Volume 1 – Arco 2
Capítulo 140: Chifrinhos
O relógio marcava 21:46. Nina não tinha mais desculpas para enrolar e ir para casa. Diante da porta do apartamento, parou. Ainda sentia um receio absurdo de contar a verdade, mas não tinha como não enfrentar esse medo de frente, mais. Ergueu o rosto, respirou fundo e entrou.
Nino comia um macarrão ao molho branco que fizera de jantar, sentado no sofá assistindo à televisão. Aguardava pela irmã — não era a vez de Nina ter uma saidinha, mas Nino relevou a demora para voltar para casa, acreditando que Nina poderia ter entendido que, quando ele mesmo saiu noite passada, tivesse usado o passe para ir eliminar alguns insetos por aí.
— Nunca imaginei que iria me elogiar assim. Ainda mais na televisão. "Meu irmão é muito forte", "não deve ter se machucado enquanto eliminava essa ameaça". Palavras bonitas, viu, seu cocô — provocou, sem olhá-la.
Nina chegava ao sofá, indo se sentar ao lado do irmão.
— Achou que eu ia falar o quê?
— "Eu sou mais forte que ele".
— Isso combina mais com você.
Nino olhou-a por um momentinho e desviou seu semblante normal de volta à TV.
— Realmente.
Nina sentiu-se desconfortável quando ele a olhou. Tentava manter a naturalidade e uma conversa comum, mas era difícil, com todo pensamento referente a contar a verdade aumentando uma ansiedade que também aumentava seus batimentos cardíacos, controlados para manter-se fria.
— Tá com fome? Fiz agora, é só pegar em cima do fogão — comentou, enrolando o macarrão com um garfo e levando à boca.
— Tô sem fome — hesitou, observando-o comer enquanto assistia ao programa. — E a anomalia lá? Ela era forte?
— Pra você, talvez — provocou, com um sorrisinho, erguendo mais uma garfada.
— Você começou a gostar da Nathaly? — perguntou de repente, sentindo um nó na garganta. "Direta demais!"
— Cof-Cuf! — Nino engasgou com a comida e tossiu, surpreso com a pergunta direta. — Já conversamos sobre isso antes. O que eu sinto por ela, sinto por você, Alissa e Thales. Não sei como é sentir atração por alguém, mas eu definitivamente não sinto nada por ela além disso. Não sei o que ela queria ontem, só sei que fiquei muito puto com aquele tapa — respondeu "sinceramente", enquanto Nina tentava esconder sua ansiedade. Puxou o copo com refrigerante de limão da mesinha de vidro e deu um gole.
— Pirocas confusas magoam bucetas incríveis, hein? — brincou Nina.
— Pffft!
Nino cuspiu o refrigerante.
— Que merda cê tá falando? — perguntou, com uma expressão confusa.
— Nada não...
— Cansei. Abre essa boca logo. O que você tá escondendo? Tenho cara de otário?
— Tem — respondeu bem direta... Nino aborreceu o olhar.
— Para de graça.
Nina desviou o olhar.
— ...Você promete que não vai sentir ódio de mim?
Nino assumiu um semblante estranho, confuso.
— Por que eu sentiria ódio de você?
— Nino...
Thum-Thum-Thum...
— Hãm?
Nina fechou os olhos e confessou:
— Eu uso há anos sua voz e aparência para ficar com a Nathaly escondido...
— O... O quê? Quê? — Nino assumiu um semblante irado, raivoso.
— Desculpa.
— ...
— Desculpa, por favor.
— Você vai contar pra ela.
— Mas eu não posso...
— E por que não?
— Nino... Eu amo muito ela, mas ela ama você. E se ela ficar brava comigo? E se ela se afastar? E s...
— Um dia você vai ter que contar.
— Por favor.
Nina fez um rosto fofo e triste, tentando apelar para o lado sentimental do seu irmão. Nino olhava-a sério, mas desviou o olhar. Notava algo intenso nas palavras dela. Algo estranho, algo que não conhecia, mas sabia que era forte e intenso.
Cedeu:
— Você pode continuar se encontrando com ela, mas se der merda futuramente, nem venha me encher o saco — resmungou sem olhá-la. Thumpf... Nina avançou em um abraço de lado no irmão; Nino ignorou por parte. Rosto entediado. Levou a última garfada de macarrão presente no prato e engoliu, enquanto ela ainda o apertava muito forte.
— Obrigada...
— Eu sabia desde o primeiro dia.
Nina afastou-se, olhando-o colocar o prato na mesinha e olhá-la.
— Quê?
— Nina. Chegamos na escola, eu olho pra você e vejo você dormindo acordada, olhando para Nathaly no canto da sala. Minutos depois, começou essa merda de não querer se misturar. Era óbvio. Tentei algumas vezes. No shopping, por exemplo. Queria que você falasse a verdade logo, mas aguentou ver eu levar a garota de cavalinho.
— Tá falando sério?
Nino olhou para cima, pensando um pouco.
— Não totalmente. Era mais porque eu tava gostando de sentir a pressão da magia da Alissa, mas uma parte era tentar fazer você se misturar e me contar logo o que você queria com a garota. Mas, pelo visto, não confia em mim, né? — fez bico.
Nina aborreceu o olhar.
— Eu já disse que isso não combina com você — resmungou.
Nino avançou colocando o rosto ao lado do dela. Boca próxima do ouvido direito:
— E aí? As duas já fod...
Nina arregalou os olhos de vergonha e lançou um soco instintivo para frente... mas, descuidada pelo embaraço que sentia, deixou de controlar seu sangue para não se misturar com Nino, e como Nino deixava isso livre, o soco da irmã atravessou o rosto, misturando o sangue e compartilhando tudo.
