Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 26: Onde eles habitam, parte 4

Após nos encontrarmos com a Weissbreak, seguimos viagem até uma pequena base. Ali havia vários soldados da associação dos Bruxos, todos com armas feitas especificamente para matar Nors.

Seja balas de prata, facas benzidas em água benta, ou gás de alho. Tudo ali era o ápice da pesquisa contra as mais diversas espécies localizadas em Anjus.

Um tanto patético que eles tenham que usar isso, mas não são todos que dedicaram uma vida inteira para o combate. Aquele monge era uma raridade nos dias de hoje, mas acho que faria bem para essas pessoas ver como um verdadeiro guerreiro luta.

— Certo, vai indo descansar. — Olhei para Shiki com uma sobrancelha arqueada. Eu já tinha me recuperado ao menos um pouco. Pelo menos, conseguiria matar alguns Nors antes de me cansar. Contudo, seu olhar me calou.

Bem, acho que não tem jeito. Tenho que passar uma informação para o quartel general e não posso apenas morrer aqui. Ainda tenho que dar um jeito naqueles cultistas.

Relutante, eu deixei Shiki e os demais e fui para uma barraca descansar. Contudo, algo mudou no ar.

Aquele cheiro… aquela sensação opressora…

Após essa mudança, uma enorme explosão ocorreu a norte de onde estávamos. Era grande o suficiente para limpar a nevasca e causar uma avalanche.

— Atrás de mim! — A Weissbreak comandou, utilizando sua magia para criar um muro de gelo que bloqueasse a neve. Ainda sim, eu podia ver… ela não era forte o suficiente para aguentar tudo aquilo.

O Estigmado também notou e prontamente disparou uma saraivada de chamas azuis contra a neve, tornando-a vapor.

Bem, acho que descansar não é mais uma opção. Aquela destruição toda só podia vir de uma fonte.

— O que foi isso? — Ela parecia completamente abismada enquanto olhava para a nuvem de fumaça.

— Aquilo… — começou Shiki enquanto puxava um trago do cigarro. Após alguns segundos, ele soltou a fumaça. — Aquilo estava sendo o Canhão Astral de Lewnard. Devemos estar nos apressando.

— Bem, acho que essa é a minha deixa — disse, levantando da cama e indo até as tropas.

Se havia algo que fez com que aquele idiota disparasse um canhão com aquela intensidade, provavelmente era perigoso. Enquanto era aconselhável que eu não me envolvesse, Lewnard Hollick tinha uma dívida a quitar, tanto comigo quanto com Kruger… e eu terei certeza de fazer com que ele quite essa dívida.

Dessa forma, corremos em direção da nuvem. A nevasca foi apagada e o sol voltara a brilhar, ainda que temporariamente.

Sério… o mundo não é justo mesmo. Dando tanto poder para um idiota qualquer usar…

Meu olfato voltou e eu já conseguia ouvir bem melhor, por isso mesmo, fiquei surpreso quando passos se aproximaram numa velocidade absurda da nossa localização.

— Vocês vão morrer se forem por essa caminho.

As armas miraram no Kairiano, prontas para disparar caso necessário. Kaira era um país localizado em Ester, um continente ao extremo leste do mapa. As pessoas ali tinham pele amarela e olhos puxados. Também era o berço de várias artes marciais, como o Kenpô e o meu Battoujutsu.

— O que você quer? — perguntei, olhando para ele com desconfiança. Tínhamos batimentos parecidos, a diferença é que os dele pareciam mais como um tambor que tocava num ritmo tribal.

— Não vim aqui lutar… Ao contrário, vim apenas dizer por qual caminho devem seguir se querem invadir a colônia — respondeu. Falava a verdade, ainda que houvesse raiva presente ali. — Há um caminho a oeste que passa por um rio. Lá, há uma caverna que serve como entrada. A segurança deve ser quase nula, ainda mais com o estado de caos que a colônia está.

