Magic Genesis Brasileira

Autor(a): Rafaela R. Silva


Volume 2

Capítulo 46: Limites da razão

O coração de Lenna palpitava com tanta força que ela acreditava que, a qualquer momento, saltaria pela boca. Estava bom, absurdamente bom, mas a surpresa e uma confusão crescente diante da atitude de Vladmyr faziam seu corpo vacilar, e ela se afastou levemente, quase sem perceber. Algo nela clamava por mais, mas outra parte, ainda em alerta, tentava entender o que se passava.

Vladmyr não permitiu a distância. Puxou-a de volta com firmeza, dessa vez de forma mais dominadora. Suas grandes mãos a enlaçaram com segurança pela cintura, colando os corpos com uma intensidade quase instintiva.

— Chega de fugir — Vladmyr foi incisivo.

— Vlad...

Ela tentou protestar, mas ele não a deixava concluir. Seus lábios capturavam os dela com urgência, afogando palavras e pensamentos. O ar lhe faltava, não apenas pela intensidade do beijo, mas pelo calor que tomava seu corpo, como se suas entranhas estivessem em chamas. Lenna não sabia dizer se era apenas o tesão do momento que a deixava assim ou se era também o peso da situação em que estavam. O mundo desabando ao redor, a guerra à espreita, e ainda assim estavam ali, entregues um ao outro.

Uma das mãos dele escorregou pela curva da nuca da maga, descendo lentamente até sua cintura, e então mais abaixo, guiando-se em direção à pelve com um toque firme, como se a explorasse. A outra mão segurava com força os cabelos dela, puxando-os suavemente para trás, expondo seu pescoço delicado, fino e macio. Uma linha vulnerável de pele clara, ainda mais luminosa sob a luz prateada da tímida lua.

Vladmyr mordiscava de leve ali, roçando os lábios até a clavícula dela, saboreando cada reação. Lenna arfava. Não o reprimia, não mais. Seus olhos buscaram os dele. E quando ele a encarou, tão próximos que suas respirações se misturavam, ela viu. Havia um brilho nos olhos do guerreiro. Um dourado sútil, pulsante. E a marca em sua mão também reluzia com uma luz tênue, viva.

A visão a fez recuar num sobressalto. Seus dedos pressionaram levemente o peitoral dele, num impulso mais simbólico que eficaz. Vladmyr era mais forte, e mesmo sem intenção de feri-la, estava claro que não queria parar.

— Vlad... VLAD! — Agora sua voz carregava um toque de receio.

Ele congelou por um instante. A luz nos olhos dele sumiu, a marca cessou seu brilho. Um silêncio desconcertante pairou entre eles.

— Me... me desculpe. Eu não sei onde estava com a cabeça.

Era como se algo dentro dele tivesse se rompido, libertando tudo de uma só vez. O filtro que costumava conter seus impulsos havia simplesmente desaparecido. Talvez o medo de perdê-la, ainda mais depois da clara mensagem do elfo, tivesse despertado o que ele tanto insistia em não perceber.

Ele sabia o que estava fazendo, mas era como se agisse num estado entre lucidez e instinto, guiado por algo mais forte que a razão. Quando enfim piscou, a intensidade no olhar se dissolveu. Ele parecia confuso, como quem desperta de um transe.

— Perdoe-me. Acho que fui rápido demais, longe demais...

— Eu... eu... — Lenna tentava se recompor, buscando fôlego, raciocínio, equilíbrio. — A marca... talvez... talvez ela esteja confundindo seus sentimentos...

Mas ela não terminou. A frase morreu em seus lábios.

Vladmyr a observava, completamente vulnerável. Com uma delicadeza inesperada, segurou o queixo da maga e ergueu seu rosto, voltando a beijá-la. Dessa vez, com calma. Com decisão.

— Não se engane... A marca só deixou tudo mais difícil de segurar... Mas não foi ela. Eu faria tudo de novo. Já me decidi.

“Não vou deixar o caminho livre para aquele babaca.” A lembrança das palavras do elfo ecoava como uma promessa velada.

A cabeça de Vladmyr latejava com força. Ele tentava disfarçar, piscando com intensidade, como se tentasse afastar as sombras que ameaçavam engolir sua mente. Estava no limite. O corpo ainda resistia, mas a mente cedia em apagões breves que ele mascarava com dificuldade crescente. Cada segundo era uma luta para não sucumbir ao cansaço que, repentinamente, o consumia por dentro.

