Volume 1
Capítulo 39: A genuína essência da fúria
Era uma tarde escaldante em uma planície, onde o sol implacável iluminava uma vasta extensão de terra coberta por vegetação esparsa e flores silvestres. O lugar, apesar do calor, exibia um verde vibrante, com arbustos, enquanto pequenas flores coloridas pontilhavam o campo.
No centro dessa campina, uma árvore solitária e frondosa se destacava. Sua copa ampla oferecia uma sombra refrescante. Abaixo dela, cinco homens mal-encarados descansavam. Suas risadas altas e vozes ásperas quebravam a tranquilidade da tarde.
Entre eles, um homem corpulento, com uma cicatriz profunda no rosto, ergueu um odre de couro e tomou um gole, enquanto o sol refletia no suor de sua pele.
— Dessa vez foi fácil demais. Mal deu pra suar.
Outro deles, com olhos ferozes e um sorriso cruel, limpava o sangue seco de uma faca com um pano sujo.
— É, mas aquela mulher estava uma delícia... Gritava, mas parecia gostar. Pensei que fosse explodir.
— Vocês viram a cara dela quando eu peguei a filha? — disse outro, com um sorriso sádico.
Todos riram, exceto um deles. Este afiava uma adaga, pensativo.
— Será que ninguém viu? Só de pensar que escapamos lá na favela daqueles paladinos...
— Relaxa, Drak — respondeu um dos homens, enquanto agarrava um coelho de pano manchado de sangue. — Nessa lonjura de Jillar, nenhum paladino vai saber. Aqui tudo é liberado.
— E daí? Está tudo muito estranho — disse Drak, inquieto, olhando ao redor como se esperasse ver alguém surgir do nada. — Por que será que o Doo pediu para os druidas mandarem berserkers? Só pra matar aqueles dois paladinos?
— É, eles já deviam estar aqui.
— Sim, mas eles vêm. Doo sabe o que faz. E enquanto isso, a gente aproveita.
Drak finalmente sorriu, guardando a adaga antes de dar um gole no odre.
— Bom, se é assim, que venham os...
Enquanto falava, algo estranho aconteceu. De cima da árvore, uma espada caiu entre eles com um baque surdo. A lâmina, outrora imponente, estava irreconhecível, quebrada ao meio de forma irregular. Os homens se sobressaltaram, antes de sentir a terra vibrar sob seus pés com o impacto.
— Mas que... — rosnou o homem corpulento, sua cicatriz se retorcendo enquanto olhava ao redor, perplexo.
— De onde veio essa espada? — perguntou outro, seus olhos ferozes vasculhando a copa da árvore acima.
O terceiro, que limpava o sangue seco da faca, parou abruptamente, sua mão congelada no ar.
Todos ergueram os olhos e, entre os galhos, viram uma figura humanoide.
Com um salto ágil, a figura caiu agachada na frente dos homens. Um dos bandidos estreitou os olhos.
— O que é isso? Esse sujeito parece um mendigo.
— Olha o cabelo dele... verde-oliva e... metálico? — comentou outro, franzindo a testa. — É um descendente dos féericos?
— E essas feridas? — observou o terceiro bandido, inquieto. — Parece que esse cara já esteve em muitas brigas.
— Será que é um dos berserkers dos druidas? — murmurou alguém, dando um passo para trás.
O estranho, ainda de cócoras, manteve o rosto baixo e permaneceu em silêncio. Os bandidos se entreolharam, com a tensão aumentando a cada segundo.
— Ei, você! — gritou um deles, após avançar um passo. — Fala alguma coisa!
Sem resposta. O silêncio do estranho pesava ainda mais. Os bandidos, nervosos, trocavam olhares incertos.
— Quem é você? — perguntou um dos bandidos, a voz carregada de desconfiança.
— Eu ainda acho que é um dos berserkers dos druidas? — repetiu outro, ainda recuando.
A figura permaneceu em silêncio, seu olhar sombrio fixo no chão, enquanto os bandidos trocavam olhares tensos.
— Não sei, mas ele não parece muito amigável — disse outro, levantando a arma com cautela.
