Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 43: Repouso

Quando minha cabeça parou de girar e eu enfim acordei, notei que estava num lugar desconhecido. Levantei, procurando minha espada. Onde? Onde estou?

— Enfim acordou? — A voz de Lewnard Hollick foi o suficiente para me acalmar. Ele então deitou-me de volta na cama e trocou o pano na minha testa. — Não se mexa. Aquelas balas estavam envenenadas. Foi um pesadelo retirar elas e, sinceramente, não sou capaz de tratar veneno no corpo dos outros ainda.

Suspirei, lembrando então do que aconteceu, da luta contra o Grim, e entendi algo que há muito já pesava na minha consciência.

Eu perdi… Contra um inimigo enfraquecido pela luz do sol, eu perdi…

Merda!

Será que… se eu consumisse sangue… Conforme pensava, olhava as veias pulsando de Lewnard e bufei. Não, não posso voltar atrás. Não sou um monstro, não posso agir como um.

— Onde estamos?

— No meu apartamento… quer dizer, era o meu apartamento. — Arqueei uma sobrancelha, curioso com aquilo. O lugar estava completamente destruído. — Eu meio que parei de pagar o aluguel e fui despejado, mas esse prédio tá marcado para ser demolido em alguns dias, então está vazio.

— Você mora aqui? — perguntei, surpreso. Esperava que ele morasse num dos bairros nobres. Quer dizer, considerando a fortuna dos Hollick…

— Eu me afastei de minha família faz tempo. Além disso, eu morei num orfanato até os 16, depois disso, comecei a trabalhar e ganhar meu próprio dinheiro. Claro, para alguém com só o fundamental completo, isso aqui está bom até.

Estreitei os olhos com aquela informação. Ele era o Portador de Davi, uma das figuras mais importantes dessa guerra…

Achei que vivesse em condições melhores.

— Dito isso, quer um chá? Vai ajudar com a dor.

— Não… não, obrigado.

— Você quem sabe… — disse, servindo-se de uma xícara e tomando-a. Seguido disso, olhou fundo nos meus olhos, sério. — Quem eram aquelas pessoas?

— Isso é confidencial…

— Sério? Vai mandar essa agora? Sabe que sou o Portador de Davi, né? Não tem como me dar essa informação?

— Até onde eu saiba, você que está me devendo um favor… não o contrário.

— Até onde eu saiba, você que está deitado na minha cama, no meu apê, após ser baleado e envenenado — disse, com um sorriso arrogante. É, ele tem um ponto.

— Certo… O que vou te falar não sai daqui, entendeu?

Assentiu, ficando numa posição mais confortável naquela cadeira velha.

— Aqueles eram membros de um culto que acredita que o Moedor é uma espécie de Messias. O Grim é um dos Nors da colmeia que te sequestrou. Não sei o motivo deles ajudarem uns aos outros, nem o porquê do Moedor estar matando inocentes quando aquilo que ele prega vai contra isso, mas aí está. Ele quer minha cabeça pois comecei a investigar a fundo algumas coisas que não devia.

— Que tipo de coisas? Quer dizer, do jeito que fala, até parece que investigou pessoas poderosas dentro de Juvicent…

Fiquei quieto por alguns segundos. Ele pareceu entender a deixa e imediatamente fechou a cara.

— Quem são os vendidos? — perguntou, a raiva evidente em sua voz. Arqueei a sobrancelha, curioso para saber o motivo dele se irritar com corrupção. Não é como se isso o afetasse demais.

— O nome principal que estou investigando agora é Teodoro Jashan — respondi enquanto lembrava de como todos os outros nomes pareciam ter alguma relação com esse. Era irritante a quantidade de pessoas dispostas a morrer para manter esse segredo, mas não podia fazer muito.

No final, todo mundo morre. Alguns só aceitaram essa verdade mais fácil que outros…

O problema era quando isso caía no meu colo.

Ri, lembrando da Miia e de como agia diariamente. Parece que eu acabei pegando algumas manias dela. Lewnard, contudo, não parecia compartilhar meu senso de humor, mas não falou nada.

— Bem, acho que temos um suspeito.

— Temos?

— Sim… Tem um louco matando gente inocente na minha cidade e eu posso ajudar. Agora, quando começamos?

Suspirei, cansado. Claro que o idiota ia querer se meter… Sério, é mais simples só deixar que eu trabalhe. Seria muito mais vantajoso para ele fazer isso!

Mas, acho que preciso aceitar essa ajuda.

Quando paro para pensar, alguém plantou uma bomba naquele carro de polícia. Ainda há um espião na força tarefa…

— Tudo bem? Parece irritado.

— Não… não está nada bem — grunhi, deitando de novo enquanto ignorava os protestos do meu corpo. — Não tenho muitas pessoas que posso confiar no momento, e o Moedor quer minha cabeça.

