Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 57: A jornada começa

A caravana seguia viagem a um ritmo discreto, com Zozolum usando de suas sombras para manter-nos escondidos. Enquanto o uso em combate era quase nulo, aprendi rápido o valor de se manter invisível, assim como ter uma saída.

Tive tempo para pensar em muita coisa nos últimos dois dias. Depois da morte de meu pai, jurei vingança contra meu irmão e, por mais difícil que fosse mantê-la, eu cumpriria essa promessa.

Primeiro, preciso de capital político. Não conseguirei tomar Juvicent de volta sem isso. A questão, no entanto, é como? Esses dias me obrigaram a entender um fato revoltante.

Até esse dia, fui protegida por muita gente. Não só meu pai. Não só meus servos. Vivi até esse dia numa realidade construída, uma mentira, onde eu acreditava ter poder para fazer algo. 

Essa ilusão foi quebrada da pior forma possível e agora não tenho mais nada. Nada se não um desejo ardente de vingança… e, por isso, pela jura que fiz a mim mesma e ao meu pai, que estou aqui.

— Por favor! Eu te imploro! — gritei, na posição humilhante em que estava. Coloquei meu coração a prova nesse pedido, algo que pareceu ao menos causar um incomodo no bruxo a minha frente. 

— Por que, poder? Por vingança? Ou, motivo? — Senti os olhos rubis dele me dissecarem, sabendo que não podia mentir para ele. Minha mente era um livro aberto para esse homem. 

Por isso, só pude mostrar meu coração para que visse os dois motivos que mais me importavam.

— Vingança. Além disso… eu… eu também quero mudar! — Meu grito deve ter atraído a atenção dos comerciantes, mas estava tudo bem. Eu não me importo com a vergonha ou orgulho mais. Não quando perdi tudo. 

Zozolum pareceu considerar as suas opções enquanto bebericava do vinho. As roupas dele eram fino do fino, mostrando o quão poderoso e influente era. 

— Não — disse, olhando para o céu nublado. Senti meu coração se apertar com aquilo, mas não sai da posição em que estava. — Pare, isso. É vergonhoso.

Senti lágrimas caírem dos olhos, mas continuei ali. 

— Não tenho, interesse, outro aprendiz se não Lewnard. E ele não quer, tornar um bruxo. Saia.

— Só quando aceitar! — disse, ignorando o olhar de pena dos outros comerciantes. Eles não deviam entender o que estava acontecendo, visto que poucos ali sabiam do Plano Astral. Ainda que meu rosto queimasse com a vergonha daquela situação, continuei ali.

Não tenho mais nada… A única coisa que posso fazer é manter-me fiel ao meu objetivo.

Então, continuei ali por horas, até o momento de seguirmos viagem. Quando me levantei, senti a dor nos músculos por ficar muito tempo numa posição só e voltei para a minha carruagem. Sentando-me, olhei para fora, vendo as crianças brincando.

Uma delas olhou para mim e sorriu, indo até o meu acento.

— Ei, me falaram que você é uma princesa! Isso é verdade?

Senti um aperto no coração, mas só pude sorrir. Não adiantava preocupar os pequeninos com meus problemas.

— Costumava ser. — Mesmo que quisesse falar algo diferente, mesmo que não quisesse as preocupar, não pude evitar dizer a verdade. Tentei segurar o choro, algo que a criança viu. 

— Não chore… — Nisso, tentei meu melhor para parar as lágrimas, mas não tive sucesso. — Olha, aqui. — Pegou minha mão e me entregou um carrinho. — Eu já tenho essa, então pode ficar com esse. — Nisso, voltou para fora, pronto para brincar com sua espada de madeira.

Senti um aperto no peito enquanto segurava o carrinho. Sério, que piada. Ter de ser consolada por uma criança… Apesar do quão patético era, sorri. O carrinho era belo, com cores vermelhas e brancas, dava para ver que foi um presente de um dos mercadores.

— Elas são incríveis, não acha? — Olhei para a voz e arqueei uma sobrancelha. Nem havia percebido que Grace viera conosco. — Aquele rapaz foi adotado por um dos maiores comerciantes. Aparentemente, é um gênio em matemática… 

Senti um pouco de surpresa, mas sorri. Mesmo pessoas inteligentes são inocentes nessa idade. 

— Onde está seu irmão? — perguntei, tentando puxar papo da melhor forma que conseguia. Para minha surpresa, ela fez uma careta, como se uma memória desagradável viesse a mente.

— Preparando chá.

Arqueei uma sobrancelha enquanto lembrava do chá que nos servira na casa dele, há alguns dias. Tenho certeza que era o melhor chá que já provei, algo que me surpreendeu.

— E você? Ainda apaixonada pelo Lew? — Senti minhas bochechas queimarem mas não neguei. Uma profunda tristeza veio junto daquela pergunta, a memória dele rejeitando meus sentimentos me fez engasgar.

— Ele disse que não pode corresponder meus sentimentos ainda… — sussurrei, com um olhar perdido. Grace pareceu chocada até que riu um pouco. — Qual a graça?!

— Nada… nadinha. É só que não esperava que ele colocasse um “ainda” nisso. — Sorriu e então virou-se para a saída. — Bem, preciso tomar meu remédio, até logo!