Nino lançou a cabeça para trás. Não sentiu nada além do corpo inteiro fluindo junto novamente pelas metades. Mas sentiu uma pancada de informações de anos que não se misturaram tudo de uma vez: todos os sentimentos, dores, pensamentos e memórias. Mas o que roubou toda a atenção foram as cenas nojentas de ter que assistir sua irmã transando com sua irmã de consideração. O pior: ter que ver e sentir do próprio ponto de vista fazendo sexo com Nathaly.
Balançava a cabeça rapidinho para os lados com nojinho, rosto de quem lambia um limão achando que era laranja.
— Que que isso? Pra que essa lapa de piroca? A garota tem uns 1,50, quer matar ela?
— Você viu que eu cuido do corpo dela. Você é burro? Pergunta idiota! Eu faço com que ela não sinta dor — resmungou, irritada, quase rangendo os dentes. Não foi só Nino que se horrorizou, embora o motivo de Nina fosse diferente. Ficou chocada com o que viu e não perdeu tempo na hora de questioná-lo: — Por que usou a marca pra matar a Calamidade, seu... IDIOTA?! — perguntou, muito estressada por ele ter quebrado a promessa.
— Aaaaaaah! Nem começa! Você é que tá errada aqui! Rrr... Você também usou o sangue, sua hipócrita. E ainda usou a marca para transar...? Sério? Ainda tem essa cara de pau de brigar comigo? — retrucou.
Nina resmungou, cruzou os braços e virou o rosto na direção oposta a ele.
— Hmph! Idiota.
— Seu cu! — Nino se levantou, foi até a cozinha e colocou seu prato na pia. — Vou ir dormir.
— Não vi ninguém te perguntando — resmungou, sem olhá-lo.
— Camarada, eu quero mais é que você se foda — resmungou de volta.
Nina criou uma pena de fogo e a apontou para ele.
— Se você quer explodir o prédio, pode tacar — provocou, esticando os braços para o lado como uma águia abre suas asas. Rosto empinado, esperando sua irmã tomar a decisão que envolvia uma coragem que somente ele teria de arremessar aquilo.
Nina desfez a magia roubada da Fênix, frustrada por ter "responsabilidade", diferente dele.
Nino saiu dando risadinhas irritantes pelo corredor e, antes de entrar no quarto, virou-se e mostrou o dedo do meio, enquanto colocava a língua para fora, provocando-a. Entrou. Nina ficou no sofá, ainda brava por ter que ir dormir na cama ao lado dele.
— O sofá parece mais interessante hoje — murmurou para si mesma.
O dia seguinte chegou. Não foram juntos para a escola. Nino caminhava sozinho pelo corredor, indo com muito receio na direção da escola onde ficava a sala de Alissa. Era quase um filme de terror. A qualquer momento, seu corpo poderia ser puxado por uma força bizarra, levando-o até a assassina de cabelo curto, de cor branca e íris azuis.
Passava ao lado do pátio aberto, perto do refeitório, quando...
— Nino...
...uma voz ressoou baixinha e acanhada.
Ao se virar, viu Nathaly. Ainda sentia raiva da irmã, mas queria vê-la bem.
— Opa... Desculpa pelo que aconteceu aquele dia. Fui um otário — Nino forçou um sorriso, depois do murmúrio "arrependido" e para baixo.
Nathaly desviou o olhar; era difícil e constrangedor encará-lo depois daquilo.
— Desculpa pelo tapa, eu não consegui me controlar. Fiquei muito nervosa — pediu, e abaixou a cabeça, envergonhada.
— Quem deveria pedir desculpas sou eu. Sério. Você não tem culpa de nada. Me perdoa. Não vou mais esconder que estamos juntos — pediu, mesmo com pensamentos contrários, mantendo um sorriso no rosto. "Eu o caralho!"
Uma pequena e solitária lágrima saiu do olho direito da menina e deslizou pelo rosto. Nathaly segurou a gola do sobretudo dele, puxou-o e Mwaah... o beijou. Nino ficou surpreso, os olhos bem abertos. Atrás de Nathaly, a certa distância, Nina observava com uma expressão ameaçadora, uma aura maligna, aos olhos de irmão. Nino quis provocar, fechou os olhos e voltou o beijo.
No mesmo corredor por onde Nino havia entrado, Arthur vinha... Coitado. Viu o beijo quase indecente e rapidamente virou-se, voltando para buscar um retorno mais à frente, com esperança de que mais um corredor não estivesse congestionado.
— Nossa, que flores lindas... ho ho, que bacana... — começou a falar coisas aleatórias para disfarçar o que acabara de ver, admirando o jardim aberto, querendo chorar por dentro.
Thales chegou e presenciou a cena... Um sorrisinho se formando.
— Nathaly, a Alissa tá te chamando — interrompeu.
Os dois pararam de se beijar. Nino retirou a mão da cintura que deslizava "querendo" descer.
— Tá bom! — Nathaly olhou para Nino e saiu com um sorriso.
Thales lançou um olhar safado para Nino.
— Não enche — Nino respondeu com um tom sério, olhar e rosto aborrecido.
— Que isso, nem me contou que tá com ela... Não sou seu amigo? — Abriu um rosto assustado. Lembrou de algo: — Você disse que olha para ela igual olha para mim... Não quer me beijar, não, né? — Thales provocou, fazendo biquinho.
— Ó a Samanta ali.
Thales virou-se instantaneamente e percebeu que havia caído na brincadeira.
— Ha ha, engraçadão — respondeu, voltando-se para ele.
Nino riu, Tap! ergueram os punhos e deram um toque.
— Bora pra sala? Alissa só deve conversar com a Nathaly e ir — chamou.
— Pode ir. Preciso fazer uma coisa.
— Precisa de ajuda?
— Não. Não vou demorar não.
— Ok, vou lá então.
— Ahãm.
