Kapakocha Brasileira

Autor(a): M. Zimmermann


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 19: Fusão Turquesa

Capítulo 19: Fusão turquesa

As gêmeas atravessaram a barreira de água criada por Zaltan, o vento da tempestade era intenso e Milene tinha que reforçar os próprios movimentos com fios para não ter dificuldade em se mover.

Mirele estava com o sabre na cintura e mosquete em mãos, modificado para funcionar mesmo molhado, além de uma grande mochila. Ela empunhou a arma e mirou ao redor. As ondas fora da barreira se acalmavam e ficavam planas como um espelho distorcido pelas gotas de chuva.

— Fique atenta! Milene sente uma presença perigosa se aproximando… — Se parecia com uma enorme serpente se movendo sob a água, emitindo brilhos turquesa visíveis na escuridão do Abismo Revolto

— Tem certeza de que é seguro andar aqui, irmã? — Mirele parou de mirar e segurou a arma de fogo em postura de marcha.

— Milene sentiu a água ser alterada por misticismo, além do mais, não podemos deixar o pessoal do barco ser pego de surpresa, eles já têm o próprio dever…

“Filhas, os jovens e a bebê são a prioridade aqui, se houver uma emboscada em Tzoldrich, vou precisar que vocês me ajudem a defendê-los… Não quero ser a causa de morte de uma criança. Jamais serei capaz de viver com esse erro, entendem?”

As duas estavam determinadas a honrar o desejo do pai. Milene sentiu a presença se manifestar com mais força, até que a Aura da serpente desapareceu… não… se compactou em uma figura menor. Esguia e Alta, com longos cabelos brancos como os das gêmeas e uma roupa de seda fina, estava Nira, com o que parecia ser um sorriso satisfeito no rosto.

— Pare irmã, a Aura que Milene sentiu está ali!

Uma pequena serpente saiu das roupas de seda de Nira e girou em torno de seu olho, brilhou em turquesa:

— Vocês… têm almas interessantes

— Agora! — exclamou Milene

Mirele, em um instante, já sacou seu mosquete e disparou na cabeça de Nira. A trajetória da bala cintilou em azul antes de se desfazer no vento.

Uma fumaça saiu da cabeça de Nira. Ao se dissipar, revelou que o tiro foi bloqueado pelas suas mãos cobertas de escamas negras.

— Que falta de respeito! — disse a mulher com uma surpresa claramente falsa — Hmm… Eu nunca vi uma arma assim…

Mirele manejou a arma para recarregar o tiro do mosquete, subindo uma pequena alavanca. Milene preparou a postura das mãos enquanto seus olhos brilhavam com um azul forte.

— Vão manipular o disparo novamente? Me pergunto de onde o tiro virá agora…

Outro disparo foi feito. 

Nira desviou desse com facilidade, apenas virando a cabeça. Viu um fio azul cruzando sua vista, ele se conectou ao projétil do mosquete, que começou a voltar na direção dela.

A mulher segurou o disparo entre os dedos, deixando mais fumaça sair.

— Vejo que as duas são boas no combate à distância… Nada mal! — Nira puxou o projétil, ainda ligado pelo fio à Milene.

A garota sentiu o puxão, quase todos os ossos de seu braço sentiram um leve deslocamento. Voou na direção de Nira.

— Milene!

A bruxa fechou o punho, cortando a conexão com o fio, mas seu movimento até Nira não parou. A mulher abriu a mão para agarrar o rosto da bruxa. Milene forçou um pisão no chão de água para tropeçar.

— Teria sido melhor você vir para minha mão…

…!

Num estalar dos dedos de Milene, dores agudas perfuravam as extremidades do corpo de Nira, ela não reagiu à dor. Milene puxou com o braço até o chão, movimentando os fios presos na mulher.

— Movimentos principalmente com as mãos… Mas não se trata de um elemento natural… Ah, uma bruxa, não mato uma dessas há anos — Os olhos de Nira brilharam.

Milene reagiu rapidamente antes que a explosão de fogo viesse, usou outro fio para se puxar na direção da irmã. Mirele a agarrou e colocou ao lado.

