Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 143: Garrafa

Sábado chegou.

Era manhã e uma missão apitou. Alissa enviou Samanta, Thales e Arthur para resolvê-la. R. São Pedro, Diadema. Chegaram por voltas das 8h, a polícia cercava um hotel do Condomínio Diadema Park, enquanto protegiam a evacuação dos outros ao lado.

A ordem de Louis foi clara: "Não abram a porta do prédio infestado. Ninguém entra e ninguém sai, até os exterminadores chegarem. Se possível, bloqueie e foquem totalmente na segurança das pessoas dos prédios ao lado da área em questão".

A denúncia veio de um policial hospedado dentro do hotel. Sua mulher havia ido tomar café, mas voltou gritando pelo marido, havia sido ferida por algo... Não deu tempo, o machucado se espalhou por todo o corpo de imediato, e virou... algo não humano.

O homem conseguiu prendê-la no banheiro, evitando ao máximo ser mordido. Com medo, abriu a porta para ir atrás de ajuda, mas haviam outros como sua mulher nos corredores. Voltou e se trancou, nisso, ligou para seus amigos e depois para a ADEDA.

Classificada provisoriamente como Massacre 3, o trio do terceiro esquadrão nem sabiam o que iriam enfrentar dentro daquele lugar. 

Olharam-se rapidamente, a fachada era linda. Uma escada que subia torta do lado de dois jardins cheios de árvores e coqueiros. Prédios em tijolinhos de barro nas extremidades e branco no meio.

Foram ao trabalho.

Os policiais encarregados de segurarem a porta, cagavam de medo do vidro romper. Humanos... não mais humanos batiam suas mãos, olhando os vivos, querendo consumi-los. Zumbis? Pele com falhas, carne e ossos expostos. O único ser que tinham a informação de estar vivo era o policial no décimo segundo andar.

— Com licença — pediu Thales.

Os policiais saíram da porta, correndo após afirmarem com a cabeça e os exterminadores entraram. Tuc! Tinham três zumbis na porta de entrada, Thales deu um peteleco na cabeça de cada um e caíram no chão, sem vida². Eram muito fracos. Não eram classificação Massacre, eram Errantes.

— Vou subir e evacuar o policial, matem tudo que verem — ordenou Samanta.

Thales e Arthur concordaram e voltaram ao trabalho. Os corredores e escadas não estavam com tantos seres, Samanta nem mesmo usava sua espada. Era um ambiente apertado, manipulava uma "espada fantasma" de vento, uma lâmina de ar criada no ar, oscilando e cortando tudo que a jovem queria. Subia com tranquilidade, guiando sua lâmina que dividia tudo ao meio com perfeição.


Crash!

Thales e Arthur limpavam andar por andar. Um com cada lado e suas portas distintas. Arthur arrombou uma porta do segundo andar, enquanto Thales entrava em uma porta entreaberta do seu lado. Lá... encontrou a verdadeira anomalia. Quem fez o pacto... morreu e falhou, na entrada do hotel.

Thales adentrou procurando por anomalias, mas não encontrou nada... Entretanto, viu algo estranho. Diferente. Talvez exótico. Dentro de uma garrafinha de vidro, havia a figura de um Diabinho Vermelho. Não havia registro no sistema da ADEDA, mas já haviam sido "encontrados" anteriormente.

No estado da Paraíba, havia uma lenda sobre o Diabinho. Mas mudava de boca em boca, assim como o nome, que era chamado de: Cramulhão, Famaliá, Capeta da Garrafa ou Diabinho. Essa lenda contava sobre um pacto: sua alma por na maioria das vezes... riqueza ou... poder.

Quem quisesse tal pacto, precisava encontrar o ovo fecundado pelo diabo. Durante o período da quaresma, procuraria uma galinha — ou muitas vezes um galo — que botasse um ovinho de codorna estranho. Após encontrá-lo, na primeira sexta-feira seguinte, precisaria ir até uma encruzilhada, às meia-noite em ponto, com o ovo debaixo do braço esquerdo.

