Volume 1 – Arco 2
Capítulo 20: Mãe e Irmão
Era como se todas as ambições antigas de Zaltan tivessem se despedaçado ao esquecimento. Ele nunca esteve tão focado na sua missão atual — e isso chegava a um nível anormal.
Não queria se importar com a responsabilidade de matar a bebê depois, porque seu alvo estava bem diante dele. Isso ia além de um mandato d’O Círculo. Era um desejo de vingança que foi cozinhado no cerne da alma do rei.
Sempre foi muito fraco para se proteger, e nenhuma das pessoas que deveriam protegê-lo conseguiam.
Zaltan estava em uma grande dúvida da mudança repentina de Jasmyne. O rei estava se defendendo e desviando com facilidade das estocadas da xamã com sua manipulação de água. Ora subia um dedo, ora girava a mão.
“Foi Alessa? Foram aqueles jovens no navio com quem ela conversava? Será que foi a outra bebê?”
A Aura de Jasmyne exalava com uma potência destruidora, conseguindo até mesmo manipular os ventos da tempestade. Mas Zaltan não sentia uma ameaça maligna vinda de seu ser. Era um senso protetor, um senso de mãe que ela nunca pareceu ter, nem pela própria filha.
“Não importa. Ela vai pagar. Além do mais…”
Zaltan ponderou sobre a adaga que lhe foi enviada pela Elite, um objeto que poderia ser apenas portado pelo destinatário da carta de missão. Uma faca avermelhada que parecia ter uma enorme concentração de misticismo, incluindo Aura própria.
Olhou para o lado, para ver um enorme braço esquelético descendo até ele. Zaltan ficou surpreso por não ter ouvido Jasmyne declarar o ritual em voz alta — algo raro. Cogitou que fosse uma das propriedades do sexto estágio.
Feitiçaria contra o xamanismo… seria realmente um embate injusto se Zaltan não conhecesse sua oponente como a palma da mão. O rei levantou o braço, usou a água do mar para fazer uma barreira contra o ataque de Jasmyne.
Cada impacto de seus ataques xamânicos emitia chamas escuras. Jasmyne mal estava consciente do que fazia. Sendo apenas movida pela vontade de proteger a bebê — declarada antes de despertar seu poder total.
— Ela está lutando apenas com o próprio instinto, como uma aberração… uma besta. Mas não consigo deixar de sentir algo estranho ainda vindo dela.
“Um minuto se passou” contou Zaltan
O controle da luta e do ambiente pendia completamente a Zaltan, ele estava num oceano tempestuoso. Usando parte de seu poder para nivelar a água e erguer uma barreira ao redor do navio. Mesmo assim, ele não se cansava.
Jasmyne enfiou a lança no chão e elevou o braço oposto sem dizer uma única palavra. Sua Aura reagiu com almas penadas saindo do oceano. Náufragos de décadas e séculos anteriores agora lutavam pela xamã.
Todos eles correram na direção do Rei, Zaltan ainda se mostrava desinteressado em meio ao mar de mortos-vivos que o rodeavam.
Fechou o punho. As gotas de chuva da tempestade se transformaram em flechas que perfuraram os espíritos até que se desfizessem em uma fumaça escura, sucumbindo às águas novamente.
— Patético, Jasmyne. Vamos, quero uma luta mais interessante.
A fumaça dos remanescentes dos espíritos é engolida por outro ritual sinistro, uma névoa seca que parecia sussurrar dialetos esquecidos no ouvido de Zaltan.
O rei tentou abanar a mão para desfazer a névoa, rapidamente notando que ela não possuía umidade.
Um clarão roxo piscou no meio da névoa densa, pulsando junto de uma onda de choque. Zaltan foi forçado a fazer uma barreira de água para absorver parte da vibração, contudo, ele ainda é afetado.
O rei cambaleou para trás ao ser desestabilizado, a planície do mar criada por ele quase cedeu.
Seus ouvidos latejavam, sua visão ficou turva e Zaltan sentiu uma ânsia de vômito muito forte. Usou sua manipulação de água para manipular o próprio sangue e segurar o corpo para não ceder.
Ela tirou um de seus sentidos que usaria para poder adivinhar a posição da mulher. Um dos ímãs da detecção de Aura, que funciona como uma bússola.
A carta de missão de Zaltan estava parada, ela ainda piscava quando recebia a voz de algum membro da Elite. Mas Zaltan já não conseguia entender o que diziam.
Não poderia decepcionar seus “patronos” ali. Mas também não conseguiria lutar de maneira ofensiva. Jasmyne tinha a vantagem total.
“Sinta as vibrações da água…” pensou
Mas ele não sentia nenhuma perturbação próxima, só as distantes vindas do navio, de Nira e suas criaturas. O coração de Zaltan palpitou por não sentir a presença de Jasmyne se aproximando, pensou rápido, e cogitou que seria um ataque vindo de trás.