— O que é isso?! Ela nem tá se esforçando! Que misticismo é esse…? — O coração de Mirele palpitava de medo e ela mal conseguia controlar a respiração.

— Irmã… Lembre-se da nossa missão… O papai está incapaz de lutar, e temos que proteger a bebê tanto quanto a tripulação do navio!

A explosão de fogo turquesa se desfez com o vapor de água subindo até o céu. Apenas Nira restava no horizonte, ela recuperou a postura para ver as gêmeas, quando Mirele lançou uma bola de cerâmica na direção dela.

Crack!

Uma nuvem de fumaça se formou ao redor da mulher. Nira não conseguia ver, então recorreu à leitura de Aura das duas, Milene sumiu e Mirele estava correndo ao redor da nuvem disparando.

Os tiros acertavam Nira, que perdia lentamente a paciência, bolinhas de metal perfuravam suas pernas e braços. Mas a dor era irrelevante.

— Lutar contra essas duas pestinhas separadamente é… Muito chato…

Nira abanou os braços, duas asas de dragão pretas surgiram de seu corpo, dispersando a fumaça e redirecionando os disparos de Mirele.

— Milene! É sua chance!

Por cima, a bruxa manipulava fios para se movimentar entre as gotas de chuva, e, com puxões dos dois braços, diversos fios que saíam por baixo da água prendiam Nira, queimavam seu corpo e asas recém-formadas.

Nira sentiu os ferimentos dessa vez, e seu corpo estava firmemente restringido, ela fez um sorriso sinistro. Percebendo que outra explosão de fogo não funcionaria.

— Argh! Você até que é forte, bruxa! Mas não posso deixar que outras pessoas atrapalhem a luta de Zaltan. Aliás…

“O sabre negro… tem que estar aqui!”

— Irmã! Milene conseguiu prender ela, agora é só disparar!

— Do que você está…

Ao olhar para Mirele, Nira não podia acreditar, daquela enorme bolsa que a jovem carregava nas costas, saía um canhão inclinado na direção dela, com o pavio aceso.

As duas tomaram uma aposta para que aquele pedaço de corda aceso não se apagasse na chuva, Mirele fechou os olhos e o canhão disparou um enorme projétil na mulher.

O recuo destruiu a arma em um único tiro, Mirele logo se desfez da mochila para aliviar o peso.

— Não vai ser legal ser acertada por isso… — Nira já estava suando, ou, no mínimo, tendo que se esforçar — Nrgh!!!

Usou todas suas forças e se libertou dos fios, desestabilizando Milene no ar, que começou a cair. Antes que a bruxa pudesse recuperar os fios no corpo dela, Nira deferiu um soco contra a bala de canhão com o punho coberto das chamas turquesas.

O projétil virou pó, e agora, as gêmeas não conseguiriam fazer outra combinação de ataques ousada.

— Vocês são certamente fortes… Ah… Esse oriente é cheio de pessoas interessantes…

Milene cai no chão de água, duro como concreto. Ela deixou as gotas de água escorrerem.

“Mas que droga… Já tão cedo?!”

Nira se aproximou do corpo caído de Milene e a levantou pelo pescoço. A menina tentou se contorcer e relutar por apenas um suspiro de ar. À medida que se mexia, Nira apertava mais seu pescoço, até que perdeu a consciência.

— Suas almas. Agora eu entendo o que é… estão fragmentadas… Como isso foi acontecer?

— Tire suas mãos imundas dela, sua bruxa! — Mirele chegou correndo desesperadamente em uma investida com o sabre.

Nira segurou o golpe com a outra mão.

— Bruxa? Eu? Até onde eu sei, quem usa bruxaria é sua irmãzinha… — disse Nira enquanto aproximava o rosto de Mirele.

— O que… você é…?

— Nira Rajaput, dragoa das águas…

Os cabelos de Nira se espalharam no vento, cada gota de chuva que encostava nela evaporou quase que instantaneamente. Mirele sabia de uma coisa, que estava com muito medo.

“Seria ela um dos membros da Elite d’O Círculo? Esse… é o nível de poder deles…?”

