Volume 1
Capítulo 4: O reencontro dos rivais
Como prometido, Saketsu fizera sua parte do acordo. Direto da escola no mesmo dia, eram sete horas da noite quando, sob a luz do luar nascente, ele, Inácia e Enzo eram as únicas pessoas em um pequeno parque do bairro, onde cada um ocupava um dos três balanços, lado a lado.
Sentado em meio aos dois, Saketsu era, sem dúvidas, o que estava mais deveras incomodado, pois ninguém falava nada; agiam como estátuas, enquanto apenas os insetos nas moitas e os galhos das árvores ao redor balançando com a brisa pareciam interagir entre si — talvez até zombando da situação.
Inácia parecia febril, o rosto pálido e corado. Já Enzo não demonstrava o que estava sentindo; agia pensativo como sempre, como se nem se importasse de perder tempo ali. Na verdade, ele sequer sabia por que havia sido chamado, já que Saketsu apenas fizera um drama mal disfarçado dizendo que era para “algo importante”.
Tentando quebrar o silêncio deveras chato, Saketsu se manifestou:
— Ai, ai, que linda noite, não? Se eu estivesse com minha namorada, com certeza estaria apreciando e beijando ela sob a luz deste lindo luar… — comentou em sua teatral indireta.
Mas não adiantou. Os dois permaneceram quietos, e o silêncio pareceu reinar ainda mais.
“Mas que droga, por que ainda estou aqui tentando ajudar? Vamos, Enzo, fale pelo menos uma das coisas inteligentes que você sempre fala! E Inácia, pule para cima dele, cacete!” pensava o garoto, se mordendo de inquietação.
Ele suspirou. De uma forma ou de outra, aquilo teria que acontecer, então decidiu adiantar as coisas:
— Eu vou contar, a Iná...
— Saketsu! — Inácia o interrompeu, corada e nervosa.
— Saketsu — disse Enzo de repente —, cadê os mangás do Uãne Pice que você disse que iria me emprestar? Vim para isso.
— Ah, é! Verdade… — fingiu lembrar após alguns segundos, quando finalmente entendeu qual era a do amigo. — Estão lá em casa.
Saketsu nunca dissera que emprestaria algo, mas entendeu que Enzo — com a sagacidade de sempre — tinha percebido a situação e puxara o assunto para desviar o foco.
— Eu vou lá pegar.
— Saketsu, por favor! — guinchou Inácia, tentando ser o mais discreta possível para impedi-lo de se levantar.
Ele parou e a olhou, sabendo que não podia ficar ali. Inácia precisava tomar coragem e se confessar sozinha; seria melhor para todo mundo. Então, como solução final, gritou:
— Ei, Lana, espere! — Saiu às pressas atrás da suposta garota distante, virando-se uma última vez para o casal. — Bom, tenho que ir, pessoal, minha namorada tá me chamando. Boa sorte pra vocês aí. — E foi-se.
— Namorada? — perguntou Inácia alguns segundos depois, ainda corada e surpresa.
Enzo começou a rir. Ainda que de maneira introvertida, sua risada era algo tão raro que fez Inácia olhá-lo com um pouco de estranheza.
— Enzo…?
— Saketsu é hilário. Lana é a garota por quem ele é apaixonado desde o terceiro-ano.
— Lana Evans? Eu me lembro dela — disse, já se sentindo mais à vontade sem perceber. — Ela estudou no quarto-ano com a gente, não? Espera… ela ainda estuda; está na nossa classe, se não me engano. Mas ela namora com ele?
— Até parece — respondeu com leve deboche. — Ela não dá a mínima para ele. Eles nem se falam direito, pra falar a verdade.
— Hmn… Então quer dizer que… — Inácia começou a corar novamente, percebendo o que Saketsu fizera.
— Sim — completou Enzo. — Ele saiu para nos deixar a sós. E eu sei o que viemos fazer aqui.
— Sabe…? — Inácia parecia prestes a explodir de tão vermelha.
