Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 41: Confronto à luz do dia, parte 1

— Reide?

Já faz um tempo que a vi pela última vez. Acho que desde o meu resgate? Bem, talvez não seja tanto assim.

Reide era uma das pessoas que Zozolum deixou como minha responsável depois da morte do meu pai e, por isso, conhecia bem ela.

O suficiente para ver que havia algo errado.

— O que ele quer?

— Não sei. Só sei que ele pediu a presença de vocês dois — disse, indo para a saída. Acenei para Edwars e a segui. Do lado de fora, estava uma motocicleta com um sidecar para a Grace. Quando estávamos todos prontos, deu a partida.

A viagem foi quieta, apenas havia o motor e o vento como som. Quando enfim paramos, estávamos no nono distrito, na frente de um prédio de 20 andares. Aquele era o disfarce de Zozolum.

A verdade é que ele era um Bruxo, mas, para o resto do mundo, era um homem de negócios, e dos bons. Passamos da porta, a atendente nem olhou duas vezes para nós e já nos deu passagem. Subindo no elevador, enfim chegamos ao andar mais alto da construção.

Quando entramos pela porta da sala de reuniões, notei a presença de um velho. Sua Energia era comparável a de Zozolum, tanto em poder quanto na impressão que passava.

Ótimo, mais um mentiroso.

— Então este é o Portador de Davi de quem eu tanto ouvi falar? — Conforme me encarava, senti uma irritação na ponta do olho esquerdo. Apenas quando eu olhei nos olhos dele que percebi o que estava fazendo.

Estava lendo minha mente…

Diferente de Kruger e Zozolum, não havia sutileza na abordagem dele. Era como se estivesse furando minha cabeça com uma garrafa quebrada, a sensação de tontura com os vários flashes de memórias, algumas minhas e outras dele, só tornava tudo pior.

Forcei-o para fora, caindo de exaustão.

— Lew?

Bufei, cansado enquanto olhava para o velho desgraçado. O nariz dele sangrava um pouco, sua expressão era séria, severa. Senti a pressão da Energia dele me esmagando, algo que só foi parar com as sombras de Zozolum criando uma cela ao redor do desgraçado.

— Já, o suficiente. — A voz dele estava fria, irritada. Pude perceber a fúria que segurava e, só então, percebi que aquela era a primeira vez que o via realmente emotivo.

— O suficiente? Esse… pirralho ameaçou queimar o selo, sabia? E você vem me dizer que é o suficiente? Está perdendo seu toque, por acaso?

Após isso, senti uma enorme pressão feita na jaula. Ainda que fissuras começassem a aparecer no espaço ao redor, a jaula se mantinha firme, provando o motivo de Zozolum ser o Rei da Abjuração.

Que monstros…

— Não vai me soltar? Sabe bem o que aconteceu a última vez que dois Imperadores lutaram, não?

Engoli em seco. Não precisava da minha percepção… eu podia dizer que ambos podiam acabar destruindo Juvicent, se não Anjus inteiro só com o choque de suas energias…

Essa é a primeira vez que experimento isso… Uma conexão mais forte que a minha… Será que é assim que os outros se sentem quando eu uso todo o meu poder? Quer dizer, minha conexão é bem forte, o próprio Zozolum disse isso, mas passa longe desses dois.

Só então percebi que estava tremendo não apenas pela dor, mas sim por medo. Olhando para o lado, vi que Grace estava pior. Ela já caiu no chão, exausta mentalmente…

A pressão que os dois faziam era o suficiente para afetá-la?

Tenho que por um fim nisso, mas como?

— Cheguei em má hora? — A voz de Elizabeth perguntou, olhando a situação com certo receio.

Após falar isso, a tensão das duas energias desapareceu, com Zozolum dando um último olhar para Chryzazel e, enfim, o libertando. Notei que deu um suspiro aliviado e estreitei os olhos.

Após alguns segundos, consegui respirar normalmente de novo e olhei para a direção da Grace. Ótimo, ela tá desacordada.

Zozolum não pode lutar com todo o seu poder. Isso é um fato. Não com ele segurando o que quer que seja atrás daquele selo. Talvez por isso que o rei da Adivinhação estava tão confiante.

