Volume 1 – Arco 2
Capítulo 134: Saia Preta
Poucos dias depois, o terceiro esquadrão aguardava, sentado na sala de aula, para uma nova reunião. Os dias estavam calmos, com pouquíssimos casos de pedidos para extermínios — quase sempre um Errante que era encontrado fugindo, e não, de fato, causando algum caos por aí.
Nesse novo dia, uma coisa continuava se repetindo, mas, dessa vez, Nino e Alissa estavam demorando bastante para chegar. O coitado era sempre o primeiro e o último a sair daquele lugar... Mas, nesse meio-tempo, Nina tentava lançar algumas ideias para Nathaly, tentando conseguir um... "encontro":
— Quando receber o primeiro salário oficial, o que você vai comprar? — perguntou de forma suave, olhando-a. Nathaly, que estava meio alheia, olhando na direção da porta, voltou o rosto na direção da melhor amiga.
— Ah... O salário combinado com o dinheiro daquela missão deve ser bom. Acho que vou chamar minha mãe e pagar um jantar caro pra ela, já que é algo que sempre fazemos. Seria legal dar isso a ela, me sentiria bem pagando algo com o meu próprio dinheiro, e não com o dinheiro dela.
— Algo pra você, não para outra pessoa — respondeu com um olhar mais pessoal.
Nathaly olhou para baixo por um curto momento.
— Hum... Sei lá, não penso muito em mim... — ergueu o olhar para Nina. — Talvez... assistir a um filme? Já vi trailers na televisão, mas nunca fui ao cinema. Pensando bem, nunca parei para pensar nisso. Não sei o que eu quero. Minha mãe me dá tudo o que eu peço, mas eu nunca peço nada. Se eu falar qualquer coisa que dê a entender que quero algo, ela simplesmente aparece com aquilo do nada... Eu tenho alguns carros, e nem carteira pra dirigir eu tenho.
— Quê? — balbuciou, meio travada.
— É — murmurou, voltando o olhar para a direção da porta. — Eu fui visitar a cobertura dela, estava passando a propaganda de um carro na televisão, e eu disse que o achei bonito. No dia seguinte, ela me entregou as chaves com um sorriso enorme no rosto e, ao lado, estava o carro novinho, com um laço vermelho gigante... Mas não é o único. Ela precisou comprar um galpão gigante pra deixar os meus presentes. Devo ter uns duzentos carros na coleção. Caros, antigos, de passeio. Não posso olhar mais de dois segundos para algo que ela compra. Tô pensando em tirar minha carteira ano que vem — acabou o murmúrio, meio indiferente.
Olhou de volta na direção de Nina e a encontrou sem reação alguma.
— Tá tudo bem?
— Não sabia que ela era tão rica.
— Chamar ela de rica é uma ofensa, ela é podre de rica — corrigiu-a com tranquilidade.
— ...
— Mas e você? Compraria o quê?
Nina desviou o olhar, tentando realizar uma manipulação suave, dando a ideia de algo para que Nathaly se colocasse naquilo sozinha. Não queria chamar; queria colocar na cabeça dela que queria ir junto, para que a amiga a chamasse.
— ...Tô pensando em sair pra comprar roupas — comentou em tom baixo.
Tap, tap, tap...
O barulho de passos chegava à porta. Nina olhou para Nathaly depois de comentar o que faria e a viu meio alheia, olhando para a abertura retangular... Eram apenas dois alunos passando na direção de suas salas.
"Deixa pra lá..." — Alissa tá demorando pra chegar hoje, né? — comentou, e Nathaly olhou-a.
— Nino tá com ela?
— Sim, ela pediu a ajuda dele, e meu irmão saiu mais cedo.
— Ele disse até quando vai ficar no castigo? — Thales perguntou, olhando Nina.
Nina voltou o olhar.
— Castigo, não... Pelo choro que tive que escutar, tá mais pra escravidão.
— Escutei alguém me chamando? — Alissa entrou na sala com Nino, uniformizado, carregando uma pilha alta de livros.
— Pra que esses livros? — perguntou Arthur, curioso.
— Pra nada, não... — Alissa riu, cobrindo a boca com a mão.
— Cê tá zoando, né? — Nino a olhou, indignado.
