Kapakocha Brasileira

Autor(a): M. Zimmermann


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 18: Trovão

— Falei para ele não beber tanto assim — disse Jasmyne

— Não se preocupe, dona Thuzaryn. Milene e sua irmã vão cuidar bem do barco, ele nos preparou para situações como essa!

— Bruxa… Não me chame mais de “Thuzaryn” por favor…

Com as reservas de bebida baixas, Heinrich decidiu beber o resto da cerveja armazenada. Isso resultou no capitão deitando em sua cama, pois ainda restava uma semana até chegarem em Tzoldrich.

Apesar de ser altamente irresponsável por parte dele. Todos os outros no navio concordaram em deixar ele descansar só por agora. A paciência de Heinrich era como a de um monge. Não seria qualquer um que permitiria aquela quantidade de atrito entre tripulantes no próprio navio.

Ele estava jogado na sua cama como um mendigo, ainda vestindo o casaco longo, Jasmyne percebeu que ele não havia sido removido até agora. Para manter o amigo mais confortável, ela tira o casaco e coloca sobre uma cadeira na cabine dele. A mesma em que está encostado o sabre dele.

Virando-se para ele, Jasmyne perguntou:

— Milene… desde quando ele tem tantas cicatrizes nos braços?

— Milene não sabe… Quando fomos adotadas…

Ela tenta voltar um pouco à memória, se certificando de que seu pai ainda tinha cicatrizes nos braços naquele mesmo dia.

Milene estava certa.

— É, ele já as tinha sim. Mas você e o papai já não se conheciam antes de Milene e Mirele terem sido adotadas? Ele não as tinha?

— Seu pai se aposentou há muito tempo… Ele não tinha essas cicatrizes, nem esse sabre

Roooooonc!

— Raios! Vamos deixar o papai dormir. Ele começou a roncar, agora vai ficar insuportável!

Jasmyne e Milene saem da cabine de ouvidos tampados aos passos rápidos. Se deparando com os jovens e a bebê. Mirele estava no leme acima delas.

— Ele apagou de novo? — perguntou Mirele olhando para baixo

— Sim… — respondeu sua irmã

— Se o pai de vocês é alcoólatra e vocês não gostam… Eu consigo resolver — disse Cálix dando um joinha enquanto sorria.

— Não esquenta, ele não consegue nem ferir uma mosca depois de beber…

— Literalmente! Milene deixou o sabre do papai longe dele, ele não vai conseguir pegar e golpear o barco por acidente…

Com Heinrich dormindo, todos decidiram continuar suas rotinas. Talyra posicionou a bebê sobre um barril que Cálix se aproximou.

Jasmyne subiu para a plataforma do leme a fim de conversar com Mirele em particular. Chegou perto de seu ouvido e cochichou:

— Quanto tempo até chegarmos em Tzoldrich?

— Em torno de quatro dias. A maga esteve nos ajudando com os cálculos e manejando a bebê ao redor do navio para manipular as ondas — a menina soltou o leme e manejou o que parecia ser uma bússola disposta ao lado.

O problema para Mirele era que, como seu pai disse, uma tempestade se aproximava. No Abismo Revolto, isso não passa de uma trivialidade, mas o problema era que estavam com mais pessoas a bordo, e conter o desespero deles poderia ser um pouco trabalhoso…

Jasmyne se preparava para sair do local, até que Mirele a interrompe:

— A propósito… A maga quer falar com você… disse que estava muito envergonhada de vir falar sozinha e acabou pedindo para mim…

“Perto dos amigos ela parece não ter vergonha mesmo…” pensou a xamã

Ela desceu as escadas para encontrar os jovens ao redor da bebê, ela sentava em cima de um barril e todos olhavam para ela em uma surpresa assustadora.

— Maga…

— Shiu!

Jasmyne recuou com o corpo, se aproximou lentamente do círculo dos jovens… A criança estava olhando para eles.

