Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 55: Do topo ao fundo, parte 2: Inferno

A apresentação de slides se repetiu mais algumas vezes.

A primeira coisa que fiz depois das algemas que me prendiam serem derretidas foi pensar. Com os nobres expostos dessa forma, consigo ver facilmente o cenário que viria. O povo se revoltaria e se aliaria ao Moedor.

Apenas alguns escapariam desse banho de sangue… aqueles que Blair Smith me delatou estavam, convenientemente, fora dos slides. Na verdade, se for pensar por esse ângulo… 

Ignorei o olhar de pânico de Lewnard enquanto imaginava o destino que a princesa teve. Invés disso, só consegui pensar na nobre do cabelo negro, assim como a memória de ver a cabeça decepada da minha melhor amiga na minha mesa.

Blair seria uma das primeiras a serem caçadas. 

Mais rápido do que pensei ser possível, fui em direção ao quarto distrito, para a casa dela. Teleportei várias e várias vezes, ignorando a forma como meu corpo exausto protestava.

Meus ferimentos se curariam… minhas forças já estavam voltando ao normal, mas eu nunca me perdoaria se perdesse mais alguém.

Quando enfim alcancei meu destino, abri a porta do apartamento de Blair com mais força do que o necessário, quebrando-a. A mulher em questão estava apontando uma arma para mim, obviamente assustada.

Olhando para a televisão na sala dela, pude entender o motivo. 

A influência do Moedor é realmente grande. Foi capaz de dominar até mesmo a mídia. Bem, não importa.

Caminhando até ela, senti um enorme alívio quando a vi abaixar a arma. Ignorando tudo o que Kruger me ensinou, abracei-a, sentindo o calor de seu corpo tocar minha pele fria. 

— Edwars… — Ela não fez força alguma para se soltar; invés disso, abraçou-me de volta. Minha mente rodava vários cenários que poderiam ter acontecido. Todos eles terminavam com a morte de uma das poucas pessoas que ainda confiava.

— Temos que sair daqui. Dessa cidade… desse país. Eles querem me prender e vão fazer pior com você. — Estava desesperado. Queria mantê-la segura; mesmo que toda minha racionalidade gritasse, meus instintos me diziam o quão importante ela era.

— Olha, eu… eu não posso abandonar meu povo ou minhas responsabilidades como uma nobre — disse, se desvencilhando do abraço. Nossos olhares se cruzaram e, como na primeira vez que a vi, senti aquela obsidiana me puxar para dentro, tanto que perdi qualquer sentido de espaço.

Só queria continuar com ela… Não podia deixá-la para trás, mas não queria a forçar a fazer algo que não quisesse. Era irritante… Justamente por isso que Kruger sempre falava para não me apegar.

Antes que pudesse cair ainda mais, senti o cheiro de gás vazando, junto com o som de um isqueiro… 

Arregalando os olhos, saltei para frente e teleportei, atravessando a janela da sala, usando minhas costas para proteger Blair. Carregando-a em meus braços, caí no chão com ambos os pés. Senti uma intensa dor nos ossos, mas, felizmente, não estavam quebrados. 

Larguei-a e olhei para a figura à minha frente, minha raiva queimava tanto quanto as chamas no apartamento. 

Ali estava o homem responsável por tudo isso. Aquele que matou minha melhor amiga e que arruinou tudo pelo que trabalhei…

O Moedor.

— Olá, Edwars. — A voz abafada e distorcida estava tranquila, sem qualquer tom de arrependimento pelo que fez. — Devo admitir que você é imprevisível. Achei que, depois daquela ameaça, você desistiria.

— Cale a boca… — Ele parou, observando minha postura, pronto para lutar. — Eu estive esperando esse momento por muito tempo. Agora posso vingar a morte da Miia.

— Vingança? Incrível o quão imprevisível você é. Se tivesse sido um bom cachorrinho, eu te ofereceria um lugar ao meu lado. — Com a mão na empunhadura da espada, contraí meu rosto numa expressão de ódio puro e teleportei com um corte pronto.