— Bem, eu tenho uma suspeita sobre o que o Moedor prometeu para eles — disse, trazendo de volta o tópico anterior. Olhei para ele, curioso. — Quando estava junto do Xamã, eu vi um grupo de Nors fazer contato com um Esper… Tinham mulheres ali que seriam devoradas se não me intrometesse.

Arqueei uma sobrancelha. Mais uma coisa que não faz sentido nisso tudo. Se o Moedor defende o povo, por que está jogando esse mesmo povo para o estômago de monstros?

— É por isso que estava desacordado num beco qualquer?

— Sim. O Moedor me interceptou naquele dia… — disse, olhando para o teto com uma expressão irritada no rosto. — Não pude fazer nada contra ele. Ele podia ter me matado facilmente, mas não o fez… Acho que é um acordo que tem com a rainha daquela colmeia.

— Como assim? — perguntei, genuinamente interessado. Essa é a primeira vez que me mencionam isso.

— Aquela Nor é estranha. — Estreitei os olhos conforme via o rosto dele corar. — Ela queria que eu me tornasse seu consorte. Disse que eu tenho determinação, eu acho. Não lembro das palavras exatas.

Como é? Do que ele está falando? Consorte? Normalmente, se um Nor tem interesse em um humano, ele só toma a força. Não foi diferente com a minha mãe.

Há matrimônio entre Nors. Normalmente é um guerreiro excepcional que entra para um clã com uma Arte de Clã. Eles trocam votos e o guerreiro herda essa arte, dando, em troca, sua semente. Foi assim que espécies como os Ogros nasceram.

Um descendente dos antigos gigantes, Hasmalak, o Trol, foi aceito num clã de Salamandras após matar Henri Faciani, Portador de Zadoque, o antigo Diário da Justiça. Aquela luta trouxe várias mudanças.

O herdeiro de Henri, Zacarias, consumido pela raiva e ódio, matou Hasmalak e o Portador de Salomão, tomando para si o Diário do Conhecimento Proibido e, juntando os dois, criou o Diário da Falsa Lei.

— Então, qual o plano?

— No momento, precisamos de mais aliados — respondi, alguns nomes surgindo na minha mente. — Consegue chamar Shiki? Precisamos de toda a ajuda possível, mas acho que ele é um bom começo. Além dele, acho que aquela outra mulher e Chryzazel seriam os próximos da lista.

Lewnard assentiu e puxou o celular, discando o número de Shiki. Começou a falar com ele e, enquanto isso, decidi fechar os olhos e deixar o cansaço me levar.

Preciso de repouso, acho…

 

— Estou meio ocupado no momento, mas posso estar vendo o que consigo. — Estreitei os olhos com a resposta de Shiki. Bem, não podemos contar com a ajuda dele ainda… — Tudo bem?

— Não… te conto mais quando vier aqui — falei, desligando o telefone. É mais fácil explicar tudo isso cara a cara, além do mais…

Olhei para as paredes do meu apartamento e então para o telefone, desconfiado. Fiquei longe de casa por um tempo… tempo o suficiente para alguém plantar um microfone escondido e gravar tudo o que estamos falando.

Era uma tecnologia nova e cara, mas não é como se o Moedor não tivesse os meios de conseguir isso. Ao menos, se o que Edwars falou estiver correto, é bem provável que ele tenha um contato capaz de financiar uma guerrilha.

Sem pensar, permiti que meus sentidos se expandissem para além do meu apartamento. Ainda não tinha prática o suficiente, mas consigo sentir todos dentro desse prédio. Tenho um paciente aqui, além de estar indo contra pessoas poderosas…

Não posso descansar ainda.

Por isso, fiquei concentrado nos arredores. Uma hora passou, e então duas… não demorou muito para sentir a exaustão começar a chegar até mim, mas segurei minha consciência.

Meu cansaço aumentava com cada segundo. Quero dormir, mas não posso. Ainda não…

Tenho que achar alguma forma de derrubar o Moedor. Olhando para Edwars, percebi que precisava fazer isso por mim mesmo.

Vamos ver o que sei dele… Tem um culto dedicado a ele, é um assassino eficiente…

Ótimo, eu não tenho nada. Não sei o que quer nem o porquê está fazendo isso. Ele, no entanto…

Minha cabeça doeu conforme lembrava da luta que tive contra o Moedor. Sabia onde me encontrar, sabia como lutar contra mim e o fez com eficiência assustadora.

É bem como havia dito. Pode me matar quando quiser, onde quiser. Eu só estou vivo por capricho. Conforme reprisava a luta, minha energia saia do controle e afetava o arredor. Eu só recuperei o foco depois de esmagar uma das xícaras.

É patético. É irritante… eu odeio isso! Como posso ser um Portador, como posso realizar meu objetivo, se não consigo nem derrotar um humano normal! Pior que isso, ele nem ao menos tinha Energia Astral!

Que piada sem graça…

 


 

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