— Tá, passa mais uma vez — disse Vaia

Cálix agarrou uma fruta laranja do bolso e passou diante da bebê. Os olhos vermelhos dela seguiram com muita atenção e arregalaram-se. Ela tentou estender os bracinhos para pegar a fruta enquanto repetia:

— Ca… qui…!

— Nah, não é possível — murmurou Cálix — Isso! Muito bem, pequenina. Agora é só falar…

O clérigo se enfiou à força entre os outros jovens e apontou o dedo para o próprio rosto enquanto ansiava por uma resposta.

— Caqui!

— Ah! QUE DOÇURA!! PERTO O BASTANTE! — ele segurou a bebê e girou ela no alto, com ela sorrindo de volta — Sim! É “Cálix” sua pequenucha!

Vaia pegou a criança de volta, alertando ele para não girar. Após isso, a moça colocou a criança no barril de volta:

— Agora diga “Vai~ a”! — Vaia juntou as mãos e fechou os olhos, aguardando uma resposta

— Caqui!

O rosto da mulher murchou junto do corpo enquanto gemia em decepção. Cálix chegou por trás e colocou a mão sobre o ombro dela em um rosto arrogante.

— É como eu digo, dona Vaia. Eu sempre fui o favorito dela

— Mama!

Todos congelaram, exceto por Jasmyne. A bebê acabava de falar as primeiras palavras e já deixava cair uma enorme bomba diante dos jovens. E mais importante do que isso, ela falou isso enquanto

Vaia ergueu a cabeça devagar, seus olhos fixos na pequenina. Sua mão que tocava o barril tremia em choque. A criança trocava o olhar de Vaia para Talyra

E repete a palavra.

— Pelos três sóis… — Vaia colocou a mão diante da boca em emoção… Não conseguia nem acreditar, seu coração se enchia de felicidade.

— Que loucura, ela já aprendeu duas palavras? — Talyra entrou na frente de Vaia e pegou a bebê, inspecionando-a

— Mama!

— O quê?! Eu?! — Talyra ficou incrédula quase soltando a menina no chão. Ela havia demorado para perceber que a bebê estava se referindo à ela.

— Tomem cuidado! — exclamou Lâmina, se jogando para pegar a bebê

Ao cair de barriga, Lâmina olhou para a bebê, que balançou as pernas:

— Papa!

O espadachim parou no tempo, sem nem saber como reagir.

— Que se dane! — Cálix arremessou o caqui no mar e se jogou no chão perto de Lâmina — agora eu querida… Me chama de papai! 

A boca da bebê se abria e Cálix começava a subir as mãos para cima e para baixo em ansiedade crescente…

“Isso…”

— Caqui!

— Droga!!

— Não ensine essas palavras para a bebê, seu palerma! — disse Jasmyne

Um momento tão fragilizado pela inocência da criança era algo que os jovens queriam que durasse para sempre, eles não sabiam explicar, mas aquele mesmo sentimento na cabana do vilarejo se manifestou novamente. Agora mais forte. Quase como um laço imortal.

Vaia, principalmente, não estava com os sentimentos confusos como os outros jovens. Ela sabia exatamente o que sentir, tanto tempo sendo excluída, sua vida se virou de cabeça para baixo… Por um instante, as memórias, seu passado e sua origem não importavam. 

Ela conseguia se imaginar vivendo com essa bebê agora, uma fantasia dramatizada pelo sofrimento compartilhado dos três outros amigos. Ela se via com eles…

Jasmyne estava olhando para tudo aquilo zangada. Não conseguia se lembrar se agiu dessa mesma forma besta quando Alessa nasceu, sentia que suas memórias estavam se desfazendo aos poucos.

A xamã pegou a bebê das mãos de Lâmina, e olhou para ela. A bebê não responde a ela…

“Eu sei… afinal, você deve ter visto o massacre no vilarejo…”

Ela olhou para o céu iluminado pelos três sóis… As nuvens de chuva que estavam distantes pareciam se aproximar mais rapidamente, e Jasmyne sente um leve arrepio na nuca.