Sua aposta se concretizou, a xamã se movia pela névoa como um espectro, sem tocar no chão, sem perturbar a água. E saiu de seu esconderijo com uma estocada da lança xamânica.
Zaltan reagiu rapidamente, puxando água do chão para fazer uma lâmina que decepa o braço de Jasmyne. Ela não grita, nem xinga, ela não faz nada. As forças místicas que controlavam o seu corpo, simplesmente deixavam o sangue jorrar. Aquela nem parecia ser Jasmyne, mas uma marionete, uma casca vazia que agora pertencia ao Lorde Thuzaryn.
“Agora foram dois minutos!”
A lança errou a cabeça de Zaltan por alguns fios de seus cabelos sedosos, fincou na água e permaneceu lá.
Jasmyne ainda estava no ar, e sua mão brilhou em roxo e seu corpo se desintegrou, com até mesmo sua Aura desaparecendo.
Zaltan sentiu a presença ameaçadora voltando pelas costas novamente, em outro brilho. Jasmyne havia conseguido rematerializar seu corpo, usando a arma ritualística como um catalisador. Ela realizou um teletransporte quase que instantâneo.
A xamã segurou e desferiu uma estocada com o lado cego da lança, acertando Zaltan bem no seu peito, o mesmo não conseguiu amortecer o impacto com água a tempo, tendo algumas costelas fraturadas como resultado.
A ofensiva de Jasmyne continuou. Ela levantou a perna e golpeou Zaltan na cabeça com o calcanhar do salto-alto. A concussão o fez soltar sangue pelo nariz e pela boca, mas ele não caiu ao chão. Ele ainda se mantinha de pé.
Ela preparava outro chute, agora no abdômen. Contudo, Zaltan consegue reunir suas forças restantes para amenizar o golpe, levantou uma pequena barreira de água, que se desfez perante a potência da sexta fase de Jasmyne.
Zaltan foi lançado para longe, mexeu os braços para fazer paredes amortecidas de água que o segurassem. Quando pisou no chão, ele cambaleou novamente. Suas vestes brancas agora estavam cobertas pela imundície vermelha que ele tanto detestava.
“Esses golpes são tão familiares… Que raiva…!”
A figura de Jasmyne ficava cada vez mais nítida no horizonte à medida que a névoa ritualística se desfazia no vento. Os olhos dela ainda brilhavam.
A xamã ergueu a cabeça e fitou Zaltan, ele tirou o sangue dos lábios com a mão e depois removeu suas luvas, jogando-as no abismo do oceano.
— Você poderia ter me matado com um golpe da lança após sua combinação de ataques fajuta… Se tivesse se sacrificado enquanto estivesse no quarto estágio, um ataque seu seria o bastante para me aniquilar…
Jasmyne começou a caminhar lentamente na direção de Zaltan. Um raio atingiu o horizonte próximo, emitindo uma sombra da enorme mulher sobre a figura do rei. Zaltan não conseguia dizer se sentia medo, ele planejou cada detalhe desta luta. Só não contava com a mulher abandonando tudo para proteger uma criança — pensava que Jasmyne era mais egoísta do que isso…
“Minhas barreiras de água ainda são muito lentas em comparação ao teletransporte dela… Mas não chega a ser imediato! O que significa que eu só preciso de algo que supere a velocidade dela…”
Uma pequena faísca de luz se direciona ao oceano na distância, seguido de um trovão tão alto que Zaltan sentiu a vibração do som em todo seu corpo. Seus olhos se arregalaram enquanto brilhavam em azul — uma epifania atingiu a mente dele.
“É isso! … Ou eu seguro ela por mais dois minutos…”
…
“Não… vou matá-la antes que ela morra pela própria técnica.”
Zaltan estalou os ossos dos dedos e esticou os braços, como se estivesse se aquecendo. Jasmyne também entrou em postura de luta com sua lança, a capa negra que ela usava agora balançava ainda mais intensamente com o vendaval que chegou.
O chão de água ficou estático como nunca, cada gota de chuva não perturbava nem fazia mais ondas, o instinto de Jasmyne dizia para ela que Zaltan tramava alguma coisa.
O feiticeiro gesticulou com as mãos para que tentáculos de água viessem pelo chão sob Jasmyne e a agarrasse. A xamã desviou com facilidade e começou a esquivar-se dos ataques iminentes do feiticeiro.
Zaltan lançava estacas de água, transformava a chuva em projéteis letais. Tudo consciente do perigo que Jasmyne representava, impedindo que ela tivesse tempo de efetuar qualquer ritual ou que se aproximasse o bastante para iniciar um confronto corpo a corpo.
