Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 33: Escolhas

Entrei em posição de luta imediatamente, permitindo que minha Energia circulasse com tranquilidade.

— Calma! Eu não quero brigar! — Ignorei e parti para cima, usando da minha percepção para me guiar. Ela desviou de cada golpe lançado, dançando entre eles. Irritado, me afastei e apontei minha mão na direção dela. — Merda…

Disparei uma Bala Astral, a explosão causou uma nuvem de fumaça e fogo. Percebi que ela saiu de perto de mim, deixando-me só.

Com um suspiro, voltei a andar, ignorando a destruição que causei no jardim. Preciso pensar em como fazer aquele Xamã me escutar… Não pode ser algo tão simples quanto preparar um chá, né?

Voltei para a caverna e, no caminho para a cama, vi que fora deixado ferramentas para esmagar plantas e ferver água.

Que seja… Se é um chá que ele deseja, vou ter certeza de dar a ele o melhor chá do mundo!

Levantei, peguei um balde e saí. Preciso primeiro buscar ingredientes. Cheguei numa flor, na margem de um pequeno rio, que cheirava bem e tinha a cor amarela. Colhi-a do chão e, então, voltei a caverna. Peguei a cumbuca e o triturador, esmagando-a e extraindo o suco.

Com o balde de água cheio, coloquei o líquido ali e então comecei uma pequena fogueira com as madeiras e folhas deixadas ali.

Quando terminei, percebi que não tinha como transplantar o chá. Busquei alguma coisa que pudesse ser usada mas não achei nada…

Merda… Como eu faço com isso?

— O Mestre mandou entregar isso para você. — A voz de antes soou e uma garrafa térmica apareceu na minha frente.

Suspirei e então coloquei o chá na garrafa, indo até onde eu lembro de ter o encontrado. O caminho estava menos nublado dessa vez e eu logo cheguei na frente dele. Para minha surpresa, o Xamã estava tratando os ferimentos da Licantropo de antes.

— O que ela está fazendo aqui? — perguntei, olhando fundo nos olhos dela. A mesma parecia irritada, mas não deu nenhum sinal de que me atacaria.

— Eu tenho nome, sabia?

— Parem os dois. Vão arruinar o gosto do chá… — O xamã olhou para mim e a garrafa térmica com um sorriso. — Sirva-o.

Fiz como ordenou, pegando os copos de argila que apareceram no chão. O líquido tinha uma bela tonalidade amarela e o cheiro era doce. Ofereci para ele, esperando que provasse.

Para minha surpresa, ele só jogou o chá fora.

— Faça de novo.

— Você nem provou!

— Nem vou. Você usou uma flor amarela, não é? O nome dela é “Lírio da Gula”. Tem esse nome devido as propriedades viciantes que carrega, junto ao anestésico. Se consumido em altas quantidades, um homem adulto fica paralisado.

Começou então a explicar sobre como isso afetava o ecossistema. Disse que predadores de pequeno porte viriam e comeriam o corpo e os restos virariam adubo.

— Eu não acredito… Deve estar me enganando!

— Prove do chá, então.

Assim o fiz e, no momento que o líquido desceu pela garganta, senti sede. Comecei a beber tudo ali, até não sobrar mais nenhuma gota e, quando percebi, estava caído no chão, paralisado.

— Luna, pode por favor pegar uns panos úmidos — pediu enquanto permitia que algumas flores, essas de coloração vermelha, crescessem ali. — Essa é a “Rosa da Súplica”. Enquanto o “Lírio da Gula” cresce em tundras, esta pequenina floresce num oásis, uma região paradisíaca dentro de um deserto. A “Rosa da Súplica” é conhecida por ser capaz de limpar o organismo de várias impurezas, incluindo o veneno que acabou de tomar.

Começou então a esmagar uma a uma enquanto fervia água. Quarenta minutos depois, já estava perdendo a sanidade devido a sede. Felizmente, ele derramou o chá amargo na minha boca.

A melhora foi instantânea. Em alguns segundos, conseguia sentir meu corpo de novo e em minutos voltei a me mexer.

— Tente fazer um chá decente da próxima vez. Além disso, sugiro que descanse…

Ignorei o comentário e voltei a procurar outra flor. Enquanto procurava, senti um enorme cansaço e então voltei para a caverna.

Quando enfim alcancei o lugar, vi que não estava só.

— Meu pai mandou eu cuidar de você. Mesmo que não pareça, a “Rosa da Súplica” gasta muita energia do corpo. Provavelmente vai ficar febril por alguns dias.

— Pai?

— Vá para a cama e descanse — ordenou, ignorando por completo minha pergunta. Resmunguei, mas fiz como ela pediu. Estava cansado demais para discutir.

Caí na cama e desabei de cansaço.

 

Quando cheguei na base do esquadrão, o ar estava sombrio. Parando pelo caminho, olhei para a mesa central, onde a cabeça de Miia estava exposta.

Caminhei até lá, os membros do esquadrão me deram espaço, seja por respeito ou medo. Olhei fundo nos olhos vazios dela e então sai dali e bati a porta do meu escritório.

Eu consegui evitar uma catástrofe. Evitar que uma cidade inteira sofra… Então por que sinto que fiz algo errado?

E esse sentimento me corroendo por dentro… É culpa? Sim, é sim… Já faz muito tempo desde que senti isso, mas é tão horrível quanto eu lembrava.

