Volume 1
Capítulo 18: Descobertas
— O… quê…?
Frederico havia entrado em estado de choque. Uma pessoa misteriosa, do lado outro do confessionário, sabia exatamente que o nosso protagonista era o Mártir!
“Mas quem seria ela?”
Vários pensamentos passaram por sua mente, mas nenhum se tornou concreto. Por mais que mexesse seus lábios, nenhuma palavra saía de sua boca.
Mediante o silêncio abrupto que se formou, a pessoa do outro lado se pronunciou: — … Padrezinho, você ainda está aí?
Com estes exatos dizeres, nosso protagonista voltou a si e recobrou a postura.
“Não, não pode ser… Eu fui bem cuidadoso, ninguém de fora saberia quem eu sou. Isso só pode ser algum truque barato!”, pensou e, então, disse: — Com licença, mas foi o Reverendíssimo Senhor D. Agostinho Rossi que te pediu para falar esse absurdo? Se foi, não tem graça!
— H-hã? Quem seria essezinho? Nunca ouvi falar dele…
Sua confusão era clara e verdadeira. Frederico não conseguia detectar qualquer malícia ou fingimento em suas palavras. Sendo assim… quem era ela?
Por ser um confessionário, nosso protagonista, um padre, não poderia fazer essa pergunta diretamente — afinal, tudo era feito no sigilo. Logo precisava forçá-la a se revelar por conta própria.
— Uma brincadeira de mau gosto, então! Ora, não tenho tempo para isso. Seja quem for, está cometendo um grande pecado, pois ao fazer isso não só está desrespeitando Deus, a igreja e eu, como também tirando a oportunidade de um fiel que realmente se sente arrependido! Enfim, irei me retirar agora.
Quando Frederico simulava estar prestes a sair, porém, aquela voz o impediu. — ESPERA! ESPERA! POR FAVOR, NÃO VÁ! Isso não foi uma brincadeirinha, e desculpinha se eu faltei com respeito. Deveria ter me apresentado antes… E-eu sou a impostorazinha que tem feito o seu trabalho ultimamente, uma… falsa Mártir, por assim dizer.
Um novo choque. Ele não podia acreditar no que seus ouvidos haviam escutado. O sujeito do outro lado do confessionário era justamente quem estava procurando!
Em êxtase, soltou um sorriso, mas o conteve. O que garantia que isso não fosse mentira, que tudo não passava de uma armadilha?
A primeira coisa que lhe conveio perguntar foi uma frase que, por sorte, ninguém se lembrava direito, mas que vinha martelando sua mente dia após dia.
— Nós conversamos por telefone naquele programa, como você bem disse, certo? Se você é o Falso Mártir, então o que quis dizer com “enfim consegui o que queria”, antes de desligar a chamada?
— “Falso Mártir”, é? Gostei disso. Se é assim que pretende me chamar, será assim que irei me identificar de agora em diante. — Através das grades, Frederico pôde ver essa pessoa se curvando. — Quanto a sua perguntinha… não é óbvio? Aquilo significava que eu havia te encontrado, Mártir.
Uma resposta convincente, seguia até uma certa lógica, mas que não era o suficiente. Era simples e não provava que ela era quem dizia ser. Frederico queria mais.
— E como você podia ter certeza? Quero detalhes.
— Mas é claro! Bom, como posso dizer isso…
Houve um minuto de silêncio abrupto, provavelmente estava pensando cuidadosamente em suas palavras. E, então, continuou:
— … Vamos dizer que tenho uma informantezinha que sabe seu nome, sobrenome, profissão, pacto com diabo, poder que recebeu dele, que você é o Mártir… Mas que não sabia o endereço ou o nome da sua Paróquia nem tinha uma imagenzinha clara do seu rosto, apenas uma descrição minimalista de como ele era.
“Eu havia adquirido um contratinho com ela e precisava cumprir com a minha partezinha do acordo, precisava te encontrar.
“Foi então que, após um longo dia de busca, passei os canais e milagrosamente encontrei um programa cujo apresentadorzinho batia com o nome, a profissão e a descrição do Mártir.