— Não era bem assim que eu esperava terminar essa conversa, mas preciso descansar. E você também não pode ficar aqui sozinha... Vamos entrar.

Lenna apenas acenou com a cabeça, o rosto tão rubro que parecia fundir-se aos fios vermelhos de seu cabelo. Uma inquietação crescente corroía seu peito, uma ansiedade silenciosa que se voltava para o abrigo, para os companheiros, para o que pensariam sobre o desaparecimento dos dois. Cada pensamento pulsava, carregado de preocupação e um desejo contido de voltar logo. Desconcertada, virou-se rapidamente e disparou na frente, quase tropeçando nas próprias emoções.

— Ei... Lenna... — Ele tentou chamá-la, franzindo o cenho, mas a visão se embaralhava cada vez mais — Garota doida...

Vladmyr riu entre dentes. A dor prevalecia. Apesar de tudo, conseguiu seguir em frente. Seus passos eram firmes, mesmo que seu interior oscilasse entre a exaustão e a turbulência dos sentimentos que brotavam depois do beijo com Lenna. A cada passo, lembrava da intensidade daquele momento, da conexão quase instintiva entre seus corpos e do turbilhão silencioso que a marca provocava em sua mente. Por mais que, naquele instante, tentasse esconder, seu coração pulsava descontroladamente, dominado por uma euforia silenciosa e impossível de ignorar.

E então parou. Algo à sua frente o fez estacar. Não estava sozinho. Apesar de tudo o que acontecera, o instinto de guerreiro prevalecia, mantendo-o alerta, mesmo com a cabeça latejando e os sentimentos à flor da pele.

A poucos metros dali, envolta pela escuridão da floresta e oculta entre galhos e sombras, uma figura o observava. Provavelmente estivera ali o tempo todo. Silenciosa. Atenta. Passando despercebida por Lenna, mas não por ele.

Vladmyr estreitou os olhos, a mão automaticamente indo até a empunhadura de sua espada.

— Mas que merda é essa? — resmungou Vladmyr, encarando a pequena criatura.

O filhote de dragão o fitava como uma estátua. Seus olhos brilhavam intensamente, quase como faróis em meio à penumbra. Havia algo de desconcertante naquele olhar.

“O que ele está fazendo aqui?” Vladmyr olhou ao redor, procurando por Eduardh, como se esperasse que o elfo estivesse envolvido com isso.

— Está me vigiando, é?

A criatura pareceu ignorar seus questionamentos. Quando Vladmyr se agachou para observar melhor o pequeno ser, ele recuou rapidamente, sem desviar o olhar brilhante e estático. Vladmyr franziu o cenho, sem entender. Antes que pudesse fazer qualquer movimento, o filhote virou-se e correu em direção à entrada do esconderijo, sumindo entre as sombras antes mesmo que o guerreiro tivesse tempo de reagir.

No abrigo, Cázhor descansava, deitado com o braço sobre o peito, quando Lenna chegou, sem jeito. Ela se aninhou ao lado dele em silêncio e adormeceu rapidamente. Cázhor soltou um longo suspiro, os olhos pesados de preocupação ao observá-la. Ao que tudo indicava, sabia o que havia acontecido. Seus pensamentos oscilavam entre o cansaço e o futuro incerto da garota. Preocupava-se genuinamente com Lenna. E, por mais que Ector se gabasse do garoto, Cázhor não via em Vladmyr uma “boa opção”. Pelo menos, não agora. Mesmo assim, fechou os olhos. Precisava descansar para a nova jornada. Aquilo podia esperar.

Pouco distante dali, o filhote de dragão se enfiava em uma versão improvisada de saco de dormir feita por Eduardh. O elfo se sobressaltou com o toque gelado da criatura, que fez os pelos de seus braços se arrepiarem. Ao encarar o pequeno ser, percebeu o brilho estranho em seus olhos. Um brilho que desapareceu em segundos, deixando-o confuso, sem saber se havia mesmo acontecido. O dragãozinho se aninhou em seu colo, adormecendo quase de imediato, soltando pequenas baforadas de ar quente, visíveis pelo contraste com o frio da noite.

Vladmyr entrou logo em seguida. Observou o filhote de longe, desconfiado. Tudo na recente atitude da criatura o incomodava. Era estranho, suspeito. Mas não tinha forças para confrontar ou questionar. Apoiou a espada ao lado do corpo, deitou-se com dificuldade e, mesmo com a mente em alerta, o sono o venceu.

