Volume 1
Capítulo 5: O nascer de uma rivalidade
Há sete anos, com o dia nublado indicando que a qualquer momento poderia chover, o sinal da escola batia anunciando o início da aula. Os pequenos jovens do terceiro ano adentravam a sala. Não fazia nem duas semanas que o ano letivo havia começado.
— Bom dia, crianças — cumprimentou a professora ao entrar e se encaminhar até sua mesa. — Hoje teremos uma aula um pouco diferente, então peço que se sentem em dupla, por favor.
Ouvir aquilo foi desconfortável para um pequeno garoto cabisbaixo e tímido, isolado na carteira colada à parede do fundo, com o cabelo descuidado quase lhe cobrindo os olhos.
Enquanto as crianças agitadas arrastavam as carteiras para se juntarem aos seus pares, Saketsu não se movia. Sentia-se inseguro. Apesar de estar no terceiro ano, aquele era seu primeiro dia naquela escola, e interagir com os outros era uma habilidade que certamente não possuía, já que sempre fora rejeitado.
— Olha lá aquele menino, por que não vai se sentar com ele? — disse uma das crianças, com sarcasmo.
— Hein, eu não, vai você!
— Que otário, quem iria querer se sentar com ele?
— Seria melhor se nem tivesse vindo. Menino estranho.
— Pois é, todo sujo desse jeito… Aposto que nem tem pais pra cuidar dele.
Os comentários maldosos corriam pela sala. Mesmo acostumado a ouvir esse tipo de coisa — até mesmo de adultos — Saketsu ainda não conseguia evitar a tristeza.
Um minuto depois, a sala estava quase silenciosa. Os alunos já tinham formado duplas, exceto Saketsu, que se debruçou desanimado sobre o caderno, querendo que a aula acabasse logo, até perceber a professora caminhando até um canto da sala e parando ali.
— Lana, não conseguiu achar um par?
Ele virou o rosto e viu a menina balançando a cabeça, visivelmente triste.
— Não se preocupe, você pode se sentar com ele, o que acha? — A professora apontou Saketsu.
Lana o olhou. Foi a primeira troca de olhares entre eles — e ambos desviaram logo em seguida, tomados pela timidez.
Depois de pegar seus materiais, retraída, ela se aproximou, puxou uma mesa e a encostou a dele, sentando-se.
— Bom, então vamos começar a tarefa — disse a professora, entusiasmada.
— Oi, eu sou o Saketsu — murmurou ele, com uma voz tão baixa e insegura que Lana sequer ouviu, concentrada na explicação da professora.
Apesar disso, no final do dia, os dois trabalharam surpreendentemente bem juntos. Conseguiram nota dez. Lana tinha sido gentil e atenciosa como ninguém jamais havia sido com Saketsu, e talvez por isso, pela primeira vez, ele conseguiu conversar de forma amigável. Aquilo o marcou.
Quando o turno terminou, chovia forte. A maioria dos alunos já tinha ido embora. Lana estava parada na porta do prédio, esperando o pai vir buscá-la. Saketsu a observava escondido atrás do corredor, querendo agradecer — talvez até mais — mas não encontrava forças. Não sabia o que dizer. Estava tímido demais, com medo de arruinar tudo.
Então, quatro garotos da mesma idade se aproximaram, vindo do lado de fora.
— Você é a Lana? — perguntou um deles, forçando um ar autoritário. Parecia ser o líder. Um garoto à direita segurava o guarda-chuva que o protegia.
— Sou, sim — respondeu ela, curiosa.
— Seu pai tá te chamando ali no fundo da escola. Pediu pra gente vir buscar você.
— Ah! — Ela abriu um sorriso contente.
Eles foram juntos pelo caminho, um deles segurando o guarda-chuva sobre a cabeça dela. Em menos de um minuto chegaram ao pequeno bosque atrás do prédio.
Saketsu, ainda observando escondido, percebeu algo estranho — e Lana também. O guarda-chuva foi retirado, e os garotos se afastaram, posicionando-se ao redor dela, cercando-a. O líder, mais próximo, amassou um punho contra a outra mão, sorrindo de modo perverso.
— Cadê meu pai? — perguntou Lana, já assustada.
— É sério que você acreditou nisso? — debochou ele, arrancando risos dos outros.
— O que você quer comigo?
— O que eu quero? Eu quero é acabar com você.
— Por quê? Quem é você? — Lana recuou um passo, mas não tinha para onde ir.
— Eu sou filho do Baratão, e seu pai tá atrapalhando os negócios do meu pai. É por isso que vou te deixar aleijada, para seu papaizinho saber quem é que manda nos negócios aqui em Veraluz!
Ele se aproximava de forma ameaçadora. Saketsu percebeu que aquilo estava prestes a piorar. Queria impedir, mas não conseguia. O corpo tremia. Sabia que não tinha força para enfrentá-los; só seria mais um a apanhar daquele covarde.
O líder levantou o punho e lançou um soco cruzado no rosto de Lana, a derrubando no chão.
Os garotos gargalharam de forma sádica.
Toda suja de lama, Lana tentava se levantar, tapando o rosto com a mão enquanto lágrimas de dor escorriam.
— Own, vai chorar? Quer o papai pra proteger a princesinha? — zombou ele. Os outros gargalharam mais.
— Por favor… eu só quero ir pra casa — implorou.