Thales virou-se e Nino acompanhou com os olhos. Logo voltou o olhar na direção de Nina, e a irmã ainda o encarava com a mesma expressão ameaçadora. Colocou as mãos nos bolsos e foi até ela, exalando deboche. Chegou e murmurou, fazendo uma careta provocadora:
— Já resolvi as coisas... Não se preocupe, irmãzinha.
— Eu vi, não sou cega! — respondeu ela, querendo matá-lo. Os punhos fechados e esticados para baixo, em uma pressão colossal.
— Tá bravinha, fofa? Tsi... — soltou uma risadinha de canto de boca na medida exata para irritá-la ainda mais... conseguiu. Nina o olhou com muito mais intensidade e Nino começou a correr. Nina correu atrás dele por um tempo, mas, como tinham a mesma velocidade, acabou desistindo.
"Esse imbecil vai ver..." Jurou-o silenciosamente em sua mente, vendo-o fazer uma dancinha retardada, com as mãos fingindo ser orelhas de coelho e reboladinhas irritantes de quadril, a alguns metros dela. Virou-se, mas seu olhar deixava claro que teria volta... Nino manteve sua provocação.
De noite... não "tinha" para onde correr. Os dois estavam no apartamento, Nina no quarto conversando com Nathaly pelo celular de Nino... quando o mesmo recebeu uma ligação. Era de uma senhora feudal, atrás de um servo rebelde.
Nina foi até o sofá, segurando o celular que vibrava. Nino olhou para a cara dela. Nina, para a dele. Os dois se encarando com indiferença. Nina balançou o celular, e Nino notou a foto de Alissa.
Segurou e atendeu:
— Alô?
— Por que não veio ao meu escritório hoje?! — exclamou, claramente irritada.
Nino afastou o celular da orelha. Nina conseguiu escutar com nitidez a voz raivosa.
— Desculpa...
— Vai dizer só isso? Quero você aqui amanhã às 8h, escutou?!
— Mas amanhã nem tem reunião.
— Você tem que estar aqui às 8 horas, entendeu?!
— Tá bom... Harff... Que saco... — (...Teatrinho mal feito.)
Nino desligou com um suspiro entediado. Nina continuava olhando para a cara do irmão, a mão estendida pedindo o aparelho de volta. Nino olhou-a e fez uma expressão indignada. Entregou o celular, e Nina saiu de lá, rindo baixinho da cara dele. O Primordial olhou-a sair de costas, queria tacar o copo sobre a mesinha na cabeça dela... mas não o fez.
— Não vou desperdiçar você — sussurrou para o refrigerante de limão, enquanto levava o copo à boca.
Hora da vingança.
O dia virou, e Nina não havia dormido, só fingido completamente.
Nino desconfiou no início, mas não via razão para Nina esconder mais alguma coisa, então decidiu pôr as horas de sono ignoradas pelo seu ódio em dia. Nina abriu os olhos quando sentiu o quarto começar a clarear. Viu seu irmão dormindo, suas testas quase unidas. Levantou-se com cuidado, pegou o pequeno caderno na gaveta do criado-mudo, uma caneta e escreveu um bilhete.
Sorrindo, moldou seu sangue para a aparência perfeita do irmão, rasgou a página com perfeição e silêncio, e, com uma fita, grudou o papel na testa do Primordial dormindo. Rag assistiu a tudo. Era uma situação complicada. Seu dever era proteger Nino... mas também proteger Nina. Sendo Nina causando um "mal" a Nino, não tinha o que fazer senão deixar.
Tendo o dia "livre", ao menos livre da reunião que Alissa costumava realizar, Nina marcou um encontro — dessa vez, normal — com Nathaly. Poderia ter pedido o irmão? Avisado? Entrado em um consenso? Sim... Mas queria sua vingança sem sangue ou dor.
"Otário..." sussurrou em pensamentos, para não ter risco algum de o mesmo acordar. Faltavam algumas poucas horas até o encontro. Nathaly ainda dormia, mas Nina esperaria fora do apartamento.
Saiu... fechando a porta com muita cautela.
Prim! Prim! Prim! Prim! Prim!...
O despertador de Nino tocou por volta das 07:45. Acordou sem enxergar nada, revoltado com o barulho, passou a mão no rosto e desgrudou o papel. O rosto voltando-se na direção do som agudo.
— CAAPEETAA!!
Desligou o celular, quase arremessando-o na parede, e olhou para o papel amassado em sua mão rígida de ódio logo cedo.
— Hãm...? — Olhou para o bilhete e leu com voz normal: — "Marquei de sair com a Nathaly hoje. Use minha aparência aí, seu otário". Porra... desenhou até uma mini rola, sério? — suspirou, frustrado com Nina, mas saiu do apartamento usando a aparência dela, como solicitado.
...Mas, diferentemente dela, que mantinha um comportamento similar ao que imaginaria Nino fazendo, exceto na hora H... Nino não fez isso. Saiu andando como se fosse ele mesmo. Mãos afundadas no bolso do "short" do macaquinho, e não somente com os dedões para dentro, meio que apoiando a dobra da mão no tecido, como Nina costumava ficar.
Ao menos uma coisa fez: simulou a cor do preto da roupa de pano humana, e não o preto do sangue quase absoluto. Chegou pouco tempo depois à escola. Ao passar pelo portão, "teve" uma pequena surpresa. Um jovem de 19 anos — ex-membro da primeira sala de Katherine, e agora presente em uma das salas que disputaria pelo título de Quinto ou Sexto Esquadrão Oficial — aguardava a chegada justamente de Nina.
Segurava um buquê humilde de rosas roxas. Se preparou e criou coragem ao vê-la. Pensou por horas na noite passada em como iria elogiar as íris roxas da menina. Os olhos brilharam ao vê-la; um passo corajoso foi dado na direção. O corredor quase vazio. "Matava" um pouco do início da aula ali, esperando por ela naquele dia, e então chegou o grande momento... se declarou:
— E...
