Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 61: Chegada em Jabra, parte 2

Enquanto caminhávamos pelas ruas, voltei minha atenção para minha conexão, que recém começara a se desenvolver, e sorri. O mesmo sentimento de importância, de onipotência percorreu minha espinha, distraindo-me do que aconteceu a poucos dias atrás. 

Podia perceber tudo ao meu redor. Era algo maravilhoso e que fez com que entendesse exatamente o porquê de Lewnard estar tão para baixo nesses últimos dias.

Olhando para trás, vi que ainda tinha a mesma expressão pensativa. Cruzei olhares com ele, sentindo algo ali me puxando, tirando-me daquele espaço. 

Mesmo que não houvesse nada entre nós, queria desesperadamente que notasse-me. Queria que visse quem sou. Eu sei que é egoísmo da minha parte pedir isso dele agora, mas eu o respeito muito.

Queria que me olhasse com a mesma admiração. Sei, no entanto, que isso é algo impossível agora. 

Lewnard é forte. Mesmo estando sozinho naquela família, nunca desistiu, nunca quebrou. Cada tombo que teve só serviu para reforçar ainda mais o aço que era sua determinação.

Eu ainda não sou digna de estar ao lado dele. 

Voltei minha atenção para trás e, uma vez mais, nossos olhares se cruzaram. Naquele momento, vi algo que me fez parar por um segundo. 

Ele está… chateado? Não, não é essa a palavra. A impressão que tive foi algo momentâneo e que desapareceu tão rápido quanto surgiu… 

Não é tristeza, é mais como se houvesse… dúvida? Sim, é isso. Lew está duvidando de algo. Não sei o que, mas ficou claro que aquilo estava o machucando por dentro.

Quem sabe eu falo com ele mais tarde. Pode ser uma boa oportunidade de me aproximar…

Senti meu rosto queimar e suspirei. Não é hora de pensar nessas coisas. Preciso focar na tarefa que tenho. 

Uma sombra surgiu no horizonte e olhei para o céu, determinada. Lewnard está tentando seu melhor, então eu também o farei. 

Assim, adentramos o edifício do Grão almirante.

 

As ruas de Jabralam eram calmas, limpas e controladas. Eram parecidas com Juvicent nesse aspecto, contudo, a sensação que passavam era bem diferente.

Enquanto Juvicent era coberta numa névoa fria, que parecia ocultar desde os segredos podres dos governantes até o conteúdo do coração das pessoas, aqui é quente e o cheiro do mar trazia uma sensação revigorante. 

Algo, contudo, me fazia manter a guarda alta. É verdade que era uma atmosfera agradável, mas não pude deixar de notar a presença de vários militares, todos vigiando cada canto.

Vários deles nos olhavam com cara amarrada, com o fuzil armado. 

Provável que seja só minha paranoia com o governo, mas algo aqui estava muito errado. 

Desde a forma como cada cidadão ficava recolhido, acuado, até como a limpeza exacerbada do chão. Era tudo tão artificial que me dava nojo. 

A última vez que tive uma primeira impressão parecida com essa foi quando falei com Zozolum, quando eu e Grace fomos expulsos do território da casa principal.

Não havia espaço para erros, não havia espaço para liberdade. Tudo devia ser controlado no mínimo detalhe. Desde o tamanho do sorriso até o que era dito. Ambos eram iguais, algo que me incomodava muito.

Olhei para Elizabeth e a vi desviar o rosto. Sorri com isso. 

Algumas coisas nunca mudam.

— E você? Já fez? — Ouvi o vento sussurrar e arregalei os olhos. Olhando de um lado para o outro, notei que não havia nada ali. 

Senti uma profunda tristeza quando lembrei de Zesh, do destino que teve. Ainda que fosse breve, considerava-o meu amigo. 

Contudo, essa maldita guerra nos colocou em lados opostos. Ele se juntou ao Moedor e, não importava o que eu dissesse, não mudaria por nada. Estava claro que gostava do poder que conseguiu, que queria continuar exercendo-o.

E, como resultado de sua ganancia e das maquinações de um assassino cruel, tenho o sangue dele nas minhas mãos. Suspirei e olhei para o céu. Aquela sensação ardente de querer a paz começara a se esfriar conforme uma questão ressoava na minha cabeça.

Será que sou a pessoa certa para trazer a paz? 

Não é só uma questão de força. Não mais. Eu preciso de um poder avassalador para que os outros me escutem mas não é o suficiente. 

Ninguém vai me ouvir se for um hipócrita. Ninguém vai abandonar um pensamento, talvez uma vida inteira, só para seguir o que tenho a dizer. 

Preciso ser melhor. Não só como Portador, também tenho que melhorar como pessoa.

Olhando para frente, tentei ignorar estes pensamentos. Não é hora de mostrar fraqueza. Não quando estamos no território de um bruxo. 

Uma das lições de Zozolum era manter um rosto impassível quando não estava agindo. Não é bom deixar alguém te ler e dominar o rumo da conversa a partir daquele ponto. 

Além disso, manter um rosto calmo e quieto também revela muito sobre aqueles ao seu redor. Pessoas inexperientes no campo da política nunca prestam atenção nesses detalhes. 

Graças a essa máscara que estou criando, consigo não só me resguardar, também consigo sondar o campo ao redor e, com base no que vejo, posso usar aqueles a minha volta como degraus.

Até que eu consiga uma notoriedade grande o suficiente no campo da política, fui proibido de mostrar o sorriso por detrás da máscara. Invés disso, tenho que trabalhar duro para conseguir o respeito daqueles que estão vários degraus acima de mim.

Essa foi a tarefa que me fora dada. 

Parei de pensar quando vi o enorme edifício a frente. Certo, é hora de testar essas habilidades que consegui.

 

Antes de prosseguirmos, sinto que devo contextualizá-los no que acontecia em duas partes específicas do mundo, sendo a primeira o destino de meu filho Lewnard, Ninlamak.

Numa cidade rural, que tinha o mínimo de autoridade policial, dois grupos se encontravam. Ambos eram compostos por duas pessoas. 

O primeiro tinha um loiro com olhos amarelos era líder, seguido de um albino, cuja respiração deixava um rastro de frio. 

Este chegou com alguns minutos adiantados, mas teve de esperar duas horas para que o segundo grupo enfim aparecesse. 

O albino rosnou para os dois. 

— Por que demoraram tanto?

Um homem alto, tão alto quanto uma parede e com fios bagunçados olhou para seu companheiro com uma expressão de peixe morto. 

— Me perdi na estrada — falou, sem vergonha alguma. Seguido disso, colocou a mão sob a cabeça da criança que o acompanhava, algo que o irritara. — Além disso, tive que salvar o passarinho aqui. Aparentemente, o Moedor não gostou nada da derrota que ele teve.

— Não me chame de passarinho! — rosnou, tentando tirar a mão do seu cabelo ruivo. — Além disso, aquele primata não entenderia a minha grandeza.

Aquela criança era a mesma que estava na colmeia durante a fuga de Lewnard. Era a mesma que meu filho derrotou quando descobriu enfim o que queria fazer da vida.

O albino olhou para aquela interação com desgosto, mas manteve-se quieto, aguardando o que seu mestre diria. 

— Alguma coisa interessante ocorreu enquanto estava junto dos primatas? — disse, enfim. 

O ruivo parou de se debater e tentou parecer sério enquanto dava seu relatório. 

— Sim. Várias delas. Há alguns aliados do Moedor que poderão ser um problema a longo prazo, mas isso não é o principal. O Portador de Davi ficou mais forte do que a previsão da velha. Parece que ele despertou outro poder do seu diário. 

O loiro continuou sorrindo, nem um pouco preocupado com as notícias. Notando a crescente irritação de seu subordinado, levantou a mão, sinalizando para que aguardasse.

— Acalme-se, Julius. Tenho certeza que Gris não quis nos ofender. — A voz estava calma, com o mesmo sorriso de sempre. O albino forçou-se a ficar quieto, olhando para Gris com seriedade. 

Tudo isso enquanto o cabeludo ao lado pedia uma cerveja tranquilamente. O líder olhou para ele, bebericando um pouco do café que pedira. 

— E você, Bran. Algo de interessante aconteceu enquanto estava em Kaira?

O homem sorriu com a memória do que transpareceu naquele lugar, deixando escapar seu poder com a empolgação. O restante sentiu os ombros ficarem pesados, com vários do bar caindo no chão, completamente esmagados. 

— Sim. Eu pude lutar contra inimigos incríveis lá! 

— E? Sobre sua missão? — O albino ajeitou o óculos, suando de nervoso. 

Como se fosse mágica, a pressão diminuiu e a atenção dele voltou para o grupo, um sorriso no rosto.

— Houve complicações. A principal foi a presença do portador de Gabriel. Quase que não saio vivo daquela luta. Além disso, a facção de lá não tem interesse algum em cooperar conosco. 

O loiro assentiu, com o mesmo sorriso. Dentre todos na Grupo Dogmático dos Esper, aqueles dois eram os mais fortes. O loiro era o líder, sendo também o único capaz de mantê-lo sobre controle. 

A muito que queria uma luta, mas sempre era recusado. A desculpa era que seria um desperdício de esforço e não haveria nada que pudesse ser colhido de bom.

— Não? É uma pena. Quando enfim tomarmos esse país, teremos a atenção da OMP sobre nossas cabeças. E, sem o apoio de Anjus, creio que precisaremos nos unir a outra nação. 

O sorriso do subordinado desapareceu e a pressão subiu. — O que tem em mente? — questionou, mantendo a calma da melhor forma possível. 

— Bem, o plano para tomar a capital só começará em dois meses. Acho que ainda teremos mais 6 meses até que Anjus esteja sob o controle do Moedor. Quando isso acontecer, já teremos nosso aliado. A segunda maior nação do mundo, Migrand. 

Conforme falava, mais o subordinado se irritava. Contudo, houve uma interrupção. Um pai parecia chorar de dor e sofrimento enquanto segurava o corpo morto de seu filho.

— Céus, como são barulhentos. — Pela primeira vez o loiro parou de sorrir. Invés disso, seu rosto mostrava o quão incomodado estava com a situação. — Não aguentam estar na nossa presença sem serem um incomodo. Não passam de primatas mesmo. 

Nisso, apontou o dedo na direção do pai e criou uma bola de ar concentrado, girando e comprimindo-a. Depois disso, liberou a barreira e sorriu com a forma que a cabeça do homem foi arrancada do pescoço. 

— É hora de ir. Julius, será que poderia silenciar o resto? 

— Como quiser, lorde Kyrie. — Levantou-se e foi até o meio da rua. Levantou as mãos e liberou sua habilidade, tornando a cidade inteira num mar de gelo. 

— Agora, é só uma questão de esperar com que o resto das peças caiam em suas respectivas posições — disse enquanto agradecia mentalmente ao homem que lhe entregaria de bandeja o portador de Davi. 

Kruger Hollick.


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