Olhando para Elizabeth, notei que, além da aparência cansada de sempre, estava bem.

Curioso… será que eu subestimei a fortitude mental dela? Estendendo meus sentidos, notei que o selo amaldiçoado continuava ali, porém parecia mais fraco, quase como se a descarga de energia dos dois tivesse sobreposto aquilo…

Mais uma pergunta sem resposta…

— Grace, ótima hora — falou, as sombras voltaram ao lugar de origem com apenas um gesto. O rei da Adivinhação pareceu entender a deixa e permitiu que as dimensões voltassem ao normal. — Lewnard, hora, cumprir, promessa.

Estreitei os olhos e então entendi o motivo de me chamarem.

— O “Rompedor” já está aqui? — perguntei, procurando uma presença diferente. O velhinho resmungou e então entendi. Claro, faz sentido… Chryzazel é o “Rompedor” que Zozolum chamou!

Levantei-me do chão e peguei Grace nos braços. O corpo da coitada tremia feito bambu, mas não me importei. Levei-a até o sofá e então olhei para os dois Imperadores e para a princesa.

— Vamos começar?

 

Quando olhei para a cena do crime, senti espanto.

Como raios alguém que diz estar do lado do povo consegue causar toda essa destruição? Haviam famílias que não conseguiram sair e foram esmagadas pelas pedras do Banco central. Além disso, o chão sucumbiu com a força da explosão, criando um declínio na área do sexto distrito.

Só de imaginar a papelada já me dava dor de cabeça… Tentei me centrar no aqui e agora enquanto ia até os restos. O cheiro de carne carbonizada ainda impregnava aquela área, irritando meu nariz.

Tentei buscar um som diferente, mas não tinha nada ali fora do normal. Havia os batimentos de espanto, assim como desconfiança vinda dos Policiais comuns.

— Quem são eles?

— É melhor ignorar. Falo por experiência…

Ignorei a conversa, focando em algumas pistas, mas era inútil. Ele sabia que eu procuraria por alguma coisa, qualquer coisa que indicasse quem fez essa atrocidade, e, por isso, teve certeza de deixar um rastro de destruição.

— Então, qual o recado que ele deixou? — perguntei para o soldado que me trouxe até aqui.

— Aqui, senhor.

Nisso, deu-me uma fotografia. Nela, tinha um corpo crucificado na parede do banco, com palavras, escritas em sangue, na parede.

Aqui começa a revolução. Que seu espírito seja purificado após seus pecados serem expostos.

Suspirando, deixei a cena do crime, a raiva crescente dentro de mim. Tenho que pegar esse louco antes que cause mais problemas…

Entrei no carro que me trouxe aqui e mandei que o motorista me levasse de volta a base. Nada daquilo fazia sentido, desde as ações que sua organização tomava até a atividade Nor na cidade.

Meu celular começou a tocar, tirando minha atenção.

— O que foi?

— Olá, caro aprendiz. — A voz de Kruger soou do outro lado, séria. Imediatamente ajeitei a postura e esperei que continuasse. — Preciso que passe uma mensagem para Lewnard Hollick. Diga a ele que tenho a primeira tarefa que quero que cumpra.

Estreitei os olhos, lembrando dos favores que o mestre falou que cobraria. Bem, não é minha responsabilidade me preocupar com ele.

— E? O que vai pedir para ele?

— Quero que vá para Ninlamak e mate os líderes da rebelião Esper — disse, dando-me as instruções que queria que passasse. Ninlamak… se eu não me engano, uma rebelião bem grave se formou ali, com vários Espers destruindo diversas cidades do país.

— Não acho que esteja fazendo isso da bondade do seu coração…

— Jamais! Alias, se possível, gostaria que ele também matasse o Presidente daquele país, mas não vou esperar muito dele. Tem coisas que é melhor que eu mesmo faça.

Senti uma certa pressão dentro de mim. Comecei a batucar o banco com os dedos enquanto tentava entender o que Kruger queria. Não era normal que ele estivesse disposto a se envolver diretamente em um assunto, e, por mais que aquela rebelião causasse muitas mortes, Ninlamak era um país corrupto, que oprimia seus cidadãos…

Falei para ele que assim o faria e, quando estava para desligar o telefone, parou-me.