— Some.
Nino passou ao lado do garoto, que era um tantinho mais alto do que sua aparência verdadeira, como se o exterminador não oficial não fosse absolutamente nada. O poder do jovem reagiu à tamanha frustração e dor sentimental. Se petrificou lentamente. O buquê, a roupa, a pele, carne, ossos. Virou uma pedra amarelada como arenito. Com uma pequena brisa, o vento calmo passou, e o jovem virou pó lentamente, sumindo do corredor com seu semblante paralisado em choque.
Segundos depois, Nino chegou na sala de Alissa. Havia se esquecido de replicar o sobretudo e equipamento, mas ao menos não foi burro o suficiente para levar o próprio sobretudo e pistola, já que a espada foi destruída em sua última "missão".
Parou em frente à porta. Mudou o seu semblante apático para um mais receptivo, como lembrava de ver Nina sempre que Alissa estava por perto, e entrou sem bater... Nina estaria assim? (Tsi...)
Alissa olhou na direção com severidade, mas o que viu não era Nino, embora sentisse, de alguma forma, que aquilo na sua frente não era Nina.
— Nina? Algum problema? — perguntou, colocou o marca-página onde parou em seu livro e o fechou, deixando-o com cuidado sobre a mesa. Mas ainda continuou sentada. Pegou seu canecão de café e deu um gole suave.
— Não... É que meu irmão pediu para eu vir no lugar dele hoje — respondeu, mas a forma como as palavras eram soltas não era nem um pouco parecida com o ritmo que Nina costumava falar.
— Você lembra o que conversamos ontem quando me chamou em particular?
"Merda..." — Sobre o Nino?
Alissa ergueu o canecão, deu mais um gole e voltou-o à mesa.
— Você não me chamou em nenhum momento para uma conversa em particular, Nina.
Crrck...
Alissa paralisou Nino com uma pressão gravitacional tão forte que os ossos rangiam.
— Quem é você? — sussurrou, olhando-o com estranheza.
— Como assim, quem sou eu, caralho?! — respondeu, sentindo muita dor e tentando, inutilmente, se mover.
"Nina não falaria assim comigo." — Por que está fazendo isso, Nino?
Uma mistura de receio e liberdade emergiu dentro dele. Nino voltou à sua aparência original, e Alissa o soltou sem entender muito bem o que era tudo aquilo. Pah... caiu de joelhos, olhando para frente, bem suado no rosto, enquanto o sangue já regenerava quase que instantaneamente os danos sofridos.
— Como sabia que era eu? — sussurrou, olhando-a de baixo.
— Não sabia. Você que é burro e caiu em um blefe. — Nino fez uma careta entediado.
Clk... Alissa usou seu poder e trancou a porta... O sangue de Nino vibrou em medo do que aconteceria dali em diante dentro daquele lugar aconchegante, mas assustador, na presença de um ser tão poderoso.
Alissa voltou a apoiar as costas na poltrona de forma despreocupada. Seu rosto ressoava isso, embora também ameaçador. Passou a perna direita sobre a esquerda e a manteve cruzadas. Seu short escuro de cintura alta contrastando com a regata clara. As mãos, cobertas pelas luvas, gesticulavam enquanto dizia:
— Vou ser bem direta com você. Não quero gracinha ou rodeios. Apenas respostas. Eu te vi no dia que matou a Calamidade...
Nino entrava em uma batalha interna. Seu sangue tinha medo de Alissa. Rag tinha medo de Alissa. Era uma luta impossível de vencer, mas o sangue gritava para atacá-la, indo contra a vontade verdadeira de Nino, que era nunca, em hipótese alguma, ousar sequer imaginar machucar Alissa. Mas o sangue gritava que era para proteger Nina, e Nino reprimia todas as emoções juntas para conseguir ficar o mais natural e submisso possível naquela situação que sua irresponsabilidade — citada por Nina — o colocou.
— Aquela espada... Qual o seu vínculo com a "Espada Negra"? Sabe do que estou falando?
"Não tenho como fugir mais... Por favor... Por favor..." — Sim, ele era meu pai — respondeu, receoso. Quase vomitou. Os olhos daquela mulher invadindo sua retina, varando sua alma, machucando o ser ancestral dentro de si. Rag tremia de pavor, querendo tomar as rédeas, mas com medo de falhar.
— Seu pai?... O que você é? — perguntou com curiosidade. Apoiou o cotovelo na coxa, dobrou o corpo, e o queixo pousou na mão. Olhava diretamente nos olhos de Nino, que, embora quase se cagando, percebia um olhar que não era assassino. Receber um olhar com jura de morte era a coisa mais normal em seus dias irritando-a. Aquele olhar era diferente, era suave.
Suave a ponto de abrir a boca quase em transe, olhando-a diretamente:
— ...Meu pai não era uma anomalia como vocês pensam. Meu pai era um demônio, e minha mãe era uma humana. Fui criado pela minha avó, já que minha mãe morreu no parto, e meu pai foi morto pela ADEDA em 2005.
— Demônio? Tipo coisa ruim? — perguntou quase em um tom animado.
Nino franziu a testa, meio sem entender.
— ...Hãm?
— O sete-pele, capiroto?
— ...Não tô entendendo.
— Hnn... E cadê os chifrinhos? — Alissa fez uma expressão curiosa e fofa, como a de um gatinho levado.
— Hãm? Que cara é essa? — Nino ficou ainda mais confuso.
— Os chifrinhos. Você não é um demônio?
— Teoricamente, eu sou meio demônio, e isso é preconceito! — respondeu com um semblante aborrecido.
— Ahh, para, mostra aí. Você era a Nina até agora pouco. Mostra aí, vai.
