Volume 1

Capítulo 17: Consequências do Fracasso

 

Após aquela fuga vergonhosa do prostíbulo, muitos infortúnios aconteceram.

Como se não bastasse ninguém ter encontrado pistas que a polícia deixou passar ou o paradeiro da dona do estabelecimento, a equipe de Frederico e Agostinho tiveram três baixas.

Além da morte de um dos cavalheiros — como bem vimos —, um membro acabou sendo excomungado do Vaticano por ter caído na tentação e se embriagado em sua última missão, assim saindo do grupo, e um outro acabou pedindo desistência e voltando para seu país natal, após ver seu colega morto e temer que um dia ele fosse acabar daquele jeito.

Parecia que o último plano do bispo havia sido um fiasco por completo, mas, no fim, não foi.

Com o assassinato daquele religioso, uma pista fortíssima surgiu para linkar o local com o (Falso) Mártir, afinal aquela havia sido a primeira morte de uma pessoa que não era um criminoso nem um servidor público. 

Logo pressupunha-se que assassino e vítima acabaram se conhecendo no estabelecimento, para que o crime pudesse ter ocorrido. Pois, caso eles tivessem se conhecido anteriormente, o religioso em questão já estaria morto há muito tempo.

Apesar dos resultados da investigação terem chego a essa conclusão, a pista pôs em jogo a parceria da polícia com Agostinho e seu grupo. 

E, então, após várias ressalvas e novas broncas, o detetive Tomás colocou um fim nela, deixando o bispo desolado.

A culpa de ter causado a morte de mais uma pessoa — ainda mais de alguém tão próximo a ele — acabou pesando em seus ombros, forçando-o a se isolar em seu quarto de hóspedes na igreja de Frederico, para refletir e tentar resolver essa situação delicada em sua vida.

Enquanto isso, Alonso, Dimitri e Soryu, os três membros restantes da equipe, pareciam desorientados, sem nada para fazer, pois antes de ficar ausente, seu líder havia lhes passado nenhuma ordem.

Logo não era de se estranhar se a confiança deles no bispo também fora abalada, em vista da performance desastrosa que Agostinho estava desempenhando nesses últimos tempos.

“É questão de tempo até que um grupo com a fé abalada e uma base frágil viesse a ruir”, era o que o nosso protagonista pensava.

Frederico não poderia estar mais contente. Acreditava que tudo chegaria a um fim pacífico, sem a necessidade de matar o bispo e seus companheiros de equipe. Enfim poderia começar a respirar melhor!

Entretanto, no fundo de seu âmago, em uma área sombria de seu coração, ele lamentava a derrota fácil de um inimigo difícil e debochava do fato de ter pego pesado com alguém que não atendeu com as suas expectativas.

“Eu o superestimei”, achava. Mas, no fim, desejava que esse embate durasse mais, para que ele pudesse se superar e evoluir cada vez mais… kikiki.

Seja como for, em uma certa manhã, Agostinho enfim saiu do seu quarto de hóspedes e reuniu Frederico e os três membros restantes na famosa mesa da cozinha da igreja.

— Bom dia, senhores. Vos chamei aqui hoje, pois tenho um anúncio a fazer. Nesses últimos dias, venho travando uma batalha feroz com um conflito interno meu que vinha se expandindo cada vez mais. 

“Porém essa luta chegou ao fim, e os resultados dela irei compartilhar convosco agora.

“É uma decisão que surgiu em minha mente após a morte do padre que era dono daquela emissora e que, em vista dos acontecimentos recentes, a colocarei em prática.

“Irei desfazer a investigação e renunciarei ao Papa o cargo de bispo. Não me acho digno dessa posição, após as consequências de meus atos, que resultaram na morte de duas pessoas.

“Agradeço pelo tempo e esforço de todos. Foi uma honra investigar ao lado de vós, porém, em prol da vida daqueles que restaram, irei tomar essa atitude.”

O discurso pegou toda a equipe de surpresa — exceto Frederico, que já esperava por isso. Dimitri e Soryu ficaram boquiabertos, e Alonso parecia indignado, frustrado talvez, como se tivesse algo entalado na garganta, pronto para ser cuspido. 

Percebendo o estado de espírito de seu companheiro, o bispo rompeu o silêncio e o incentivou: — Se o cavalheiro possui alguma objeção a respeito da minha decisão, por favor, a compartilhe conosco.