“Bastava conferir se o sobrenome também coincidia, então preparei um planinho e liguei para você, me fingindo de desentendida e de fanática.
“Após aquela confirmação, passei a rondá-lo, a observá-lo de perto. Frequentei a sua igreja, vi seus horários, com quem anda, para onde vai… tudo para que o dia de hoje ocorresse sem interrupções, hyahyahya!”
Sua risada foi alta e perturbadora, parecida com a de um goblin digno de uma narrativa de alta fantasia. Porém o que perturbou mesmo Frederico… foi a sua fraqueza.
“Como? Como pude deixar isso acontecer? Como não havia percebido nada disso antes????”
O sentimento era o mesmo de uma presa sendo rodeada por um predador, até enfim ser atacada.
Quem diria que Frederico provaria do próprio veneno novamente… kikiki. E essa nem era a pior parte.
Nosso protagonista tinha um mau pressentimento, um frio na espinha. Mais alguém sabia sobre ele, muito mais que qualquer outro. Porém…
— Essa informante… o quanto ela me conhece?
— Ah, bastante! Por onde eu começo…
O que veio a seguir da boca daquela pessoa traumatizou Frederico e o deixou paranóico.
A morte do coordenador do seu curso, do diretor, da armadilha contra a secretária, Rose e Raphael, a noite de Natal, todas as aventuras vividas por ele — e escritas por mim — estavam sendo resumidas.
— ESTÁ BEM, ESTÁ BEM, CHEGA! — Com o grito, a pessoa do outro lado do confessionário se calou.
Em meio a arfadas pesadas e uma sensação de cansaço, nosso protagonista podia ter duas certezas: a pessoa do outro lado, sem sombra de dúvidas, era o Falso Mártir, e ele precisava conhecer quem era a sua informante.
“Como isso é possível? Ela sabia de momentos em que estava sozinho, com a família ou no anonimato. Seria esse o caso de outra contratante de demônio?” Foi uma de suas deduções.
Porém a manteve guardada em alguma região de sua mente, quando uma nova ideia surgiu. Recobrou a calma e soltou:
— Eu admito, você venceu. Sim, eu sou o Mártir. — Pelas grades, podia-se ver que a pessoa pulava de alegria. — O que quer comigo?
Ela parou e pensou um pouco até dar a sua resposta. — Quando me foi ofertado esse contrato, fiquei relutante por um momento… Mas aceitei ele determinada a te ajudar, a ser uma ferramenta para que você construa um mundo melhor!
Frederico se sentiu aliviado. Aparentemente o plano dela não envolvia ir contra ele. Porque se envolvesse… estaria em uma terrível desvantagem, senão derrotado.
Nosso protagonista viu nisso uma ótima oportunidade para conseguir realizar sua outra certeza.
— Pois bem, podemos avaliar isso juntos. Mas não aqui, não agora. Quando meu expediente acabar, nos encontraremos fora da igreja, em um beco próximo. Combinado?
Ela assentiu, dizendo saber exatamente a que lugar ele se referia, e saiu correndo do confessionário. Pouco tempo depois, Frederico também foi embora.
***
O horário marcado havia enfim chego. Nosso protagonista esperava a figura misteriosa no ponto que haviam combinado.
Uma certa angústia recaía sobre ele. “Será que essa foi mesmo uma boa decisão?”
Quando a cabeça esfriou, pensou com mais calma no assunto e percebeu duas falhas em seu raciocínio anterior.
Primeiro, a pessoa com quem convesara tinha envolvimento com o Falso Mártir, mas não necessariamente queria dizer que ela era ele. Poderia ser apenas um instrumento do verdadeiro ou então uma atriz, ou ator, interpretando um personagem.
Segundo, o que essa informante gostaria com ele? Analisando bem as entrelinhas do diálogo que teve, Frederico notou que aquela pessoa misteriosa firmou um contrato com ela, no qual o acordado envolvia encontrá-lo.