A reunião não durou muito. Em parte, foi mais para dizer pessoalmente que, no dia seguinte, não teria uma. Minutos depois da conversa descontraída — único momento em que Nino conseguia ver e sentir a luz do dia —, Alissa pediu a ajuda de Nina para tentar colocar algumas coisas que iria contar em particular na cabeça de Nino. Logo, permaneceu na escola, participando da escravização do jovem arrogante que preferia levar cocão e sentir o cérebro tremer a escutar sem desdenhar de tudo que diziam... Nina não reclamou; descontou toda a raiva acumulada do tempo que o menino estava fazendo-a perder com aquela pirraça eterna.
Mas o esquadrão foi liberado sob a contínua ordem de estarem sempre preparados para correrem na direção da missão ao chamado. Isso não era um problema. Só era chato precisar usar um sobretudo mesmo em dias quentes.
Enquanto Nathaly saía sozinha de volta ao apartamento, Arthur seguiu-a, criando coragem, tentando, enfim, agir como homem — e não o covarde que se via durante toda a infância, quando a via naquele refeitório sozinha e não conseguia chegar perto.
Escutou a conversa que a menina teve com a amiga e, sem pensar duas vezes, agiu:
— Nathaly... — chamou em um tom acanhado, parando cerca de três metros atrás da jovem de sobretudo prateado.
Nathaly virou-se normalmente, mas, no olhar do jovem, a menina brilhava como uma estrela de chamas — um sol em pé na Terra, com chamas âmbar queimando enquanto o sorriso iluminava tudo ao redor.
— Hm? — murmurou, meio surpresa.
— Escutei sua conversa mais cedo. Queria saber se você está livre amanhã... "Diz que está, diz que está."
— Não tenho nada... eu acho. A não ser que Alissa me chame pra matar alguma anomalia por aí — respondeu normalmente.
— Entendi... Bom, eu estou pensando em ver um filme amanhã. Que tal nós dois irmos ao shopping? A gente almoça e depois assiste a um filme... Qualquer coisa, saímos correndo do cinema na direção de uma missão — sorriu, tentando ser o mais natural possível... (Não conseguia.)
— Hm... — parou um instante para pensar, olhar alto, murmúrio contínuo. "Nino vai estar ocupado até a tarde, e Nina não me chamou pra nada amanhã..." — Pode ser — sorriu de olhos fechados.
Arthur travou no sorriso, mas juntou forças para conseguir dizer a frase seguinte inteira, sem gaguejar:
— Amanhã eu passo no seu apartamento! — ficou muito animado, mas tentava disfarçar para não parecer emocionado.
— Beleza, tenha um bom dia. Tchau — despediu-se e virou-se.
— P-pra você também... — arregalou os olhos; sua primeira palavra saiu embolada, como se quisesse vomitar de ansiedade. Olhava-a indo embora. Ficou levemente mais aliviado por parecer que a jovem não escutou aquilo, mas o rubor do seu rosto mostrava sua luta interna.
Virou-se como um soldado de plástico e voltou rapidamente para dentro da escola. Mesmo que estivesse indo embora, não quis ir naquele momento. Teria que segui-la — moravam no mesmo lugar, ora bolas. Além de parecer um estranho se fosse acompanhando-a, tinha medo de ela reparar na felicidade dele... o colocando novamente na prateleira em que se colocava: a de "sou estranho".
Toc, toc, toc...
Mal dormiu.
Não piscava.
O coração batia mais rápido a cada hora que passava, deixando-o cada vez mais perto do "encontro" marcado. Faltavam mais de duas horas até o horário que combinou, com a mensagem que lhe demorou seis horas para ser visualizada e respondida. "Estava sem o celular, deve ter visto agora", respondeu-se com isso... Isso mesmo, caía no conto, caía na armadilha que sua mente mesmo estava o colocando.
Arrumado, parecia que iria a um casamento... percebeu isso e tirou o paletó. Engomadinho, parecia um pastor se preparando para uma reunião... percebeu e tirou aquela blusa longa. Arrumadinho... decidiu procurar por algo na internet e se vestiu como deu. Uma calça escura colada, parecendo um cantor sertanejo, e uma camisa branca com gola em V. (Tentou... foi o melhor.)
Mas... o horário marcado chegou, e, contando os centésimos, esperou para bater calmamente três toques na porta e vê-la abri-la instantes depois, tirando-lhe o fôlego, cegando-o do mundo, colocando-o em um lugar onde apenas ela existia. Apenas ela podia ser admirada e vista.
Nathaly vestia uma leve blusinha branca, com uma rosa preta com folhinhas soltas estampada na altura do seio esquerdo, para dentro de uma curta saia de pregas, de cor preta. Nos pés, um tênis de cano alto branco.