— O que você ganha com isso? Acaso quer entrar no lado dos humanos?

— Não seja imbecil — retrucou, enojado. — Eu sou um lobo… e um Lobo não dorme junto a coelhos. Ele caça eles, mata eles e devora suas entranhas. Eu só tenho um interesse que coincide com o de vocês?

— E o que isso seria? — Shiki Weissbreak olhou desconfiado na direção do que só podia ser um filho de Licantropo. Tudo indicava isso.

Ele sorriu e apenas desapareceu no ar, utilizando de uma velocidade absurda para sair do nosso alcance.

Quis ir atrás dele, mas eu não teria condições de lutar com as feridas que carrego. Os meus companheiros discutiam entre si se valia ou não seguir a dica dele e eu suspirei.

— Ele diz a verdade.

Todos me encararam, alguns com indiferença, outros com claro ódio.

— Ele está mentindo! Claramente quer nos levar para uma armadilha e nos devorar…

— Sim! Você não passa de um Mestiço! Tenho certeza que vai nos trair na primeira oportunidade que surgir…

Senti uma certa irritação, mas aquietei minha raiva. Não faria sentido lutar contra esses idiotas. Só provaria o ponto deles…

— Eu estou acreditando nele — disse o Estigmado, calando todos ali. — Podem estar seguindo o caminho reto, mas eu estarei indo com Edwars. Vamos?

Suspirei enquanto olhava para Shiki, alguém que eu via como fraco, que era gentil demais para fazer o necessário, e sorri. Era pequeno, quase insignificante, mas era um genuíno.

— Eu vou aonde o Shiki for — falou Reide, olhando para mim com certa desconfiança. — Não conheço você, mas sei que o julgamento dele raramente está errado. Saiba que, no entanto, se fizer uma única gracinha, eu te mato.

— Nem pensaria nisso…

— Está decidido então… Querido irmão, você e seu grupo estarão indo pelo oeste. Nós estaremos continuando em frente.

Com isso decidido, começamos a caminhada. Suspirei enquanto olhava para as costas do Estigmado com emoções conflitantes dentro de mim.

Kruger sempre me ensinou que todos nesse mundo são apenas ferramentas a serem usadas. Que gentileza não gera nada além de sofrimento para o tolo que a demonstra. No entanto… o homem na minha frente era diferente. Ele era quente, como uma fogueira que aquece os desabrigados. Ele era verdadeiramente bondoso e não se importaria de sacrificar a si mesmo.

Era alguém que eu não entendia. Desde minha infância, só vi o pior dos outros. Eles não conseguiam se entender, não conseguiam fazer nada se não lutar uns contra os outros… e eu odiava isso.

A violência. O conflito… mas agora sei que essas são partes do nosso mundo que não podemos negar. Elas estão lá e, um dia, vão me alcançar, mas eu nunca vou deixar de lutar para não ser engolido por elas.

Eu vou sobreviver o máximo possível, independente de quem eu use, de quem eu mate, ou de quantos sonhos eu pise em cima.

Após alguns minutos, chegamos no rio e, seguindo a margem, encontramos a caverna e lidamos rapidamente com os poucos Nors que estavam ali. Seguido disso, adentramos e achamos a entrada. Não havia um guarda lá, provavelmente foram ver do que se tratava aquela explosão.

Passando pelo portal, a escuridão era absoluta na colmeia. Isso não era um problema para mim, mas Shiki teve de acender um pouco do fogo azulado para que ele e Reide conseguissem enxergar.

Parei de repente e segurei o cabo da espada enquanto olhava firme para os vários Nors que apareceram.

— Ótimo! Como vamos lidar com isso?

— Você e Shiki vão na frente. Eu lido com o lixo…

— Tem certeza? Ainda não se recuperou por completo… — Aprecio a preocupação, mas ela é desnecessária. Claro, não ia falar isso, apenas fiquei quieto por alguns segundos e vendo que se não desse uma resposta ele não sairia do meu lado, suspirei.