Além do mais, essa pessoa tinha informações o suficiente para matá-lo ou impedir o seu plano, mas mesmo assim não o fez.
Considerando a hipótese de que ela seja o Falso Mártir e que tinha um pacto com o diabo, o fato dela ter tudo a seu respeito, menos a imagem de seu rosto e o local onde trabalhava, não dizia um pouco sobre o funcionamento do poder que havia pego emprestado?
Seja como for, nosso protagonista decidiu deixar isso de lado por enquanto e tentou controlar a sua ansiedade, seus ânimos…
Mas era impossível, considerando o fato de que o padre estava prestes a se encontrar com uma pessoa que nunca havia visto antes e que, por consequência, nem sabia como era!
“E se ela tentar algo contra mim? E se ela combinou com a sua informante de montarem uma emboscada???”
O beco onde estava era escondido, pouco movimentado, sigiloso, e tinha saída para a rua de trás. Entretanto, como havia percebido, nada impedia de uma outra pessoa bloquear essa rota de fuga.
Logo, pensou em um novo plano, uma nova forma de escapar de lá, caso isso acontecesse.
Afinal, havia levado nenhuma arma para se defender, já que, por ser padre, não utilizava a violência — mas acreditava ser justo com suas vítimas, uma vez que as arrastava para o inferno de forma “rápida e indolor”. Vai entender…
Ele nem trouxe consigo papel, pluma e algo que incendeia, pois… “De que me adiantaria?”, raciocinou. “Não só o Falso Mártir, quem quer que ele seja, sabe como funciona o meu poder, como também eu precisaria descobrir o seu verdadeiro nome, escrevê-lo em uma folha e queimá-la bem em sua frente. Duvido muito que ele esperaria eu fazer tudo isso. A habilidade que peguei emprestado é incrivelmente poderosa, mas extremamente inútil em combate!” Pois é, não era à toa que me chamavam de fraco…
Conforme sua mente ia a mil por hora, simulando mentalmente infinitas possibilidades, tentativas e erros, de fuga, uma mulher conhecida se aproximava.
“Ah, não! O que ela está…” Seu pensamento foi interrompido por uma estranheza genuína que surgiu ao ver Amélia, aquela pessoa que tanto o infernizava, comportando-se diferente de como se lembrava.
A postura dela havia mudado, bem como a sua forma de andar. Usava salto, calça jeans e uma blusa que não tinha alça nem decote, mas que deixava os ombros à mostra.
Em seu cabelo, uma tiara preta, e em seu rosto, a mesma inocência, mas com algo a mais escondido nele. Algo mais sensual, algo mais… lascivo.
Ao vê-lo, ela esboçou um sorriso e parou em sua frente. — Oi, padrezinho!~ Fico felizinha que tenha aparecido e que eu realmente tenha acertado o localzinho que você havia mencionado… Enfim, como vai?~
Foi então que Frederico percebeu, tudo para ele começou a fazer sentido. Amélia fingiu esse tempo todo. A forma como se vestia… até mesmo a sua própria voz! Ela havia mudado o tom e a forma como falava. Aquela movimentação estranha… agora fazia sentido para ele.
— Droga! As pistas estavam tão óbvias… Como não pude perceber?! — lamentou, ao invés de responder a pergunta que ela havia feito.
Amélia parecia animada e um tanto orgulhosa com aquilo, como se tivesse sido um elogio para seus ouvidos.
Em seu rosto, esboçou uma expressão vitoriosa, algo como “consegui enganar o mestre dos enganadores!”, e então vangloriou-se:
— A-ah, não esquenta com isso, não… Desde pequenininha, minha mãezinha me ensinava a como entregar aquilo que os homenzinhos gostariam de acreditar… Apenas masterizei isso com o tempinho, não tinha como você saber…
— Hm. É mesmo? Então quem é você de verdade? Qual seu verdadeiro nome?
— Amélia, oras. A mudança crucial mesmo se encontra no sobrenome.
— Que seria…?
— Curtus. Esse sobrenomezinho não lhe é familiar?