Arthur ficou sem reação por alguns instantes, enquanto Nathaly saía com uma pequena bolsa branca, cheia de rosas pretas e folhinhas bordadas, e fechava a porta. Foi um presente que Nina deu quando Nathaly comentou sobre o "encontro" que iria ter. Nina disse para ela usar aquilo; Nathaly obedeceu. Tinha um sorriso escondendo algo profundo no rosto da Primordial... era dor...? Ou ódio?
Era mais egoísmo do que ajuda. Arthur era um inseto morto no olhar de Nina.
— Vamos? — murmurou Nathaly, indo em direção ao elevador com leveza, ao passar pelo jovem quase babando, com a boca entreaberta.
— Vo-você está linda! — gaguejou, travando os olhos arregalados e se colocando novamente na prateleira de ser humano estranho, mas Nathaly riu enquanto entrava no elevador, e o menino conseguiu sair da sua paranoia e entrar também.
Dentro do shopping, Arthur tentou destruir o silêncio que se pendurou por todo o caminho curto, mas que foram levados por um agente da ADEDA de carro:
— Já comeu sushi? — tentava, de certo modo, forçar uma voz um tanto mais rígida, grossa.
— Acho que não. Como é? — respondeu naturalmente, olhando na direção do jovem, destruindo toda a solidez que o menino tentava construir tijolo por tijolo em sua mente, que acreditava ter conseguido blindar para a beleza e perfeição daquele rosto e olhar penetrante.
Olhava por trás da cicatriz, ignorava-a. Um erro? Claro. Nino não a amava. Olhava-a como olhava para Nina. Mas, ainda assim, olhava para a cicatriz e dizia com todas as palavras que aquilo era lindo. Que aquilo era perfeito. Mentiu? Não. Não perderia seu tempo mentindo para um humano. Mesmo que Nathaly, Thales e Alissa não "fossem" humanos.
— Vou te levar a um bom lugar. Huhum... — comentou, com a voz levemente estremecida, tentou disfarçar com uma coçada de garganta "máscula".
Guiou até o restaurante de comida japonesa. Era self-service. Nathaly pegou uma bandeja, colocou um prato branco e escolheu os sushis que achava mais bonitos. Pegou uma grande variedade. Não parecia que passava fome — como Alissa, Nina e Nino demonstravam sempre que estavam juntos —, mas gostava muito de comer coisas novas e, principalmente, coisas gostosas.
Arthur se colocou na frente e pagou todo o lanche com os refrigerantes. Nathaly escolheu uma latinha de limão. O gosto de Nino pesava bastante em suas decisões e gostos pessoais... ou de Nina? Sentaram-se em uma mesinha vazia ao lado de um muro baixo de madeira com plantas bem verdes.
Tscqui!
Nathaly abriu sua latinha, colocou um canudinho e tentou pegar o sushi com os hashis várias vezes, mas acabou frustrada e pegou um garfo dentro da embalagem plástica de talheres. Ao tentar levar o sushi à boca, plc ele caiu do garfo e sujou sua blusa branca. Nathaly ficou ainda mais frustrada, e Arthur começou a rir.
Ela tentou limpar a mancha com guardanapos, mas não adiantou. Harrff... Desistiu e continuou comendo os outros sushis com o garfo, o que foi mais fácil... mas humilhante. Sushi 1 x 0 Nathaly.
— Gostou? — perguntou Arthur, curioso, depois de um tempinho que passaram em silêncio, apenas se alimentando.
— É bom. Gostei mais desse que é fritinho — respondeu, olhando o prato e apontando para um com o garfo.
— Hot roll, o nome.
— Ah, entendi — respondeu, sem abertura alguma para continuar uma conversa.
Arthur ficou perdido. Sem saber muito o que conversar, decidiu seguir o plano que havia feito antes, quando a viu penetrar com os dentes do garfo o último hot roll e peça de sushi do prato, levando aquilo até a boca e engolindo quase de forma indecente... era apenas sua mente. Nathaly comeu aquilo da forma mais natural possível. Ainda estava meio irritada por manchar, mesmo que de leve, o presente da amiga.
— Já terminou de comer? — perguntou ele, depois de vê-la colocando o garfo solto no meio do prato vazio, antes de pegar um guardanapo para tentar mais uma vez esfregar aquela mancha.