— Ei, xamã… fale para nós… — disse Vaia

Jasmyne se virou para ver os jovens se levantando do chão. Com semblante sérios no rosto. Suas Auras não estavam trêmulas, o que significava que estavam certeiros nas palavras.

A bebê confia neles, e a organização que lhes prometeu respostas para os problemas em suas vidas querem ela fora… “Mas e se tudo isso não passar de uma provação?” Foi o que pensaram.

Não… O Círculo quer essa bebê morta, e ainda quer que a entreguem sem vida no ponto de coleta…

Eles se sentiram muito tolos por um momento, como uma missão de escolta poderia estar voltada para uma pequena e indefesa criança. Ela claramente é especial, e está se mostrando uma ameaça para pessoas com grande poder místico…

— O Círculo quer mesmo matar essa pequenina?! — Lâmina Gélida olhou com um semblante extremamente diferente do que já viram. O sério espadachim parecia louco de raiva,suas mãos tremiam e o ambiente esfriava.

— Se eles já mandaram dois usuários de misticismo poderosíssimos… Acho que vocês podem adivinhar… — Jasmyne voltou seu olhar para o horizonte que estava ficando escuro… — Eu só peço… Já não sou mais digna de ficar aqui e tentar aniquilar a bebê

— Que não seja pelo meu desejo, mas pela vida dela! Protejam esta criança!!

Boom!

“Me achou, então?” pensou a xamã.

O barco parou repentinamente, com a água ao redor dele agora perfeitamente planificada, como um espelho numa demonstração de controle místico impressionante. As nuvens de tempestade chegavam. Assustadoras. Imponentes.

Altas paredes de água rondavam o barco, impedindo que qualquer um visse o lado de fora. As reflexões do chão e das paredes formavam espelhos onde os jovens conseguiam ver os próprios reflexos perfeitamente.

Ding-ding!

Milene soou os sinos no topo do mastro. Gritou para os que estavam no convés, incluindo sua irmã.

— A tempestade chegou muito rápido!!

— O que está acontecendo?! — respondeu Mirele

— Estou sentido uma elevação muito alta na Aura ao redor… Um monstro?!

— Não… — disse Jasmyne — Peguem a bebê!

Ela jogou a criança para Vaia sem hesitar. A bebê estava prestes a chorar. Com o caos do ambiente aumentando exponencialmente.

— Protejam-na!

As cartas nas roupas dos jovens brilharam mais intensamente, como se a própria missão suplicasse para a cooperação.

— Zaltan chegou… as consequências de meus atos… Tenho que resolver isso!

Os jovens olharam para ela fixamente… Ela estava colocando sua vida na frente da bebê que tentou matar. O olhar sombrio voltou para o semblante de Jasmyne, mas agora com um brilho roxo, determinado a lutar por ela.

— Esperem! Se abaixem!! — gritou Talyra enquanto puxava seus amigos para baixo. Jasmyne apenas virou a cabeça para o lado, sem nem tremer na postura.

“Lorde Thuzaryn…”

Um corte de água havia atravessado todo o convés, partindo o mastro, que começava a cair. Todos ali quase perderam a cabeça se não fosse pela leitura de Aura avançada da maga.

“Me conceda…”

A parede de água abaixou, revelando os cabelos louros do rei Zaltan, em toda sua gloriosa vestimenta branca, preta e dourada. Ele olhava com olhos azuis brilhantes ao manipular a água em uma feição entediada, mas séria.

Ao seu lado, uma carta prateada flutuava, emitindo uma luz levemente avermelhada que revelava o verdadeiro objetivo da missão. O selo no envelope ostentava um padrão xadrez, idêntico aos símbolos que surgiam quando as vozes da Elite falavam com o rei.

“Esta última matança.”

— Ritual de primeira fase: Armadura

O vestido preto de Jasmyne brilhou em roxo, com a aura de caveiras e ossos mudando as roupas para outras menos frouxas, juntos de uma capa, ainda tudo preto.