— É a alternativa mais lógica. Não temos tempo a perder… vão. Agora!

Shiki tentou retrucar, mas Reide seguiu e, vendo que não conseguiria me convencer, foi junto. Os Nors olharam para aquilo e se colocaram no caminho deles, prontos para atacar.

Não. Como se eu fosse deixar…

Utilizei minha técnica para desaparecer e reaparecer na frente de um deles, cortando a cabeça com um rápido movimento. Os monstros olharam para mim, surpresos, enquanto a dupla passava.

— Estão lidando comigo agora…

Murmúrios seguidos por gargalhadas. Uma das criaturas sorriu e foi lentamente em minha direção. Pus-me na mesma postura de sempre e agucei os sentidos.

— Um mero mestiço como você não é digno de lutar conosco. Vamos acabar rápido… — Antes que pudesse completar a frase, puxei minha espada num arco e dividi o corpo dele em dois.

— Parece que vocês tem algum retardo mental grave… — Comecei, voltando a postura de Battoujutsu enquanto sorria, deixando minhas presas expostas. — Isso não é uma luta… é um massacre.

Desapareci e cortei, de novo e de novo, ceifando as vidas e sonhos dos meus inimigos. Eles não puderam fazer nada se não olhar seus companheiros morrerem, esperando a sua vez.

Decepei a cabeça de um, seguido por cortar outros tantos em dois. Sempre que cortava, desaparecia e reaparecia na frente de outro, repetindo o tedioso processo.

Era chato. Tão, tão chato.

Não havia emoção no meu peito enquanto executava aqueles que poderiam ser chamados de meus primos ou tios. Como poderia? Eu já matei tantos outros, tão grande era o número que perdi a conta de quantos foram depois do centésimo.

Desviei de um soco e utilizei a minha técnica para reaparecer atrás dele. A Energia Dual era a fonte de poder dos mestiços, mas eu sei bem que minha técnica é diferente dos demais.

Devido ao fato da nossa energia entrar em conflito com as partículas Astrais no ar, eu precisei usar um método semelhante a técnica de teleporte do Portador de Gabriel. Meramente projeto grande parte de minha Energia, o suficiente para ser chamada de Alma, para frente em uma velocidade absurda, e meu corpo é forçado a acompanhar.

Nossa energia é comprimida em nossos corpos e, quando sai, o choque cria uma pequena brecha dimensional que me torna, ainda que temporariamente, um ser de plano único. Isso só é possível devido ao meu corpo e a quantidade de energia que carrego. Se um outro mestiço tentasse usar, morreria instantaneamente devido ao choque.

Foram essa técnica e o medo que ela causava nos que a viram de perto mas que não morreram que me deram a alcunha de “Ceifeiro”.

Todos meus inimigos estavam destinados a esse fim. Não era uma questão de apenas força, mas também sangue. Um Dhampir como eu era filho de um vampiro com uma humana, e meu pai, antes do extermínio do nosso clã, era um nobre, mesmo dentre os vampiros.

Junte isso a força que minha mãe devia ter para conseguir me carregar por nove meses, e essa era a conclusão natural. Suspirei enquanto limpava o sangue da minha espada e olhava para os vários corpos que enfeitavam o lugar.

Pus a lâmina na bainha e voltei a andar pelo caminho que Shiki e Reide foram.

Tudo enquanto deixava uma cena digna de um daqueles novos filmes de horror para trás.


Bem, mais um capítulo feito e estamos nos aproximando do final do segundo arco. Dito isso, peço, como sempre, que deem uma passada no meu discord para ofertas de mais capítulos e a chance de conviver com aquele que vos fala: https://discord.gg/nnJBUDGw

 

Se quiserem capítulos extras, peço que deem um dinheirinho para mim através do pix: 0850fa07-b951-4cd4-b816-8d3beb6ebf51

 

Até um próximo dia...



Comentários