Lembrei da carta que recebi e senti minha raiva voltar.

Eu vou te achar e te matar, Moedor. Juro por tudo que é mais sagrado que vai se arrepender disso.

Com essa jura, decidi que a primeira coisa a se fazer é me livrar do espião. E a melhor forma de fazer isso é tentar, mais uma vez, conseguir a ajuda de Chryzazel. Decidido, saí da minha cabine e fui em direção a mansão do rei.

 

Suspirei enquanto olhava para a porta de entrada da mansão. Normalmente, nós é que somos recebidos dessa forma, mas meu Pai disse que o sujeito que viria nos visitar hoje era importante.

Quando perguntei de quem se tratava, apenas pediu que ficasse quieta e deixasse que ele falasse. A mesma coisa que me pediu quando nos encontramos com Lewnard.

Normalmente, isso acontecia quando ele não tinha certeza das intensões de uma pessoa e sabia da força dela. Lembro que ele ficou desapontado com Lew a primeira vez que o viu.

— Sinceramente, achei que John teria treinado o moleque melhor — disse, sentando na poltrona do escritório enquanto estudava os vários projetos de legislação que o povo pedia. — Ele tem uma postura boa como guerreiro, mas não tem o mesmo ar que John tinha na guerra.

— Você fala muito da guerra, mas nunca me disse como foi ela.

— E, com sorte, não vou precisar lhe dizer. É algo que criança alguma deva se preocupar

Como sempre, ele me tratava como uma garotinha, mesmo sendo uma mulher adulta aos olhos da lei! Eu sei da história contada e a que está ocultada da população geral.

O primeiro grande conflito entre Anjus e Migrand, nós tentamos libertar Ohlak, um país cheio de recursos, do inimigo. Como o líder daquele país fora colocado lá pelos Migrandinos, o exército Ohlakano estava contra nós…

Além disso, também haviam os Nors, que usaram dessa guerra para abastecer suas colonias e converter muitos humanos, liderados pela Portadora de Absalon da época. Foi apenas a intromissão dos Portadores, formados por John Hollick e o Portador de Gabriel, que pôs um basta naquilo.

John Hollick… Acho que muita coisa da atualidade tem um dedo dele. Desde conflitos até o avanço absurdo na medicina, tanto para o público quanto para os bruxos.

Alguém como ele estava destinado a ser uma lenda… e a pressão para Lew ser tão bom quanto ele devia ser enorme.

As portas foram abertas, finalmente. Dali, entrou um homem que mais parecia um fóssil, com um quimono antiquado e uma toca preta.

— Lorde Chryzazel. — Meu pai se curvou e, discretamente, ordenou que fizesse o mesmo. Dei uma leve curvada enquanto me perguntava quem era ele. Conhecia esse nome, mas de onde?

— Olha só, que educada, não? — falou num tom bondoso, se aproximando de mim. — Qual seu nome, querida?

— Elizabeth.

— Que nome belo e agradável, sim, sim. Diga-me, quer uma balinha? Tenho de todos os sabores, sabe?

— Não… não senhor.

Aquilo não era o que eu esperava. Quando soube da importância do visitante, senti-me intimidada, mas esse senhorzinho parecia tão legal. Quase como o avô que nunca tive.

De repente, pegou minha mão e começou a olhar fixamente para as linhas nela. Perguntei o que ele estava fazendo, curiosa para saber o que exatamente viria disso.

— Não acho que…

— Que interessante, não? — disse, por fim, sorrindo. Largou minha mão e então pegou um ossinho de galinha e me ofereceu. — Mantenha isso próximo, sim? É um amuleto de boa sorte… — Chegando perto de mim, completou usando um tom conspiratório: — Vai te ajudar com a sua paixonite, sabe?

— Sim… sim senhor. — Senti meu rosto queimar enquanto pensava no que ele queria dizer. Tenho certeza que não tenho nenhuma paixonite, né?

— Bem, vamos concluir meu assunto aqui, certo? — Virou-se para meu pai e começou a andar para o escritório dele. — Elizabeth, seja uma boa menina e espere, certo? Tenho muito o que falar com seu pai, sim?

— Se o senhor permite, senhor… — falei, adicionando o senhor após um olhar ríspido de meu pai. — O que o senhor veio fazer aqui?

O velhinho ficou quieto por alguns segundos, até que eu ouvi um som de ronco… Não pode ser… Chegando mais perto, percebi que de fato havia caído no sono.

— Com licença… — disse, com um tom suave.

— Oi… acordei. — Olhou para os lados, um pouco perdido. — Ah sim… certo… Bem, vim aqui para discutir um assunto importante sobre o futuro de Juvicent, não? Mas deixe isso com os mais velhos, sim?

— Eu já sou uma adulta, sabia? — retruquei, indignada.

— Hehehe, não, não é.

Com um suspiro, sai dali. Contudo, o lorde falou algo antes que eu pudesse sair.

— Alguém que ainda não tirou uma vida não é considerado um adulto no meu mundo, não?

Senti um calafrio percorrer meu corpo. Aquela voz era de alguém que causou dor a incontáveis pessoas, que ignorou qualquer senso de ética e moral para seguir seus objetivos.

Aquela voz me fez lembrar quem exatamente ele era…

Chryzazel, rei da adivinhação.


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