Os olhos da dragoa brilhavam intensamente enquanto ela carregava mais Aura em seu corpo. Concentrando mais poder nas palmas das mãos.

Mirele soltou o sabre e tentou socar Nira no rosto, só para ela a segurar assim como Milene.

— Agora as duas estão em minhas mãos… Que almas mais imperfeitas! Deixe-me corrigir isso…

“Uma bruxaria sem conexão com a entidade… e uma desconexa… ela tem um ótimo físico, ao menos será um bom receptáculo”

— Milene… maninha…

— Pare de focar nela… Mirele era seu nome? — a mão de Nira que segurava Milene começou a brilhar em turquesa, seu rosto exprimia um sorriso dócil para a desconexa — Bem, Milene é um nome que certamente não será mais importante.

Milene, desacordada, tinha sua Aura reduzida a um nível mínimo. Sua irmã tentou estender o braço até ela, alcançar o que jamais conseguiria…

As chamas foram liberadas, eram diferentes agora. Mais intensas e ainda mais brilhantes, eram tão bonitas… Pelo menos era o que Nira pensava.

Mirele observou em choque enquanto a silhueta negra da sua irmã em meio às chamas se desfaziam em um pó que voava ao vento da tempestade. Um relâmpago atinge as proximidades, provocando um terror ainda maior no sorriso inocente de Nira.

Sua irmã foi vaporizada diante de seus olhos, a menina nem conseguia acreditar… também estava prestes a apagar, mas era tudo o que podia fazer… Queria gritar, espernear, chamar por seu pai para vir salvá-la. Mas do que ele seria capaz? Eram iguais… desconexos, fracotes comparados aos usuários de misticismo.

O sangue pulsando pelo corpo dela queria gritar, cada célula de seu corpo suplicava por ajuda, mas ela não podia fazer nada, estava à mercê de uma oponente extremamente mais poderosa.

A água da chuva provocava formigamentos fortes no corpo da jovem, o vento deixava-a enojada. Ela estava com vontade de vomitar. Nira abanou a mão para tirar as cinzas restantes, com a graciosidade igual à de remover um inseto.

— Ah…! Mi-Milene!! Não… — Mirele não conseguia falar direito pelo aperto de Nira

— Nuh-uh… Shh… Faça silêncio, minha querida. Agora você será perfeita, e estará junto de sua irmã para sempre!

!

— Mas não se preocupe, não vou matar você…

Das chamas de Nira, um pequeno brilho ainda restava do corpo de Milene, um brilho cintilante e azul que flutuava, tentando escapar para o alto…

— Deve estar se perguntando do que se trata este brilho minúsculo que saiu do corpo de sua irmã… — Nira o agarrou ferozmente e girou o braço.

— Na verdade, isto se trata mesmo é da alma dela, o remanescente de seu misticismo e Aura neste mundo…

Nira jogou Mirele, quase inconsciente, para o alto, e deu um soco em sua barriga com a mão que segurava a alma da irmã. Um grande choque de Aura surgiu entre as duas, em cores azuladas e alaranjadas, como se a presença das duas estivessem se fundindo naquele exato momento.

Mirele foi jogada para muito longe, quase no limite da plataforma de água de Zaltan. Caída, ela já não sentia mais dor, pelo contrário, ela se sentia mais forte. Mas não queria se levantar, seu espírito de luta foi esmigalhado. 

Ela se lembrou de Lâmina Gélida e de Heinrich, de como os dois eram fortes, profissionais em esgrima, mesmo sem misticismos definidos… Ela se lembrou…

 


 

— Veja bem, General Cahrazan… Tem certeza que quer adotar as duas? — disse o gerente do orfanato de Tzoldrich.

— Elas são irmãs, gêmeas ainda por cima, por que eu iria querer separar elas?

— Não é querendo insinuar nada, mas a de rabo de cavalo é uma desconexa…

— E dai? Grande parte da população é desconexa… até mesmo eu!

— Mas você é o herói do ducado! Essa menina não tem nem um pouco de Aura…

Estavam os dois discutindo na sala ao lado. Dentro do saguão principal, Mirele estava tendo suas construções destruídas mais uma vez pelas outras crianças.

