Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 24: Onde eles habitam, parte 2

Corri entre as árvores enquanto desviava dos socos enfurecidos do monge. Cada golpe deixava uma cratera, mostrando a força bruta que ele agora possuía.

A neve se transformava em vapor só de tocar nele. A sanidade parecia ter o deixado. Usando meu poder, eu voltei a existir atrás dele e usei o máximo de força para cortar a espinha dorsal.

O ataque mal arranhou a superfície da pele vermelha e levei um golpe no lado esquerdo. A dor agonizante foi prontamente ignorada e eu pensei em como poderia vencer. Ele não apenas bate mais forte como também está mais rápido.

As coisas que eu não faço por um cheque em branco…

Com um suspiro, assumi uma postura defensiva do Kenjutsu enquanto desviava. Enquanto não era minha especialidade, só podia fazer aquilo.

O Battoujutsu tinha um arco de corte muito grande e o tempo que levava para voltar a uma postura era maior ainda. Ao menos para essa luta. Por isso, decidi que será mais fácil apenas colocar pequenos cortes na carne dele.

Assim o fiz. Sempre que ele chegava perto, eu usava uma explosão de velocidade para colocar pequenas incisões. O sangue já começara a jorrar e o vapor ao seu redor diminuía conforme a luta continuava.

Após cinco minutos de ataque e defesa, finalmente consegui o derrubar. O corpo voltou ao normal e o monge não se mexia. Suspirei com pesar ao tentar ouvir os batimentos dele.

Estava morto.

Bem, merda. A única pista que temos do que está acontecendo foi para o ralo. Agora, o que fazer? Acho que a primeira coisa é sair daqui. A batalha deve ter atraído atenção indesejada e estou cansado demais para mais um confronto.

Dito isso, corri para onde o cheiro de Shiki Weissbreak estava e, quando cheguei, ajudei-o a procurar por pistas de onde Lewnard pode ter ido.

— Você está bem? — perguntou ao notar minha respiração. Ela estava um pouco descompassada, mas não esperava que o Estigmado fosse perceber isso.

— Não importa… temos um dever a cumprir.

Ficamos procurando por algumas horas quando decidimos achar um lugar para descansar. Já anoitecia e ficar perambulando nesse território quando a atividade de Nors é mais intensa era perigoso demais.

Acho que era por volta de oito horas da noite quando achamos um buraco no chão. Era uma pequena caverna. Surpreso, adentrei no lugar com meu colega.

— Estamos tendo muita sorte. Estava achando que íamos morrer quando aquele grupo de Nors estava se aproximando.

Grunhi ao me sentar num lugar. Coloquei uns gravetos e folhas que achei num canto e comecei a tentar acender uma fogueira.

— Estou indo ajudar…

— Nem pensar. — Coloquei-me entre ele e os materiais. — Eu conheço a fama que suas chamas tem. Se usasse elas aqui, a madeira viraria vapor.

Voltei a tentar acender o fogo. Shiki Weissbreak se sentou e criou uma pequena chama em mãos e então puxou um cigarro. Assim que ele o acendeu, olhei para ele com um rosto irritado.

— Está querendo um? — perguntou, oferecendo a caixa para mim.

— Não.

— Certeza? Essa marca…

— Eu não fumo.

Voltei a atenção a fogueira. Finalmente consegui a acender e então fui até a saída. — Descanse. Eu vigiarei por quatro horas. Depois disso, será a sua vez.

— Prefiro continuar fumando — respondeu, soltando fumaça no ar. O ato irritou meu nariz, mas não falei nada.

Trabalho em equipe é importante e eu prefiro não causar desavenças.

Eu não estou em condições de lutar. Minha energia ainda não voltou e eu tenho certeza que um dos ataques do monge quebrou, pelo menos, três costelas e destruiu alguns órgãos internos.

Minha regeneração era alta, mas esse tipo de ferimento demoraria para curar.

Conforme o tempo passava, mais monótono era aquele espaço. Normalmente eu não fico com sono, mas a fadiga do dia junto com a energia consumida para recuperar meus machucados já começara a pesar.

Olhei para Shiki Weissbreak com certa inveja. Ele dormia tão tranquilamente que era assustador. Havia uma nevasca lá fora e o vento uivava livremente.

Era como uma faca de dois gumes. Eu não cairia no sono devido ao barulho mas também me sentia tentado a deixar o meu posto e dormir. Não era como se alguém fosse perambular pela tempestade de neve…

Minha mão foi até a espada inconscientemente. Meus sentidos se aguçaram e eu entrei na postura de Battoujutsu. Havia algo, ou alguém, lá fora. Essa pessoa tinha uma sede de sangue absurda direcionada a nós dois.

Foquei na minha visão. Ela já não era das melhores, mas era boa o suficiente para discernir o formato de uma mulher. Não, haviam duas… Isso é ruim. Eu estou quase morto e meu companheiro não vai acordar não importa o que eu faça.

A nevasca parecia evitar a dupla que se aproximava mais e mais, o batimento era difícil de discernir com todo esse vento, e o cheiro era mais complicado ainda.

Ao se aproximarem, vi o cabelo branco dela. Eram fios parecidos com ceda. A roupa que vestia a tornava ainda mais bela. Era um vestido azul, com uma armadura cobrindo regiões vitais apenas.

Ao lado dela vinha uma Visliana. Tinha uma roupa militar, com diversas armas a mostra.

— Quem diria… — disse com uma voz gélida ao estar perto o suficiente para a luz do fogo iluminar o rosto angelical do que só podia ser uma nobre. — Não esperava estar te vendo aqui, querido irmão… Se bem que não é mais assim que estão o chamando, não é? Agora assumiu outra identidade.