— Não. — Na verdade, era, mas ele não queria tirar conclusões precipitadas iguais às minhas, que resultaram na minha intervenção nas ações do nosso protagonista.
Afffff, e pensar que meu poder não teria funcionado nela, já que seu sobrenome era falso…
— E que tal… Amélia Curtus?
A ficha de Frederico logo caiu. Seu raciocínio estava mesmo correto, diante dele estava uma das filhas de um criminoso conhecido como o Imperador do Sexo e das Drogas do Brasil. Infrator esse que nosso protagonista já havia arrastado para o inferno.
Seu coração começou a bater depressa, e seu corpo instintivamente se posicionou pronto para bater em retirada, para a melhor rota que ele conseguiu pensar em traçar. Ele tinha um pressentimento, aquilo se tratava de vingança, só podia ser!
Mas, como quem havia notado a súbita mudança de comportamento de Frederico, Amélia o tranquilizou:
— CALMINHA! Eu não pretendo te machucar. Se pensa que tenho algo contra você, por causa do meu paizinho, achou errado. Na verdade, eu apenas tenho que te agradecer por isso. Se nada disso tivesse acontecido, não teria conquistado o cargo de Imperatriz do Sexo e das Drogas do Vale do Paraíba e, muito provavelmente, eu mesma é quem o teria matado…
— Hm? Eu… eu não ia…
Um clima mórbido prevaleceu no ar. Frederico estava envergonhado, havia sido lido como um livro mais uma vez! E Amélia desconversou:
— Você havia perguntado quem eu era de verdade, né? Por que a gente não dá uma voltinha, que daí eu te esclareço tudo?
Curiosamente, Frederico detectou segundas intenções em sua fala. Malícia, para ser mais exato.
O padre refletiu por um momento se deveria aceitar. Mas o simples fato de ela não ter omitido isso, sendo que poderia muito bem ter, fez com que nosso protagonista parasse de pensar tanto e aceitasse. Afinal, o que era um peido para quem estava cagado? Kikiki.
Logo, os dois deixaram o local e passaram a dar, juntos, uma volta pelo Centro da Cidade.
***
Amélia Curtus era mais do que apenas filha do antigo criminoso conhecido como o Imperador do Sexo e das Drogas do Brasil. Era um indivíduo excepcional! E era nisso que ela acreditava e que até mesmo eu, um demônio que menospreza os humanos e os considerava farinha do mesmo saco, reconhecia.
Nasceu em uma família desconstruída, disfuncional e deturpada, irmã mais velha de inúmeras outras garotas e de um único garoto, cuja promessa era a de um dia se tornar o próximo patriarca desse império.
Desde pequena, era grudada com sua mãe, “a grande puta da casa”, como seu pai a chamava. E assim como todas as garotas da família, teve o azar de se tornar prostituta, pelo simples motivo de não ter nascido homem.
Sentia inveja de seu irmão por isso e por um dia assumir o trono que ela tinha o ímpeto de consquistar.
Logo, certo dia, cansada de ouvir os gemidos de prazer dele no quarto ao lado, bolou um plano para seduzi-lo. Tinha o intuíto de fazê-lo se apaixonar por ela para que, quando ele assumisse o cargo, fosse totalmente submisso, uma marionete que passaria as ordens dela para os demais.
No entanto esse plano nunca chegou a ser concretizado, sequer executado. Pois, após uma orgia, seu tio, outro criminoso, prometeu a mão de sua filha para o único filho do Imperador do Sexo e das Drogas do Brasil, quando os dois chegassem a maioridade. E assim uma aliança entre eles foi firmada.
Anos se passaram, e quando a hora chegou, o irmão de Amélia conheceu sua prima, apaixonando-se à primeira vista.
Desenvolveu, a partir daí, tamanho sentimento de zelo, de cuidado para com ela, que desejou uma vida melhor para ambos.
Logo, roubou dinheiro de seu pai e fugiu de casa com sua amada, deixando para trás suas responsabilidades, sua “família” e o patriarca desamparado.