Alissa continuava com a expressão fofa, animada e curiosa. Nino olhava aquilo e "se viu" sem escolhas a não ser dar a ela o que queria. Criou dois chifrinhos brancos para não se camuflarem no seu cabelo, mas virou o olhar envergonhado. Era como se estivesse pelado em público, constrangedor, embora o chifre fosse apenas algo moldado somente para ela ver.
Frshshhshss... Alissa achou fofo e começou a fazer carinho na cabeça dele, bagunçando o cabelo entre os chifrinhos minúsculos.
— Para, por favor, isso é constrangedor — implorou Nino, com a cabeça abaixada e o rosto ruborizado pelo sangue que continuava fingindo ser vermelho.
— Mas como funciona isso? Como consegue ser outra pessoa?
Ergueu o rosto, sentindo-se cada vez mais acolhido pela figura materna que criou nela.
— ...Uma das coisas que herdei do meu pai é manipular o meu próprio sangue. Posso mudar minha aparência, cabelo, roupa, voz, criar armas, essas coisas.
— Mas eu vi você usar fogo no seu primeiro dia.
— Magia elemental normal. Eu e minha irmã aprendemos desde crianças e brincávamos de lutinha todo dia. Basicamente, treinávamos desde crianças.
— Criança você ainda é — provocou Alissa, com uma expressão debochada e a mão na boca.
— Haha, muito engraçado — respondeu com o olhar aborrecido.
Alissa riu um pouco mais, e Nino esqueceu de tudo. Sentia-se extremamente seguro e alegre por não precisar mais ocultar nem mentir... Por precisar esconder algo de alguém que queria contar tudo que viveu, sentiu e ainda queria fazer. Um olhar inocente, sem receio.
— A gente pensava que, se descobrissem que somos filhos dele, seriamos caçados — confessou com um sorriso.
Alissa parou abruptamente de rir e o encarou com severidade. Nino não viu o movimento entre a mudança, foi muito rápido. Seus olhos só capturaram a imagem nova da mulher, que parecia novamente querer eliminá-lo.
— Quem sabe sobre isso?
Nino travou, sentiu a garganta seca... mas forçou-se a revelar:
— Apenas você e Nathaly...
Alissa aliviou o rosto novamente, voltando ao ar tranquilo passado. Nino mantinha os olhos arregalados e vidrados na mulher sentada com desleixo à sua frente, a confusão adentrando em cada molécula de sangue.
— Não conte a mais ninguém. Vou te contar uma coisa...
— ...
— Em 2005, o ano em que seu pai morreu, ele lutou contra o primeiro esquadrão e matou oito membros, incluindo o irmão de Louis. Depois de matar seu pai, eles não saíram vitoriosos, pois vários amigos também morreram na missão. Desde então, a professora Katherine me culpa pela morte dos membros do primeiro esquadrão. Ela diz que, se eu estivesse lá, ninguém teria morrido. E, de fato, se eu estivesse lá, todos não teriam morrido. Mas por que me culpar? Como eu poderia imaginar que dez exterminadores, os melhores, abaixo de mim, é claro — Nino fez uma expressão sarcástica enquanto olhava para ela — não conseguiriam lidar com uma anomalia? Louis me odiou por um tempo, mas acabou superando. No entanto, o irmão de Louis teve um filho em 2005, e o filho dele é o Arthur do seu esquadrão.
— Eu já sabia. Escutei ele uma vez chamando Louis de tio, no celular.
— Uhum...
— É muito confuso para mim. Realmente não consigo entender por que meu pai saiu de casa naquele dia, para nunca mais voltar — sussurrou. Os olhos não estavam mais na direção do corpo da exterminadora, e sim para o chão. Sabia ao mesmo tempo que não. Entendia ao mesmo tempo que não. Só remoía por ser a forma de aguentar a falta que seu pai fazia.
Alissa sentiu o tom entristecido. Ergueu o olhar ao teto e formulou sua resposta:
— Não sei o motivo exato, mas os relatos das pessoas que sobreviveram falam de um olho gigante no céu e uma névoa preta no chão. À frente de cada pessoa surgiu um olho, e eles disseram que inicialmente ficaram paralisados de medo. Um sobrevivente contou que ficou completamente imóvel, observando as pessoas à sua frente até que uma delas se mexeu. A mulher em questão foi cortada em pedaços minúsculos, antes do corpo ser reduzido a uma minúscula poça de sangue, e, quando isso aconteceu, outras pessoas, desesperadas pelo medo, começaram a se mover e gritar, morrendo instantaneamente, cortadas em milhares de pedacinhos em uma reação em cadeia. Esse homem foi internado em um manicômio devido ao trauma; ficou louco e até tentou agredir a repórter durante uma entrevista.
Por terem se misturado, Nino sabia da reação negativa que Arthur teve quando Alissa mostrou a única foto que tinham da Calamidade Espada Negra na reunião em sala. Sabia que Arthur ainda sentia a perda do pai, e que provavelmente seria impossível aceitar caso os gêmeos decidissem peitar tudo e revelar quem eram.
— Não tem como mandar o Arthur para o esquadrão da professora Katherine? Não preciso dele aqui. Sinceramente, eu e minha irmã não precisamos de ninguém do esquadrão — perguntou, a soberba exalando.
— Para de falar assim. Você nem é isso tudo — provocou. Nino fez bico e virou o rosto para o lado, só faltou cruzar os braços, aborrecido. — Mas não tem como. Desde que o menino chegou aqui, Katherine o convenceu de que eu sou o responsável pela morte de seu pai e fez com que ele me odiasse. Louis o colocou na minha sala para mostrar que eu não sou o monstro que Katherine tentou criar na cabeça dele.
— Acho que não conseguiu, né, Sra. Velhossauro? — Nino deu uma risadinha.
