Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 50: Emboscada, parte 3: Amigos

Num instante, a mesa da sala de interrogatório voou na minha direção e despedaçou com a força do golpe de Zesh. Surpreso, pulei para longe enquanto bloqueava a madeira com as mãos. Seguido disso veio uma forte dor no estômago e então nas costas.

Ele me mandou voando através da parede só com um soco? Essa força não é normal. Tentei me levantar, tossindo sangue. Olhando para cima, vi uma sola de sapato acima da cabeça. Levantei os braços, tentando segurar o pisão.

Qual o problema? Vem, vamos nos divertir mais! — Merda, ele tá zombando de mim. A pressão aumentou, fazendo-me perceber que logo mais iria quebrar o meu punho se não fizesse nada. A muito contragosto, usei minha conexão, sentindo uma leve dor de cabeça.

Cobrindo minhas mãos com energia, repeli o ataque, mandando-o voar. Seguido disso, levantei o mais rápido possível e pulei na direção dele. Desviei de um soco e enviei um cruzado, que foi bloqueado.

Usando a energia telecinética, mandei Zesh voando enquanto tentava sentir os dedos da mão. Era como tivesse socado uma placa de aço…

Parece surpreso — comentou, tranquilo. Quase como se não tivesse levado um ataque agora a pouco. — É tão incrível assim que alguém normal esteja te enfrentando de igual para igual? Nunca passou pela sua cabeça, não é? — Avançou e deu vários socos que desviei da melhor forma que podia. — Nunca pensou que fosse ser derrotado por alguém que salvou antes?

Mordi o beiço, aproximando-me e mandando um gancho nas costelas dele mais rápido do que ele podia contra-atacar. Senti os ossos dele racharem, um grito escapou de seus lábios. Seguido disso, veio um cruzado no rosto e uns dez Jabs no estômago.

Em alguns segundos, recuperou a noção e me fez bloquear um chute, seguido de se afastar. Os olhos ainda carregavam uma forte determinação, sentia que fazia aquilo por justiça e isso me assustava.

Ele estava disposto a morrer por essa causa… Alguém tão jovem e determinado, assim como forte…

Que irritante. Permiti que minha força, meu poder permeasse a área, mandando várias mesas e cadeira contra o Visliano, que quebrou todas com seu corpo, correndo contra mim. Desviei de outro soco e contra-ataquei antes que pudesse dar um chute.

Coloquei bastante energia nos ataques, não o suficiente para matá-lo, não queria tirar outra vida. Não a dele. Bloqueei mais um ataque e mirei a mão para frente, disparando uma Bala Astral, que explodiu no contato, enviando nós dois para longe.

Qual o problema? — perguntou, alguns traços de tristeza e ansiedade no emocional. — Não vai usar todo o seu poder? Por um acaso acha que é tão bom assim?

Mordi o lábio, segurei um soco dele e dei um gancho no cotovelo, fazendo sangue sair do lado oposto. Os gritos dele preencheram o local, dando-me ânsia de vômito.

Não é isso… — falei, socando fortemente o rosto dele, de novo e de novo. — Não quero lutar com você! Ainda não percebeu isso? — O sangue verde do meu amigo escapava dos lábios, manchando o chão conforme meus golpes ficavam mais erráticos.

Não tinha técnica ali, não tinha vontade alguma de continuar. Só havia a tristeza de ter de lutar com um amigo refletida na força dos meus golpes.

Desferi mais um Jab, e mais um. Ainda que não pensasse na luta, ainda que minha cabeça estivesse nublada, a força da Capa Telecinética já era mais que o suficiente para colocá-lo na defensiva.

Um soco acertou em cheio o rosto dele, enviando-o para longe. Olhei a forma caída, esperando que fizesse algum movimento enquanto sentia o cheiro de fumaça. Olhando para o lado, vi a parede começar a rachar e suspirei. Fui até Zesh, segurando-o com a telecinesia enquanto me preparava para sair dali o mais rápido possível.

Ainda não… — disse, a voz cheia de raiva e ódio. Tossiu um pouco de sangue enquanto olhava para mim com confusão, medo e ira. — Eu ainda não perdi.

Não cabe a você decidir isso — respondi, com sinceridade, enquanto via ele tentar de todas as formas se libertar da energia. Os policiais a nossa volta tentavam sair do prédio, mas havia algo barrando-os. Acho que terei de forçar minha saída…

Não cabe… está errado! A decisão é minha! Eu vou te capturar e levar até o Moedor!

Sabe, algo não bate nessa história. — Irritado, eu fui até ele enquanto o levantava com a energia. — Eu encontrei com o seu chefe há algumas semanas. Ele me deu uma surra. Podia ter me levado naquele momento… Diga-me, o que mudou? Já parou para pensar nisso?

Zesh parou de se contorcer e olhou fundo nos meus olhos, raiva transbordando do corpo dele.

Você sabe, não é? É inteligente o suficiente para juntar os pontos. Não é o Moedor que me quer.

Cale-se… Nem mais uma palavra!

A pessoa que está tão desesperada atrás de mim é a mesma que nos aprisionou naquela colmeia, matando seus amigos e companheiros um por um. Você sabe, eu sei, nós dois sabemos bem que tipo de homem é o Moedor.