Em seus últimos dias, preocupado com a onda de desaparecimentos misteriosos que ouvira de seus colegas, seu pai procurou pelo filho fugitivo, para que assumisse o cargo caso algo acontecesse com ele. Mas nunca o encontrou.
Após o sumiço de seu irmão, o tio de Amélia, teve certeza de que seria o próximo, então, em um ato de desespero, engravidou inúmeras outras mulheres, com o intuito de ter um filho saudável para ocupar o seu trono. Mas nunca teve um.
Na verdade, até teve, mas era enorme a hipocrisia onde a “família” de Amélia se encontrava! Porque seguia-se o código espartano. Ou seja, se um bebê nascesse com alguma deformidade aparente, era sacrificado. E se uma mulher desse à luz a três filhos com esses traços, também era morta.
No fim, o dia tão temido chegou, e o Imperador do Sexo e das Drogas do Brasil foi arrastado para o inferno, sem deixar um legítimo sucessor ao seu trono.
Porém optaram por deixar o cargo para a filha mais velha, Amélia. Pois, se não fosse por ela, que durante o desespero do pai foi encarregada de administrar e gerir, nos bastidores, os assuntos internos e externos da família — assim conquistando prestígio respeito, reputação, visibilidade e status dentro da hierarquia —, muito provavelmente entrariam em colapso.
Mostrar competência, isso fazia parte de um plano seu que há tempos havia entrado em execução, e que se provou bem-sucedido. Mas que nunca foi devidamente concluído, pois não foi necessário matar o Imperador e usurpar seu trono.
No comando da família, decidiu por fragmentar o poder. Por entender a dor de suas irmãs, queria que elas fossem mais do que apenas prostitutas, mas líderes de suas próprias famílias.
E, assim, cada uma foi designada para uma região diferente do Brasil, restando para Amélia o cargo de Imperatriz do Sexo e das Drogas do Vale do Paraíba.
Essa foi a grandiosa história que Amélia contou para nosso protagonista e que não foi devidamente concluída, pois, em meio a seu relato, ela sentiu fome e parou em um carrinho de pipoca perto da praça onde decidiram repousar um pouco.
Ao retornar para Frederico, com um saquinho na mão, ele finalmente pôde digerir tudo que lhe foi falado e expressar sua opinião:
— Sua “família”... é tão repulsiva… Tenho nojo de olhar para você, de estar próximo de ti. Me enraivece o fato de alguém como você usando o nome do Mártir e agindo como se fosse ele. Eu deveria é arrastar você e toda a sua “família” para o inferno! — Em seus olhos, havia a chama de ódio descomunal! — O que te faz pensar que eu aceitaria alguém como você para ser minha ferramenta, o meu braço direito???
A mulher engoliu em seco. Parecia triste, cabisbaixa. Cerrou o punho e, então, levantou a cabeça. — Sabe… — Um sorriso infantil estava estampado em seu rosto — por que eu gosto de pipoca?
— Hã, quê? — Frederico foi pego de surpresa. Ele estava legitimamente confuso.
— Porque, se trocarmos o segundo “p” por “r”, fica “piroca”. HYAHYAHYA!
— Ugh… — Nosso protagonista se lamentou por ouvir aquilo (e eu também)…
Algo que ele nunca achou que pensaria era que de verdade gostava mais da antiga Amélia do que da nova. Ela era mais respeitosa, mais contida, não essa porca no cio que parecia comê-lo com os olhos e que o tocava sem o seu consentimento.
Não chegava a encostar em regiões problemáticas, mas ainda assim se sentia extremamente desconfortável!
A mulher enfim conseguiu conter os risos. — Ai, ai… desculpa. É simplesmente impagável a carinha das pessoinhas quando faço essa piada. Normalmente, se alegram ou ficam mais calmas. Como você se sente?
— Nem um, nem outro — admitiu. — Mas definitivamente meu ódio diminuiu, se transformando em raiva. Então pode-se dizer que estou mais tolerante.
Frederico adotou uma postura desinteressada e lançou um olhar arrogante para ela.