Quando o relógio marcasse 00:01, era a hora de ir embora, voltar para casa, se deitar e dormir. Aproximadamente 40 dias depois, o ovo seria chocado, e dele, o Diabinho nasceria. Com a posse do ser, a pessoa deveria colocá-lo em uma garrafa de vidro e aprisioná-lo muito bem, selando-a com uma rolha ou algo difícil de abrir. O vidro permitia que com as vibrações do ser falando, o humano pudesse entender na própria língua, assim podendo realizar o pacto.

Não era apenas um Diabinho... eram três. Três cores diferentes, com três pactos diferentes.

O azul realizava o que o humano quisesse... caso vencesse a si mesmo. Um clone zumbi era criado do humano, e o próprio Diabinho o controlava, tendo mais força e resistência que o humano em questão, mas esse era o jogo. Um precisava matar o outro, se o humano conseguisse se matar, venceria e teria o desejo realizado.

Mas não era tão simples, e havia uma pegadinha. Se não estivesse sozinho... Se por ventura, estivesse em um prédio, ou com pessoas em um raio de 100 metros, as outras pessoas também receberiam uma cópia, e para o humano ganhar o desejo, todas as pessoas teriam que vencer seus clones sem ajuda externa, e caso um falhasse ou alguém quebrasse essa regra, o humano que chamou o pacto morreria e sua alma seria do Diabinho imediatamente.

Uma ocorrência aconteceu na Paraíba devido ao azul. Mirlim era a responsável pelo nordeste, mas como não precisava — além da preguiça — de ir até algum lugar para resolver algo bobo como matar, mandava Bill e Will para realizar os extermínios.

Um homem havia feito o pacto. Seu desejo não era individual, era para toda a sua família reunida naquele momento. Queria água e comida infinita. Não queriam mais sentir fome ou sede... O desafio então se iniciou. Todos receberam um clone, e ninguém venceu.

Bill e Will chegaram momentos depois que uma denúncia foi feita: barulho de gritos vindo de uma casa isolada no meio do mato. Sabiam que os agentes chegavam mais rápido que a polícia naquele lugar, então fizeram de tudo para comunicar-se com Mirlim.

Os agentes eliminaram os clones com muita facilidade. Os corpos falsos sumiram como se não existissem. Já os humanos, continuavam no chão, abertos brutalmente pelas próprias mãos. O Diabinho conseguiu todas as almas. O pacto não foi individual, se fartou muito naquela fatídica tarde.

Bill encontrou a garrafa de vidro com o azul dentro. Aquela coisa virou-se e ficou balançando a bunda em provocação, rindo como um humano estranho, no corpo de um ser diabólico. Shk não deu chance ao erro. Eliminou a ameaça e o corpo daquilo sumiu... não restou nada, o que queria já havia sido feito, voltou às sombras e esperaria o próximo otário que iria querer um pacto por algo.

O vermelho era mais direto ao ponto... assim como os outros, no momento que você tocasse no ovo, teria que finalizar o pacto. Só não sabia o que precisaria fazer para ter o desejo realizado, e no caso do vermelho, transformava o humano em questão em um zumbi. Seu objetivo era transformar outros 1000 humanos em zumbis. Esse era o preço... e só existia dois destinos óbvios: não conseguir e perder sua alma, ou ser eliminado antes de conseguir, e também perder sua alma.

Eram brincalhões, queriam o caos, era difícil quererem realizar de fato o desejo de alguém. Tinha que ser algo muito bom. Algo que os faria se divertir mais do que simplesmente possuir mais uma alma... Porém, isso era o que o amarelo gostava de fazer... não os outros dois.

O amarelo era o "melhor". O humano ao menos podia desfrutar do que queria. Seu pacto era simples, só era chocado por jovens. Em troca do desejo, o humano só viveria até os 30 anos. Um contrato simples. Você "teria" o que queria imediatamente, mas morreria às 00h quando completasse seus 30 anos.