O jovem com cabelos de oliva se levantou lentamente. Ele os encarava com uma curiosidade silenciosa. Sempre que algum deles lhe dirigia o olhar, ele desviava os olhos, o que deixava o ar ainda mais tenso.
— Esse cara... — murmurou um dos homens, espada em punho, pronto para atacar. — Ei, o que você quer? É um dos berserkers, por acaso?
O descendente dos féericos ignorou a pergunta. Seus olhos estavam fixos em um coelho de pano manchado de sangue. Ele se aproximou e estendeu a mão, emitindo ruídos com a boca, como se falasse uma linguagem própria.
— Ei, afasta! — gritou um bandido, em tom de ameaça.
Quando o rapaz de cabelos de oliva se aproximou ainda mais, o homem o empurrou.
— Ah, então você quer isso? — disse o bandido, segurando o coelho e afastando o objeto.
O rapaz não desistiu. Em um gesto de insistência, tentou pegar o coelho novamente. O bandido, desta vez, o empurrou com mais força, derrubando-o.
No chão, ele se encolheu em posição fetal, enquanto repetia movimentos ritmados.
— Olha só! — riu um dos homens, dando um leve chute no rapaz caído. — Parece que é só um primitivo mesmo.
Os outros também riram, apesar de o nervosismo não desaparecer por completo. Um dos bandidos cutucou o rapaz com a ponta da bota, mas ele não reagiu. Enrolado no chão, ele repetia os movimentos.
— Será que ele foi criado por animais? — perguntou um dos bandidos, ainda rindo, com um olhar desconfiado.
— Que bicho esquisito, hein? — comentou outro, depois de cutucar o jovem com alguns chutes leves.
Eles continuaram a provocá-lo, mas o jovem não reagiu, permanecendo na mesma posição.
Após algum tempo se divertindo com ele, um dos bandidos avistou algo ao longe.
— Ei, olhem! — disse ele, enquanto apontava naquela direção.
Os outros seguiram seu olhar. Com sorrisos satisfeitos, deixaram o descendente dos féericos com cabelos de oliva ali e caminharam naquela direção.
Sob o sol escaldante, um homem alto e esguio caminhava em direção aos bandidos. Ele vestia mantos que se mesclavam com a vegetação da campina. Seus olhos eram profundos. Em suas mãos, ele carregava um cajado entalhado com runas antigas e símbolos da natureza.
Os bandidos, inicialmente desinteressados, endireitaram-se quando o viram se aproximar.
Drak tomou a iniciativa de falar:
— Onde estão os berserkers prometidos, druida? — perguntou, impaciente.
O druida parou. Seus olhos passaram por cada um dos homens antes de responder com um semblante sereno:
— Vi uma carroça destruída mais atrás, cheia de corpos de homens e mulheres, violentados e mortos de formas cruéis. Foram vocês os responsáveis?
A voz do druida era calma, porém intensa, ao ponto de fazer os bandidos trocarem olhares inquietos.
O silêncio pairou no ar, quebrado apenas pelo farfalhar das folhas e o zumbido distante dos insetos.
Finalmente, o druida quebrou o silêncio, sua voz agora tingida com uma leve reprovação:
— Eles viviam no território druida, e por conta disso pertenciam aos druidas. O levante oferece essa cortesia a vocês como um gesto de boa vontade, para que possamos negociar um acordo com seu líder.
Drak franziu a testa, confusão evidente no rosto marcado. Ele deu um passo à frente, os olhos fixos no druida.
— Então, afinal, vamos ou não conseguir os berserkers que nosso chefe pediu? — Sua voz era mais um rosnado, uma tentativa de disfarçar a crescente insegurança.
O druida esboçou um sorriso enigmático, os olhos brilhando com uma sabedoria antiga.
— Sim. E depende.
— Como assim, “depende”? Viemos de longe para isso!
— Nos últimos tempos, uma semente foi plantada e deu frutos. Aqueles que comerem dela terão uma vida plena.
Os bandidos se entreolharam, perplexos e desconfiados.
Um deles, mais jovem, com uma expressão de pânico mal disfarçado, foi o primeiro a romper o silêncio.