Nisso, caminhou para longe, deixando-me só. Alguns segundos se passaram até que eu entendesse o que ela falou e meu rosto corou. É mesmo… ele falou “ainda”… Será que ele… 

Sacudi a cabeça. Não é hora para isso! 

Olhando para uma outra carruagem, uma que levava alguns importantes mercadores, decidi que não era hora de ficar chorando. Lewnard sempre fez o possível para cumprir suas promessas, não importando o quão precisasse sofrer para isso.

Acho que também preciso dar meu melhor!

 

Meu bom humor foi arruinado só com algumas palavras daquela gente. Quando voltei para a carruagem, senti meus olhos queimarem enquanto lembrava do que me foi dito.

— Não tenho interesse nenhum numa princesinha mimada.

Sim, eu sou mimada. Sim, eu sou fraca… Eu entendo isso melhor do que qualquer outra pessoa. Eu sou quem mais quer mudar aqui!

Eles aparentemente viram-me implorando pela ajuda de Zozolum e deixaram bem claro o que pensavam daquilo, de quem merecia o suporte deles.

Claro que viriam as coisas de um ponto de vista econômico. Talvez por isso mesmo disseram aquelas palavras, tão frias e más.

— É preferível um monarca capaz de mudar o mundo ao seu redor do que um monarca que implora por ajuda na primeira oportunidade que aparece.

A memória de meu irmão veio uma vez mais em minha mente, dele estando sobre o corpo de meu pai… assim como de todos os sentimentos que tentei reprimir até então.

Estava furiosa! Queria desesperadamente um alvo para despejar essas frustrações, mas não adiantaria nada. Nada! O motivo de minha raiva não era só Fredrich ou o Moedor. A verdadeira culpada pela situação que estou não é ninguém menos que eu mesma.

Se eu fosse forte, se eu pudesse mudar as coisas, mesmo que um pouco… 

Engoli o choro enquanto apertava firmemente minhas mãos. Eu tenho que mudar, tenho que ser melhor do que sou hoje. 

Decidida, caminhei para fora uma vez mais. Tenho que ficar mais forte e por mais que me doa falar com ele, era minha única chance. 

Fui até a carruagem de Lewnard e bati duas vezes. Demorou alguns segundos até que a porta se abrisse e o portador me deixasse entrar. 

— Oi.

— Oi. 

Um clima estranho se instalou no local, nenhum de nós sabia como começar aquela conversa… Tinha vergonha só de imaginar o quão patético isso soaria, mas forcei as palavras para fora da minha boca, uma por uma.

A imagem de meu pai sendo decapitado tornou a tarefa um pouco mais fácil. 

— Pode me ensinar? A usar a energia? 

Olhou-me surpreso e então sorriu. O clima incomodo que estava no ar desapareceu e, com uma breve olhada para o lado de fora, voltou o rosto sério na minha direção.

— Eu sou um péssimo professor. — Engoli em seco enquanto tentava criar coragem para o que viria a seguir. Será que… — Só consigo aprender direito quando pratico as coisas, ou quando estou numa situação de vida ou morte. Além disso, do jeito que estou agora, não posso nem lutar direito.

Arqueei uma sobrancelha, tentando guardar minha surpresa. Um sorriso cansado foi tudo o que me ofereceu antes de olhar para a própria mão, tentando em vão ver algo ali que não existia.

— Estou incapaz de usar minha conexão, ao menos por umas duas semanas. 

Que? 

— Como? Quer dizer, por quê? 

— Circunstâncias especiais.

Suspirei, cansada. Claro. Ainda não confia em mim… Minha tristeza deve ter transparecido, visto a forma como tentou me consolar depois. Não que eu me importasse. A essa altura, sem mais nada, eu não tenho direito de reclamar por não ganhar as coisas.

Já ganhei o suficiente… Contudo, não tenho nada que possa usar como moeda de troca. Perdi tudo…

— O que fará a partir de agora? — Essa era a pergunta, não é? Olhei para o lado de fora enquanto me perdia mais e mais nas sombras. Diferente das de Zozolum, aquelas eram frias, sem qualquer conforto. 

Era como se fosse engolida mais e mais. Não queria aquilo… mas… como sair daquela situação?

Olhando para lá, vi algumas mulheres da minha idade, todas carregando vassouras de um lado para o outro. Eram servas? Engoli em seco conforme uma ideia vinha em minha mente.

Como estou agora, não tenho nada para oferecer… Só meu corpo e meu esforço que me darão algo.

— Com licença. — Levantando-me, decidi que já era hora de melhorar. De deixar de ser a garotinha mimada e agir como uma adulta. 

— Elizabeth. — Virei-me para trás e vi um sorriso no rosto de Lewnard. Aparentemente, tinha percebido meu plano. — Dê o seu melhor.

Sorri, cansada, e fui em direção ao mesmo comerciante que me rejeitara antes.


Bem... voltamos... Só com um breve atraso de um mês, mas quem está contando, certo? 

Desculpem o atraso, tive que resolver umas coisas que não vem ao caso. Espero que tenham gostado do capítulo!

 

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