Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 12: O Licantropo, parte 3

Gritei de dor ao sentir a garra de Lumis perfurando meu peito. — Então, ainda tem Energia o suficiente para formar uma barreira… — Ouvi ele dizer ao longe aquelas palavras… claro, eu tinha formado uma barreira instintivamente. Quase que eu não percebi.

Senti mais dor ainda e vi que ele fazia força contra a carne. Sem pensar duas vezes eu segurei o braço dele e fiz tentei o empurrar…

— Tolo… como pode comparar nossas forças? Não percebe que eu sou mais forte que você? — Enquanto falava aquelas palavras ele abria mais e mais a boca. Dentro dela havia um focinho, que lentamente começara a sair de dentro.

Ele planeja me devorar? É isso mesmo? Senti mais uma vez as dúvidas e medos de Grace e percebi algo com aquilo… Eu… eu não queria morrer.

Queria viver para ver minha irmã fora deste mundo sombrio. Queria casar, ter filhos e ver o legado de minha família continuar pelas mãos deles.

Eu quero vencer!

Empurrei o queixo dele para cima e permiti que a Energia do Diário me ajudasse naquela situação.

Minha conexão voltou mais forte do que nunca, a explosão de poder empurrou o Licantropo para longe e me permitiu levantar. Com um comando mental, o Diário saiu da parte debaixo do colete em que o guardava e flutuou ao meu lado.

Um brilho ametista iluminou meu rosto.

É mesmo… a conexão que um Portador tem com o Plano Astral é fortalecida conforme o Diário e ele aumentam a sincronia. Será que aquele cara…

Tá aí uma pergunta que não vai ser respondida.

Avancei contra ele enquanto sentia meus machucados se recuperarem. Quando estava a alguns metros de distância, Lumis voltou a si e tomou distância. Em seguida, bloqueei um chute com os braços, a força foi tamanha que me mandou voando contra as escadas.

Pulei para trás e tomei mais distância. — Está querendo levar a luta para fora daqui, Portador? — comentou enquanto sorria. — Perfeito!

Uma mão forçou meu corpo para o luar. Olhei para baixo e virei o eixo do meu corpo… bem, não adiantaria chorar pelo leite derramado. Coloquei o máximo de energia circulando pelos meus braços e bloqueei um chute na altura da cabeça.

O ataque foi tão forte que meu corpo rachou o chão com o impacto e afundou mais um pouco. Tive de fazer força para sair dali e quase não consegui desviar de um pisão dele.

Ao me levantar, já enviei um soco contra Lumis, que esquivou e tentou perfurar meu peito de novo. Dobrei meus joelhos e, com um cruzado, enfim acertei um golpe nele.

A respiração descompassada era prova do quão cansado e machucado meu corpo estava. Meu oponente, no entanto, não parecia sofrer tanto quanto eu. Claro, os ataques que acertei surtiram efeito, mas Lumis estava acostumado com a dor.

Claro que estava. Eu vi nas memórias dele exatamente que tipo de vida ele levou até então, os tipos de treino que ele fez. Esse cara era forte, eu tinha que admitir, por mais que o fato me desse vontade de vomitar sempre que lembrava.

Bem, não importa.

Tenho que vencer de qualquer forma.

Com esse pensamento eu pressionei mais meu oponente. Não deixei ele ter chance de me atacar e continuei botando 100% de esforço em cada golpe. Os ataques eram rápidos e cada acerto me trazia mais perto da vitória… mesmo assim, ela ainda parecia distante…

Meu oponente pareceu se adaptar ao ritmo e desviou dos meus golpes um por vez. Cacete…

— Eu lhe avisei… — ouvi o espectro começar e gritei um calado. Infelizmente ele não me obedeceu, algo esperado. — Você é fraco demais. Agora vamos perder o Diário de Davi, tudo porque você não conseguiu sacrificar algo.

Senti um chute no meu peito e fui arremessado para longe, a raiva nublou a dor e consegui em levantar e seguir na luta.

— Você se recusa a sacrificar algo e por este motivo é fraco. Aqueles incapazes de sacrifício são mortos sem poder mudar nada, nem o presente, nem o futuro. — Meu corpo era acertado de todos os lados e senti vários ossos e músculos serem destroçados pelo ataque. — Você não sacrifica nada e tenta manter tudo e, como resultado, perderá tudo no final. Essa é uma lei a qual ninguém consegue fugir.

— Já falei pra ficar quieto!

— Com quem está gritando? — Um soco atingiu meu peito, na região perfurada. Sangue jorrou e perdi o controle da minha conexão. Em seguida, fui lançado contra uma lápide.

A dor percorreu meu corpo…

Quero descansar… quero dormir… estou com sede…

Todas essas necessidades passaram em minha mente enquanto via a vida passando pelos meus olhos.

Minha infância de merda… claro que eu revisitaria essa porra agora. Meus pais sempre tão frios comigo, minha mãe submissa e fraca e meu pai apático e obcecado.