Chutavam e quebravam suas gambiarras e estilingues, por mais simples que fossem. Ela gostava de construir… Mas todos sempre tiveram inveja de sua criatividade e de sua persistência diante do desafio de já ser uma desconexa, e o pior de tudo…

Viviam comparando-a com sua irmã. Milene.

Uma usuária de bruxaria que nunca se comunicou com a entidade que proporciona o poder dos fios. 

Ela chegou e espantou as outras crianças, ameaçando cortar os cabelos delas com o poder místico. Mirele estava agachada no chão chorando.

Mirele nem conseguia lembrar porque estava chorando naquele dia. Mas sabia que esses eventos se repetiam até que ela fosse adotada por Heinrich alguns dias depois…

Sempre teve que ser protegida das ameaças, sempre deu tudo de si… Mas nunca sabia o que faltava para que ela fosse forte de verdade, o que ela tinha que talvez seu pai e sua irmã não tivessem…

“Sempre me protegem das ameaças… Mas meu pai e minha irmã não estão mais aqui…”

 


 

“Você tem que continuar!”

— O quê?!

Por um instante, Mirele achou que fosse a voz de Nira a provocando. Sua visão estava diferente. Parecia que todos os objetos brilhavam, principalmente a mulher-dragão na distância.

Os sussurros da voz feminina ainda ecoavam pela sua mente.

— Isso é?

“Irmã! Estou aqui!”

— Milene! Onde…? — ela se virou ao redor, mas não viu nada. Apenas a voz ecoava dentro de sua cabeça, mesmo quando não falava. Mirele ainda sentia os sinais místicos pedindo para ela persistir.

Mirele se sentia mais forte, mais rápida, e tudo isso amplificado de maneiras altíssimas. A dor no coração era grande, mas todos os ferimentos do golpe de Nira nunca pareciam ter existido. Ela se sentia invencível.

“Pegue o sabre!”

Inconscientemente, um fio foi até o sabre largado aos pés de Nira, retornando para as mãos de Mirele num piscar de olhos.

“Essa é… Milene?”

Era quase como se outra pessoa estivesse controlando parte dos movimentos dela. Ela pensava e agia, mas sentia como se houvesse um segundo cérebro dizendo ao seu corpo que fazer. E seu corpo atlético sabia responder perfeitamente.

Nira percebeu a arma sendo puxada e se virou para Mirele levantada, ela disse algo, mas Mirele não foi capaz de distinguir o que era.

A jovem estava ainda com as roupas de antes, as placas de armadura de couro chapado. Mas algo havia mudado, Sua Aura tinha uma cor duplicada… O azul-claro de Milene junto ao amarelo de Mirele. Olhos agora alaranjados.

— Misticismo herdado, uma Aura verde azulada assim como a minha… Parece familiar…

O rosto da mulher-dragão era de extrema animação… Ela parecia muito feliz. Os pulsos de Aura que emanavam da jovem a certificaram de que Mirele estava se comunicando com a entidade de Bruxaria.

Após a morte, de alguma forma, Milene transcendeu o próprio plano espiritou para virar a guia de sua irmã contra a dragoa.

Mirele segurava o sabre com uma firmeza que nunca conseguiria antigamente. Ela entrou em postura de combate, e, com os cálculos já realizados na sua mente, ela correu na direção de Nira em outra investida.

Nira colocou os dois braços no chão de água, de lá. Mirele conseguiu sentir a presença de uma Aura que serpenteava sob a água. Ela se aproximava, ficava mais intensa e mais forte. De um brilho turquesa do chão…

— Não há como vocês vencerem… Mas isso vai ser interessante… — Nira concentrou ainda mais sua Aura, deixando chifres brilhantes da mesma cor esverdeada tomarem lugares em sua cabeça — Dito isso…

O brilho da Aura de Nira se espalha pelo chão de água, o deformando, sobrepujando a feitiçaria de Zaltan em um poder inimaginável.

Invocação dracônica…

A explosão emergiu das águas junto de um dragão imenso, que ia além da enorme barreira de água. Os jovens no navio e as gêmeas, agora unidas, presenciaram o que era o poder máximo de alguém na Elite do mundo místico.

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