Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 20: O caminho para a Montanha Nevoenta, parte 3

Foi com grande dificuldade que eu ergui os escombros que me soterravam. O cheiro de fuligem atacou meu nariz e me fez tossir. Sério, esse idiota deve ter algum problema.

Olhei para a destruição ao redor e engoli em seco. O fogo já havia se sufocado mas o rastro que o Canhão Astral de Lewnard Hollick lançou ainda estava lá. Era possível ver uma enorme cratera no lugar onde o ataque impactou, com diversas cinzas espalhadas no local.

Cheguei mais perto e notei a forma que algumas delas tomavam. Meu coração disparou quando percebi que eram os corpos dos Nors que foram pegos no núcleo da explosão.

Se eu estivesse um pouco mais perto…

Balancei minha cabeça enquanto me livrava de pensamentos mórbidos. Meu pai não me mandaria para um lugar em que houvesse algum risco a minha vida, afinal, ele é um Xamã poderoso o suficiente para prever o futuro.

Claro, ele não era onisciente. Ninguém realmente é. Ele viu um futuro em que Lewnard Hollick causaria grande mudança no mundo, mas não era possível prever que mudança ele traria.

Foi com esse intuito que ele mandou eu, sua amada filha, ir sondar o idiota. E eu tenho que admitir, minha primeira impressão não foi das melhores!

Os escombros continuavam até onde meus olhos não alcançavam mais, contudo, desconfiava que o ataque provavelmente havia alcançado além do vigésimo distrito.

Acho que ouvi sobre uma tecnologia recente que os Normais fizeram que deixava um resultado igual ao que eu vi aqui… qual era mesmo?

Lembrei! Bomba nuclear!

Bem, não vou ganhar nada me escondendo aqui. Normalmente, seguiria uma trilha deixada pelo idiota mas, devido a destruição ao redor, duvido que ele tenha deixado algum rastro.

Com isso em mente, segui para a casa de meu pai. Afinal, ele sabia que o Portador de Davi viria até ele, só não sabia se seria uma ameaça. Acho que esse é o motivo real dele ter me mandado.

Para ter certeza, só por via das dúvidas, que nenhum mal chegaria nele… Bem, é o meu pai, então eu devo ao menos isso a ele, eu acho.

 

A trilha por Lewnard continuava a ficar mais fraca, ao menos era o que meu companheiro dizia. Edwars era um capitão da polícia e um aprendiz de político e, por isso, duvidava que ele fazia isso por bondade.

Ainda que eu não pudesse provar, a suspeita de que ele tinha um motivo próprio para ajudar não deixava minha mente.

— Quanto tempo está faltando?

— Cale-se… — disse com a maior naturalidade. Sério, que tipo de homem era, sempre calmo e frio… parecia muito com minha irmã e o resto dos Weissbreak, algo irritante. — Algo aconteceu num distrito inferior… — Senti um ar de surpresa vindo dele e então o mesmo começou a correr. — Aquele idiota…

Sem querer ficar para trás, pus-me a correr ao lado dele, usando da Energia Astral para me ajudar. Notei, com certa relutância, que mesmo que usasse todo meu poder, ainda ficava atrás do Dhampir. — O está acontecendo?

— Eu subestimei a burrice do Portador de Davi… — A voz dele saiu num rosnado, claramente mostrando a raiva que sentia naquele momento. — Que tipo de imbecil dispara um Canhão Astral no meio de uma área populada?

— Ele fez o que? — Arregalei os olhos em preocupação. Para algo o forçar a usar o Canhão Astral… que tipo de monstro ele enfrentou? Será que foi algo como aquele Ogro? Não… ele está mais forte. Zozolum o treinou pessoalmente… Que tipo de problema se meteu dessa vez, Lew?

Ao chegarmos no vigésimo terceiro distrito, vi a catástrofe que a Energia causou. Toquei num dos destroços, um prédio que teve todos os andares acima do primeiro varridos por completo.

— O que está olhando aí?

— Cinzas… cinzas de um Wendigo — disse com certa irritação. — Para um Portador ser forçado a atacar com tanta força assim um monstro de nível tão baixo… que vergonha.

Estreitei os olhos e segurei a resposta que quis dar. Não tinha motivos para eu começar uma briga com alguém que está me ajudando, e também seria uma perda de tempo completa.

— Vamos… Ele não pode ter ido muito longe.

Sim, ainda que não gostasse de admitir, estava preocupado. Lewnard era como um irmão mais novo para mim… mais do que meus próprios foram. Olhei para minha mão direita e a apertei fortemente, um traço de chamas azuis escaparam dali.