O tempo passou e enfim o sol começou a surgir no horizonte. A luz dourada atravessava os galhos retorcidos e pintava de laranja os flocos de neve ainda espalhados pelo chão. Após dias mergulhados em gelo e tempestades, esse amanhecer era quase surreal. Há semanas não viam o nascer do sol.

— Bom, senhores e senhorita. Hora de botar o pé na estrada — disse Ector, radiante ao retornar finalmente de sua vigília. — Vamos aproveitar a luz do dia para chegar quanto antes ao reino de Nifhéas.

Sem muitas palavras, o grupo se aprontou. Ainda estavam exaustos, mas o leve calor do sol parecia revigorar suas forças. Vladmyr e Lenna caminhavam lado a lado, envolvidos por um silêncio carregado, ambos ainda tentando entender e processar o que havia acontecido no último encontro, sem saber exatamente como reagir.

O grupo caminhou por dias em ritmo constante, atravessando vales e trilhas escondidas, sempre atentos ao risco de serem seguidos pelos demônios. A tensão era silenciosa, mas presente. Eduardh, especialmente, mantinha os olhos atentos aos arredores. Havia algo diferente em seu semblante. A apreensão não vinha apenas do receio de um ataque, mas do destino: estavam cada vez mais próximos de sua terra natal.

Entre os membros do grupo, pairava também uma tensão diferente, desta vez envolvendo apenas Lenna e Vladmyr. O que havia acontecido entre eles foi algo forte, súbito e ainda envolto em incertezas. Era como se uma fenda invisível houvesse se aberto entre os dois, feita de emoções contraditórias e gestos que falaram mais do que qualquer palavra. Ainda assim, tentavam agir com naturalidade, mantendo o foco na jornada. Trocas de olhares evitadas, silêncios que diziam mais do que deviam. Sabiam que não era o momento para discutir sentimentos ou esclarecer o que havia surgido entre eles. Havia dúvidas demais, e o caminho à frente exigia concentração.

Mesmo assim, por baixo da superfície, a tensão emocional se entrelaçava à física, tornando cada passo um pouco mais pesado. A tensão permanecia, discreta, enquanto o grupo avançava. E à medida que os passos seguiam em silêncio, a paisagem também começava a mudar.

Altos pinheiros dominavam a paisagem, suas agulhas douradas pelo outono formavam um tapete sob os pés do grupo. O ar era limpo e levemente frio, com um leve aroma de resina e folhas secas. Nuvens esparsas cruzavam o céu, e, por enquanto, não havia sinal de anormalidades.

Depois de tanto tempo, enfim avistaram o prolongamento da estrada que serpenteava montanha acima. Finalmente, se aproximavam da divisa das terras do reino de Nifhéas. E, a cada passo, Eduardh sentia o coração pesar mais no peito. O passado parecia se mover sob seus pés, como se esperasse apenas o momento certo para emergir.

Lenna caminhava em silêncio, mas não estava alheia ao que acontecia ao seu redor. Seus olhos pousaram discretamente sobre Cázhor. Ele tentava manter a expressão serena, os ombros retos, o semblante atento. Mas havia algo em sua aura que não passava despercebido. A oscilação de mana ao redor dele estava cada vez mais instável, como se vibrasse em outro ritmo, algo que não combinava com o feiticeiro que ela conhecia. Lenna percebeu. E não conseguiu ignorar.

Ela se aproximou com cautela, como quem não queria expor demais.

— Essa alteração de mana... — sua voz saiu baixa, quase num sussurro hesitante. — Está tudo bem mesmo?

Cázhor levou um tempo para responder. Não parou de andar. Seus olhos seguiram fixos na trilha sinuosa à frente, como se manter o foco fosse o único modo de manter a calma.

— Estou lidando com isso — respondeu, sem desviar o olhar. — Agora não é o melhor momento para... distrações. Ainda temos um reino para alcançar, e talvez mais perigos pela frente.

A resposta era contida, prática, mas Lenna não era ingênua. Ela viu a tensão nos dedos que se fechavam e abriam em torno do cajado. Viu a rigidez no maxilar. Ele estava preocupado. E mesmo que evitasse falar, estava claro que a conexão forjada entre ele e Hannya era mais profunda do que ele gostaria de admitir.

Lenna assentiu em silêncio.