— Sim, só estava tentando limpar a mancha. Depois peço ajuda da minha mãe.
Arthur se levantou.
— Então, vamos descer! O cinema fica no segundo piso. Podemos escolher o filme quando chegarmos... — sorriu de olhos fechados, mas, por dentro, se autodestruía. "AVA! Óbvio que vamos escolher o filme quando chegarmos. Para de ser idiota!"
— Uhum... — balbuciou a jovem, recolhendo a bandeja... não conseguiu. Arthur se colocou na frente, recolhendo as duas e levando o lixo pelos dois. Nathaly sentiu-se um pouco incomodada; parecia que era insuficiente ou que mostrava precisar de alguém para ajudá-la com coisas tão simples.
Não disse nada. Só aguardou-o e recebeu-o com um sorriso gentil antes de saírem para o destino final. Chegaram aos cartazes do cinema, e Nathaly escolheu assistir a um filme de terror. Arthur ofereceu pipoca, doces ou qualquer coisa que viu que o cinema vendia. Disse que não tinha problema, ele pagava... Havia realmente escutado a conversa em sala no dia anterior?
Nathaly recusou educadamente. Compraria o shopping inteiro se quisesse. A insistência que o jovem arrumava era torturante. Não queria tratá-lo mal, ou apenas puxar o celular e mostrar o dinheiro no aplicativo do banco.
Enfim, entraram.
Um cuidado excessivo se seguiu. O lugar estava escuro, e o jovem acreditou que a menina, além de tudo, não conseguia enxergar as luzinhas mostrando os degraus. Chegou e sentou-se. O jovem ficou à sua direita. Mas, depois que os trailers acabaram e o filme começou... o mundo ficou de lado.
Nathaly permitiu-se entrar e ficar completamente envolvida na trama. Embora fosse um slasher bem clichê, para ela aquilo era novo. Nunca tinha se interessado tanto ou parado para assistir e ver como funcionava a 7ª arte.
Para Arthur foi diferente. De vez em quando, não conseguia evitar olhar para ela.
Cada vez que seus olhos se fixavam em Nathaly, o mundo ao redor desaparecia; ele só conseguia enxergá-la. No entanto, fazia isso discretamente — mesmo que não fosse nem um pouco — para não parecer um estranho. (Era.)
Mal sabia como fazer aquilo. Em sua concepção, o gênero feminino tinha que ser cuidado. Era frágil. Precisava de atenção, carinho. Precisava ser colocado em um potinho onde nenhum mal poderia incomodá-lo. Era bonzinho demais. Nathaly detestava isso. Ser cuidada, receber atenção, amor...? Todos queriam. Isso ser algo obsessivo e intenso a todo momento...? Não. Chatice.
Ou... era chato apenas pelo fato de não ser o seu amado fazendo isso...? Provável. Mas... era forte, independente. Era uma adulta. Ser tratada daquela forma a fazia parecer uma criança, e a coisa que mais odiava era lembrar de sua infância.
O filme acabou... uma enorme decepção sendo nítida no rosto da menina, olhando os créditos subirem no telão. Saíram do cinema. Não aguentava aquilo entalado na garganta, teve que colocar em palavras:
— A protagonista é burra demais! Eu ia quebrar aquele bicho na porrada — comentou Nathaly, fechando as mãos com força, mas tentando manter a postura feminina, com classe. Estava de saia; dar um chute para frente, imaginando o corpo do vilão voando todo regaçado, seria vulgar.
Arthur a observava com um olhar apaixonado, vendo aquela menina um tanto mais baixa dando passos que pareciam muito raivosos. Respondeu com voz risonha, tentando deixar a nítida raiva da garota menos intensa:
— Protagonistas em filmes de terror sempre tomam as piores decisões. Já estou acostumado com isso.
— Nunca fui ao cinema antes, mas se todos os filmes são assim, não sei se vale a pena. Garota burra — reclamou uma última vez, olhando para frente, procurando pela escada rolante.
Arthur riu um pouco.
— Do que você está rindo?
De cara fechada, lançou um olhar para cima, na direção do rosto dele. O cabelo castanho voando um pouco para cima do ombro esquerdo.
— Nada, só achei engraçado — respondeu, vendo a expressão que era mais fofa que raivosa.
— Uhum... Vou chamar o motorista — murmurou em resposta, voltando o olhar agora para baixo, procurando pelo celular na bolsa.
Não demorou muito para que estivessem de volta à portaria do prédio em que residiam.
