Volume 1

Capítulo 20: Primeiros Passos

O portão de Fénnut range como uma saudação de boas vindas aos três Dragões Guardiões. Laki lidera de cabeça erguida enquanto a cabeça do Goblin Campeão pendula presa à sela de Marine. Nesse momento Alice, que está lendo um livro sentada na beira do chafariz central do castelo, fecha o livro e se dirige ao grupo com passos tranquilos.

—Vejam que se saíram vitoriosos. —ela ajuda sua arqueira descer da égua com cuidado, chamando os cocheiros para levarem os cavalos. —Estou ansiosa para ouvir sobre a missão de vocês, mas antes, como a Vila está? Soltaram a todos?

—Até o último animal de estimação. —a Dragoa Vermelha sorri para a rainha, em seguida entrega a rédea de sua montaria para um dos cocheiros.

—Ótimo! —Alice observa Grim, mas se assusta ao ver Haru coberto de ataduras. Ela acerca sua Espada rapidamente, colocando a mão sobre o rosto dele. —O que aconteceu contigo?

—Como? —a proximidade repentina assusta o recrutado, fazendo-o se afastar, mas Alice continua olhando-o seriamente, muito próxima dele. —Foi uma batalha longa, é normal…

—Onde está Mia? —a rainha questiona, olhando ao redor.

—São 9 horas, deve estar na enfermaria. —Grimm responde, sem entender a atitude de sua rainha e mestra, enquanto olha as horas no relógio de bolso

—Você vai direto para a enfermaria, certo? —Alice aponta para Haru, impondo sua obediência. —Quando terminar, quero ver você na minha sala! Sem discussões.

—Mas…

—Laki e Grim, vocês vem comigo. —a alteza interrompe e retorna sua atenção à sua arqueira e ao seu machadeiro, o vento faz seus cabelos loiros esvoaçarem , assim como vestido verde-água de saia longa.


Haru tenta retrucar, mas logo foi deixado para trás, confuso. “Por que tanta preocupação? São só arranhões!” Ele pensa, suspirando, levando as mãos nos bolsos. Por um momento, percebe Oz ao seu lado, pegando a rédea da mão de Haru.

—Deixe Gládio comigo. —o guarda-caça o analisa de cima abaixo. —Você está horroroso.

—Tinha que ter visto o outro cara. —o recrutado retira a Predadora das costas e o entrega. —Obrigado pela ajuda.

—Bom, pelos arranhões na espada, você deu trabalho a quem enfrentou. —ele retira o começo da espada da bainha e a prende nas costas. —Me conte amanhã, vamos ter trabalho nos estábulos.

O novato vê Gládio e seu mestre de espada se despedirem e aspira, leva as mãos aos bolsos de novo e caminha para dentro do castelo. Se vê obrigado a perguntar para alguns membros sobre o caminho para a ala hospitalar. TrÊs andares depois, se vira no corredor, encontrando a porta entreaberta com a placa indicando seu destino.

Olha para dentro do local, vendo se alguém está ali, até seus olhos encontrarem uma mulher, sentada de pernas cruzadas e um cigarro na boca. A princípio ela não parece notar o Dragão Branco, isso o fez pigarrear.

—Com licença? —o recrutado entra na sala a passos curtos.

—O que você quer? —ela solta a fumaça e, quando fita Haru, levanta as sobrancelhas. —Quem foi que te atropelou?

—Meus 12. —o espadachim revira os olhos, esperando uma reação diferente sobre seu estado físico.—Você sabe onde está a Mia?

—Ela saiu para pegar os suprimentos no estoque. —Nami se levanta, deixando a lâmpada iluminar sua madeixa azul-marinho. —Senta na maca, ela já deve…

—Luctus em seu trono! —Mia quase deixa a caixa em mãos cair, com o susto ao ver uma pessoa enfaixada daquela forma na sua frente. A expressão referente ao Deus da Dor é comum da secretária e enfermeira.

—Falando nela. —Nami aponta em direção a maca, com expressão entediada.

 

Haru se vira à suas costas, vendo a mulher com os óculos caídos quase na ponta do nariz, segurando uma caixa fechada que parecem tocar um som vítreo dentro. Estreita os olhos ele reconhece a secretária que o chamou em seus primeiros dias no castelo para encontrar Magnus. Após um momento, ele se prontifica a ajuda-la.