Não havia como correr.

Desejos... O que poderia ser um desejo?

Muitos pediam um poder forte e único para se tornarem um exterminador poderoso. Era moda, todos os jovens queriam ser exterminadores e os que não possuíam poder, poderiam se desesperar e ir por caminhos mais estreitos para conseguir um, mesmo que custasse algo muito caro.

Só que aí... entrava a pegadinha do brincalhão... O bullying.

Caso o humano não soubesse exatamente o que queria, e deixasse o mais claro possível no "contrato" o que queria e como funcionaria cada coisinha, o Diabinho se divertia com sua desgraça. Pediu um poder único e não falou o que queria?... Puff Receba. Sempre que espirrar, irá atirar projéteis de 5,56 mm das narinas desse nariz imenso.

Uhh...? Olha essas orelhas. Seu poder será crescer e bater as orelhas como asas para conseguir voar mais rápido que a luz. Aaahh...? Um vesguinho...? Sempre que os dois olhos não estiverem olhando para o mesmo ponto, irá disparar pelos olhos um laser capaz de derreter aço. Procure um tapa-olho, seu caolho.

Eram poucos os casos em que não brincava com o humano. O humano em questão deveria conseguir despertar a curiosidade do Diabinho para querer ver até onde aquele humano chegaria com o que queria. Já que ao realizar o contrato, entraria no corpo do humano e viveria dentro dele, assistindo-o passar os últimos anos de sua vida como "queria".

Desejos... Tudo. Tudo... Realmente dava tempo de fazer tudo?

A maioria ficava apressado. Não querendo perder tempo. Querendo fazer tudo na hora e não se importando com o próximo. Queria viver, aproveitar o que conseguiu no tempo que tinha.

O pacto não lhe concedia imortalidade até chegar nos 30 anos. Caso morresse antes o problema era inteiramente do imbecil em questão. Devido à vida apressada, o imediatismo, grande parte morria de overdose, colapso, ou por se achar muito forte com a magia que recebeu, decidindo ir peitar uma Calamidade que surgiu, para conseguir ser promovido, entrar em um esquadrão oficial e ganhar o S, além da recompensa pelo extermínio... Se achavam grandes demais com algo que nem os pertencia de verdade.

Porém, embora os jovens pedissem muito por poder, havia outros que pediam coisas diferentes que não era "quero dinheiro, quero dinheiro"... Bem, não diretamente. Imagine um escritor que pediu: "Quero que tudo que eu escrever seja apreciado por todas as pessoas do mundo. Quero que todos adorem os meus livros e o espalhem até que o mundo inteiro me conheça". Um pedido direto no que queria.

Concedido.

Começou a escrever e o desejo começou a fazer efeito. Uma pessoa leu, adorou, mandou para outro. O outro leu, adorou e mandou para outro. Dias depois, o mundo inteiro sabia quem era ele. Dias depois, já se encontrava em sua mansão, cercado por mulheres belas em sua enorme cama cara.

Tudo que escrevia era ouro. Vendia. Todos compravam e sua riqueza era basicamente infinita... mas, até onde a ambição humana poderia ir? Não precisava fazer mais nada, só aproveitar seus últimos anos de vida. Mas o vício já havia nascido dentro de si, junto do medo do último dia.

O medo dos segundos, minutos, horas e dias se passando. Vícios... Não somente o de escrever de forma compulsiva. Afinal, se escrevesse um livro de apenas uma página escrito: "eu sou racista", todas as pessoas adorariam. Não importava o conteúdo, não era o melhor escritor do mundo, não pediu isso, pediu que o mundo fosse cego por ele, e pessoas cegas por alguém ignoram os defeitos, por piores que fossem.

A necessidade de fazer tudo ao mesmo tempo resultou em uma rotina impossível. Não dormir, transar o máximo que conseguir, escrever o máximo que conseguir e usar o máximo de cocaína para aguentar isso tudo... que conseguir.

