Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 71: A sala do trono

Quando enfim desembarcamos no porto, vi a diferença entre aqueles dois países. Enquanto Jabra exalava ordem e o poder do soberano, aqui era quase como um lixeiro, onde os piores tipos se reuniam. 

A cidade portuária de Falbion, nossa última parada antes de nos separarmos. Aqui, encontraríamos o Monarca de Kielrakai, que levaria Elizabeth e Zozolum para Kaths, a capital real.

Era um lugar sujo, onde todos olhavam com desconfiança uns para os outros, uma sensação estranhamente parecida com os distritos inferiores de Juvicent.

O próprio ar era pesado. De uma forma ou de outra, era um lugar que não gostaria de morar. 

Aparentemente, daqui encontraríamos um grupo que seria responsável pela minha segurança. Zozolum disse que, devido a forma como atrai a atenção de um lorde Cardeal, era melhor ser cauteloso. 

Além do mais, como estará ocupado com o treinamento de Elizabeth, não poderá ir comigo, o que significa que confia nesses mercenários. 

Que tipo de gente eles são?

— Empolgada? — perguntei, olhando para Elizabeth conforme caminhava junto dela. A mesma sorriu e assentiu, virando-se para mim e procurando algo. 

Ela começara a fazer isso com mais frequência desde que chegamos em Jabralam. Estava preocupada comigo, isso era meio óbvio, e, mesmo assim, não sei como me sentir sobre isso. 

— Você… — Começou e então suspirou, balançando a cabeça. — Não é nada. 

Nisso, virou-se para frente e seguiu o mentor dela, forçando-me a caminhar com eles. Do meu lado, Benkei olhava para os vários tipos, pronto para qualquer problema que surgisse. 

Ainda que não fosse óbvio, mesmo eu podia ver a forma como a mão ia até a espada, ansiosa para usá-la. 

Junto dele, estava Grace. Minha irmã não falou nada desde que saímos de Jabralam. Ela só se trancou no quarto ao lado do meu e não saiu, independente de quantas vezes batia na porta.

Ainda podia ouvir o som de choro vindo dali. 

Bem, Zozolum deu-me permissão para levá-la para Ninlamak, então terei tempo o suficiente para ajudá-la com isso. O único problema, contudo, é que, sinceramente, não queria que viesse comigo. 

Grace ainda não é forte o suficiente para se proteger e estávamos indo para uma zona de guerra. Mesmo a influência da rainha não podia me seguir aqui, não quando estávamos tão perto do nordeste do mundo, não é?

Então a real motivação para que contratasse um grupo de mercenários era que queria ter certeza de que sairia vivo dali. 

Mas por que não me contar? Por que fazer esse teatrinho invés de ser honesto? 

O que está tramando?

Suspirei, cansado. Não consigo acompanhar ele nos seus joguinhos mentais, então é melhor se apenas esperar, ao menos por enquanto. 

Uma mudança no ar surgiu rapidamente. Mesmo meu sentido astral estado enfraquecido, consegui rapidamente ver algo vindo em minha direção. 

Desviando a cabeça, entrei na área do estranho e dei uma forte cotovelada no peito dele, forçando-o a se afastar. 

Se ao menos tivesse minha conexão, esse cara não conseguiria se levantar…

— Reagiu rápido, justo o que esperava do meu rival!

— Quem é você? — perguntei, tentando lembrar de onde o conhecia. O estranho me olhou com um rosto incrédulo e apontou o dedo na minha direção. 

— Como pode me esquecer, seu maldito! Depois de me humilhar daquela forma!

Estranho, ele fala como se me conhecesse, mas acho que lembraria de alguém como ele. Especialmente um bruxo com uma arte tão curiosa.

— Olha, sinto muito, mas não tenho tempo para joguinhos. Pode fazer o favor de sair da frente? 

— Sou eu, seu desgraçado! Theo Gris, o bruxo do tempo! — Vendo minha expressão confusa, apenas suspirou e então senti a mesma sensação de antes. A diferença era que, dessa vez, não senti nenhuma hostilidade…

Espera, eu conheço isso. De algum lugar, senti essa mesma técnica já, mas de onde? Parando para pensar, é uma técnica de manipulação temporal… Já sei, é aquele cara que me atacou quando ia falar com Kruger.

— E aí? Lembrou?

Olhando a expressão no rosto dele, suspirei e sorri internamente. 

— Desculpa, mas acho que está falando com o cara errado. Eu realmente não faço ideia de quem você é — disse, sentindo uma satisfação doentia quando vi a forma como a expressão dele foi de esperança para decepção.

Ri com aquilo.

— Sinceramente, estou surpreso — disse, manifestando-se e olhando para mim com aprovação. — Não esperava que esse seu cérebro de noz fosse capaz de pensar nisso. Excelente ideia, pirralho.

— Seu! Como ousa zombar de mim? Tá querendo apanhar? — Ri ainda mais alto conforme ficava mais e mais vermelho. — Cala a boca!