A estrada parecia infinita. Após tantos dias de caminhada, o frio já não era mais um problema, e sim o ar rarefeito da altitude e a brisa outonal que soprava entre as pedras, seca e cortante. O cansaço se acumulava nos músculos, a fome apertava os estômagos, e a exaustão da batalha ainda marcava seus corpos e mentes. As forças se esvaíam a cada passo, como se a montanha drenasse suas últimas reservas apenas por ousarem desafiá-la.

O Reino de Nifhéas, conhecido por sua beleza letal, surgia aos poucos diante deles como uma promessa. Mas os caminhos que levavam até suas terras eram esculpidos entre penhascos traiçoeiros, tão estreitos que, em certos trechos, mal permitiam a passagem de dois viajantes lado a lado. Mesmo as montarias mais robustas exigiam pausas constantes para vencer as ladeiras escarpadas. A pé, a travessia era quase uma sentença. Um único passo em falso poderia significar o fim para quem ousasse seguir sem preparo.

Os elfos silvestres se orgulhavam de viver ali. Diziam que a floresta ensinava quem merecia habitá-la e como usá-la contra os que não pertenciam àquelas terras. Para Eduardh, tudo aquilo voltava como uma lembrança incômoda, colada à pele como a umidade da névoa que os envolvia.

Ele seguia cabisbaixo, o olhar perdido entre as pedras do caminho. Seus passos já não tinham o ritmo de antes, e o corpo parecia querer parar, enquanto a mente buscava fugir. Ainda assim, apesar de tudo, movia-se com a precisão de quem conhece cada centímetro daquela rota, como se a própria trilha respondesse aos seus passos.

— Por que está hesitando tanto, elfo? Por acaso, está com medo de voltar para casa? — A voz de Vladmyr quebrou o silêncio com sarcasmo.

— Deixe o rapaz em paz, garoto. Achei que vocês já tinham se acertado... — Ector repreendeu com firmeza, mas sem erguer o tom.

— Ele com certeza deve ter os motivos dele, não é mesmo, Ed? Ed...? — Lenna tentou puxar sua atenção, mas recebeu apenas o vazio como resposta.

As vozes soavam distantes para Eduardh, abafadas, como se estivessem submersas em uma espessa onda de terra que o soterrava. Até que algo, inesperado, o trouxe de volta.

— Ai! — exclamou, levando instintivamente a mão à testa.

— Estou falando com você! Pare de me ignorar! — Lenna havia parado à sua frente, erguendo-se na ponta dos pés para lhe dar um peteleco, a expressão carregada de frustração e um traço de carinho impaciente.

— Me desculpe... — murmurou, soltando o ar com um peso que não era só cansaço.

— Você está estranho desde que decidimos vir para cá, garoto. O que está acontecendo? Desembucha! — Ector parou de caminhar, o semblante endurecido, exigindo respostas.

— Estamos quase chegando nas províncias do reino, senhores. Seria mais prudente conversarmos quando estivermos em segurança...

— Desculpe, senhor, mas concordo com o comandante — interrompeu Vladmyr, encarando Eduardh. — Se ele sabe de algo que pode nos causar problemas, não é melhor falar logo?

— Vlad! — Lenna reagiu, repreendendo.

— Me desculpe, Lenna. Mas depois que ele encontrou essa criatura... — o guerreiro apontou para o pequeno dragão que os acompanhava, agora agitado ao lado de Eduardh — tudo tem estado mais estranho. Estamos juntos nessa, e se ele não colabora, fica difícil ajudar.

— Ajudar? Ajudar?! Sério mesmo?! Desde quando você quis ajudar alguém além de você mesmo?! — A voz de Eduardh cortou o ar como uma flecha. A cada palavra, a tensão aumentava, e não apenas a emocional.

O pequeno dragão se eriçava, sentindo a agitação do elfo. Pequenas faíscas começavam a surgir nos olhos de Eduardh. Seus cabelos, antes ocultos sob o capuz e mantidos sob controle, haviam crescido visivelmente. Longos e brancos como a neve, dançavam no ar como se um redemoinho invisível girasse ao seu redor, puxando o vento apenas para ele. Era como se a mana se manifestasse em forma de tempestade prestes a explodir.

Lenna sentiu um calafrio. A marca deixada por Fazhar começava a pulsar, reagindo. E então, aos poucos, viu outra marca surgir: a de Eduardh, revelando-se vagarosamente sob a pele, brilhando com intensidade crescente.