— O que está insinuando com isso? — Alissa o olhou com uma expressão séria... mas aceitou a provocação de forma leve e mudou a postura novamente, apoiando as costas. — Mas não pense que todos aceitarão isso facilmente. O que seu pai fez ficou marcado na história do Brasil. Ele não apenas matou exterminadores, mas também milhares de pessoas, e quase causou um colapso financeiro em Belo Horizonte.
— Entendi... Mas por que você aceitou?
— Seu pai fez isso, e você era apenas um bebê. Você não tem culpa nenhuma. Mas se Louis descobrir, talvez ele queira vingar seu irmão te matando. Eu não vou permitir isso.
— Você ficaria do nosso lado se descobrissem?
— Sim, você, Nina e Nathaly são como meus filhos, os TriN.
A palavra "filhos" bateu de forma diferente.
— "TriN"? Que merda é essa? — mesmo com o coração quentinho e bombeando de forma leve, manteve-se no personagem chato e resmungou.
— Nino, Nina e Nathaly. Três "N"s, TriN.
Nino a encarou com tédio.
— É sério? E os outros?
— Eles têm suas próprias famílias. Vocês três são os órfãos aqui — ela fez uma careta, mostrando a língua, com os braços dobrados e as palmas ao céu.
Nino ainda a olhava com as sobrancelhas levantadas.
— Não precisava falar assim também, né?
Alissa deu uma risada e perguntou:
— Você foi criado por sua avó, ela nunca te contou nada sobre seu pai?
Nino abaixou o olhar.
— Sempre que eu perguntava, ela mudava de assunto ou dizia: quanto menos você souber, melhor. Quanto menos você se parecer com ele, melhor. Mas eu me pergunto... Como não vou ser ou parecer com ele, se não sei como ele era pra fazer o oposto? — ergueu o rosto; Alissa o olhava com curiosidade e atenção. Ficou acanhado.
— ...Sabe algo sobre o olho?
Desviou o olhar novamente; era mais confortável.
— ...Não sei bem o que é ele. Já vi e conversei com ele, mas eu não entendo a língua dele.
"'O que é ele'...?" Alissa ficou confusa, mas percebeu que ele não estava confortável e ignorou a questão. — ...Entendi.
Nino sentiu algo tocar seu queixo. Os olhos se arregalaram em surpresa. Alissa levantou o rosto de Nino e fez carinho no queixo enquanto o olhava.
— Po-posso contar um segredo? — gaguejou ele.
— Claro que sim.
— E-eu menti.
Alissa soltou o queixo do jovem.
— O quê?
— Não era uma melancia...
— Do que você está falando?
— Aquele dia, no apartamento. Não era uma melancia, era um coração.
— Quê?
— Eu mato pessoas ruins.
— ...Quê?
— Quando eu sinto sede de sangue, eu caço elas, torturo, mato e devoro...
Alissa continuava olhando-o, confusa. Não tinha muito lugar de fala para repreendê-lo; também já havia matado seres humanos por motivos diversos.
— Você faz isso sempre?
— Às vezes...
— Quantas vezes por mês?
— ...Quatro ou cinco.
— Pessoas?
— Saídas. Geralmente eu mato várias em cada saída.
— Que tipo de pessoas? Como assim "pessoas ruins"?
— Estupradores, ladrões, assassinos... Descubro eles através do olho ou pelo jornal das oito.
— ...Você já matou alguma pessoa de bem?
Nino desviou o olhar e respondeu com a cabeça, negando.
— Já machucou alguém de bem?
Confirmou com a cabeça.
— Não entendo você. Ainda não entendo. Sou sua amiga, espero que me veja dessa forma. Pode confiar em mim, conversar qualquer coisa, perguntar qualquer coisa. Quero entender mais de você e sua irmã. Isso de "sede de sangue", não sou um demônio como você diz ser, mas parece que é algo que precisa ser suprido. Permito que continue matando pessoas ruins, mas apenas pessoas que cometerem crimes hediondos. Mesmo que eu odeie ladrões, corruptos e qualquer crime como um todo, ainda há uma esperança de mudança em cada um desses seres... Mas, caso seja a segunda passagem ou mais na polícia, eu permito que se alimente. Mas prometa que nunca mais vai machucar uma pessoa de bem. Em outras palavras, nunca mais vai machucar um humano bom — pediu. Uma parte em tom acolhedor, outra em tom engraçado, mas finalizou com seriedade.
Nino olhou-a, e era como na vez que matou o gatinho para garantir a proteção de Marta. Os olhos se encheram de lágrimas como se voltasse a ser criança naquele momento. Uma necessidade de pedir desculpa e obter o perdão do ser que precisava respeitar a todo custo.
Nino curvou-se como se fosse um servo diante da rainha. Rosto no chão.
— Desculpa. Por favor, desculpa. Eu prometo. Eu prometo.
Alissa não entendeu nada.
"Está chorando?" pensou. Nunca o viu assim, demonstrando tamanha fraqueza. Alissa ajoelhou-se na frente de Nino. Colocou as mãos no ombro e ergueu o jovem aos prantos. Abraçou-o carinhosamente, com seu queixo apoiado no ombro dele, assim como ele no seu. — Ei? Não precisa disso. Eu desculpo você. Não precisa chorar — sussurrou calmamente. Nino foi conseguindo controlar-se da dor de decepcionar uma pessoa que tanto amava.
Abraçou-a de volta. O calor humano esquentando o sangue frio do demônio. Nino parou de chorar. Momentos depois soltou o abraço. Alissa respondeu soltando-se, olhando o rosto choroso do jovem, que desviava o olhar. Riu e ergueu-se, sentando-se novamente na poltrona. Nino se manteve no chão, ajoelhado sobre as pernas.
— Achei fofinho — provocou.
Nino fez bico, ainda olhando para o lado, e tentou manter sua postura rebelde.
— Mas por que veio aqui com a aparência da Nina? Não consigo entender tamanha burrice. Você ultrapassou minhas expectativas.