— Ritual de terceira fase: Arma amaldiçoada

Do chão, diversas almas penadas começaram a tomar a forma de uma glaive vermelha e roxa. O cabo elevou-se até o braço estendido de Jasmyne.

A xamã usou o braço livre para soltar o cabelo preso.

“Para atingir o sexto estágio de xamanismo…”

— Eu vou abandonar tudo que posso… Me entrego a você, Lorde Thuzaryn

“Tanto esforço para me abandonar, mas vocês sempre acabam voltando” sussurrou uma voz em sua cabeça

A Aura de Jasmyne explodiu em um brilho roxo intenso, uma enorme caveira púrpura subiu aos céus enquanto seu misticismo era elevado ao nível mais alto já presenciado. Ela se prepaou para atacar, agora com os olhos completamente brancos.

O rosto sério de Zaltan se tornou um sorriso maluco. Ele agachou seu corpo em uma postura de luta. A carta com a chamada da Elite d’O Círculo recebia a entrada da voz doce e jovem de Nanavit mais uma vez:

— Uma xamã em potencial total? Zaltanzinho… ela vai morrer em poucos minutos. Você só precisa segurar ela!

— Nem pensar!! Esse é um sexto estágio podre! Ela não o atingiu de maneira legítima. Perdeu a filha e não está na idade do quinto estágio…

“Jasmyne está ficando mais forte a todo momento, se eu tivesse que chutar, diria que seriam mais cinco minutos até o corpo velho dela perecer…” pensou Zaltan

Um sexto estágio só é assustador quando parte de um xamã de quinto estágio, e só é assustador para os fracos, onde Zaltan não se encaixa.

Jasmyne se impulsiona do navio como um relâmpago até o rei. As gotas de chuva foram expulsas da trajetória, se espalhando para todos os lados.

— O floreio vai começar!! VENHA, JASMYNE THUZARYN!!!

A parede de água se fechou no momento em que a xamã a atravessou, só se viam brilhos roxos e azuis e outros respingos de água indo para o alto.

— Eu ia pedir para ela me treinar um pouco… — disse Talyra

O barco estava caindo aos pedaços com apenas um golpe de Zaltan. Milene se pendurou pelos destroços com os fios.

— Milene sente mais presenças se aproximando! — ela alerta aos jovens enquanto Mirele se aproximava.

Com os olhos da bruxa, ela via diversos fragmentos de uma Aura maior se aproximando.

Da água, surgiam dezenas de serpentes turquesas com asas, fazendo enormes sombras com a luz remanescente dos três sóis.

Mirele virou a cabeça para a direção oposta da luta de Jasmyne e Zaltan. Como se sentisse algo ainda pior. Mesmo não conseguindo sentir Aura como sua irmã.

— Vocês quatro, cuidem da bebê! Eu e Milene vamos dar uma olhada nessa outra companhia. — Mirele pegou seu sabre e um mosquete no estande de armas.

— Vaia! Pegue a bebê e vá para os aposentos enquanto ficamos aqui, a segurança dela é a prioridade máxima — disse Cálix

Vaia não queria recuar agora. Colocou a bebê dentro de um barril e o levou para os aposentos.

— Nossa missão começou para valer! Vamos acabar com esses bichos! — gritou Talyra enquanto puxava seu livro e varinha.

As criaturas aquáticas desciam para o convés enquanto as gêmeas pulavam do navio para a água, que estava se comportando como um chão.

Elas correram até a parede e Milene despedaçou-a com fios.

Quando Cálix estava preparando suas bênçãos ainda, um dos pequenos dragões preparou uma mordida em um bote ao descer.

— Maldição…

Um vulto vermelho passa na frente, perfurando as escamas duras do monstro com suas garras afiadas. O sangue escuro da criatura escorria pelo braço surpreendentemente atlético de Vaia.

— Eu vou defender a bebê também! Mantenham a entrada dos aposentos segura! — exclamou a moça

Cálix fez um sorriso confiante para Vaia, que respondeu da mesma forma. 

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