A espada foi parada pela faca do assassino e, com uma destreza que não pertencia a um humano normal, deslizou pelo chão, com outra faca pronta.

Rapidamente, teleportei para cima, uns dez metros acima do chão. Senti um molhado no rosto e teleportei novamente para baixo. 

De novo, com velocidade e graça sobre-humanas, desviou do ataque, e tive de sair de perto para evitar um contragolpe.

Colocando a mão na minha bochecha, vi que tinha me cortado… Não foi profundo o suficiente para tirar muito sangue, mas ainda machucava meu orgulho.

O assassino se colocou numa postura defensiva, pronto para contra-atacar. Suas duas mãos estavam levantadas e armadas com facas.

Teleportei novamente e, quando parei na frente dele, tentei um corte vindo direto de cima. Arregalei os olhos quando vi o corpo dele dobrar em um ângulo minúsculo, desviando por um fio de cabelo, com um contra-ataque pronto. 

Tudo bem… não tem como o chute ter tanta força assim. Só preciso aguentar e a vitória é minha…

Meu corpo foi lançado contra um prédio, a parede rachou com o impacto. Nem ao menos me deu tempo de me recuperar, forçando-me a bloquear as quatro facas que lançou, uma delas perfurou meu ombro.

Além disso, já avançara contra minha posição. Mordendo o lábio, saltei para a direita, esperando passar reto. Contudo, como se visse o futuro, o Moedor parou na minha frente.

Meu cérebro parou naquele instante. 

Como raios ele consegue me acompanhar? 

Senti um soco e então várias facas perfuraram minha carne. Cuspi sangue, chocando meu corpo contra a parede uma vez mais. Levantei, ignorando a fraqueza nas pernas enquanto tentava colocar meus pensamentos em ordem. 

Forte. Cada golpe fez com que meu corpo ficasse mais e mais danificado. Muito além daquele monstro de carne. Além disso, também é rápido o suficiente para reagir ao meu teleporte. Não sei como está fazendo isso, mas não posso deixar que continue.

O mais humilhante de tudo isso é que não houve nenhuma alteração na batida dele. O coração continuava pulsando com a mesma intensidade do início da luta. Continuava com a mesma batida normal.

— Não está fazendo jus ao título, ceifeiro — disse, a máscara de caveira próxima do meu rosto. Consegui sentir a respiração quente vinda dele, junto do cheiro de carne queimada. 

Com um rápido movimento, consegui afastá-lo. Minha espada nem arranhou ele… Olhando para o seu corpo, não consegui deixar de ver a diferença entre nós dois. Não havia nenhum sinal de luta… contudo, quando presto atenção no meu corpo…

Mal consigo ficar de pé.

Caminhei até ele, assumindo, pela primeira vez em muito tempo, uma postura puramente defensiva. Meu orgulho sofreu um golpe forte com isso.

Desde a minha adolescência, sempre fui agressivo nas lutas. Aprendi a arte da espada sozinho, copiando aquilo que vi nos dojos de Kaira. Naquela época, meu estilo de luta estava se desenvolvendo, mas demorou apenas alguns meses para me tornar um espadachim competente.

Enquanto caminhava, minha espada continuava apontada para ele, esperando o próximo movimento. O assassino decidiu se mover, sua velocidade era imensa. Bloqueei as facas, o som de aço se chocando irritou meus ouvidos. 

Odiava esse som, mas já havia me acostumado há tempos.

Com um salto, começou a girar o corpo, forçando-me ainda mais na defensiva. Alguns ataques entraram na minha área, cortando e perfurando minha carne.

Ele estava usando do ataque para atirar pequenas facas? Tentei um corte que não acertou nada. Teleportando para trás, pulei para frente, minha espada bloqueada pela faca militar; contudo, a força por trás do ataque era muito maior que a outra.

Lancei-o para trás, sua arma quebrou. Ele sem dúvidas descobriu o segredo por trás da minha técnica. Invés do teleporte apagar minha massa, eu só me movo numa direção ao comprimir o espaço ao redor. 