Ela se colocou à frente do elfo, as mãos ligeiramente erguidas, não em defesa, mas em apelo.

— Por favor, pare com isso. Estamos todos juntos nessa... todos...

Sua voz era baixa, trêmula. Os olhos marejados buscavam os dele. Eduardh engoliu em seco, ao vê-la ali, tão próxima. Então, toda aquela postura agressiva começou a ruir. Ele não respondeu de imediato, mas o olhar que lançou para Lenna revelou mais do que qualquer justificativa poderia expressar. Ela entendeu, sem palavras, o quanto ele estava transtornado, lutando contra si mesmo para estar ali e agir daquela forma diante dela.

— Tem razão... passei dos limites.

— Até que enfim você disse algo coerente depois que saímos do abrigo... — murmurou Vladmyr com rispidez, ainda visivelmente irritado.

— Eu não falei com você, idiota.

— Como é que é?!

— Os senhores estão chamando atenção demais... — a voz de Cázhor se sobrepôs, firme e seca. Ele parou e lançou um olhar em direção à trilha. Alguns viajantes, camponeses talvez, haviam desacelerado o passo, observando com desconfiança o grupo e seus ânimos exaltados.

— Se vão se matar, ao menos esperem até cruzarmos a fronteira. Vai ser mais fácil esconder os corpos — comentou Ector, soltando um suspiro enquanto voltava a caminhar.

O silêncio que se seguiu pesou mais do que qualquer resposta. Eduardh permaneceu parado por um momento, os olhos fixos no vazio da trilha à frente. Suas mãos se fecharam ao lado do corpo, os ombros tensos. Precisava falar.

Antes, carregar aquele fardo sozinho parecia o certo. Mais seguro. Mas agora não era mais só ele. Fazia parte de um grupo. Pessoas que haviam lutado ao seu lado, que confiavam nele. Pessoas que mereciam saber, ao menos em parte, o que os esperava adiante. Não era mais uma questão de escolha. Era uma questão de responsabilidade. E ele já tinha esperado demais.

— Meu pai... — começou ele, hesitante. — Ele não é, digamos, uma pessoa fácil de lidar. Cresci sob a sombra de expectativas impossíveis, de críticas constantes. Para ele, eu nunca fui o suficiente. Foi por isso que... fugi de casa...

As palavras ainda pairavam no ar quando o som ritmado de passos sobre as pedras quebrou o silêncio, fazendo todos se virarem, em alerta.

Elfos surgiram por todos os lados, movendo-se com precisão quase coreografada. As armaduras leves moldavam-se aos seus corpos com perfeição. Apesar de serem elfos silvestres, o acabamento era refinado, forjado com materiais que revelavam uma combinação rara de dureza e leveza, todas timbradas com o brasão da guarda do reino. Seus olhares eram frios, decididos. Não havia hesitação em seus rostos, apenas a disciplina firme, um alinhamento rígido de quem representa a ordem.

O grupo foi cercado num movimento silencioso. Um semicírculo se fechou diante deles, bloqueando por completo a trilha que dava entrada ao reino. Lâminas erguidas miravam pescoços, pulsos e corações, prontas para agir ao menor sinal. Mas nem todas ameaçavam. Algumas estavam posicionadas de forma sutilmente distinta, como se protegessem algo ou alguém. Era um detalhe fácil de ignorar em meio à tensão, mas Eduardh notou.

Lenna prendeu a respiração quando Cázhor se colocou à sua frente, como um escudo instintivo. Ector rosnou algo ininteligível entre os dentes, os músculos do maxilar travados. Vladmyr levou a mão ao punho da espada, mas não teve tempo de avançar. A lâmina que se encostou em seu pescoço perfurou a pele de leve, o suficiente para fazê-lo parar. Um fio de sangue escorreu, lento, como um aviso silencioso.

A tensão era palpável, densa. A fronteira havia sido violada. Para os guardiões de Nifhéas, isso bastava. Mas havia algo mais. Seus olhos não se fixavam apenas em ameaça ou defesa, havia julgamento ali, quase desdém. A presença do grupo ao lado de Eduardh parecia, para eles, uma afronta silenciosa, como se o simples fato de estarem próximos demais fosse um risco. Não era apenas o grupo que era observado. Era ele. E apesar do silêncio em seu semblante, Eduardh parecia saber muito bem o motivo.

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