— Pois bem então. Eu tenho algo para falar! — O religioso se levantou de maneira abrupta e esmurrou a mesa. Seus olhos determinados passaram por cada um de seus colegas e repousaram em seu líder. — Acho essa uma decisão bem injusta de se fazer e de se tomar sem antes nos consultar!

— É verdade!

— Eu concordo!

Dimitri e Soryu se levantaram e também se pronunciaram. Frederico, para não ficar de fora, fez o mesmo que os dois.

Agostinho, por outro lado, parecia surpreso. Essa era a primeira vez que a sua equipe se opunha a uma decisão sua.

— Certo, peço desculpas por isso. — Em um gesto de humildade, o bispo fechou os olhos, pôs a mão sobre o coração e fez uma espécie de reverência. — Gostaria então de saber quais as opiniões dos senhores sobre o assunto.

— Sinceramente, Reverendíssimo Senhor — começou Alonso —, estava tendo minhas dúvidas, mas depois de ouvir o seu discurso, me senti inspirado e foi aí que percebi que tu eres o líder que eu gostaria de seguir para todo sempre.

— Desde o começo, Bispo Agostinho — continuou Dimitri —, sabia que nesta cruzada que nós nos metemos haveria baixas e achava que aquele que nos lideraria estava disposto a fazer sacrifícios, caso necessário…

— … Mas tu é um homem justo, Reverendíssimo Senhor D. Agostinho — completou Soryu —, a própria reencarnação da justiça!, se me permite a metáfora. A forma como valoriza e se importa com cada vida humana… Se o senhor não se acha digno da sua posição, então eu também não sou digno da minha, nenhum de nós é!

— E digo mais: se Vossa Excelência Reverendíssima renunciar, eu farei o mesmo! — Frederico… espera, FREDERICO?! O QUE ELE ESTAVA FAZENDO AÍ? POR QUE ELE ESTAVA DIZENDO ISSO?????? — Investimos muito nessa investigação, não podemos desistir. Se respeita nossos esforços, se quer que todas as mortes até o momento não tenham sido em vão, então precisamos continuar!!! — Oh, agora eu entendo… kikiki.

— Senhores... — Os olhos de Agostinho se encheram de lágrimas. 

Ele baixou a cabeça, lágrimas solitárias caíram na mesa. Mas de abrupto levantou o rosto. Em seu semblante, havia um olhar determinado e um sorriso otimista.

— Muito bem então. Irei acatar as suas opiniões. Vamos continuar nossa investigação, agora mais fortes do que nunca. Pela honra e glória do Senhor!!!

— AMÉM!!! — gritou toda a fortalecida equipe, em uníssono.

Apesar de Frederico ter participado do coral, ele ficou extremamente incomodado que o que ele previa acabou não acontecendo. Entretanto, no fundo do fundo de seu interior, eu sabia: estava celebrando tanto quanto as pessoas ao seu redor.

— E o que faremos a seguir, Reverendíssimo Senhor? — perguntou Alonso sem esconder sua empolgação e animosidade.

— Acalme-se, cavalheiro, pensarei em algo ainda. Mas, até lá, planejo ajudar com a missa rotineira que Vossa Reverência irá dar hoje. Ou o senhor se esqueceu? — respondeu com um sorriso simpático no rosto.

Alonso ficou um pouco envergonhado, mas, para se redimir de seus erros, ofereceu a sua ajuda para os preparativos do evento e, logo, Dimitri e Soryu também.

 

***

 

Graças ao trabalho em equipe, a missa foi organizada antes do tempo estipulado, abrindo margem para um evento nunca antes visto: os cavalheiros recepcionando e interagindo com os fiéis que vinham chegando para aguardar o início da celebração. 

Frederico e Agostinho vinham tudo do presbitério, de longe. Ambos conversavam sobre o quão felizes estavam pela atitude dos três, quando uma moça entrou na igreja.

Em seu rosto, uma beleza naturalmente deslumbrante — uma vez que ela não usava maquiagem —, e uma feição pura e inocente.

Muitas pessoas que a vissem a achariam fofa, pois seu corpo era miúdo, e sua estatura, baixa. 

Vestia um vestido comportado. Não tinha decote, não acentuava suas curvas e não era curto — a saia chegava até a metade de sua canela. 