Não queria parar. Não queria parar. Não queria parar... mas uma hora, teria que parar. Uma hora... a conta vinha. Pah... caiu em sua sala cheia de coisas caras. O tempo perdido compensou os milhões em móveis desse ambiente?

Caído com espuma na boca, tinha uma overdose sinistra antes mesmo dos 22 anos de idade. Mas... o brincalhão ainda queria se divertir mais um pouco. Diante de si, via o Diabinho — que não era mais pequenininho como lembrava — em pé, olhando-o de forma assustadora, enquanto ria na sua direção. Ria eufórico, começando os preparativos para devorar mais uma alma de um pequeno humano apressado.

— Credo... Decoração feia — murmurou Thales, chegando próximo da anomalia.

Segurou a garrafa, olhando aquela coisa parada mais de perto. Tinha um cheiro estranho... e então aquela coisa piscou. Creck! Thales levou um baita susto, dando um salto para trás após esmagar a garrafa junto com aquela coisa. Olhava na direção, o Diabinho já havia conseguido o que queria e desapareceu. 

Mantinha-se assustado, olhando o vidro estilhaçado no chão.

— Cre...

— Tha...

AH!

Thales levou outro susto e fez uma pose de luta na direção de Arthur que também se assustou, mas se assustou com o susto do companheiro de equipe.

— O que foi?! — perguntou Arthur, olhando-o com os olhos arregalados.

— N-nada não...

— Escutei vidro quebrando, tinha uma anomalia aqui?

— N-não. Só esbarrei numa garrafa.

— Atá... Bora então. São muito andares.

— Sim.

Thales seguiu Arthur e continuaram limpando andar por andar. Ficou com vergonha de falar o que viu. Como iria provar que não estava inventando história se a prova desapareceu? Quem acreditaria que um "boneco" de um Diabinho vermelho estaria dentro de uma garrafa e piscou para ele, antes de sumir?


Samanta chegou no andar que o policial se escondia. Muitos zumbis no corredor. Shk-hk! a lâmina fantasma rasgou um por um enquanto a jovem continuava seguindo na direção do apartamento certo.

Chegou. 

Tentou abrir a porta. Estava trancada. Toc, toc... bateu duas vezes... nada.

"Morreu?"

PAH! POW!

Chutou a porta, arrombando-a. Quando viu o interior do lugar, o policial mirava com uma pistola na sua direção... e atirou em sua cabeça. Samanta inclinou a cabeça para o lado. O tiro passou próximo da sua orelha. Não atingiu, mas seu olhar na direção do homem ficou um tanto irritado.

— Eu bati na porta, por que não falou nada?

— D-d-desculpa... eu tô com medo. Essas coisas estavam batendo na porta — gaguejou quase tremendo.

Pah-Pah... 

Ar-a-a-r-r-r-...

Do lado do homem. Uma porta fechada. O banheiro. A mulher dele continuava lá dentro, batendo na porta, enquanto grunhia um gemido agoniante de sofrimento. Samanta olhou na direção e foi avançando. O homem se colocou de costas na porta, tampando-a com muito pavor.

— Por favor, não mata minha mulher!

— Oi?

— Deve ter um jeito! Por favor, não mata ela! — começou a chorar... mas o Diabinho ainda tinha um brinquedo para brincar.

Crash! Nhac!

Fez o zumbi receber uma sobreforça. Quebrou a porta com os braços abraçando o homem, e a cabeça quebrou outro ponto, vindo com uma mordida em seu pescoço... Conseguiu se desvencilhar. Samanta não fez nada além de observar.

O zumbi saiu do banheiro. A exterminadora colocou a mão no cabo da espada.

— NÃO! POR FAVOR, N...!

O homem ainda tentou implorar... mas o machucado corroeu todo o sistema, fazendo-o se transformar. Shk! Samanta efetuou um corte tão rápido que mal parecia que sua espada havia saído da bainha. Não havia medo ou arrependimento em seu rosto. Virou-se.

Missão encerrada.

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