Intangível Brasileira

Autor(a): Richard P. S.


Volume 1

Capítulo 40: Inexorável!

— Parem! — gritou Drak.

Os bandidos pararam imediatamente. Seus corpos, tensos e prontos para atacar, obedeceram à ordem. O druida ergueu uma sobrancelha, intrigado.

— O que aconteceu? — perguntou com curiosidade contida.

Drak sorriu de forma fria. — Se eu vou testar a capacidade deles, que seja em um combate individual.

Ele apontou para um dos berserkers, que respondeu com um rosnado gutural. O peito da criatura inflava como se algo prestes a explodir por dentro. Seu corpo tremia, tomado por uma mistura violenta de dor e raiva.

— Vai lá... mostra do que é feito — sussurrou Drak para si mesmo.

Lentamente, o monstro começou a caminhar em direção ao jovem de cabelos de oliva. A cada passo, os urros se tornavam mais altos, mais intensos, libertando camadas ocultas de fúria.

Sem aviso, sua velocidade aumentou drasticamente. Era como se uma energia selvagem tivesse sido liberada de uma só vez, transformando o andar trôpego numa investida brutal.

— Essa eu quero ver — disse Drak.

De um dos braços do berserker, uma lâmina óssea irrompeu da carne, formando uma espécie de espada natural. Conforme se aproximava, o descendente dos féericos ergueu a cabeça.

Seus movimentos eram lentos e cuidadosos. Ele ainda abraçava os joelhos e os balançava levemente para frente e para trás.

Então, o berserker atacou.

A lâmina óssea descreveu um arco incompleto, silvando pelo ar com brutalidade. O jovem, no entanto, moveu-se com agilidade inesperada.

— Rápido demais... — murmurou Drak, surpreso.

O corpo do rapaz se dobrou em um ângulo estranho, quase inumano. Suas articulações pareciam mais elásticas que o normal. Tudo nele parecia moldado para sobreviver.

Ele se esquivou com precisão, e o golpe passou direto, atingindo a árvore atrás dele. Um estalo seco ecoou pela campina. A madeira rachou sob o impacto, espalhando lascas e seiva no ar.

— Impressionante! — disse Drak, voltando-se para o druida. — Nunca que ele faria isso antes.

O druida assentiu, mantendo os olhos na cena. — A transformação não só os torna mais ferozes, como também amplifica suas habilidades físicas. Agora, são armas vivas, moldadas pela natureza e pela fúria.

O descendente dos féericos rolou até sua lâmina quebrada com fluidez quase animal. Seus movimentos eram mecânicos, como se estivesse seguindo uma rotina. Ele a pegou da grama e se ergueu, os olhos fixos nos pés do berserker.

O monstro rosnou, depois retraiu a lâmina óssea para dentro do braço com um estalo. Sem hesitar, lançou-se novamente contra o jovem, desta vez ainda mais furioso.

Seu corpo começou a se modificar. Veias se destacaram, a pele se rompeu em partes, e raízes entrelaçadas com ossos brotaram dos membros. Lâminas curvas e espinhos surgiram em espiral nos braços e pernas.

Uma sequência brutal de golpes se seguiu. Os ataques eram selvagens, como os de uma fera encurralada — mas com a precisão de um guerreiro treinado.

O jovem bloqueou um golpe com a lâmina quebrada. Ainda assim, a força do impacto o empurrou vários passos para trás. Tentou contra-atacar, mas um corte na perna apenas enfureceu a criatura.

O berserker rugiu. Suas armas naturais cresceram em tamanho e número, tornando-o mais monstruoso a cada instante.

— Ele está se defendendo? — murmurou Drak, intrigado. — Quem é esse garoto?

O druida o lançou um olhar frio. Por um momento, pareceu refletir, antes de dizer:

— Não importa. Ele é apenas um obstáculo. Esqueça-o.

O descendente dos féericos se movia com precisão impressionante. Seu corpo se contorcia de formas quase impossíveis para evitar os ataques. Mas a pressão do inimigo era constante.

O monstro tentou esmagá-lo com uma lâmina óssea descendente. O jovem tentou escapar, mas o golpe seguinte, giratório, o pegou desprevenido.

