaixo, quando os pretorianos de terra projetaram uma rampa para amortecer sua queda, aterrissando-a ao lado de Kimijime. Onochi chegou logo depois.
— O Shiro ainda vive — resmungou Kimijime — Eu tenho que fazer tudo sozinho.
— Eu disse para matar todos aqui, rápido! — berrou Mayuri, antes de se voltar aos pretorianos que acabavam de chegar — Me dêem tudo que têm.
Terra se acumulou num dos braços de Mayuri. De repente, o chão se despedaçou formando destroços na órbita dela:
— Seu tempo está acabando, gorducho.
Com o outro braço alaranjado, Mayuri espalhou fogo pelas tropas de Heishis e batedores, chegando até Kurome, Yamiyo e Jin. Onochi tentou soprá-los para longe, mas Mayuri lançou suas pedras, obrigando ele a desviar. Durante a fuga, a terra sob seus pés se projetou agarrando seus pés, o atirando para longe do anel de fogo e dos seus aliados. O restando da terra que orbitava a súdita foi lançada contra o Shiro, limitando seus movimentos.
Com a neve no chão, Kurome e Yamiyo fizeram uso do calor para conter as chamas. Seus Heishis criaram uma mureta de água para mantê-los a salvo.
— Esqueça-nos — sinalizou Kurome a Onochi que tentava se soltar — Foque na batalha.
Mesmo com a proteção gerada pelos Heishis, Jin assistiu alguns saltarem nas chamas.
— Gritem para mim — exclamou Kimijime.
Os Heishis eram amedrontados com as chamas ganhando vida com visões, quando Kurome, pressionado entre seu escudo d’água e o anel de fogo, fechou os olhos. O que ouvia das chamas crepitarem não batia com a visão de poucos segundos da armadilha dos súditos. Foi então que abriu os olhos e se voltou para Yamiyo:
— São os olhos! Fechem os olhos, todo mundo!
Mesmo aos tremores de medo, os Heishis obedeceram. Nenhum saltou para as chamas, segurando a barreira.
— Bom trabalho, exceto que isso não resolve a situação atual — protestou Yamiyo.
— Nós vamos resolver agora — Kurome se levantou ainda com os olhos fechados — chame os demais, eu tenho um plano de ataque.
— Logo eu, confiando em você para resolver as coisas — Yamiyo esboçou um sorriso.
— Bem, você voltou para me salvar.
— Eu vim para matar o inimigo, nada mais — se virou para Jin, abrindo os olhos — Mesmo assim, eu devia ter confiado em você desde o começo, garoto. Considere isso um pedido de desculpas.
A fala de Yamiyo paralisou Jin, que reparou em Onochi ainda preso pelos construtos de terra. Mayuri pediu aos pretorianos e lhe foi entregue uma espada:
— Vamos acabar logo com isso.
Mesmo imobilizado, seus braços brotaram da prisão de terra e com elas, soprou um vento convergente, trazendo Mayuri para perto de si sem controle, mas antes de ser tocada ela retirou sua túnica preta, se escondendo atrás dela. Por fim, ela soltou toda a sua reserva de fogo em cima de Onochi. O ataque de tão perto queimou até mesmo a palma da mão da súdita, porém em vez de atingir seu alvo, o fogo subia e contornava ele.
— Não adianta — Mayuri continuou martelando o campo invisível de Onochi com fogo — Uma hora… eu vou… entrar!
Imediatamente Onochi usou um vendaval, apagando as chamas e lançando Mayuri aos céus. Absorvendo o vento, ela tentou se atirar de volta ao chão, mas pedaços da terra eram levitados na sua direção, cortesia de seu oponente.
Com Mayuri ocupada com os obstáculos, tudo que restou para Onochi era Kimijime, para o qual ele se lançou agarrando o pescoço.
— Aqueles Senshis que usou, os Heishis que ajudou a incinerar agora… Eles tinham famílias. Tem noção do sofrimento que ainda causa?
— O que você quer? Quer que eu peça desculpas?
Os pretorianos tentaram convergir a eles para proteger Kimijime, mas Onochi lhes impôs um peso invisível que os pregou ao chão.
— Quero que pare, solte Iori e os outros!
— Aquele cara em Nokyokai, não tem jeito, terá que me matar para libertá-lo — ria Kimijime.
Onochi desviou o olhar para Jin, ainda imerso na proteção dos Heishis, quando o súdito continuou a falar:
— Tá, vendo eles? É isso que mais odeio, o medo que sentem. A fraqueza que se revela neste ato, o instinto de se preservar, se esconder, é apenas uma prova pra mim de seres que não merecem viver! Mas diferente de vocês que usam ele como um inimigo, eu torno ele um aliado.
As palavras de Kimijime fizeram Onochi pegar uma espada do chão com seu braço livre, mas ele hesitou.
— Eu vejo esse mesmo medo em você. Não consegue me matar né? — dizia o súdito.
— Você realmente é um monstro.
— Qual é o maior? O medo de me matar, ou o medo de que eu mate todos que estão atrás de…
Onochi interrompeu a fala de seu adversário ao enterrar sua espada na barriga dele.
— Você… como você… — perguntava o súdito incrédulo.
— Uma pessoa que ama matar — respondeu Onochi — não merece viver.
— N-não é sobre isso é que… — a aura de Kimijime brilhou — como pôde cair nessa!
O sangue se solidificou prendendo a mão de Onochi a Kimijime por alguns segundos. Com isso, ele tirou de seu bolso uma seringa de líquido preto, espetando o braço do Shiro, antes de ser lançado para longe com um chute.
— De onde você… — a visão de Onochi ficava turva.
— Um truque que aprendi depois de lutar com o pai do pirralho — retirava suas vestes, mostrando uma camada vermelha que cobria todo seu torso se desfazendo — limita meus poderes, mas contra você, valeu a pena.
— Uma segunda pele?
O mestre Shiro já mal conseguia ficar de pé, se apoiando no chão com as mãos e o joelho. Mayuri terminava de descer dos céus, pousando com auxílio do vento absorvido, cercando Onochi pelo outro lado.
— Agora, onde estávamos?
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.
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