Eu treinei tanto com os métodos deles e nunca deu resultado… por que era assim?

Ah… sim, é mesmo. Tinha um conselho no clã… eles sempre foram obcecados pelos métodos antigos de treino. Métodos que valorizavam mais a eficiência e controle e que eram feitos especialmente para os Hollick.

A séculos que os Hollick não veem alguém com uma conexão poderosa como a minha. Como resultado, o nosso método de treino focava em maximizar a técnica e usar a Energia do oponente contra ele, absorvendo-a e redirecionando os excessos de volta para o adversário.

Portanto, os métodos de treino incluíam fortalecimento do espírito, teoria avançada aplicada e, acima de tudo, as “Quatro Armaduras”: Vetor, Absorção, Redução e Redirecionamento.

Esses eram os passos necessários da técnica Hollick, e eu nunca consegui passar do segundo passo.

Claro que não conseguiria. Meu poder é vasto demais para meu corpo conseguir direcioná-lo eficientemente… tentar colocar mais num receptáculo cheio é impossível.

Esse tradicionalismo fez com que eu sempre fosse o mais fraco de todos ali, por mais que meu potencial fosse claro. Grace tinha mais talento que eu mas, por conta de um contrato de minha mãe com meu pai, ela não podia treinar.

Óbvio que os cabeças do clã nos veriam como um estorvo… e foi por isso que nos mandaram para aquele orfanato, como se fossem crianças que queriam esconder uma travessura da mãe.

A vergonha da minha família…

Que merda.

Meu oponente se aproximou lentamente de mim. Cada passo trazia mais a sensação de desespero a tona. Não… não quero morrer aqui. Não posso deixar que acabe assim…

Num último ato de rebeldia contra o destino, numa escolha que poderia mudar a minha situação, eu apontei meu braço para o Licantropo, que continuava se aproximando com zero de cautela.

Que assim seja.

Relaxei meus músculos num gesto semelhante a aceitação e deixei a imensa Energia da minha conexão circular ao meu redor.

Havia um motivo para eu precisar relaxar todo meu corpo para executar algo tão simples quanto liberar todo o poder numa única explosão.

Anos treinando numa forma errônea acabaram atrofiando os poros que liberavam a Energia Astral do meu corpo.

Se você insistir demais em bater a cabeça contra a parede, vai acabar com uma enxaqueca.

Dessa forma, meu corpo não conseguia liberar poder de uma forma natural, talvez nunca consiga… mas eu não saberia se desistisse aqui.

Conforme o brilho ametista aumentava, o Licantropo notou que havia algo errado e correu em minha direção, pronto para rasgar meu pescoço se necessário.

Não me importei.

Quando ele estava bem perto, eu permiti que todo o brilho de uma estrela formasse uma pequena esfera, que disparou contra o corpo dele.

É possível que este tenha sido um movimento desesperado… mas foi a única coisa que eu consegui pensar para me tirar daquilo.

A explosão me mandou para longe e varreu todas as lápides dali. Olhei com desgosto para meu braço direito, que estava completamente destruído. A dor de quase perder um membro me acordou e eu olhei para a cortina de fumaça e fogo a minha frente.

Sem chances dele sobreviver a isso…

Suspirei e permiti que meu corpo relaxasse. Grace estava ainda no mausoléu, então o calor da explosão não a mataria…

Passos foram ouvidos.

Bem, acho que devia esperar que ela não conseguiria ficar ali para sempre.

Gotas de sangue pingaram conforme a passada se aproximava… uma respiração diferente estava próxima, uma cheia de raiva e dor…

Ah merda!

O Licantropo saiu da fumaça, seu corpo humano totalmente destruído, com algumas partes contendo um exoesqueleto rachado, prova do quão danificado ele estava. O sangue vermelho se misturava com o cheiro de carne queimada…

— Seu… desgraçado! — Ele avançou contra mim e eu fechei os olhos, pronto para aceitar a morte. Senti algo espirrar no meu rosto e, receosos, olhei.

Grace… ela… estava sangrando. Um corte profundo no ombro e o rosto pálido numa expressão de dor.

Sirenes foram ouvidas e o Licantropo desviou de diversos tiros.

— Merda… a Polícia Secreta.

O corpo de minha irmã pendeu para frente e eu usei tudo o que tinha para a segurar enquanto tentava estancar o sangramento.

Mais sons de tiro e o meu oponente deixou o local, perseguido pelos policiais.

Mas que caralho…

Perdi a consciência.


Bem, com isso fechamos o primeiro arco. Sinto informar, mas terei que entrar num breve híato com essa história. Acho que duas a três semanas é o suficiente. Tô com muita coisa pra fazer e preciso agendar os capítulos. 

 

Se vocês quiserem mais da minha escrita enquanto isso, deem uma olhada na minha outra novel: A Lenda do Destruidor. 



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