Foi atingido no flanco. O impacto o lançou no ar. Ele colidiu com força contra o tronco da árvore.

A madeira estalou. Ele caiu no chão com um baque abafado.

O sangue escorria livremente do ferimento, tingindo a grama aos poucos. A respiração vinha em rajadas curtas.

Com um gemido rouco, tentou se levantar. As pernas falharam. Seus músculos tremiam como se já não lhe pertencessem.

Tateando o chão, buscou apoio na lâmina quebrada ao lado. Seus dedos a alcançaram, mas os movimentos eram desajeitados, sem firmeza.

Drak observava com um sorriso frio.

— Interessante... — disse, com uma ponta de admiração pelo poder do berserker.

O druida, sereno, comentou:

— As sementes do rei morto transformam o hospedeiro em uma arma viva. O garoto nunca teve chance.

O jovem, com os olhos fixos no monstro, ainda tentava se erguer. A determinação em seu olhar não combinava com a fragilidade do corpo. Mas o berserker não esperaria.

O golpe seguinte foi brutal. A lâmina atravessou o torso do rapaz, pregando-o contra a árvore. Um grito abafado escapou de seus lábios. A cabeça tombou.

Silêncio.

Então, uma respiração pesada. Um rugido contido de dor. Com os braços apoiados na lâmina que o perfurava, ele empurrou com os pés o peito do berserker.

O impacto o soltou da árvore. Caiu de joelhos, ofegante.

Pressionou o ferimento com força. O sangue escorria entre os dedos. Seus olhos, antes vazios, agora brilhavam com fúria.

A respiração vinha aos trancos. Com um grito primal, rasgado das entranhas, ele se lançou contra o inimigo. A lâmina quebrada tremia, mas permanecia firme.

O berserker rugiu e avançou. Mas o jovem foi mais rápido. Seu corpo moveu-se com fluidez selvagem. Saltou sobre a criatura, apoiando os pés em seus ombros disformes.

Ele então começou a golpear.

A lâmina quebrada perfurava o rosto distorcido pela semente. Carne, osso, tudo cedia.

Jorros de sangue tingiram o chão. A cada estocada, ele soltava gritos abafados, o rosto uma máscara de dor e fúria.

O berserker tentava reagir. Seus braços cortavam o ar, em vão. O jovem já não estava onde se esperava.

O descendente cravou a lâmina no centro da testa da criatura. O monstro estremeceu e tombou, inerte.

Drak continuava parado, sem reação. Seu rosto pálido expressava fascínio e pavor.

— Quem é esse garoto...? Como ele pode ser tão... mortal?

O druida manteve-se em silêncio por um instante. Então, sua voz soou grave:

— Existem lendas entre os druidas. Dizem que um descendente dos féericos vaga por essas terras desde antes do Levante. Um ser atípico, quase sempre dócil.

Ele lançou um olhar ao jovem, agora coberto de sangue, sobre o corpo do inimigo vencido.

— Mas, quando provocado... torna-se um avatar da destruição.

Drak engoliu em seco. O olhar antes desdenhoso agora era de puro medo.

— Então, você acha que ele é...

— Não é hora para suposições — cortou o druida. — Mande os outros berserkers. Precisamos fugir enquanto ele estiver ocupado.

Com mãos trêmulas, Drak segurou a runa.

— Berserkers, matem-no! Agora!

As criaturas avançaram, rosnando. As armas naturais — espinhos, lâminas ósseas — já expostas. O jovem os encarava de pé, entre os corpos. A respiração ofegante, os olhos acesos em fúria.

Três deles se aproximavam, rápidos. Cada passo parecia um trovão, anunciando destruição.

O garoto não recuou. Soltou um grito rouco e, com um movimento súbito, arremessou a lâmina quebrada com toda a força.

Ela cortou o ar como uma sentença. O alvo não era um dos monstros.

— Não... — sussurrou Drak, ao perceber.

A espada cravou-se na cabeça do druida que fugia ao seu lado. Entrou por trás da orelha e saiu pela face. O corpo caiu adiante, morto.

Drak tropeçou, sangue respingou em sua túnica.

— Ele matou o druida! Como...?

Mas não havia tempo para perguntas.