— Vou te mostrar o quão forte eu fiquei… Aí veremos se você irá me chamar de decepção novamente!
Mesmo com tantos ataques de água sendo lançados pelo feiticeiro, ele parecia ficar muito concentrado olhando para o chão, estagnado a água cada vez mais, restringindo qualquer movimento de cada molécula com uma mão enquanto se defendia com a outra.
Jasmyne observa uma brecha entre as estacas de água de Zaltan e salta entre elas, se aproximando do rei em um instante. Mas Zaltan já esperava por isso: com a mão que usava para se defender, ele flexionou todos os dedos, aprisionando Jasmyne dentro de uma bolha de água. Esmagar ela com apenas força bruta seria impossível, já que ela se livraria daquela armadilha com facilidade, portanto…
O feiticeiro fez um gesto de lançamento e a bolha de água foi arremessada com Jasmyne dentro para o outro lado do campo de batalha.
A xamã aterrissou de maneira bela e já se preparava para jogar sua lança, com a mão brilhando para um teletransporte assim que a arma atingisse o ponto alvo.
“Antes que a arma dela me acerte! A água está alinhada, meu fio de vapor de água já chegou nas nuvens…”
— Resistência anulada!! Venha, RELÂMPAGO!!! — berrou o feiticeiro.
Zaltan não conseguiu contar naquele instante, mas já tinham se passado três minutos.
Os fios de cabelo de Jasmyne se arrepiam e começam a levitar. Zaltan sentiu um leve cheiro metálico trazido pelo vento, os olhos brilhantes da xamã se arregalaram.
O clarão branco do raio colidiu com o roxo da mão de Jasmyne, Zaltan protegeu os olhos, enquanto o barulho do trovão tremia em todo o ambiente.
— Arf… Não se vence uma luta apenas lançando ataques fortes, xamã… É por isso que dizem por aí que magos são os usuários de misticismo mais fortes…
“Apesar de que ela lutou de forma tão centrada, mesmo como uma carcaça vazia… Xamanismo é realmente muito forte.”
Quando o brilho diminuiu, Zaltan olhou para o local do impacto. Sua visão ficou turva novamente e o brilho em seus olhos diminuiu, a manipulação constante da água no chão era cansativa demais.
— Mas eu não posso!!!
Ele socou o chão ao se ajoelhar e paralisou a água até que ela retornasse ao estado plano, como antes.
“Eu esperava que ela lutasse, que suplicasse pelo o fim da luta, ou para que eu usasse a minha força total… Isso… não está sendo satisfatório! Eu esperei tantos anos por isso, mas por que não sinto nada?!”
Enquanto Zaltan se afundava nos próprios pensamentos e no zumbido causado pelo seu tímpano estourado. Ele sente um peso caindo sobre seu ombro, uma mão, que usava de todas as suas forças para se apoiar nele.
Se virou para o lado apenas para ver um corpo quase que completamente carbonizado de Jasmyne. Seus olhos não brilhavam mais… Agora ele conseguia ver os belos tons de azul naturais dos olhos da xamã. Uma vista sem filtros, sem interferências de misticismos nem de abusos de poder.
Por um instante, lembrou o jovem daquela mesma mulher que ele via pela janela do castelo quando era pequeno. Aquela figura que jurava se apoiar quando precisasse, mas que sempre… o feriu?
Em uma voz rouca e fraca, Jasmyne suspira levemente. Ela foi atingida pelo relâmpago, mas conseguiu se teletransportar, mesmo após o impacto.
— Zaltan… me desculpe… por matar tantas pessoas…
O rei arregalou os olhos em dúvida. Como ele conseguia ouvir? Como ela poderia se desculpar por todas essas pessoas, mas não se desculpar pelo que fez com ele?
— E onde estão as minhas desculpas… sua desgraçada! — Ele se manteve agachado, deixando que a xamã segurasse seu ombro.
Ela tossiu e admitiu, com certo calor na voz:
— Eu… abandonei você e Alessa, sim…
A mente de Zaltan foi preenchida dos fragmentos das memórias, dos socos, das portas batendo, dos gritos da xamã e dos dedos quebrados…
— Não estou falando disso, infeliz!! — Zaltan deu um tapa no braço de Jasmyne, que caiu ao chão, as veias saltavam da sua testa em uma fúria desenfreada. — Que tal todas as vezes que você…
…!
A carta de missão voltou a sussurrar, agora ele podia ouvir ela também, mas a mensagem estava incompreensível. Zaltan cuspiu sangue na própria mão, e, pela primeira vez, a certeza absoluta de sua vingança não falhou.