— Por que está vindo, Youko? Acaso o velho está se desesperando tanto assim? — respondeu Shiki com uma atitude indiferente.

Nem se dignou a olhar para a dupla.

— Vocês dois são muito imaturos mesmo. Temos um trabalho a cumprir, Shiki.

— Reide? — Virou-se surpreso para ela. Assim que a viu, seu rosto se contorceu numa carranca. — Zozolum não está confiando mais em mim? Estava chamando até reforços da minha antiga família… No que ele está pensando?

— Ora, não seja assim, Estigmado. Você ainda é um Weissbreak de sangue… só não é reconhecido na árvore genealógica.

Shiki não respondeu nada por um instante. Estava claro que ele queria começar uma luta mas se conteve.

— Estaremos resolvendo isso depois de ajudar Lewnard.

— Sim. Você pode ficar só assistindo enquanto eu estarei matando a rainha e salvando o Portador. Afinal, Zozolum não confia em você e pediu um favor para nós. Como deve ser triste… a única pessoa que lhe acolheu busca ajuda dos que lhe rejeitaram.

— Já chega. Calem-se — gritei, irritado. Ainda que estivesse fraco, ainda conseguia emitir minha presença com força o suficiente para acalmar os ânimos desses dois. — Temos… uma missão… — Para minha infelicidade, comecei a tossir sangue.

O Estigmado me olhou com preocupação e disse algo que eu não registrei. Merda… não durma. Se dormir, vai morrer…

Puxei a espada e cortei a palma de minha mão. A dor me acordou um pouco, mas a minha imagem provavelmente foi arruinada. Ainda mais com a forma como minha respiração estava descompassada.

— Você… Youko, certo? Consegue controlar a nevasca? Se sim, vamos continuar a busca.

Um olhar de espanto cruzou sua cara em segundos. Ela apenas acenou com a cabeça e me ajudou a levantar. Saímos da caverna e me foquei em regenerar meus órgãos internos.

Como esperava, a bruxa conseguiu controlar os flocos de neve. Shiki me apoiou enquanto andávamos. Isso era o mais lógico… com essa tempestade, a chance de encontrarmos um Nor era baixa e, sem dúvida, poderíamos trabalhar com o dobro de eficiência.

Conforme me curava, notei o quão feia foi a luta. Não era apenas alguns órgãos vitais danificados. Meu pulmão esquerdo estava quase todo destruído e, por muito pouco, meu coração não foi junto.

Devido ao uso de energia para a minha habilidade, a recuperação era lenta.

Acho que, nesse momento, até um bêbado ganharia contra mim.

— Ei, Edwars… Sei que estarei sendo meio indelicado, mas não é melhor você estar consumindo um pouco de sangue? Quer dizer, sua espécie estará melhorando assim que bebe um pouco, né?

— Sim… eu receberia uma quantidade de energia inimaginável se consumisse o sangue de algum de vocês — Hesitei em continuar. Como será que explico isso sem trazer mais problemas? — Mas eu decidi que nunca mais beberia uma gota de sangue em minha vida.

Shiki ficou pensativo e Youko parou de repente. Virou-se e olhou nos meus olhos.

— Tolice! Tendo um recurso, use-o. Disseram-me que o Ceifeiro de Juvicent era tão racional quanto forte. Estava ansiosa para conhecer-te, mas está me desapontando.

Olhei fundo nos olhos dela e sai do apoio de Shiki.

Normalmente aquilo não me irritaria. Eu conseguiria manter a cabeça fria e seguir em frente… mas a exaustão e dor eram grandes demais. Caminhei até ela, deixando minha energia fluir para fora.

Miia certa vez descreveu a sensação de estar perto de mim. Nas suas próprias palavras, era como se houvesse várias lâminas diretamente apontadas para a pessoa. Naquele dia, eu estava incomodado.

Havia algo nessa mulher, algo que não sabia explicar.

Apenas sabia que olhar para ela despertava o meu pior lado.

Olhou-me com medo e deu um passo para trás. Num instante, eu reapareci perto dela e segurei o braço firmemente, expondo o pulso.

— Tens medo? Você está se contradizendo, sabia? Afinal, se tem um recurso, devemos usar ele, não é?

Aproximei aquela parte da minha boca e minhas presas, a muito dormentes, vieram a tona.

O cheiro de sangue fazia minha garganta se contrair e meus lábios secarem. O som do coração só intensificava a sede.

Os meus instintos tomaram conta e eu nem conseguia pensar… estava hipnotizado pelo desejo insaciável.

— Edwars! — Um punho impactou contra o meu rosto, despertou-me de volta e eu fiquei em choque.

Eu estava…

Olhei direto nos olhos de Shiki e vi nele não a raiva ou decepção, mas sim algo cheio de empatia e… dor.

Ele era mais gentil do que diziam.

Naquele momento, apenas uma palavra me vinha a mente. Algo que expressasse o sentimento que surgiu no meu peito.

— Obrigado…

— Disponha — disse, puxando um cigarro. Após o acender, ofereceu-me a mão e me puxou de volta. —Não sei o o que estava acontecendo para decidir não beber sangue, mas… sei que você estaria se sentindo culpado por fazer isto.

Sorri e tentei andar, mas logo perdi o equilíbrio. Ainda não estava forte o suficiente…

A bruxa me olhou com choque e raiva, então se virou e começou a andar com passos irritados.

Bem, pelo menos eu não preciso mais ouvir a voz irritante dela.


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