É uma técnica de barreira extremamente complexa, que não teria nenhuma utilidade para um humano normal. Quando paro o movimento, tenho que literalmente parar o meu corpo numa velocidade absurda. 

A força necessária romperia todos os músculos de alguém mais fraco. Exatamente por usar tanta força na hora de parar, preciso usar o Battoujutsu para extrair o máximo de poder de corte. O ataque sai muito mais fraco do que o esperado.

Por isso, mudei minha estratégia. Ele já consegue reagir a cada golpe meu, independente da velocidade, então vou apostar tudo em força bruta.

— Parece que, finalmente, você decidiu lutar como um animal — disse enquanto pegava uma espada curta, uma Wakizashi. Estreitei os olhos conforme observava aquela arma. Ele aumentou o alcance? Se passar pelas minhas defesas, aquilo vai me matar.

— Você está bem falador. 

— E pode me culpar? Estou muito feliz hoje, sabe? — Correu na minha direção, forçando-me a desviar de algumas facas que lançou. Bloqueei a Wakizashi quando senti a dor de ter meu estômago perfurado. Ele tinha outra faca militar? — Afinal, eu venci.

Torcendo a lâmina, fez um corte para cima, tirando uma quantidade considerável de sangue e me chutando.

Coloquei a mão ali para evitar que minhas tripas saíssem. Merda… isso é ridículo. Como um humano está me dando tanto problema?

Se eu não tivesse usado minha técnica secreta mais cedo, essa luta já teria acabado.

Quando senti meu corpo se recuperar, pulei e bloqueei mais um corte. Nossas armas continuaram se chocando enquanto eu usava do alcance da espada para tentar mantê-lo longe.

Vi uma oportunidade de dar um golpe forte e assim o fiz. Assumi a postura de Battoujutsu e dei um forte corte, que foi bloqueado pelas duas armas. Com o corpo dele voando, decidi acabar com isso e teleportei para frente dele.

Contudo, como se fosse a coisa mais fácil do mundo, usou a Wakizashi para parar o ataque. Meu corpo cansado ficou imóvel por menos de um segundo, tempo o suficiente para que mandasse um contra-ataque. 

Senti minha garganta sendo perfurada pela faca militar. 

Só não tive a cabeça separada do tronco devido a posição em que estávamos; contudo, isso era mais que o suficiente para me parar. 

Mesmo eu precisava respirar. 

Caí de joelhos e tirei a faca dali. O único problema era que, naquele momento, o inimigo já estava à minha frente.

Com uma joelhada, mandou-me voando, meu corpo estava pesado. Ele estava para acabar com o serviço quando teve de desviar de uma bala. O som de outra sendo disparada trouxe minha atenção de volta para Blair. 

Ela estava com medo.

Antes que o Moedor pudesse avançar contra ela, usei toda a força que consegui reunir para me teleportar e pegá-la nos meus braços. A imagem da cabeça de Miia apareceu na minha mente de novo. 

Não… não vou perdê-la também!

Continuei teleportando, de novo e de novo, usando meu corpo para proteger a nobre. Só parei quando já saímos de Juvicent e, mesmo ali, continuei correndo. 

Merda… Merda!

Senti lágrimas de frustração caírem do meu rosto. Por quê? Por que não pude fazer o necessário? Podia ter evitado tudo isso se não tivesse me apegado emocionalmente a ela…

Minha raiva foi apagada conforme sentia o corpo de Blair tremer nos meus braços. 

— Vamos sair daqui… 

— E ir para onde? Anjus não é mais segura!

— Sobre isso… bem, eu tenho um lugar que pode nos abrigar — falei, tentando acalmá-la. Era verdade. Se tinha algo que Kruger me ensinou foi a sempre ter um plano B.

Mantive parte do meu salário no exterior, onde não poderiam roubá-lo, exatamente para caso isso acontecesse. 

Decidido, parti para o sul de Juvicent, indo para um dos poucos lugares que pensariam em procurar uma nobre e um policial foragido.

Vislo.


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