Nino voltou o olhar tedioso na direção dela e Alissa riu com a careta. O tédio saiu instantaneamente com o riso ouvido, e Nino respondeu em tom de brincadeira:
— Eu não deveria... Mas vou te contar uma fofoca, fica entre nós dois, hein?! — Alissa parou de rir e confirmou com a cabeça, balançando-a rapidamente como um cachorrinho animado quando o dono chegava do trabalho. — Ela est...
— Pera!
— Hãm?
— Vou estourar uma pipoca.
Alissa se levantou, passou ao lado de Nino e foi até a cozinha da sua sala. Logo pegou uma pipoca de micro-ondas no armário acima da pia, Pi, Pi, Piiiii... colocou no micro-ondas para estourar e ficou encarando Nino enquanto a pipoca era preparada.
Depois de dois minutos e quarenta segundos de silêncio e um olhar fixo, Nino ficou completamente entediado, e Alissa tinha um sorriso enorme no rosto o tempo inteiro. Deu um joinha e Nino, irritado, Pá! deu um tapa no meio do próprio rosto.
Quando a pipoca ficou pronta, Alissa voltou para sua poltrona com o lanche em um recipiente plástico.
— Quer? — perguntou, jogando alguns grãos de pipoca para cima, Creksh-Crksh, e pegando-os na boca. O som crocante sendo ressoado de suas mordidas.
— Não, valeu. Posso continuar?
Ela não respondeu, mas fez um joinha enquanto continuava a comer.
— Então... é que a anta da Nina está usando minha aparência para sair com a Nathaly. Nina me disse que ama ela e está ficando com ela usando a minha aparência escondido; essa praga nem me falou nada. Descobri na noite do dia que matei a Calamidade.
— A...
Alissa não teve a reação que Nino imaginou que teria.
— Hãm...? Só um "A"?
— Estou mais aliviada.
— Quê?
— Pelo menos não é você. Sua irmã é mais inteligente e responsável.
— ...Tá falando sério?
— Óbvio que... que NÃO! COMO VOCÊ QUER QUE EU FIQUE SABENDO QUE MINHA FILHA TÁ SAINDO COM UMA PESSOA E NÃO ME DISSE ABSOLUTAMENTE NADA?!!
Alissa bloqueou com o seu poder o som de sair daquela sala. Aquele grito lançou uma tempestade de ar em Nino, que quase foi arremessado na parede. Seu rosto parecia um cachorro com a boca aberta para fora da janela de um carro em alta velocidade.
— FAZ QUANTO TEMPO ISSO?!
— ...Parece que anos.
— AAAANOS?!!
Nino confirmou com a cabeça, assustado.
Alissa levou a mão direita ao rosto, afundando os olhos com os dedos, para tentar se acalmar. Nino continuava com os olhos arregalados... Sabia que...
"Fiz merda..."
Alissa retirou a mão do rosto e suspirou, tentando descarregar o estresse.
— Ok... ok... Não se preocupe. Não vou contar sobre isso da Nina, mas vou pensar em como vou conversar com a Nathaly. Deve ter alguma explicação para não ter me contado. Não tem lógica alguma isso.
— Uhum...
— Mas ainda assim... não faz sentido. É uma ideia muito burra. Uma hora vai ter que contar a verdade, e quando isso acontecer, Nathaly vai quebrar. Vai chorar. Não vai saber o que fazer.
— FOI O QUE EU DISSE! — Nino se ergueu, exclamando. — Eu disse que uma hora ela teria que contar, e ainda falei que se der merda, era melhor nem vir me encher o saco — completou, erguendo o rosto com os olhos fechados.
— Aí você está errado — respondeu.
— Quê? — abriu os olhos e desceu-os até o rosto dela.
— Nina só tem você. É óbvio que ela não queria precisar fingir ser você. Parece ser só uma medida desesperada, já que, como você disse, ela parece amar Nathaly. Fez algo sem pensar e se colocou nessa situação. Mas, Nino, entenda: da mesma forma que eu abraçaria e escutaria, sentiria cada choro de Nathaly em meus braços, você precisa fazer o mesmo com sua irmã. Passar por uma rejeição é horrível. Eu não passei por uma amorosa, mas meu pai me rejeitou, e eu sei como é a dor, embora eu tenha me blindado bem cedo. Nina pode te xingar, fazer o que for, mas, todas as vezes que eu presenciei, era nítido o amor que sua irmã sente por você.
Nino desviou o rosto demonstrando uma atitude rígida, um demônio altista? (Naah...) Alissa fez outra pergunta:
— Mas por que você aceitou isso? — pegou mais pipoca e comeu.
— ...Porque também a amo e quero a felicidade da minha irmã. Deixei ela fazer isso porque ela ficaria feliz. Vi no olhar dela algo diferente enquanto falava de Nathaly. Não queria que aquele brilho estranho de felicidade fosse ofuscado por egoísmo meu.
— Ownn, que fofo! Ele ama a irmãzinha, gente... — Nino olhou-a novamente com um olhar tedioso. — Mas e você? E se você começar a gostar de alguém?
— ...Difícil; até hoje não senti atração por ninguém. Um dos motivos de eu deixar ela fazer essa loucura... Pelo menos é eu que não quero; já você só não consegue desencalhar mesmo — Nino riu, olhando para ela com deboche.
— Para sua informação, eu tenho um encontro marcado no sábado — Alissa levantou o rosto, continuando a comer pipoca.
— E quem é o louco? — Nino riu muito, mas com um tom de ciúmes e vontade de eliminar qualquer ameaça que fizesse ele ter que ficar menos tempo diário ao lado de sua "mãe". Suas mãos começaram a se mexer sozinhas e se aproximaram muito do peito... Percebeu tarde demais. — Faz isso, nããããoo! — Alissa o forçou a apertar os mamilos com muita força.