— Mais uma coisa. — Olhei para a janela, notando que estávamos saindo do sexto distrito e indo para o nono. Curioso, não lembro desse caminho… — O Portador de Gabriel estará chegando em Juvicent em alguns dias…

Como é? Aquele homem está vindo para cá?

Senti um calafrio percorrer minha espinha conforme lembrava de quem exatamente era o Portador de Gabriel. Mesmo se não fosse aprendiz de Kruger, ainda era prudente saber exatamente o nome Euclidum Zenith.

Era um nome que todo Nor aprenderia a temer depois da Guerra do Lago Enfari. Aquele conflito foi uma luta entre os Portadores John Hollick e Eobard Zenith, pai de Euclidum, contra Lira Jugram, portadora do Diário de Absalão.

Ela lutou ao lado dos Nors naquela batalha por motivos que desconheço, e precisou de Eobard para mantê-la ocupada enquanto John lidava com as hordas de Nors e soldados Migrandinos. Após Eobard morrer, seu filho entrou na guerra e sozinho dizimou os exércitos de Nors por completo e auxiliou no lado humano do conflito.

Tudo isso com apenas 14 anos.

Aquele homem é poderoso demais, mesmo para os padrões dos Zenith. É dito que aquela linhagem descende diretamente dos primeiros Portadores e, sinceramente, não me surpreenderia se esse fosse o caso.

Todos os outros portadores são de famílias vassalas às originais ou de outros vassalos, os Hollick sendo a única que serviu o Portador de Sete. Graças a isso, vários Diários se misturaram com outros, formando os seis que temos hoje, a última esperança da humanidade.

— Tudo bem? Ficou quieto de repente… Acaso está nervoso?

— Claro que estou. — Decidi ser honesto. Como não estaria? Um dos portadores mais poderosos da história está vindo para a minha cidade e mal consigo segurar as pontas! A Força Policial está totalmente desorganizada e o Moedor parou de se esconder, optando por aplicar táticas de guerrilha.

— Não o culpo — respondeu, e então ficou quieto por alguns segundos. O silêncio desagradável permeou o carro. — A situação como um todo está terrível em Juvicent. Aproveitei minhas férias para dar uma passada aí, ver como tudo está… Sabe, é como se o próprio ar estivesse carregado de sangue.

Sim e só piorou.

Não sou cego. Consigo ver claramente que os líderes não tem a menor ideia do que fazer. Além disso, não acho que vão pedir ajuda. Não só isso seria um sinal de fraqueza e colocaria uma das famílias em uma dívida com outra, como também precisam se preocupar com a guerra lá fora.

Se os Migrandinos souberem da situação atual em Anjus, o resultado seria terrível. Atualmente, temos bombas capazes de destruir cidades inteiras. Consigo imaginar com facilidade o ataque que esta desordem causaria.

As vezes, política é um pé no saco.

De repente, um som me chamou a atenção. Estava no motor, mas não era o som de gasolina queimando… era mais como…

Merda!

Usando meu poder, teleportei, atravessando o carro e vendo-o explodir em chamas. Seguido disso, desviei de diversas balas, algumas acertaram os cidadãos de Juvicent.

Olhando para baixo, vi vários homens e mulheres, vestidos normalmente, apontando armas para outros, executando-os a sangue frio.

Minhas pupilas dilataram e pus a mão no cabo de minha lâmina.

Só pode ser brincadeira…


Bem, aqui estamos.

Como sempre, peço que entrem nos links abaixo:

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Além disso, notícias quentinhas para vocês! Além de começar uma revisão geral do primeiro volume, estou no início da produção do volume 2 de Dualidade, assim como o primeiro volume do PRIMEIRÍSSIMO spin-off! 

Este sendo chamado de "Dualidade: Guerra do Lago Enfari", ele conta a história de John Hollick e sua ascenção ao poder! Com isso dito, esse spin-off, quando pronto, não será postado na Novel Mania, mas sim na Amazon. Um dos motivos para pedir que entrem no segundo server (o meu server pessoal) é para receberem esse tipo de notícia! 

Agora, se me permitem, tenho que ir.

Até uma próxima ocasião!



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