Era a vestimenta perfeita para essas ocasiões, já que era respeitosa aos olhos da religião e não trazia destaque para si. O que evidenciou ainda mais o comportamento estranho dos cavalheiros diante dela.

Quando os três se aproximavam dela, pararam no meio do caminho, torceram o nariz, deram meia-volta e a evitaram, fazendo com que a mulher seguisse sem interrupções até o assento dos fiéis e se sentasse nele.

Frederico a princípio não entendeu o porquê deles terem feito aquilo. Mas ao olhar para o lado, a resposta veio até ele.

Agostinho estava pálido e inquieto, como se fosse vomitar a qualquer momento. O bispo colocou a mão na boca, e nosso protagonista logo interveio:

— Vossa Excelência Reverendíssima, está tudo bem?

Ignorando a preocupação do padre, Agostinho apenas apontou discretamente para aquela mulher e perguntou: — Quem… é ela?

Frederico pousou os olhos nela, ele tinha a leve impressão que já a havia visto em algum lugar. 

Observou aquele inconfundível e maravilhoso cabelo chanel loiro, e na hora a reconheceu.

— Ah! É a bartender com quem eu conversei naquele prostíbulo, lembra? Não achei que ela fosse aparecer… mas fico feliz que tenha.

— Do prostíbulo, é...? — Agostinho pensou um pouco e, logo, fez um pedido para Frederico: — Peço que preste bastante atenção nela, Vossa Reverência. Sinto uma energia ruim muito grande vindo dela, uma que nunca havia sentido em alguém antes. Acho... que não conseguirei ficar no mesmo ambiente que ela por muito tempo…

— E-está tudo bem, Vossa Excelência Reverendíssima. Irei fazer o que pediu. Mas, por favor, vá e descanse um pouco. 

O bispo assentiu, lamentou não poder acompanhá-lo na cerimônia e se retirou do local.

 

***

 

Frederico ministrou a missa sozinho, e quando ela chegou ao fim, aquela mulher esperou todos irem embora para poder conversar com ele.

De imediato, perguntou quais atividades a sua igreja oferecia aos fiéis e se havia algum trabalho voluntário que pudesse fazer, e o padre lhe deu um panfleto contendo um cronograma dos eventos que ela gostaria de participar.

Nosso protagonista havia suposto que o que a bartender havia dito para ele no prostíbulo era da boca para fora, mas talvez não fosse, e isso o deixava contente por aquela… fiel.

Como padre, sentia-se na obrigação de ajudá-la no que desse e viesse. Mas mal sabia o pesadelo que essa promessa causaria posteriormente…

Aquela mulher, cujo nome era Amélia, se tornou uma verdadeira pedra em seu sapato.

A princípio, começou sutil. Participava das missas que ele ministrava, dos eventos da igreja que ele participava, realizava repetidamente confessionários com ele — sempre relatando os mesmos erros que vivia cometendo — e se voluntariava para tarefas na igreja. Mas só se Frederico estivesse administrando elas, claro.

Era impressionante como ela sempre arrumava um jeito de conversar com nosso protagonista. Entretanto isso não era o suficiente.

Em um determinado momento, esses encontros saíram do ambiente da igreja e passaram, então, a acontecer fora dela.

Vira e mexe Frederico acabava a encontrando passando pela rua ou em algum outro canto, e isso começou a assustá-lo.

Estava se sentindo perseguido. Sempre que saía da paróquia, entrava em alerta. Era como se algo ou alguém o observasse nas sombras.

Em um desses encontros entre os dois, começou a analisar se ela não era um potencial obstáculo.

Teve a certeza, porém, após trombar com Amélia na saída de um supermercado. 

Enquanto conversavam, Frederico não pôde deixar de notar uma silhueta misteriosa que os via de longe. 

Estava escondida atrás de uma árvore, mas, ao forçar bem a vista, notou se tratar de uma figura feminina enorme, com seios e glúteos fartos, cobertos indecentemente por um biquíni… metálico?

Sua pele era vermelha, tinha cauda, um par de chifres… Nesse instante, não lhe sobrava dúvidas. Diante dele, havia um demônio da espécie Luxuria.

Seu semblante se fechou por completo, estava enraivecido. Sem se despedir, retirou-se correndo do local, no meio da fala da mulher — que ficou parada sem entender o que havia acontecido. 

Seu destino? A igreja. Mais especificamente seu dormitório, o local onde guardava seu estoque de papéis e sua caneta.