—Pode deixar a caixa comigo. —ele se aproxima, mas Mia retira-a das pontas dos dedos dele abruptamente.

—Nada disso! —ela diz rude, ajeitando o óculos no rosto. —Nami, tira essas faixas dele! Eu já vou examinar ele! Você, já para maca!

—Sim, chefe! —o recrutado ouve a voz de onde a maca está.

—Francamente.

Haru desiste e resolve obedecer, se senta sobre a maca, retirando a jaqueta da farda, revelando as faixas sobre o peito. O porte físico dele fez as sobrancelhas dela novamente se erguer, demorando alguns segundos para começar a desamarrar as faixas da cabeça. Em alguns minutos, o peito e os braços revelavam algumas manchas sobre o corpo.

Mia se aproxima, ajeita o jaleco sobre a blusa preta e, antes que ele fale, ela segura o rosto dele, mexendo nos cabelos dele até encontrar algum machucado.

—Sem abcessos. —ela continua fazendo o crânio dele se mexer contra a vontade dele. —Um galo pequeno no lado direito.

—Com licença.

—Sem ossos quebrados também, a princípio. —ela prossegue, tocando as manchas sobre o peitoral dele e nos braços, alguns apertões o faziam querer se retrair. —Deita.

—Espera. —Haru ergue as mãos como sinal de relutância. —Por que está me tratando feito criança?

—Lá fora você pode ser até o Primeiro Rei, aqui você é meu paciente. —Mia o olha sério, encarando-o, fazendo ambos olhos azuis se encontrarem. É a primeira vez que ela encontra um paciente teimoso como o Espada. A expressão séria dele o fez corar, assim, se deita.

Mia o examina minuciosamente, prestando atenção em cada micro reação que Haru tinha em seus toques. Conclui que realmente não havia luxações ou contusões sérias. Ao estetoscópio, percebeu uma pequena dificuldade de Haru em respirar. “Talvez um pouco de exaustão muscular”, ela pensa até arregalar os olhos, recordando de alguns sintomas conhecidos.

—Houve algo anormal na sua missão? —ela tira o estetoscópio, ajeitando as luvas cirúrgicas, tocando um pouco acima das costelas dele, pressionando bem devagar.

—Laki me falou que eu despertei o “véu guardião”.—o espadachim diz, entre uma expressão de dor e outra. O que ele diz faz a enfermeira sobressaltar.

—Véu guardião!—Mia diz quase gritando, deixando o receptor cair da mão.—Meus 12, isso explica os sinais de sobrecarga.

—Sobrecarga?

—Você devia ter me dito antes! —a secretária corre em direção a caixa que trouxe antes.

A enfermeira caminhou rapidamente, retirando um bisturi de uma gaveta e o álcool do armário. Ela retira um vidro pequeno com um líquido azul meio esverdeado, entregando-o a Haru com cuidado.

—Bebe isso!—ela não consegue esconder a preocupação, entregando o frasco à ele— Em um gole só!

O olhar de preocupação da profissional fez com que ele sente e tome o líquido. O gosto amargo com um pouco de azedume fez a solução ser engolida com dificuldade. Logo sentiu um pouco da sua mana reagir como uma corrente fluida pelos músculos. Alguns leves arranhões parecem se fechar. O efeito fez Mia suspirar de alívio.



—Não estava em estágio avançado, isso é bom. —a enfermeira tira o óculos, pressionando a ponta dos olhos próxima ao nariz com os dedos. Ela, ao encontrar um banco, o puxado para se sentar de frente a Haru. —Sobrecarga é a pior doença que pode afetar um usuário de mana.

—Eu estou com isso? —o novato segura o frasco entre as mãos, a analisando.

—Se continuar sendo imprudente, vai ficar. —Mia cruza os braços, séria. Em nenhum momento ela desvia o olhar das íris cerúleas dele—Você disse que despertou a habilidade?

—Sim.

—Isso significa que você não tem nenhum treino ou maestria sobre. —ela recupera o auscultador do chão. —Quando você “desperta” essas coisas, você permite que a mana tenha controle sobre você. Mana sem controle é como uma arma na mão de um cego, alguém vai acabar se machucando.