— Desculpa… — disse, forçando-me para não engasgar enquanto tentava recuperar o fôlego. — É só que… eu não pude resistir. Parecia uma criança vendo o pai ausente pela primeira vez, só para descobrir que era o namorado da mãe… 

A mesma sensação de antes e forcei meu corpo a desviar, conhecendo bem a arte dele. Sei especialmente que, sem a capa telecinética, um golpe daqueles vai doer muito. 

— Chega! Parem, dois. — Zozolum se intrometeu na frente, segurando o punho de Theo e jogou-o para fora. — Contratei-os, proteger, Lewnard.

— Espera um pouco! Ele quem vai me proteger? Esse fraco? — Olhou para mim e senti um calafrio, entendendo que não devia falar mais nada. Virei-me para Theo, que se levantava lentamente. 

— Não estará só. Ainda, a performance, tenha deixado, desejar, o resto do grupo Gasper estão, os melhores.

Grupo Gasper? Eu conheço esse nome… É um bando de mercenários que ganhou notoriedade, ainda quando trabalhava no bar do Fives. 

Eles ganharam destaque devido ao auxílio que prestaram a Anjus numa investida contra os Migrandinos, lá em Vislo.

Senti uma pontada de dor quando percebi que trabalharia com o mesmo grupo de pessoas que oprimiu o povo de Zesh. Suspirei, sabendo bem que tinha um contrato astral com o desgraçado do Kruger, mas a culpa ainda me corroeu por dentro. 

Já não bastava ter de matar um grupo de pessoas, ainda teria que me sujar ainda mais ao trabalhar com esse tipo. 

— Bem, vamos? — Elizabeth chamou a atenção de nós três e percebi enfim o quanto ela estava ansiosa. Seja pela forma que sua pele tremia ou como não conseguia manter os olhos num único lugar. 

Comecei a caminhar, forçando o bruxo a me acompanhar junto de Benkei. Vendo isso, ela também me seguiu, tentando andar um pouco atrás de mim. 

Dava para sentir o nervosismo dela no ar. 

Após alguns minutos, não aguentei mais e fui até ela, vendo como estava distraída. Sacudi o ombro dela, tomando sua atenção. 

— Foco — disse, olhando fundo nos olhos verdes dela. Estavam mais frios, sem aquela intensidade que vi antes. — Foque no que quer, foque naquilo que deseja. Não pense em coisas desnecessárias, não pense nas consequências de seus atos. Mantenha o foco e chegará lá. 

— O que?

— É uma coisa que um cretino me ensinou. — Voltei a caminhar para frente e olhei para o céu. — Apenas aqueles que focam no que querem podem mudar alguma coisa. Já tem um objetivo, agora caminhe até ele. 

Senti o olhar dela nas minhas costas e então notei, com um sorriso no rosto, que começara a perder o nervosismo. Ainda que fosse pouco, aquela determinação voltou a queimar dentro dela. 

Ótimo, agora é uma questão de chegar no castelo do rei de Kielrakai. 

Que tipo de pessoa será que é? O último rei que conheci era um pai coruja, será que é o mesmo tipo?  

 

— Não preciso falar o quão importante isso é, certo? — Ouvi-a pela milésima vez. Conforme andávamos nos corredores do castelo. 

Era uma construção nova, que denotava a real natureza desse país. 

Enquanto muitos sofrem, os poucos vivem no conforto. 

— Não preciso, não é?

— Sim. Como quiser… Já prometi que me comportaria da melhor forma possível — disse, parando de andar repentinamente. 

Uma porta enorme era o que nos separava do rei. Aparentava ser de madeira, mas podia dizer que fora reforçada com chumbo. 

Meu sentido, apesar de ainda estar fraco, melhorou muito. Era, contudo, irritante que tenham colocado um dos poucos metais que interferia com a radiação astral. 

Não consigo sentir direito o que está através dessa porta. Não consigo ver além… mas isso não importa agora.

Mesmo que não consiga explicar o porquê, consigo sentir que aquilo que encontraremos ali… O que? O que é esse sentimento crescendo no meu peito?

— Bem, vamos abri-la — sussurrou, fazendo força para abrir a pesada porta.

A cada centímetro que era empurrada, mais aquilo crescia. Era estranho e… desagradável, acho? Como se algo queimasse dentro de mim, um fogo que queria desesperadamente ser solto… 

— Bem-vindos, amigos de Anjus! — Não conhecia aquela voz zombeteira, não sabia a quem pertencia, por isso que olhei para cima, cruzando meu olhar com ele. — Olha só quem finalmente apareceu! Se não é… 

Se não é? Se não é o que? Do que ele me chamou?

Senti aquele fogo reagir a visão do jovem caucasiano, com cabelo castanho escuro, olhos azuis e feições bem definidas. Quase como se jogassem gasolina no fogo…

Um nome se repetia na minha cabeça. Um que conheço, mas não lembro de onde… 

Só sei que não consigo conter essa chama mais. Minha visão ficou turva com a raiva e pulei em direção ao trono com a maior velocidade que consegui.

— ALEISTER!


Agradeçam ao Luiz, grande gênio do x1, pelo combo!

 

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