— É muito óbvio. Qualquer um perceberia. E a minha resposta sobre isso…
────────⊹⊱💀⊰⊹────────
Caminhando pela rua mal iluminada, Saketsu suspirou de alívio por ter saído da situação em que ele mesmo se metera — e da qual, se não fosse pela ideia que tivera, provavelmente estaria plantado lá até agora, feito um idiota.
Pensar no motivo que havia inventado, porém, o deixava um pouco infeliz por não ser verdade. Isso o fez suspirar novamente, olhando para a grande lua no topo do céu. Talvez apenas ela pudesse livrá-lo de sua solidão, pelo menos até chegar em casa, onde pretendia se deleitar com algum jogo ou anime.
Apesar de nada particularmente anormal ter acontecido neste dia, as últimas “alucinações” que andara tendo continuavam a incomodá-lo.
Lembrava-se de ter visto Iuri no começo da aula, encarando-o do portão. Será que tinha sido só impressão? E quanto ao felino negro que se transformou em espada, e os zumbis na madrugada? O estrago no quarto indicava que havia sido tudo real — e sequer tivera tempo de arrumar a bagunça, o que era mais uma preocupação.
Passando distraído em frente a um beco, nem percebeu a figura encostada na parede, que logo saiu da sombra, aproximando-se por trás com uma enorme espada negra.
— Saketsu… — chamou, paralisando o garoto que reconheceu de imediato aquela voz fria.
Apesar do receio, arriscou olhar para trás — e se espantou ao ver Iuri, apoiando no ombro sua grande arma negra. A lâmina portava um desenho enraizado que cintilava em vermelho vivo, com um pequeno crânio dourado no pomo — idêntico ao da testa de Ukyi.
— Hoje você morre — sentenciou Iuri.
Assustado, Saketsu não compreendia direito a situação. As sensações do dia anterior — naquela rua com Lana — voltaram com tudo. Seu instinto tinia, exigindo que fugisse dali, enquanto seu corpo permanecia paralisado.
“Vamos! Reaja! Reaja!” gritava para si mesmo, mas nada acontecia. Iuri se aproximava sem pressa, preparado para desmembrá-lo ao meio.
— Morra — disse, movendo a lâmina.
Saketsu viu a grande espada vir contra si. Pensando que seria seu fim, logo a viu passando acima de sua cabeça, depois de perder todo o peso das pernas e cair sentado no chão.
— Por que está fazendo isso?! — perguntou, ainda caído.
Iuri não respondeu; apenas avançou novamente. Saketsu se levantou num pulo e correu como única alternativa, escapando do ataque por pouco.
“Droga! Isso está mesmo acontecendo?!” pensava, fugindo o mais rápido que podia, sem coragem de olhar para trás.
“Se ele é o mesmo de ontem, e eu sei que isso não é um sonho… então quer dizer que… quer dizer que ele matou a Lana mesmo?!” concluiu, sem mais dúvidas.
A cena do pescoço da garota sendo quebrado cruelmente pelas mãos de Iuri passava claramente em sua mente, e a pergunta inevitável surgia: “Por quê?”
Sem fôlego, Saketsu parou para tentar raciocinar melhor.
— Então aquilo que aconteceu com meu corpo de madrugada também… Não, não pode ser. Mas se não for… então quer dizer que eu tô ficando louco.
A expressão era de puro choque. Mesmo querendo acreditar, era absurdo demais para processar.
— É isso… eu não consigo mais diferenciar imaginação da realidade… Bem que avisaram que assistir anime demais me deixaria assim! — riu, doentiamente, rendendo-se à insanidade, talvez como qualquer outra pessoa faria em tal circunstância.
────────⊹⊱💀⊰⊹────────
Poucos minutos depois, Iuri vagava calmamente pela rua fria, deserta e escura, ladeada por casas simples, iluminadas apenas por um ou outro poste fraco.