Já falei para calar a boca! — gritou, o olhar fanático parecia o de um cachorro louco, tentando, em vão, manter os últimos resquícios de sanidade, de esperança, consigo. — O Moedor é um grande homem! Ele vai mudar esse país. Vai criar um paraíso!

E como vai fazer isso? Aliando-se a monstros? Matando inocentes? Pessoas cujos crimes foram nascer numa condição um pouco melhor que as outras? Ele vai destruir Anjus!

Bufei, olhando o rosto chocado de Zesh, as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar lentamente dentro dele, sua raiva deu lugar para decepção e desespero. Aqueles sentimentos tão confusos dentro dele clarearam e fizeram com que visse exatamente o que queria dizer…

E então, o arrependimento se tornou aceitação. Mas não do tipo que queria. Ele aceitou a verdade, isso eu podia ver… mas havia ainda o mal no coração dele.

Sinto muito… — falou, a língua dançou perto de um molar e um pequeno frasco brilhou ali. Seguido disso, olhou tristemente para mim. — Mas não posso voltar… não mais. — Engoliu aquilo, as veias brilhando em verde e seus músculos expandiram.

Num grito, quebrou a prisão em que o coloquei. Meu nariz e olho direito começaram a sangrar, mas não me importei. Tinha problemas maiores do que um possível AVC.

O corpo desfigurado de Zesh assumiu uma forma grotesca, os braços eram maiores que a cabeça, com a pele ressecada parecendo pedra. Agora tinha uns dois metros e meio, o cabelo cresceu e assumiu um tom escuro, quase como bronze. As veias pulsavam agora em cinza, mostrando o ferro que corria ali.

Olhei triste para ele, os olhos vazios não tinham qualquer racionalidade, apenas dor e ódio.

Com um rugido, Zesh correu contra mim. Naquele momento eu desviei com tudo o que tinha. Sei que, mesmo que por instinto, aquele ataque me mataria… Abaixei meu corpo, deixando que o braço passasse por cima da minha cabeça e dei vários Jabs.

Pulei para trás, inquieto. Sério? Nem mesmo um arranhão? Um som de vidro quebrando chamou minha atenção e, olhando para trás, senti medo.

O vento do ataque dele causou isso?

Permiti que minha energia permeasse o local. Não posso me segurar mais… se o fizer, vou morrer. Além disso, Zesh já está…

Com um passo, estava a frente dele. Dei o soco mais forte no abdômen, fazendo-o voar longe. Aquela mesma sensação desagradável de alguns dias atrás voltou.

A sensação de ver alguém próximo a mim ser afetado pelo mal do mundo. A sensação de incapacidade ante a injustiça desse lugar. Desviei de mais um golpe enquanto contra-atacava.

De novo e de novo.

Trocamos golpes, alguns deles me acertaram, mas não me importei. Nesse momento, não estava mais em Juvicent, na segurança de minha casa, mas sim de volta na colmeia, lá na luta contra Lumis.

Dor não importa. Distrações trarão minha morte. Qualquer coisa fora desse lugar é perigosa demais.

Direita, direita, chute alto, esquerda… Cada golpe me forçava a focar no aqui e agora. Não existia possibilidades fora dessa zona. Se sair dela, morro.

Por isso, foquei tudo que tinha nessa luta. Cada soco criava luzes ametistas, a radiação tornava o ar pesado para os humanos normais. Mesmo Zesh começara a ficar fatigado. Não deixei que se recuperasse.

Foquei cada grama de energia em derrubá-lo.

Desviei de outro chute e segurei o corpo dele com a telecinesia, puxando-o para perto e o soltando, dando então um soco no rosto. Repeti o processo de novo e de novo.

O som dos meus punhos contra o rosto dele, do sangue caindo no chão, da batida do meu coração retumbando na minha alma…

Desviei de um chute e bloqueei um soco, voando para longe. Não consigo sentir meu braço esquerdo… desviei de mais golpes enquanto usava da telecinesia para mantê-lo no lugar, restringindo sua mobilidade.

Do fundo do meu coração, eu odeio isso. Esse barulho que só consigo ouvir quando estou imerso numa situação de vida ou morte. Odeio a forma como meus instintos ficam afiados, meus sentidos aguçados.

Odeio a sensação da energia vibrar, pronta para ser liberada. Odeio o cheiro que ela deixa no ar, odeio a coceira nos punhos, que ainda sentem onde eu bati por último.

Corri para perto dele, colocando toda a energia que consegui reunir no meu braço direito. — Sinto muito… — sussurrei, triste. Senti o ataque acertar em cheio, senti as costelas quebrarem e os órgãos se partirem.

Senti a vida do meu amigo acabar.

Voltando ao normal, segurei Zesh nos braços, o tamanho dele diminuiu, assim como a densidade muscular. Seu rosto não tinha expressão, seu olhar sem luz. Pegando-o em meus braços, voltei a atenção para a porta e comecei a andar enquanto as explosões soavam ao redor.

Ouvi a parede rachar e desviei de um pedaço do teto.

Merda, estou sem tempo! Tentei andar rápido, mas senti uma forte vertigem, fazendo-me cair no chão, ajoelhado.

Antes que conseguisse me levantar, um dos prédios da força policial de Juvicent desabou.

 


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