— Cala a boca! — Ele a derrubou de novo, com um chute violento na lateral da barriga. — Você só tem direito de ficar calada. Vou quebrar seus braços e pernas pra nunca mais fazer nada, sua cadelinha inútil!
Um dos meninos trouxe uma barra de ferro, e o líder a ergueu com um sorriso ainda mais perverso, mirando onde acertaria primeiro.
Assistindo tudo, Saketsu travava entre agir e recuar — até que, ao perceber a gravidade daquilo, finalmente decidiu que não podia continuar parado. Trocou o ar num suspiro trêmulo e deu um passo.
Mas antes que pudesse avançar, alguém passou por ele em alta velocidade.
Um garoto.
Com um único soco, ele acertou o agressor da barra de ferro, lançando-o a mais de um metro.
O menino de olhos âmbar mal-encarados mirou os outros três e se preparou. Eles avançaram. Ele respondeu com socos, chutes, desvios — um verdadeiro massacre. Cada golpe parecia carregado de pura raiva.
Por fim, restou apenas ele de pé, parado diante de Lana, encharcada e tremendo.
— Você… você me ajudou… — Ela chorava. — Qual é seu nome?
— Iuri. E não entenda mal: não fiz isso por você. — Virou as costas, insensível, e saiu andando.
Mas ela não conseguia esconder a admiração. Sabia que havia sido salva de um destino cruel.
Iuri passou pelo escondido Saketsu sem olhar para ele. O garoto se sentiu miseravelmente covarde. Mas antes que pudesse tomar qualquer atitude, duas pessoas passaram correndo.
— Meu Deus, que tragédia!
— Droga, esses alunos que ficam causando alvoroço na escola. Sorte que vimos tudo através da câmera.
Eram dois funcionários da escola, que acabaram socorrendo Lana e os quatro garotos feridos.
Saketsu acabou indo embora sob a chuva, com os punhos apertados, engolindo a frustração por ter sido tão inútil.
────────⊹⊱💀⊰⊹────────
Três dias se passaram. Lana não apareceu na escola — nem Iuri, suspenso pelo ocorrido.
Saketsu ouviu conversas:
— Você soube da briga do Iuri com os meninos do quinto?
— Claro, né. A escola inteira tá falando disso. Parece que no dia seguinte, os meninos apareceram com os braços e as pernas quebrados.
— Foi Iuri quem fez isso?
— Não sei…
— Pode ter sido o pai da Lana quem machucou eles — disse uma terceira criança.
— Como assim?
— Eu ouvi dizer que o pai dela é um perigoso esteri... estelior... — gaguejou com dificuldade para dizer a palavra.
— Estelionatário?
— É! Só que o menino que bateu nela acabou saindo pior; ele teve um dos braços cortados fora.
— Nossa, que horror!
— É por causa disso que minha mamãe fala para eu não ficar perto da Lana, porque ninguém sabe o que pode acontecer, o pai dela é muito perigoso.
— Eu não sabia disso. Eu só nunca falei com ela porque nunca gostei dela mesmo, mas agora é que eu não chego nem perto.
— Nem eu.
Ouvindo aquilo, Saketsu pensava se era verdade. Se Lana também era rejeitada. Se só havia sobrado para sentar com ele naquele dia porque era a única tão isolada quanto ele.
Se fosse o caso…
“Ela é como eu?”
A admiração por ela cresceu ainda mais. Saketsu imaginava que poderiam dar um ao outro a companhia que faltava.
Nos dias seguintes, a ausência de Lana só aumentava sua ansiedade. Ele ensaiava falas, imaginava como se aproximar, o que dizer, mas a chance não vinha.
Na semana seguinte, com o sol agradável no céu, Lana finalmente apareceu. Estava bem. Ignorava os olhares negativos dos outros estudantes enquanto ao mesmo tempo procurava por alguém.
Saketsu a observava. Respirou fundo. Reuniu coragem para ir até ela.
Ela abriu um sorriso em sua direção, porém logo percebeu que não era para ele, e sim para alguém que vinha atrás.
— Oi, Iuri — disse ela, tímida, passando por Saketsu sem sequer notá-lo.
— O que você quer? — Iuri encarou-a.
— Só queria agradecer por aquele dia… se não fosse você…
— Já disse que não fiz por você. — E passou direto.
Lana abaixou o olhar, triste.
Saketsu, vendo aquilo, em vez de ir até Lana, correu e parou na frente de Iuri quando já estava um pouco distante.
— Ham? — Iuri franziu o rosto. — Quer brigar, lixo?
— Eu… — A voz de Saketsu falhava, mas ele conseguiu soltar: — Quero que você fique longe da Lana.
— Você devia dizer isso pra ela. — Iuri firmou o olhar.
Saketsu retribuiu. E ali nasceu a troca de olhares rancorosos que se repetiria por anos.
Para Saketsu passou a ser frustrante. Sempre que conseguia se preparar para se aproximar de Lana, ela estava com Iuri — tentando de forma inútil um vínculo amoroso com seu “príncipe salvador”. E isso destruía qualquer esforço. Ano após ano, nada mudava.
Saketsu tentava ser melhor do que Iuri em tudo: notas, esportes… mas sempre ficava claro quem era o superior. Quanto mais ele tentava, mais óbvio era o abismo entre eles. Gerava raiva.
O confronto iniciado há sete anos havia chegado ao presente, onde finalmente teriam a chance de usar todo o rancor acumulado ao longo do tempo, em uma batalha espiritual capaz de levar o outro à morte.
Quem venceria desta vez?
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