Kapakocha Brasileira

Autor(a): M. Zimmermann


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 17: O Alvo

Em um momento calmo no mesmo dia em que a carta de Jasmyne se desfez, Cálix se aproximou dela. Com uma feição em parte triste, mas como se já tivesse feito isso antes.

Apesar do jovem tentar manter os pensamentos livres de seu ódio pelas coisas que Jasmyne fez, ele tentava sempre se lembrar de quem lhe deu forças quando ele sempre precisou.

Era como um sussurro calmo, acompanhado do vento e do som das ondas, toda vez que ele cerrava os punhos, ou sentia vontade de socar a boca da Xamã. Mas o vento passava e sua raiva era levada pelo lembrete amigável que seu deus estaria sempre ao seu lado.

Estavam sentados de pernas cruzadas na plataforma do leme. Uma leve luz pairava sobre a cabeça de Cálix, semelhante aquela que ele tinha enquanto orava.

— Mas… por que você causou mal a tantas pessoas? Como só percebeu o erro de seus atos agora?

— Desde jovem, eu era empurrada pelo Lorde Thuzaryn a buscar mais força. A jovem Jasmyne nunca questionaria uma ideologia como essa, afinal…

O Xamanismo é uma estrada curta e fácil para o poder, ainda mais se você é incapaz de sentir o peso das vozes e gritos ecoando na sua cabeça a cada matança.

— Era sempre a pior parte… Eu sou obrigada a escutar os gritos de todas as pessoas que matei…

Por mais que quisesse, ela não conseguia silenciá-los nunca encerrou seu contrato com a deidade do Xamanismo, e isso era tudo por causa de uma pessoa:

— É difícil explicar como, mas eu vi ela naquela bebê…

— Viu o quê?

— Vi minha filha… vi Alessa… Ela era a luz do meu mundo, busquei mais e mais força para que pudesse viver em paz com ela um dia.

Jasmyne começou a soltar ao vento todos os momentos que passou com sua filha até que ela adoecesse: Sonecas sob as árvores das planícies de Arquoia, histórias para dormir… Todas as vezes que Jasmyne disse a amar.

Momentos que qualquer um adoraria compartilhar com a própria mãe. Muitos desejavam, e acabavam não tendo.

— Você estava disposta a abandonar a vida de matanças sem sentido desde o nascimento de sua filha?

Jasmyne acena com a cabeça.

— Eu sempre fiz tudo em nome de Arquoia, em nome do Lorde Thuzaryn… Matava e feria ou outros quando não me satisfaziam…

Cálix sente um arrepio na espinha, uma mensagem de seu deus que deveria ser passada para a xamã.

— Acho… que os seus atos voltarão para você antes do que imagina — Cálix estende as mãos para que Jasmyne coloque as delas, como se fosse um sinal para o fim da confissão.

— Dizem que meu deus é muito piedoso. Mas ele ensina que a emoção do amor vai além de todo o mal que o mundo causa, e de toda a dor que você pode ter.

“Se você não é amado por ninguém…” pensou Cálix

— É o meu dever como clérigo corrigir isso…

A expressão do jovem era séria, quase profissional. Muito diferente de quando agia perto dos outros jovens ou de Heinrich. Jasmyne não conseguia decidir se era relutância em perdoar ela, ou ele simplesmente já teve que fazer esse processo tantas vezes que cansou. Olhava para baixo enquanto segurava as mãos da xamã até que a luz dourada se dissipasse.

Ambos desceram as escadas até o convés, apenas para ver Talyra se aproximar com uma expressão preocupada. Ela correu um pouco até eles, segurando a bebê.

— Ei! Cálix, consegue segurar ela por um segundo, acho que descobrimos algo interessante…

— A bebê? O-Oqu…

— Não importa, só faça isso, acho que a ausência de Aura nela é só o começo…

— Como assim? — Talyra rapidamente colocou a criança nos braços do jovem

— Leve ela até onde você e a xamã estavam

Cálix obedeceu enquanto Jasmyne seguia Talyra, a mulher perguntou à menina sobre o que tudo aquilo se tratava.

—  Estou fazendo um teste. Se minha teoria estiver correta… — A maga estava impaciente e apertou o passo até a proa do navio.