Ainda que carregasse o mesmo nome, os Weissbreak nunca foram uma família… Uma família são pessoas que te aceitam não importa quem você seja, e que sacrificam o que for necessário para ajudar uns aos outros.

Como pode um clã cuja filosofia é fria como o gelo que usam ser chamada de “família”. Não, eu me recuso a aceitar. Minha família é composta por Lew, Reide e Zozolum, independente do que qualquer outro diga.

Por essa crença, afastei-me da minha família e ganhei um outro sobrenome na alta sociedade dos bruxos… Shiki Verflucht, o Estigmado.

Sacudi minha cabeça. Não devo pensar nisso… foco. Foco e apenas foco no objetivo. Esfriei meus sentimentos ardentes enquanto olhava para frente, para as costas de Edwars.

 

Acordei com um choque de gelo se chocando contra meu rosto. Confuso como um animal enjaulado, olhei para frente e então para os lados enquanto sentia algo restringir meus braços contra minhas costas.

Eu estava numa cela com um Nor, um Carniceiro, na minha frente. Pelo que eu pude ver, não era o único ali. Havia outros como eu, humanos que pareciam aterrorizados demais para fazer um único som.

Era mal iluminada, com apenas algumas tochas para as espécies sem visão noturna.

Olhei para frente e reparei no sorriso predatório do monstro. Droga… minha conexão ainda não voltou por completo? Além disso, não conseguia sentir meu Diário.

— Só um pedacinho… tenho certeza que ela não vai se importar se ele tiver um braço a menos… vamos, eu sei que você também quer, Lumis… Ninguém precisa ficar sabendo.

O medo consumiu meu coração e eu tentei de todas as maneiras me libertar. Conseguia sentir minha conexão responder, ainda que letárgica demais para fazer alguma diferença.

— Eu saberia. — A voz fria de Lumis soou do lado de fora, olhando para o Carniceiro com irritação. — Agora, saia. Está assustando os ingredientes… tenho certeza que a Rainha não deseja que a carne esteja dura.

Ingredientes? Esse lugar é um matadouro? Engoli em seco ao ver o quão apavoradas, contudo resignados, essas pessoas estavam. Não era tão diferente de como uma ovelha deve se sentir, eu acho.

Tentei me soltar das amarras que me prendiam, mas aquele material parecia resistente demais. Não só isso, mas algo cortava a circulação de Energia Astral dentro de mim. Ainda que meu corpo estivesse melhor, não acho que esteja 100%… sem dúvidas não conseguiria vencer os dois a minha frente…

— Nem tente… — Lumis advertiu, vendo o que eu fazia. — Esse metal é chamado de Aztrium e impede a circulação de Energia Astral… foi preparado exclusivamente para você.

Não… eu vou morrer aqui? Vou ser devorado? Não… não aceito isso! Não vou deixar! Tenho que chegar no xamã! Tentei usar minha frágil conexão e, assim que o fiz, senti o metal esquentar ao ponto de marcar meus pulsos.

Não, não apenas meus pulsos. Ainda que não conseguisse entender, era como se todos os meus músculos se contraíssem e o meu sangue fervesse. Gritei de dor.

— Quanto mais Energia você usa, mais quente elas ficam. Além disso, também absorvem a energia usada e usam contra você. Aceite, acabou.

Conforme escutava o chiado do metal e sentia o cheiro metálico do vapor liberado, eu permiti que mais poder circulasse e gritei uma vez mais.

Um suspiro e meu escalpo foi puxado para cima. Olhei fundo nos olhos amarelos de Lumis enquanto o calor continuava a queimar meus pulsos.

— Você tem muita sorte, sabia? Por alguma razão, a Rainha deseja que continue vivo. Ela quer te conhecer… e prefere que você esteja em perfeitas condições… Por isso, peço que tente não perder os pulsos antes disso…

Antes que ele pudesse me soltar, tomei impulso e choquei minha testa contra o nariz dele. O Lobisomem tomou um susto e me soltou. Cai de cara no chão, mas sorri satisfeito com o som de sangue sendo cuspido.

— Quando eu sair daqui, eu vou te matar — disse, olhando para cima. Ele parecia puto mas logo se acalmou. Com um pisão, ele afundou minha cabeça no chão, forçando-me a inconsciência.

O último pensamento que tive tinha relação com as algemas… mas foi tão breve que não consegui entender o que era a tempo de dormir.


Esse capítulo tá um pouco menor... peço desculpas por isso, mas está tudo uma bagunça aqui. Vou tentar continuar as postagens, mas tô com uns problemas pessoais para resolver e não posso garantir que eles saíram.

 

Do mais, peço que entrem no meu server do Discord. Lá, podem interagir e falar comigo: https://discord.gg/2xmgwxJC



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