“Ué…?” pensou Zaltan
As palavras não saíam de sua boca, ele estava certo do que queria dizer, mas algo simplesmente não computou em sua cabeça… Talvez seja a concussão da luta que o deixou confuso? Ou talvez o uso excessivo do misticismo esteja inibindo o senso comum, ou a lógica?
— Por todas as vezes que você… me bateu, me menosprezou. Eu vim até aqui para matar você por vingança!! A missão d’O Círculo não passa de um bônus… — Ele falava cada palavra, mas não tinha uma firmeza no tom.
— Zaltan… cof! Eu… Do que você está falando…?
O zumbido no ouvido de Zaltan diminuía, mas seu mundo se fragmentava. Não sabia o que pensar, nem como reagir. A sensação ia além de qualquer coisa que ele jamais presenciou…
“Como assim? Ela não…? Eu não consigo me lembrar… Por que não consigo me lembrar?”
Cada dor que ele sentiu, cada memória de tristeza era lentamente apagada, sua consciência voltava lentamente para a realidade, ao mar com a tempestade. A barreira de água agora estava abaixada. O dragão turquesa se desfez na distância e o barco parecia calmo.
— Zaltan… por favor… poupe… a bebê…
Tum!
Zaltan se acalmou e respirou fundo, sua cabeça estava muito confusa. Tudo o que ele queria agora eram respostas. O vento e as ondas voltavam a fazer sons, e os murmúrios da carta eram audíveis, desta vez, diversas vozes conversavam, incluindo Nanavit, IIsaac e o homem anônimo.
— Ei, Jasmyne… O que está acontecendo…
A carta radiou em um brilho prateado, com parte do texto no papel sendo riscado. O evento foi seguido de uma voz ressoando na cabeça de Zaltan. O envelope se dirige para a frente de seu rosto, exibindo o conteúdo da mensagem em texto:
“Objetivo de missão concluído: Matar Jasmyne Thuzaryn! Conclua os outros objetivos para adquirir sua recompensa: Ascensão à Elite d’O Círculo”
Zaltan agarrou a xamã pelos ombros e começou a chacoalhá-la, desesperado, e com lágrimas nos olhos.
— Ei! Jasmyne!! Me responde: O que está acontecendo?!
— Que fofo! — comentou Nanavit — Parece um bebezinho chamando pela mamãe! Hahaha!!
A voz dela ainda ecoava da carta enquanto brilhava em prateado, uma provocação fortíssima que conseguiu se prender bem nos nervos de Zaltan como um parasita.
Os olhos de Zaltan brilharam enquanto ele se virava para a Carta de missão, sentia uma enorme vontade de xingar Nanavit, esmurrar a cara dela, mesmo sem nem a conhecer…
— Nanavit… Por que eu não consigo me lembrar…
— Esqueça, Zaltan. Só mate a bebê agora.
Em um surto de desespero Zaltan gritou para a carta enquanto segurava a xamã morta em seus braços. Cada pingo de Aura seu queria exclamar. Sentiu que cometeu um erro no qual nunca ia se arrepender…
— … Quem é você?!!
…
— Tu é burro pra cacete… hein, Zaltan? — a voz dócil e inocente de Nanavit se firmou em um tom imperativo e assustador. O próprio rei de Arquoia se sentiu prontificado a obedecer qualquer ordem que viesse dela naquele momento.
O rei ficou perplexo, conseguindo apenas olhar para a carta, que retornava uma voz desalmada. Em um semblante desolado, perdido, e que parecia extremamente instável.
Antes que Zaltan pudesse responder, uma voz masculina leve interrompeu o próprio vento da tempestade, ao se virar na direção do navio. Ele observou quatro figuras dispostas, algumas em postura de combate, outras apenas olhavam com surpresa:
— Você é o cara que veio matar a bebê? — disse Cálix, apontando o dedo para ele.
— … Cálix? — sussurrou a carta, a voz de Nanavit fraquejava pela primeira vez.
— Fechar conexão — disse Zaltan, interrompendo-a — É… sou eu, sim.
O espadachim ruivo mantinha sua espada de aço elevada em uma postura pronta para o combate. Ao seu lado, uma mulher em um longo vestido vermelho observava o corpo de Jasmyne em um semblante aterrorizado, a maquiagem em seu rosto escorria como sangue.
O jovem de cabelos rosas mexia levemente os dedos e murmurava algum tipo de encantação, Zaltan sentia uma presença divina se alastrando. E, próximo a ele, uma pequena garota de cabelos escuros que tremia de frio pelo vento e segurava uma varinha na mão esquerda.
Repentinamente, uma faísca de ódio começou a crescer no seu corpo de forma espontânea, um sentimento contrário ao que teve quando Jasmyne estava morrendo. Ele tentou controlar essa sensação por um instante, mas não conseguiu. Não conseguia controlar, mesmo que fosse irracional.
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