Lá estavam todos. Heinrich, com o pé em apoiado no bico de proa, olhando para a água.

— E aí? — disse Talyra

— Aqui! Uma perturbação — respondeu Mirele

Heinrich bateu as mãos no alto em triunfo:

— Eu sabia… Naveguei pelo Abismo Revolto durante anos, conheço bem a região sul. Era impossível o mar estar calmo assim por tanto tempo

— Heinrich, o que está havendo?

— Jas… Aquela bebê…

— Ela suprime efeitos de misticismo… — completou Talyra

— E-Esperem aí, o que isso tem a ver com o oceano? — perguntou Lâmina

— Eu já li em livro que falavam da Era de Ouro do mundo, quinhentos anos atrás, os dois oceanos que estão à leste e oeste do continente foram enfeitiçados. O Mar do Legado ao leste, recebeu uma enorme barreira que deixa impossível a passagem de qualquer pessoa.

— E… ao oeste… o Abismo Revolto foi amaldiçoado com terríveis monstros e tempestades que nunca cessam — disse Vaia sem nem mudar a expressão, quase robótica

— O quê?

— Ah… E-Eu… acho que li isso em um grimório ano passado. Não lembro bem, sabe como é que é… — disse ela abanando as mãos

— Enfim. Se ela consegue anular o misticismo do mar, isso justifica o que estava acontecendo conosco.

“Por isso eu não conseguia ouvir eles conversando nos aposentos. Parece que ela afeta misticismos diferentes à distâncias diferentes” cogitou Jasmyne

— Era isso… que eu estava buscando… — Talyra fechou o punho com muita força, em um sorriso quase histérico — Os meus testes valeram a pena, minha magia enfraquecia quando eu estava perto dela!

Ela começa apontar a mão para Vaia e Lâmina enquanto falava deles:

— A Aura distorcida de Vaia nunca mais se manifestou ou se desestabilizou. Agora, o Lâmina também não esteve congelando as coisas apenas com a presença dele.

— Parando para pensar, eu até consegui segurar a minha espada novamente no jantar em que a xamã estava.

— E ela não explodiu, certo?

— E-E-Explodiu?! Você tinha praticamente uma bomba dentro do meu navio?!

— Mas pai… — Mirele cutucou Heinrich

— Shh… eu sei, filha

A água se pacificou novamente à medida que Cálix voltava com a bebê puxando a bochecha dele:

— Aii! já fhalei pra parar! — Cálix sorriu e levemente apertou o nariz da bebê — Hehe… Ei, algum de vocês poderia me explicar o que raios está acontecendo, por que parecem tão surpresos?

— A bebê consegue nulificar misticismos… É por isso que O Círculo quer ela morta! — Jasmyne colocou a mão sobre a boca, murmurando.

— Como assim?

— A Elite d’O Círculo se trata dos usuários de misticismo mais poderosos que este mundo já viu. Eles estão no topo da sociedade dos não-desconexos…

— Então eles são formados e geralmente recrutam reis e imperadores…?

— É… algo assim, eles buscam pessoas com potencial, como Xamãs no quarto estágio…

Jasmyne ponderou por mais alguns segundos em silêncio. Quase como se tivesse levado um tiro, ela solta um suspiro de horror. Uma revelação horrível havia sintetizado-se.

“Somente pessoas com grande poder ou grande potencial. Além do mais, eles só escolheriam uma pessoa próxima ao alvo da missão para acabar com isso rápido…”

Quando ela menos desejava, a imagem de Zaltan se formava na mente da xamã. Os cabelos louros e lisos, olhos escuros como a noite que tomam uma tonalidade azulada quando ele começava a manipular a água… Se O Círculo tivesse um alvo convenientemente fácil de recrutar, alguém que almeja grandeza… E que desejava o mal de Jasmyne…

“Não pode ser”

O estômago dela se revira inteiro, com uma vontade imensa de vomitar. Jasmyne sabia exatamente quem estava vindo para matar a bebê… e ela, também.

— Jas… Tá tudo bem? — perguntou Heinrich, colocando a mão nas costas da amiga.

Ele olhou para o horizonte do oceano, colocou um dedo na língua e elevou ele ao alto.

