Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 35: Como preparar um bom chá, parte 2

As cinzas foram esmigalhadas enquanto a água fervia. Decidi tentar outras formas de preparar o chá. Recentemente, caí numa rotina bem… mundana.

Depois daquele sucesso que tive com o “lírio da gula”, estudei mais e mais sobre plantas e ervas. Um conhecimento útil foi o livro que Luna me emprestou.

Luna… ela é a parte mais estranha disso tudo. Tudo que fui ensinado grita no meu ouvido, ordena que eu a mate… Não passa de um monstro sem coração, que vai te trair na primeira oportunidade que conseguir…

Exceto que ela não era assim. Pelo que entendi, ela conhecia o xamã há tempos. Um humano e uma Licantropo jamais poderiam ser amigos… quem dirá família!

Um lobo não aceita um coelho em sua matilha… É contra a natureza dele. Então por quê? Por que eles conseguem conviver em paz? O que juntou os dois? Quando perguntei isso ao velho, ele só mandou perguntar para Luna.

Suspirei enquanto olhava para a água fervente. Já havia juntado os dois, o calor excessivo devia ser capaz de limpar mais ainda o gosto de uma das ervas mais… azedas do jardim.

Fui então até a mesa de cabeceira e coloquei minha mão sobre o diário, usando da minha conexão para procurar o Espectro. Aquele desgraçado nunca está aqui quando eu preciso dele. Não é o trabalho de um Espirito Protetor guiar os Portadores?

— Onde raios você está? — perguntei, não conseguindo uma resposta. Isso vem acontecendo já tem duas semanas…

Céus, já tem duas semanas que estou aqui… Suspirei enquanto pensava. Metade desse tempo eu fiquei preso… O cheiro me trouxe de volta e, indo até a panela, servi o chá na garrafa térmica.

Como era rotina, levei para o xamã, e, como era rotina, ele rejeitou, dizendo que ainda faltava algo.

Bem, acho que ainda vou ficar aqui por algum tempo ainda.

 

Olhei para meu pai enquanto senti uma pitada de receio. O Adivinhador já havia saído da casa, dizendo que tinha de ir para outro compromisso. Nós dois ficamos quietos por alguns momentos, estava estranhamente pensativo.

— Elizabeth, poderia me fazer um favor?

— Qual?

— Vamos receber uma visita desagradável em algumas horas, mas preciso cuidar de alguns assuntos urgentes que o Adivinhador me deixou. Quero que receba eles e se comporte da melhor forma possível.

Assenti. Perguntei-me o quão importante algo devia ser para ter a atenção exclusiva do meu pai, ou se ele só estava querendo não se encontrar com quem quer que seja essa visita…

Não faria isso, era dedicado demais aos deveres da coroa para fugir.

— Quem seria essa visita?

— Kruger Hollick e mais alguns membros do conselho de clãs — respondeu, servindo um pouco de café. Engoli em seco quando percebi que eram pessoas bem importantes e senti certo nervosismo. — Estão vindo avaliar algo… Não sei o que é, mas deve ter relação com o fracasso que foi a execução da Licantropo.

— Fracasso? O que quer dizer?

Fiquei surpresa e interessada naquela informação. Ouvi que Grace Hollick ia ser executada por se tornar uma Licantropo, mas parece que algo mudou.

— O Portador de Davi, Lewnard Hollick, invadiu a reunião dos líderes e, de forma resumida, ordenou que a libertassem. — Notando meu olhar incrédulo, ele logo explicou como aconteceu.

Após ouvir, fiquei quieta, sentindo uma dor de cabeça estourar. Suspirei, tentando controlar minha irritação. Aquele idiota imprudente! Que tipo de Portador ameaça quebrar um dos selos mais antigos que separam o Plano Astral do nosso?!

Acalme-se, Elizabeth. Olhe pelo lado positivo. Pelo menos uma vida inocente foi salva.

— Bem, estou surpresa que eles concordaram com isso — disse após um segundo de silêncio. Olhando para meu pai, fiz a próxima pergunta que me veio a mente. — E onde o Lewnard está?

— Atualmente? Desaparecido — respondeu, servindo mais uma xícara de café e bebendo num único gole. — A última notícia que tivemos dele foi que estava indo para a montanha nevoenta, em busca de um Xamã.

Interessante. Não esperava isso. Quer dizer, Lewnard era alguém que agia antes de pensar, mas mesmo ele devia ter algum receio em subir aquela montanha.

Há rumores de várias atividades suspeitas ocorrendo lá. Ninguém é louco o suficiente para ir apenas investigar, visto que há rumores de uma colonia de Nors liderada por um Milenar.