— O que isso significa? — perguntou. Sua voz o traía enquanto seu nervosismo fazia os olhos alternarem entre o druida e seus companheiros.
O druida os fitou por um momento. A ansiedade crescia a cada segundo.
Então, ele abriu a mão lentamente.
Dentro dela, quatro sementes do tamanho de ameixas. Eram de um tom verde-escuro e pareciam pulsar com uma energia própria.
Ele as jogou no chão.
As sementes começaram a se mover. Como se tivessem vida, rolaram pelo solo seco e rachado em direção aos bandidos.
— Que tipo de bruxaria é essa? — um dos homens sussurrou, os olhos arregalados de medo.
— Isso não é boa coisa... — murmurou outro.
Recuou um passo, mas era tarde demais.
As sementes subiram pelos seus corpos. Suas pequenas raízes, finas como agulhas, perfuraram a pele ao menor contato.
O horror estampou-se em seus rostos enquanto tentavam inutilmente arrancá-las. Gritos de dor ecoavam pela planície.
Os homens caíram no chão, contorcendo-se em agonia. Espumavam pela boca, enquanto seus corpos convulsionavam violentamente.
— O que está acontecendo com eles? — Drak gritou, o pânico evidente na voz enquanto observava os companheiros sofrerem.
O druida manteve-se impassível, mantendo os olhos fixos no espetáculo grotesco diante dele. As raízes das sementes se espalharam sob a pele dos homens. Formavam padrões intrincados e sombrios, como se as plantas se alimentassem de suas vítimas.
A dor nos olhos dos bandidos foi, aos poucos, substituída por um brilho verde sinistro. Entre bufadas e rosnados, os quatro homens se levantaram. Seus corpos pulsavam de energia e ódio, prontos para estraçalhar qualquer coisa que se movesse.
— Aí estão os berserkers que seu chefe queria — disse o druida, com voz firme e fria.
— Isso... isso é loucura! — Drak recuou alguns passos. — Como posso confiar que eles não vão nos atacar também?
O druida sorriu com um toque de desdém. Aproximou-se de Drak com passos lentos, sua voz controlada e baixa, como um sussurro que cortava o ar quente da planície.
Com um gesto deliberado, tirou de sua bolsa uma pequena pedra escura, com uma runa intricada gravada em sua superfície que pulsava com um brilho suave.
— Esta runa lhes confere controle sobre eles. Enquanto estiver em suas mãos, obedecerão às suas ordens sem questionar. Agora, eles pertencem a você. Farão tudo o que desejar — disse o druida, estendendo a pedra com a calma de quem entrega um destino.
Drak pegou a pedra com mãos trêmulas, os olhos fixos na runa que parecia vibrar em sintonia com algo profundo e violento.
— Como posso ter certeza de que eles realmente vão obedecer? — murmurou, lançando um olhar hesitante aos quatro homens transformados em berserkers.
O druida inclinou levemente a cabeça. Um brilho frio atravessou seus olhos.
— Teste-os. Veja com seus próprios olhos do que são capazes. É assim que se conhece uma arma.
Drak olhou ao redor. O silêncio da campina fazia tudo parecer suspenso no tempo. Seus olhos então se fixaram no jovem de cabelos de oliva, ainda sentado sob a árvore, abraçando os joelhos, a cabeça baixa como um animal acuado.
— Vamos ver do que vocês são feitos — murmurou, com um sorriso malicioso se formando em seus lábios.
Apontou com o queixo, a crueldade dançando em seu olhar.
— Aquele ali. Vamos ver se esses berserkers realmente prestam para alguma coisa.
O druida apenas assentiu, sem emoção.
— Dê a ordem, e eles obedecerão.
Drak sentiu o calor da runa em sua mão. Um poder estranho, pulsante, corria por seu braço. Inspirou fundo e gritou:
— Berserkers! Matem aquele garoto!
Os quatro homens rosnaram em uníssono. Seus olhos verdes brilharam como brasas vivas.
Sem hesitação, avançaram como uma besta de múltiplas pernas, em passos pesados e decididos, como uma muralha de fúria viva.
A terra estremeceu sob seus pés enquanto se lançavam rumo ao jovem de cabelos de oliva.
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