— Em que época do ano estamos?

— Neste lado do continente? Milene acredita que seja a segunda semana do verão.

— Vai chover em uma semana ou menos. Podemos aproveitar o vento para acelerar a viagem até Arquoia.

— Espera!! — berrou Jasmyne

Todos se viraram para a xamã, com os olhos arregalados, as conversas alheias param tudo fica em silêncio.

— Não podemos voltar para Arquoia… Se formos, vamos morrer. Todos nós.

— Tem certeza, Jas? Assim, eu precisaria parar lá para fazer reparos… o barco do resto da tripulação vai para lá também.

Os jovens olharam confusos para Jasmyne, perguntando-se do que se tratava o desespero repentino da mulher.

— Eles estão aproximadamente um dia atrás de nós — comentou Mirele — Se mudarmos a rota para Tzoldrich, podemos ainda sair e nos encontrar na capital do reino.

— Me escutem! Não podemos voltar para Arquoia, em hipótese alguma podemos voltar com Zaltan lá.

— O velhote? O que tem ele?

— Você passou muito tempo no mar, então não deve saber que Zaltan III morreu

— Então você está falando… do pequeno e inofensivo príncipe?

Jasmyne se virou para o capitão com um olhar sombrio e mortal:

— Ele não é mais pequeno… e muito menos inofensivo

 


 

Em uma sala branca dentro do palácio real de Arquoia, o clima estava extremamente monótono, para dizer o mínimo. Quatro figuras se reuniam diante de uma mesa redonda de mármore também branco.

Acima deles, uma claraboia mostrava o céu levemente nublado pela chuva recente, com algumas gotas de chuva remanescentes escorrendo pela cúpula de vidro.

Das enormes portas de madeira, surgia Nira, encapuzada e com luvas que cobriam todo o seu braço. Os indivíduos na mesa imediatamente se levantam para cumprimentar ela.

— Vossa Majestade — disseram em uníssono

— o rei Zaltan estará se ausentando do reino por alguns dias, irei junto dele como uma missão especial

— Você está falando d’O Círculo? Com todo respeito, majestade, mas eu pensava que você os odiava… — disse uma voz masculina do conselho

— Bom, temos nossos objetivos alinhados por agora. Zaltan está me levando exatamente aonde quero… 

O conselho real de Arquoia, formado por usuários de Misticismo formidáveis. Incluindo um alquimista, uma maga, um assassino desconexo e…

— Anime-se, jovem xamã… A hora da madame Thuzaryn está chegando… — concluiu Nira

O mesmo só responde com uma bufada vindo de um canto mais escuro do salão.

— Eu gostaria, primeiramente, de agradecer a você — ela aponta para a maga — por refazer as rotas de transporte e comércio para a colônia de Fajilla.

— Não há de quê… Majestade — respondeu a maga em uma voz calma

— De todo modo, tenho uma requisição especial para você — Nira se vira, dessa vez, para o homem desconexo, que girava uma faca no dedo.

— Nossos planos podem estar com alguns leves problemas. Preciso que você vá até Tzoldrich… Faça uma visitinha à Duquesa Schweitzer

— O quê!? Mas são, tipo, três dias de viagem…

Nira o fitou de volta, com os olhos brilhando em turquesa sob o capuz em um semblante ameaçador e definitivo.

A sala esquentou rapidamente, com os membros do conselho sendo afrontados pela Aura assustadora de Nira. Sentiram até mesmo suas próprias almas tremerem.

— Espero que se lembrem do acordo… O reino… e o sabre… estamos nos ajudando mutuamente, portanto, espero o melhor desempenho de vocês

— T-Tá… — disse ele acenando com a cabeça, implorando pela vida sem dizer uma única palavra a mais

Um pequeno dragão sai dos detalhes da roupa de Nira e começa a girar em volta de seu braço, indo para seu pescoço. A rainha faz um carinho na cabeça dele.

— Agora, estarei me retirando — Nira soltou um sorriso doce e acenou de volta para o conselho — A propósito, se algum de você estiver com tempo, podem ir ao beco que fica abaixo do terraço norte do palácio? Existe um lixo que deve ser descartado… O pequeno Zaltan sujou as mãos…

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