Com a espada apoiada no ombro, ainda procurava por Saketsu — sem pressa alguma. Até que algo inesperado chamou sua atenção: Saketsu estava parado alguns metros à frente, ofegante, tenso, com um olhar carregado de ódio.
— Parece que me poupou o trabalho de ir atrás de você — disse Iuri.
— Cadê a Lana, desgraçado?! — Saketsu foi direto ao ponto.
— Por que não pergunta a ela... quando chegar no outro mundo? — respondeu Iuri, ajeitando a mão na espada.
— SEU MERDA! — Saketsu correu furioso na direção dele.
— Vai mesmo facilitar para mim? — provocou, empunhando a espada.
— Não tenho o que temer. Vou acabar com isso agora!
Saketsu avançou ainda mais rápido. Iuri se preparou.
Quando ele se aproximou, Iuri tentou um corte fatal, mas Saketsu o interceptou com as mãos nuas, sendo arrastado alguns centímetros para trás pelo impacto.
Iuri se surpreendeu por um instante — até notar uma leve camada de aura negra revestindo as mãos de Saketsu. Mesmo assim, não era força suficiente: bastou aplicar mais pressão para que elas começassem a sangrar. Ficou claro que um pouco mais de força poderia parti-las ao meio.
Ainda assim, Saketsu não soltava.
— Aposto que acha que vou permitir a intromissão daquele gato negro novamente. Deve ser por isso toda essa confiança — acusou Iuri.
— Gato negro? Está falando do Ukyi? — Saketsu hesitou por um segundo.
— Chega de conversa. — Iuri recuou, voltou a postura de ataque e avançou com um corte horizontal rápido, tentando dividir Saketsu ao meio.
Saketsu se agachou e escapou por pouco, afastando-se em seguida com uma agilidade incomum até alcançar uma distância segura.
— Então você possui poderes sobrenaturais — afirmou Iuri, encarando-o friamente.
— Impressionado? Pois é, eu possuo — disse Saketsu, sério, levantando a mão. Chamas sombrias de tom púrpuro surgiam em meio ao sangue que escorria devido ao corte anterior. — Pelo jeito somos dois “glasbhuks”, ou seja lá como chamam. Essa sua espada é viva também?
Pela reação de Iuri, ele não entendeu a pergunta. Sem dizer mais nada, partiu para cima de Saketsu outra vez. Só que, para a surpresa deste, ele passou direto. Ao perceber que Iuri continuava seguindo em frente, seu estômago gelou ao entender o que ele provavelmente buscava.
— Ah, droga! Não vou deixar! — Saketsu o seguiu, acelerando ainda mais.
Iuri virou a esquina e encontrou o verdadeiro corpo de Saketsu adormecido, encostado no muro. Sem hesitar, ergueu a espada para matá-lo. Mas, no instante em que a lâmina estava prestes a descer, recebeu uma joelhada brutal que o lançou vários metros para trás.
— Mirando meu verdadeiro corpo? — questionou Saketsu. — Você realmente é um glasbhuk, senão como saberia que eu estava fora dele? — Ele olhou para o próprio corpo desacordado, seguro ao seu lado, e voltou a encarar Iuri. — Obrigado. Você acabou tirando uma dúvida que eu tinha: o que aconteceria se meu corpo verdadeiro sofresse dano enquanto eu estivesse fora dele? Se for o que estou pensando, foi inteligente da sua parte. Se o tivesse destruído, eu deixaria de existir, não é?
Iuri se levantou irritado, pressionando a mão na lateral da barriga após o golpe que recebera. Com expressão fria e rebelde, ergueu a espada — e cargas elétricas azuis começaram a crepitar pela lâmina, crescendo em intensidade.
— Cansou de esconder seus poderes? Parece que agora assim nossa luta poderá ser séria — provocou Saketsu, fazendo as chamas negras irromperem das mãos com ainda mais vigor.
Eles se encararam.
Diferente das brigas anteriores, agora era séria.
Uma batalha perigosa estava prestes a começar — e pelo visto só terminaria quando um deles deixasse de respirar.
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