Senti um calafrio percorrer meu corpo. Havia uma hierarquia no que tange a força dos Nors. Enquanto espécie e linhagem costumam influenciar o nível de poder e o quão rápido um deles chega ao topo, os Nors são divididos em: Anuais, Decadários, Centenários e Milenares.

Anuais são aqueles que nasceram em menos de 10 anos; Decadários são os que existem há décadas; Centenários, séculos; Milenares são os que estão vivos desde o início da guerra.

Essa classificação é um tanto antiquada, visto que nasceram várias aberrações nos últimos quatro séculos que tem um crescimento desbalanceado. De fato, serve apenas para termos um padrão na hora de medir o nível de ameaça do Nor. Contudo, ela é útil num ponto bem simples.

Exoesqueleto.

Quanto mais velho é o Nor, mais duro e flexível é o exoesqueleto. Quando um decadário entra na sua quinta e oitava década, uma segunda camada de exoesqueleto cresce, arrancando a primeira pela raiz. Quase como um dente.

Já os centenários tem os exoesqueletos assumindo formas de casulos em, pelo menos, três vezes. Lá, o corpo passa por diversas mutações. Além do exoesqueleto, a musculatura fica mais poderosa e a energia negativa se funde diretamente com o corpo.

Rezo que nunca encontre um centenário, pois são seres que dão trabalho até para Portadores experientes.

— Mas o que eles vieram fazer aqui? — Decidi trazer o foco de volta para o assunto. Eu estou segura aqui, não vou encontrar um centenário tão cedo. — Quer dizer, Kruger Hollick é alguém importante, não é?

Lembro que uma das minhas lições mais recentes foi decorar o nome de cada membro importante dos clãs. Insultá-los traria problemas demais para a cidade.

— Kruger disse que tem que deixar uns documentos… É mentira, na minha opinião. Aquele homem não se rebaixaria ao papel de mensageiro. Não… acho que ele veio para observar de perto…

— Observar o que?

— Qual o tipo de cidade que seu mais novo… associado vive. Ele foi um dos únicos que apoiou Lewnard no salão de execuções, mas caridade vai contra a natureza daquele velho. Sem dúvidas, tem algum interesse velado naquilo. Algo que Lewnard prometeu e que não sabemos o que é.

Notei o tom de irritação quando falou de Kruger. Sempre soube que o meu pai era próximo dos Hollick. Quer dizer, ele e John eram amigos, não? Então por que ele o odiava tanto? Será que esse Kruger era alguém tão desagradável assim?

— Elizabeth… quero que me prometa uma coisa — falou, num tom sério, diferente do habitual. Senti a garganta seca e mordi o beiço. Odiava quando ele usava essa voz. — Aconteça o que acontecer, não faça nada que possa ser considerado um insulto para aquele velho. Pessoas como ele não perdoam. Só fale quando te perguntarem algo, mova-se apenas quando precisarem de algo. Se possível, nem olhe nos olhos dele.

Assenti, atônita. Meu pai não era o tipo nervoso, que tinha medo da própria sombra, mas a forma como ele agia, como falava… me fez perguntar quem exatamente era Kruger.

— Sei que não gosta disso. Sei também que vai ser desagradável, mas é necessário. Lembre-se bem que, como uma nobre, tens um dever sacro com a coroa e com o povo. ‘O poder é um peso que carregamos com orgulho’… esse é o lema de nossa família. Jamais se esqueça disso.

— Sim, pai.

Olhei para a pintura da árvore genealógica dos Juvicent. Nosso sangue era nobre, nosso dever também. Como nobres, nosso dever é primeiro com a coroa, que presta contas ao povo. O próprio sistema econômico era um reflexo dessa realidade.

Anjus tinha diversas cidades-estado, cada uma tinha uma moeda própria, com cada nobre aprovando as leis que o legislativo propunha, leis essas que regulavam as práticas de comércio que fortalecia a moeda dos nobres.

Acho que mal dava para chamar isso de monarquia. Nosso sistema era muito mais democrático do que focado num único poder.

Meu pai me deixou ali, indo para o compromisso que tinha. Enquanto Kruger não aparecia, decidi regar minhas plantas. Já estava na hora de algumas delas receberem água…

 


Bem, esse foi curtinho, mas foi um importante. Acho que é necessário estabelecer um Power Scaling para uma das raças ainda agora (quis deixar natural, por isso não fiz isso antes). Dito isso, mesma coisa de sempre. Entrem no meu server pessoal para receber atualizações de capítulos e ofertas de capítulos adiantados, assim como extras que contribuem com a história: https://discord.gg/UBP8fvdB

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