Haru olha o vidro em sua mão. Ainda não entende o porquê os 12 fazem ele ter essas habilidades, ainda mais nos momentos mais precisos, mas está certo que deveria treinar ainda mais. Corpo e mana.

—Toda semana a partir de hoje, você vai vir aqui, entendeu? —Mia se levanta, indo até o armário no lado direito da sala. Ela retira um bálsamo e algumas ataduras. —Recomendo a ficar três semanas sem treinos fortes ou esforços demasiados.

—Três semanas? —Haru pergunta de olhos sobressaltados.

—Se reclamar, coloco 1 mês! —Mia fala de forma rude. Ao perceber que aquele que está em sua frente era o garoto que vira sem camisa na sua frente, e que está muito próxima dele, sente seu rosto esquentar—D-Desculpe, não foi minha intenção agir assim com você.

Haru percebe o pequeno rubor sobre o rosto dela e se vê preocupada sobre a reação. “Ela deve estar trabalhando demais, por isso a agitação.”O recrutado pensa, coçando as costas da cabeça sobre a situação.

—Está tudo bem. —ele deixa os ombros caírem, entregando o frasco a ela. —Posso continuar treinando desde que seja tranquilo não é?

—Sim, sem problemas. —ela pega o objeto.

—O que foi que eu tomei? —Haru olha o recipiente, relembrando o gosto.

—É uma poção de mana. —Mia aponta para a caixa. —Acredito que não devem ter entregue algumas a vocês por se tratar de uma missão curta.

—Como sabe da nossa missão? —ele tomba um pouco o rosto, curioso.

—B-bem, eu sou secretária real. —ela gagueja, desviando o olhar, mantendo uma postura orgulhosa. —É normal que eu fique sabendo de todas as ações dos membros do clã

—Faz sentido.

Ela faz um gesto para que ele vire de costas, enquanto retira uma pequena quantidade de pomada entre os dedos médio e anelar da mão direita, passando com cuidado nos machucados de Haru. Após alguns minutos em silêncio, enquanto ela coloca novos curativos nos braços e no torso dele, ele fala.

—Meu nome é Haru. —ele diz, um pouco desconcertado com os últimos acontecimentos.—Não fomos apresentados devidamente antes.

—Arthuria. —ela responde, amarrando as faixas do braço direito dele e ajeita algumas poucas mechas do cabelo dela sobre a orelha. —Arthuria Mianfert, mas pode me chamar de Mia.

Mia sorri discretamente, deixando um risinho escapar lembrando dos últimos minutos. Talvez, ter que ajudar no tratamento dele, fosse a desculpa que precisasse para conhecê-lo, uma vontade que teve desde o dia que o viu.



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No escritório real, Alice ouve os relatórios de Laki e Grim. Toda a missão relatada parecia um desafio ainda maior do que o esperado, isso a deixou preocupada. “Eu deveria ter pensado mais nas possibilidades, me deixei levar pelo critério de urgência.” Ela pensa enquanto entrelaça os dedos na frente da boca, como se começasse uma prece.

—Nós realmente não podemos mais contar com a sorte, não é mesmo? —a rainha recostou na cadeira, suspirando. —Não acho que vocês três falhariam no cumprimento da missão, mas as feridas que Haru apresentou.

—Haru realmente foi uma surpresa. —Grimm cruza os braços, se ajeitando na poltrona. O comentáro fez uma das sobrancelhas de Laki erguer. Ele ignora a ação da amiga. —Mas o monstro ter se descontrolado…

—Não é todo dia que há relatos de um berserker. —a arqueira completa o pensamento. —Isso pegou todo mundo desprevenido. Ainda acredito que a última defesa do Grim poderia me dar os mesmos segundos que o Haru conseguiu, mas não tão providenciais.

—Um Dragão de Prata. —a rainha sorri em tom nostálgico.

—Como? —a dragoa olha a mestra curiosa. —Ragna escolheu…

—Sim —Alice mantém o sorriso nostálgico, agora com um ar orgulhoso no semblante.—A Dragoa Rubi, o Dragão Onix e o Dragão de Prata. Essas são as alcunhas de vocês três.

—Preciso. —Laki sorri, abaixando o olhar. A expressão decepcionada dela incomodou a alteza.