— Me chame de mamãe — ordenou.
— NEM FODENDO! AIII! AII! — Nino ficou caído no chão, desesperado, rolando sobre os braços, mas, mesmo que quebrassem, continuaria sentindo o beliscão.
— Anda, me chame de mamãe.
— Mamãe, mamãe! — exclamou Nino, desesperado, fingindo não querer proferir aquela palavra, e ela finalmente o soltou.
— Bom, está dispensado do seu castigo. Não precisa mais vir aqui se não quiser. Depois das reuniões, pode somente ir embora ou fazer o que quiser até o surgimento de uma missão.
Nino surgiu em pé quase como um teletransporte.
— Nunca mais apareço aqui também! — reclamou em tom alto, mudou para a aparência de Nina e foi em direção à porta.
— Espera! Pega aquela sacola ali.
Nino se virou.
— Pra quê? — resmungou.
— Seu novo sobretudo chegou, atualizado com o "SS". O da sua irmã também está aí, com o "SA".
— Ah, valeu — respondeu, olhando para o novo sobretudo com as inscrições: "Nino" "18" "3" "S" "S"... Ficou parado; não queria ir embora. Olhou de canto na direção de Alissa. Não queria ir, mas não queria pedir para ficar. Orgulhoso demais, virou-se novamente e seguiu na direção da porta.
— Espera — Alissa chamou, e Nino parou quase desejando que ela dissesse que era brincadeira a liberação e mandasse ele ir fazer as obrigações dentro da sala. Virou-se, e Alissa continuava sentada com a perna direita sobre a esquerda, mas se apoiava com os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos.
De trás de uma estante de livros, a espada de Alissa com sua bainha voou e parou, plainando ao lado de Nino. Nino olhou para a arma, depois para Alissa, e Alissa completou:
— Vi que sua espada quebrou. Pode ficar com a minha. Eu sei que você queria muito ela... Mas não é para quebrá-la também não, hein? — brincou, e riu suavemente, desapoiando-se da mesa e voltando as costas à poltrona confortável.
Nino olhou novamente para a arma... Seus olhos brilhavam e sentia novamente vontade de chorar. Aquilo não era só uma arma, uma espada, uma lâmina, um metal afiado... Era uma joia, um presente mais que especial. Segurou e passou pelo braço direito, prendendo a alça de couro no corpo, deixando a puxada vertical como tanto preferia.
A vontade de chorar se mantinha. Mas o orgulhoso segurava e engolia o pedido que queria fazer. Parado, Alissa notava que o jovem poderia estar tentando mudar essa personalidade rebelde, rígida e muitas vezes insuportável... Nino deu dois passos na direção dela. A aparência voltando para a dele mesmo. Com a cabeça baixa, pediu baixinho:
— Me dá um abraço?
Alissa riu, mas provocou:
— Me chama de mamãe então.
Nino fez bico e olhou para o lado.
Alissa via-o como seu filho, de fato, assim como adotou Nathaly no orfanato após o incidente que a menina causou. Os gêmeos, por não terem pais, eram propriedade, ferramentas da ADEDA depois de terem aceitado o contrato. Mas Alissa era sua supervisora, e, assim como para Nathaly, era a responsável diretamente dentro da organização pelos três; mas também fazia-se responsável pelos três, protegia os três, fora dos assuntos da ADEDA, também.
Mirlim era a responsável por Thales, por exemplo, mesmo que Alissa estivesse mais perto. Mirlim que se colocou na responsabilidade de zelar, ensiná-lo e treiná-lo. Embora Thales não fosse órfão, Mirlim era como uma segunda mãe dentro da organização para ele. Thales só não sabia. Tudo em relação à Mirlim para ele era estranho. A mulher era estranha, de fato. Seu bom coração não conseguia acreditar que Mirlim era uma pessoa ruim... Ela era?
— Mamãe — Nino murmurou o mais baixo que conseguiu. Alissa lembrou-se da primeira vez que Nathaly disse aquilo para ela... Foi mágico escutar de sua eterna menininha.
— Não escutei direito — provocou.
— Mamãe...
Sorriu e se levantou... Abraçou o menino que, no primeiro momento, não voltou o abraço... mas logo abraçou-a, e naquele momento, em sua mente, Nino via Alice abraçando-o e dizendo que estava lá, que sempre esteve lá... olhando-o e protegendo-o. Era uma sensação estranha. Uma saudade angustiante de algo que não viveu... mas não permitiu-se chorar mais uma vez.
Soltou o abraço... por medo do passado. Alissa respondeu em seguida. Nino olhou o rosto dela e desviou o olhar.
— Obrigado — disse baixinho.
Alissa concordou com a cabeça em movimentos leves, e Nino virou-se, indo certeiramente na direção da porta. Mudou sua aparência para a de Nina e Alissa virou-se, voltando à poltrona. Sentou e abriu o livro para continuar seu novo romance.
Nino destrancou e abriu a porta... O mesmo garoto do corredor da entrada erguia a mão para bater no metal escuro no exato momento... O jovem travou. Se petrificou e virou pó no chão, assim como as folhas grampeadas que carregava destinadas à Alissa, que um professor pediu para entregá-la... Nino olhou aquilo com desdém.
— Alissa, tem um moleque aqui na porta — resmungou e saiu andando, deixando a porta entreaberta.
A mais forte ergueu-se e foi até lá. O professor em questão já havia avisado que iria mandar uma aula escrita para ela analisar e voltar para ele depois. Quando chegou à porta, olhou para os dois lados... o pó... o menino já havia sido levado pela brisa para bem longe daquele lugar.
— Não tem ninguém aqui... Grr! Que garoto chato! — THAAAM! bateu a porta com muita raiva... mas, dessa vez, Alissa nem poderia imaginar que não foi proposital Nino irritá-la.
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