Os três berserkers já estavam sobre o jovem. Desarmado, ele firmou os pés no chão. Seus olhos brilhavam com fúria crua.

— Ele matou o druida com uma espada quebrada... — murmurou Drak, como quem não compreende o que vê.

O primeiro berserker avançou. Um golpe com garras que cortou o ar. O jovem desviou com reflexo sobrenatural e socou a mandíbula da criatura. O monstro cambaleou.

Drak, fascinado, nem conseguia piscar.

— Ele está lutando como um animal encurralado — comentou Drak, as mãos trêmulas.

O terceiro berserker tentou flanquear pela lateral. Avançava com brutalidade, mas o jovem de cabelos de oliva reagiu por puro instinto.

Com um giro seco do corpo, desferiu um chute no joelho da criatura. Um estalo grotesco ecoou pelo campo. O osso partiu-se ao meio.

O berserker tombou com um urro abafado, completamente vulnerável.

Sem hesitar, o jovem agarrou a lâmina óssea que ainda brotava do braço do segundo berserker.

Num arco certeiro, decapitou o terceiro monstro. A cabeça voou, o corpo tombou pesadamente.

Ainda tomado por fúria primitiva, pulou sobre o segundo. Com uma mão segurou o queixo, com a outra, agarrou os cabelos da criatura. Firmou os pés no tronco do inimigo.

Girou o pescoço da criatura com força. O estalo foi alto e seco, como um galho sendo partido.

— Isso é... brutal... — disse Drak, a boca entreaberta. — Quem... quem é esse demônio?

A cabeça do berserker se soltou com um último estalo. Partes da coluna vieram grudadas ao crânio, como uma beterraba arrancada da terra.

O sangue jorrou em jatos grossos, tingindo a grama, o tronco da árvore e o próprio corpo do rapaz.

Mas não parou por aí.

Com o rosto coberto de sangue e os olhos arregalados de fúria, ele ergueu a cabeça arrancada como um troféu. Com um grito, lançou o crânio contra o primeiro berserker — aquele que havia iniciado tudo.

O impacto foi devastador.

Os crânios se chocaram com um som grotesco, como frutas maduras sendo esmagadas. Sangue, miolos e fragmentos de osso se espalharam na grama ensanguentada.

Por um instante, o campo silenciou. Até o vento pareceu hesitar.

Drak deu um passo para trás, tomado pelo medo. O rapaz, com os cabelos metálicos encharcados de sangue, fixou os olhos nele.

— Ele... ele vai me matar... — sussurrou Drak. A voz falhava.

O jovem caminhou até o corpo do druida. Com um puxão firme, arrancou a lâmina cravada na cabeça do homem. Não desviava os olhos de Drak.

Este começou a recuar, gaguejando:

— E-espera... nós... não precisa ser assim...

Mas o rapaz avançou, a espada erguida. Os olhos ainda queimavam de raiva.

No último instante, Drak ergueu a mão e ofereceu o coelho de pano. O gesto inesperado o congelou.

O jovem fixou os olhos no objeto. A fúria se dissipou num piscar. Soltou a lâmina, que caiu na grama com um baque surdo.

Em silêncio, caminhou até o brinquedo. Toda sua atenção estava ali. Como se o resto do mundo não existisse.

— Isso... é isso que você queria, não é? — disse Drak, hesitante. — Não precisa machucar mais ninguém.

O jovem não respondeu.

Acariciava o coelho com uma concentração quase hipnótica. A carnificina ao redor já não o alcançava.

Drak, vendo a distração, se ajoelhou ao lado do corpo do druida. Vasculhou os pertences rapidamente.

— Preciso sair daqui antes que ele mude de ideia... — murmurou, enquanto pegava os itens mais valiosos.

Enquanto o rapaz mantinha o foco no brinquedo, Drak se afastou em silêncio. A lâmina quebrada ficou para trás. A fúria havia virado uma obsessão silenciosa.

Drak olhou por cima do ombro, um sorriso cruel se formando.

— Nunca pensei que encontraria algo mais eficaz do que qualquer berserker. Com esse garoto ao meu lado... Caelinus, Jessiah, até o General Vanlasnor... nenhum deles terá chance. Eles nem imaginam o que os aguarda...

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora