Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 60: Chegada em Jabra, parte 1

Inspirei mais uma vez, tentando achar minha conexão astral. O professor Zozolum olhava com expectativa clara para mim, esperando alguma coisa. 

Já faz duas horas que estou aqui e nada.

— Pare, pensar tanto. Foque, respiração. — Assenti, tentando limpar a mente. Tive algum progresso desde que comecei, mas não foi nada tão expressivo. Sempre que estava próxima de fazer algum progresso, lembrava do rosto dele.

Podia sentir as chamas de ódio queimarem em meu interior enquanto lembrava da forma como meu pai foi decapitado pelo meu meio-irmão. Tentei em vão controlar as emoções, mas não tive tanto sucesso quanto gostaria.

Segurei minha raiva e frustração e tentei colocá-las no processo, mas não consegui limpar minha mente nenhuma única vez.

— Não está funcionando.

— Percebi — disse, o olhar vermelho me fitou, procurando alguma solução para o problema. — Pare, pensar com, cabeça. Foque, coração. Imagine seu objetivo, então corra até ele. 

Meu objetivo? É, esse é bem fácil de se ver. 

O corpo derrotado do Moedor e de Fredrich, comigo sentada no trono do reino. Podia visualizar bem isso… o problema estava em como “correr” até ele. 

Tentei me concentrar em duas coisas. No que eu mais queria, algo fácil, e a forma como andava até lá. Vi-me num mar de água escura, correndo, forçando a correnteza a sair da minha frente, enquanto via a imagem.

Foi tão intenso que senti o esforço físico daquele trabalho machucar minhas pernas. 

Foi apenas quando alcancei aquilo que pude sentir, pela primeira vez, o que Lewnard conseguia fazer a tanto tempo.

A minha conexão era fraca, tímida e se escondia mesmo de mim. Inconscientemente, levei a mão até ela, mas não a alcançava. Forcei mais e mais, mas sempre parecia se esquivar de mim.

— Por favor… pare um segundo e me deixe senti-la. — Como se estivesse esperando aquelas palavras, pude enfim alcançá-la, sentindo o calor que exalava. Não era intenso, mas havia conforto ali. Era como uma chama que purgava qualquer ferida.

Conforme sentia mais e mais aquela energia, vi que era mais densa do que pensava. Era como se ela me puxasse para dentro, numa espiral de gravidade. Sem qualquer restrição, aceitei aquele peso. Esse fogo me consolou, acho que é justo que faça o mesmo.

Assim, ambas ficamos ali, uma junto a outra. Abrindo os olhos, senti meus sentidos aguçados verem tudo em câmera lenta. Junto disso, a sensação de poder fazer qualquer coisa, quase como onipotência.

Era algo intoxicante, que criou um sorriso abestado no meu rosto. Olhando para Zozolum, vi que parecia satisfeito. 

— Este é, primeiro passo para, mundo maior. Muito maior.

— Sim! Mas… por que eu estou… tão… — Minhas pálpebras ficaram pesadas e senti minha consciência se esvair. Vendo isso, Zozolum rapidamente me segurou antes que caísse com a boca no chão.

 

Incrível o que os mais jovens são capazes. Mesmo que sua conexão não seja tão poderosa quanto a de Lewnard, havia algo nela bem raro. 

Sorri e a transportei para sua cabine usando as sombras. Depois que tive a certeza de estar só, suspirei e acariciei um dos fios negros ao meu redor. Senti, através do contrato com a entidade, o quão satisfeita ela estava com o agrado.

Ainda que ela fosse uma das entidades mais assustadoras do plano Astral, as Sombras pareciam muito um gatinho brincalhão. Claro, apenas quando estava satisfeitas.

Suspirei, cansado e agradeci mentalmente. É graças a você que ainda estou vivo, então tem minha gratidão. 

Olhei para fora, vendo que acabamos de parar para a janta. Lewnard estava ali, socializando com mais comerciantes, como eu o instrui. 

Esses dois vão longe. Ainda que não goste de admitir, consigo ver o futuro deles e sentir um pouco de inveja. A conexão de Elizabeth, ainda que não tivesse uma circunferência muito grande, tinha uma enorme profundidade. Era algo extremamente raro, mesmo entre os bruxos.

Normalmente, a quantidade de poder que alguém pode tirar do plano astral equivale ao tamanho do copo dele, com a circunferência sendo o equivalente ao controle que essa pessoa exerce. 

Devido ao copo de Elizabeth ser de um tamanho normal ainda, a circunferência dela devia ser pequena mas, devido a profundidade da circunferência, ela conseguia controlar mais poder do que podia puxar. 

Em contraste, se a piscina de Elizabeth tem o tamanho normal, o que Lewnard tem é tão grande quanto o mar. A última vez que o treinei, sua conexão ainda não era tão forte assim, sendo apenas algumas centenas de vezes maior que Elizabeth.

Contudo, muita coisa aconteceu desde que eu treinei ele pela última vez. Mesmo eu, que não sou um sensor, consegui sentir o quão poderosa é a sua conexão. 

Talvez seja devido a quantidade de batalhas que esteve envolvido, ou talvez seja a qualidade dos adversários que enfrentou, só sei que a conexão de Lew é, aproximadamente, quinze mil vezes mais forte do que Elizabeth. 

Mesmo eu demorei um século para fortalecer meu poder àquele ponto. Claro, ainda sou mais forte que ele, mas não demorara muito até que me passe. 

Talvez, quando a conexão dele voltar, consiga enfrentar sem problemas um centenário.

Isso só aconteceu devido a forma como a conexão se comporta. Ela é como um músculo, que expande e endurece sempre que o rompemos. O que Lewnard fez foi forçar até o limite esse músculo, por isso que está tão forte atualmente. 

Além disso, há casos na medicina onde após romper um tendão e costurar outro no lugar, o tecido muscular fica mais forte ainda.

E o contrato que L ew fez para ficar sem energia é, em essência, apenas retirar um tendão, guardá-lo e colocá-lo de volta no lugar original. 

É uma nomenclatura que John criou. Ele era um médico brilhante e, por isso, tudo que fazia depois de um tempo envolvia, de alguma forma, essa ciência. 

Ele teorizou que, devido a ausência do tendão, o resto dos músculos trabalha naturalmente para compensar a falta que aquilo faz. Não sei o resultado final, mas suspeito que o corpo do meu aprendiz ficará ainda mais forte.

É isso ou talvez a circunferência dele aumente. A verdade é que, pela primeira vez em muito tempo, estou genuinamente empolgado para ver onde isso tudo vai dar. 

O quão forte vai ficar? E, talvez mais importante ainda, o que fará com esse poder? 

Nisso, voltei-me para minhas memórias e pensamentos, pronto para encerrar o dia.

 

O plano era bem simples. Primeiro, pegaríamos uma caravana para uma das cidades portuárias de Jabra e esperaríamos um barco que nos levasse para Kielrakai. 

Por isso que paramos no terceiro dia de viagem. Saindo da minha cabine com Grace, pude ver, pela primeira vez, as águas do mar. 

Jabralam era uma cidade rica, que se beneficiou muito do comércio marinho. Vários navios cargueiros estavam nos portos, prontos para levar incontáveis iguarias. Era uma cidade próspera, cuja arquitetura lembrava Juvicent, mas o clima era mais alegre, com o céu ensolarado e limpo de nuvens.

De onde estávamos, conseguia ver tudo daqui. Desde as pessoas, até as gaivotas. 

— Estão prontos? — Ouvi a voz de Zozolum e, virando-me, vi que vestia um terno negro com uma gravata e camisa vermelhas. Além disso, pude notar que a sombra dele estava ausente. 

Assentindo, nos separamos da caravana, que foi em direção às docas, e partimos para a prefeitura. O motivo desta visita era uma formalidade que Zozolum havia me explicado algumas horas atrás.

Ao entrar no território de um Bruxo, é cortesia se apresentar primeiro. 

Senti a enxaqueca voltar conforme lembrava de tudo o que me disse sobre a família Justitia e o atual líder de Jabra, Alamar. 

Era um bruxo que estava no poder já tem um pouco mais de vinte anos, sendo aquele que foi responsável pela decisão de entrar na Guerra do Lago Enfari. 

A família Justitia estava no poder há alguns séculos e Jabra foi prospera por boa parte desse tempo, mas devido aos abusos de poder do avô de Alamar, houve um sério declínio político e econômico.

Foi tamanha a devassidade de Horcratus Justitia que o próprio neto, um aprendiz da família Galura, teve de por um fim naquilo. 

Após uma guerra civil que culminou num duelo que provou a sua superioridade, Alamar foi apontado como o novo Grão almirante e, com suas políticas, assim como a aliança com Vanitas, trouxe a prosperidade de volta para Jabra.

Essa era uma razão pela qual pouquíssimos bruxos ousariam irritá-lo. É dito que, quanto mais velho um bruxo é, maior seu poder, e Horcratus ficou no topo de Jabra por mais de cinquenta anos. Quando foi exilado, já havia completado dois séculos de vida. 

O fato que um bruxo que acabara de se graduar do cargo de aprendiz conseguiu não apenas derrotar um Duque no campo político e estratégico como também superou-o num duelo um-contra-um só mostrava o quão perigoso esse homem era.

Zozolum disse que, quando formos falar com ele, deveria agir com muita cautela, algo que faz sentido. 

Não só estou sem minha conexão, também não sou forte o suficiente para vencê-lo.

Olhei para o céu enquanto tentava sentir alguma coisa, qualquer que fosse, mas não tive sucesso. 

Nisso, adentramos as ruas da cidade, indo direto para a oficina do grão almirante.

 


Bem, com isso fechamos o combo! Agradeçam ao Luiz G, grande gênio do x1, por patrocinar a obra!

 

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