— Obrigado por me acompanhar hoje — disse, com um sorriso tímido.
— Foi legal. Você é um bom amigo — respondeu ela, com um tom gentil.
"Eu quero ser mais que isso." (Uhum...) — ...Até amanhã na reunião.
— Até.
Nathaly pegou um elevador diferente do dele. O rosto mudando quando a porta se fechou. O corpo soltou-se, ficou livre. Braços para frente, corpo curvado, mole. A menina sentia-se cansada. Exausta.
— Não sou uma menininha indefesa, dá um tempo — resmungou. Brr... o celular vibrou na bolsa.
Sorriu.
Por alguma razão, aquele som bem padrão reverberava por sua mente, fazendo-a saber exatamente quem era que lhe mandava uma mensagem em um momento tão conveniente. Usou aquilo para fazer ciúmes no menino que não a assumia... Conseguiu?
— Consegui.
Naquela mesma noite, Arthur permanecia deitado em sua cama, mas não conseguia dormir. Muito inquieto e ansioso, só pensava em Nathaly. Só pensava em cada momento. Só revia cada cena, cada coisa que fez, cada mínima ação que pode ter feito-o ganhar "pontos" para conseguir trocar por tickets do amor no jogo de fliperama que lutava para vencer.
— Vou pedir ela em namoro amanhã... — (Emocionou.) murmurou para si. Rodando de um lado para o outro na cama. Cadê sua motivação absurda em dar orgulho ao pai? Foi cegado. A paixão conseguiu fazê-lo esquecer seu ritual diário. Nem havia trocado a roupa. Nem havia tomado um banho. Tirado os sapatos. Aquilo se tornou especial.
Conseguia ainda sentir o cheiro dela. Conseguia sentir a maciez do braço quando "ajudou-a" a não cair dos degraus escuros do cinema. Via o olhar furioso e fofo, do rosto e olhos âmbar lhe encarando nos últimos minutos que permaneceram juntos naquele edifício.
Um perigo. Um cego. Uma vítima da própria expectativa elevada. Não via o básico. Não via o óbvio. Era tarde. Não dava mais para voltar atrás. O coração batucava todas as vezes que a via na escola... nos sonhos. Era tarde para conseguir pensar de forma racional e notar que aquilo... que aquela possibilidade só existia em sua cabeça.
Decidido a esfriar a cabeça, para conseguir dormir e ficar mais tranquilo para algo tão grandioso e arriscado no dia seguinte, Arthur subiu ao terraço do prédio pelas escadas. O elevador não parava lá, e não queria correr o risco de trombar alguém e ser perguntado do porquê um sorriso tão alegre estampava sua feição.
Quando chegou lá, notou que a porta estava apenas encostada, e não fechada como deveria. Normalmente ficava trancada, mas quando queria pegar um ar, usava magia de água para destravar o cadeado e passar... outra pessoa fez o mesmo?
Aproximou-se com calma e ouviu alguns sons. Ao espiar por uma pequena fresta, viu Nino sentado no chão beijando uma garota sentada no colo dele. As mãos afundadas por baixo da saia preta.
Arthur se afastou rapidamente. (Medo.) Tentando não fazer barulho, voltou para seu apartamento e fechou a porta atrás de si. Caiu. Arrastou as costas na porta. Desceu e Titá não se encontrava para ser abraçado enquanto seu tio fazia uma festa vulgar e obscena com homens drogados pela casa. SUA HERANÇA. Seu quarto, seu refúgio. Não era. Seu apartamento, aquela entrada com vista para a sala e cozinha teve um gosto de infância amargo. Solitário e triste.
Silêncio... mais um choro silencioso?
Lágrimas escorreram pelo rosto do adulto que se via pequeno como uma criança assustada e medrosa mais uma vez. Os braços encolheram, o corpo também. As roupas sumiram, vestia os trapos infantis que lhe eram deixados e permitidos usar.
Pernas juntas, cabeça entre elas. Braços abraçando. Titá? Titá...? Salve-o.
— Era ela? Era a mesma roupa... Era a mesma roupa... Por quê?... Por quê...? Por que aceitou ir se estava com outra pessoa...? Queria só zoar com a minha cara? — Sua voz embargada de choro era difícil de ser entendida. Afogou-se nas coxas, não havia para onde ir, olhar.
Ficou ali, chorando encolhido em um canto de seu apartamento, pensando na garota que amava enquanto ela continuava no terraço do prédio transando com outro cara.
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