“Pecadores são pecadores, e eles nunca irão mudar. Ela também não”, convenceu-se. Não tinha dúvidas de que aquele demônio acompanhava Amélia, tendo em vista seus relatos no confessionário.

Frederico estava disposto a arrastá-la para o inferno. Não se importava se isso criaria uma desconfiança maior no bispo — ou então uma brecha que possibilitaria a sua captura. 

Tudo que ele queria naquele momento era descontar toda essa raiva que sentia por todo o mal que a bartender fez e por seu esforço que, no fim, foi inútil.

Mas… peraí. Figura feminina enorme… Seios e glúteos fartos, cobertos indecentemente por um biquíni metálico… Uma armadura de biquíni?

Um grande demônio havia sido libertado... DROGA, AGORA EU ENTENDI TUDO!!!

— Mas que merda, Frederico. O que estás fazendo neste exato momento???

Visito suas memórias mais recentes. Vejo que ele já havia chegado em sua igreja, em seu dormitório, e percebo que ele escrevia o nome daquela mulher em um pedaço de papel.

Não, não, não! Eu não posso deixar que isso aconteça! Pelo menos não com ela!

Estou no inferno neste exato momento, mas preciso ir para o mundo humano, detê-lo. Logo, abro minhas asas e olho para cima. Um portal se abre, e eu atravesso ele.

Ao chegar, surgi ao seu lado. Frederico estava prestes a pôr fogo no papel.

— PAREEEEEEEEEEE!!! — gritei em desespero.

Nosso protagonista tomou um susto tão forte que o impediu de continuar com o que estava fazendo.

Ele colocou a mão no peito, expirou e inspirou até se acalmar e, após, virou-se para mim, irritado.

— Mas que… droga, Narrador! O que pensa que está fazendo!?

— Salvando as nossas peles. Sabes que não sou de intervir, ainda mais em suas ações tão patéticas, mas DE JEITO NENHUM poderás usar o meu poder para arrastar essa pessoa em específico para o inferno.

Frederico parecia confuso. — E… por que não?

— Porque... — O demônio que firmou contrato com ela me pagou bem — algo extremamente ruim vai acontecer conosco, caso faças isso... 

— O-o que, exatamente...? — Logo, um sino tocou, mudando o ânimo do padre, bem como o assunto da conversa. — Aff… alguém entrou no confessionário. Eu já até imagino quem seja…

Apesar de ter dito isso, ele não sabia de verdade quem era. Poderia ser aquela mulher, poderia ser um fiel de sua paróquia, poderia ser qualquer um, em vista que tal prática era feita no anonimato.

Vendo a dor e sofrimento de meu contratante, soltei um sorriso maléfico de ponta a ponta. — Então vá, atenda a sua obrigação como padre, kikiki.

— Hmpf, que seja. Só não vá a lugar nenhum. Quando terminar, espero que você responda adequadamente a minha pergunta.

— Sim, sim, não se preocupe. Afinal, estarei beeeeem perto de ti, se é que me entendes…

Assim, possuí o corpo de Frederico, e este por fim entrou em seu lado da cabine de confessionário. Fechou a cortina, para mais privacidade, e através de uma grade que os separava, a pessoa do outro lado deu início ao Sacramento da Penitência.

Não era possível a ver com exatidão, mas percebia-se que ela fez o sinal da cruz antes de cumprimentar o padre: — Abençoa-me, Pai, porque pequei. Fazem dois diazinhos desde a minha última confissãozinha.

O tom de sua voz era bem familiar, entretanto não era característico. O jeito como falava, nosso protagonista não se lembrava de tê-la ouvido em seu cotidiano. Então por que achava que a poderia reconhecer?

De qualquer forma, seu humor havia melhorado bastante, em vista que essa não parecia ser a mulher que vivia lhe atormentando. 

Logo, de uma maneira educada, pediu: — Por favor, prossiga.

A este ponto, ele estava preparado para ouvir quaisquer fossem os seus pecados e auxiliá-la com o que pudesse. No entanto dessa vez foi diferente…

– Padre, desde o momentinho em que conversei com o senhor através de uma ligação naquele programa, eu venho mentido. Sobre meu nomezinho, sobre a forma como ajo e sobre quem sou. A verdadezinha é que sei exatamente quem você é, ó grande Mártir.

Frederico foi pego de surpresa.


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