— Seja como for — continuou —, sua história não acaba aí, não é mesmo?
Amélia assentiu e contou que, ao longo de seu império, adquiriu empatia com a dor que sentia as prostitutas do prostíbulo, do qual era dona, e se cansou de tanto sofrimento causado pelas drogas que produzia e consumia.
Logo, um velho sentimento para com seu irmão retornou: inveja. Não pelos mesmos motivos de antes, mas por ele ter visto ainda cedo que o modo como viviam não era saudável.
Em momentos de loucura, que duravam pouco, desejava ser essa prima por quem ele havia se apaixonado. Ao menos, ela estaria tendo uma vida melhor que aquela.
E, em meio a devaneios, a ideia de desfazer o seu império passou por sua cabeça. Porém isso só se tornou o seu objetivo quando viu a mensagem de ano novo do Mártir na televisão.
Avisou seus aliados e suas irmãs sobre sua desistência — até pediu que fizessem o mesmo, não recebendo ouvidos, claro. E enquanto terminava os preparativos para decretar de vez o fim de seu império, sua informante apareceu…
— Apesar de ter atuado durante todo esse tempo, eu sempre fui sincerinha em minhas vontades, em meus relatos que fiz em nossos confessionários. Eu quero mudar, eu quero me converter! — confessou a mulher aos prantos, usando até o saquinho vazio de pipoca como lenço!
“Infelizmente, não há salvação para você”, concluiu. “Mas, se for para chegar nessa informante, que você tanto evita falar…”
Frederico queria conhecê-la. Faria de tudo para que isso acontecesse, até mesmo dar trela à ponte entre eles, cujo nome era Amélia.
Teria que aceitá-la, porém seria rígido, convenceria-a de que queria ela em sua equipe. Seria convincente.
— Está certo. Eu… acredito em você. Entendo que esteja desfazendo seu “império de sexo e droga”. Mas se eu pedisse para suspender temporariamente essa ação, pois acredito que essa rede de crime organizado poderia ser muito útil para nós, você aceitaria essa minha decisão?
— Mas é claro. — Amélia se recompôs e fez uma espécie de reverência. — Tudo pelo grande Mártir, aquele cujo nomezinho utilizei apenas para um dia conhecê-lo em carne e osso, pois sabia que viria até mim.
“Ótimo, farei bom uso disso…”, pensou e, então, disse: — Reconheço que o Falso Mártir já tenha me tirado de algumas enrascadas antes, como me tirar da mira dos investigadores. Entretanto você tem a mesma capacidade de julgamento que eu tenho?
— Jamais terei uma tão eficiente quanto a sua. Mas, quando atuei como Falso Mártir, nunca eliminei alguém que não merecia.
— É mesmo? O dono daquela emissora até entendo. Mas e o âncora?
— Ele era um cliente meu. Usava drogas e aliciava garotas menores de idade, por isso o matei.
“Puxa…” Frederico não fazia ideia disso. Engoliu em seco e se preparou para sua cartada final: — Está bem, não vejo motivos para não te aceitar como minha ferramenta… Entretanto, antes de mais nada, gostaria de conhecer a sua informante.
Amélia pulou de alegria. Uma felicidade genuína estava estampada em seu rosto. — Ebaaaa! Mas é claro! Também quero que vocês se conheçam. Está na clausulazinha do meu contratinho, lembra? Mas isso não pode acontecer aqui. Tem muita gente por perto…
Frederico concordou. — Então onde sugere que nos encontremos?
— Ah, não se preocupe. Conheço um lugarzinho mais reservado, mais… íntimo. Um que ninguém vai interferir em nossa atividade, se é que você me entende…~
Frederico engoliu em seco e fez uma cara de nojo. E, logo, Amélia se aproximou dele, cochichou um endereço em seu ouvido e, na maior ousadia, deu um beijo em sua bochecha.
Despediu-se, enfim, dele. Agradeceu pelo “encontro” que tiveram e comentou que mal podia esperar pelos próximos “encontros” que os dois iriam ter…
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