—Algo te incomoda? —A rainha questiona, curiosa.

—Não, é só o cansaço.—ela volta sua atenção a Grimm. —Acho que encerramos não é?

—Acredito que sim. —o guerreiro se levanta. —Se me permite, eu queria ir falar com o Ragna um pouco.

—Claro. —Alice olha o relógio na mesa, vendo o horário do almoço se aproximar. —Tirem o dia de folga também. Caso encontrem o Haru, reforcem ele para vir aqui.

—Pode deixar. —ambos diziam em sequência.

Laki se ergue, virando de costas. Alice chama a atenção da pupila.

—Quando se sentir confortável conversaremos, está bem? —os olhos glaucos da majestade fitaram seriamente os de sua aluna.

—Eu não consigo esconder nada de você, não é? —ela ri aliviada.

—Nada.

Alice se despede dos dois com afeto. Magnus sempre a advertia sobre o apego que sentia a cada um dos alunos, mas não conseguia evitar. Laki, Grimm, agora Haru, todos são como seus filhos e ela agiria como mãe. Obviamente sente um apego maior à sua aluna, não conseguia esconder, talvez soubesse o motivo, mas não sabia se poderia contar a alguém.

Grimm e Laki caminham pensativos, até que ela resolve quebrar o silêncio.

—Vai pedir desculpas ao Ragna? —ela leva as mãos aos bolsos da calça, espreguiçando-se contidamente.

—Não tem o que pedir desculpas. —o machadeiro diz duramente, mesmo que sua expressão mostrasse outra coisa. —Só que, está claro que não podemos continuar assim.

—Ninguém aqui quer ser engolido pelo novato pelo visto. —Laki se diverte com o que diz. —Decidi que vou treinar combate com ele na próxima vez.

—E aí está a Laki caçadora.

—Fazer o que. —a arqueira dá de ombros. —Todos queremos melhorar.

A conversa dos dois é interrompida quando veem Haru na frente deles. Ele havia feito sua higiene e colocado a camisa e calça casuais do seu guarda roupa. Os cabelos molhados despretensiosos deixavam ainda mais claro seu ar de limpeza. Ele os cumprimenta com um aceno de cabeça, passando por eles.

—Alice pediu para ir encontrá-la o quanto antes. —Grimm fala quando seu ombro encosta com o dele.

—Estou indo para lá agora, não se preocupe. —a voz do espadachim parece distante, mas séria.

—Haru.—a Dragoa Rubi segura-o pelo braço com cuidado, pensativa. —Eu não tive a oportunidade de dizer antes, mas, obrigada.

O agradecimento da sua parceira o fez estremecer por dentro, suas sobrancelhas hastearam em uma expressão incrédula. Se viu forçado a observá-la.

—Se não fosse por você, não teríamos tido essa missão. —ela continua. —Bem, espero que possamos melhorar juntos.

—Laki está certa. —Grimm conclui, dando um tapa breve no ombro do recrutado. —Alice está te esperando.

—Poderia repetir o que disse sobre mim? —quando eles se afastam, ela diz brincalhona.

—Não abuse da sorte.

Laki ri assim como Grimm, deixando um Haru questionando sobre si para trás, enquanto retoma seu caminho até ao escritório de Alice. Ele tem que ter um cuidado a mais para não esbarrar em alguém, estando curioso sobre o que sentiu após o agradecimento de sua parceira. Isso o fez demorar alguns segundos para bater na porta quando chegou ao destino.

—Entre, Haru!—a rainha grita dentro do escritório.

Quando o recrutado entra, a vê encostada próxima a janela nas costas da sua mesa, admirando a passagem das pessoas pela ala central do castelo.

—Desculpe a demora. —o recrutado entra, ajeitando a blusa. A manga curta deixa as faixas nos antebraços tão expostas o incomodava. —Não me permiti não estar apresentável antes de vir.

—Sem as faixas na cabeça você já parece melhor. —ela sorri, indo até uma das poltronas. —É impressionante o quanto o perfeccionismo da Mia está em cada detalhe, principalmente nos curativos que faz.

—Fico grato por ao menos não parecer uma múmia.

O comentário fez a dragoa real ri de forma divertida. “Ele ainda está fechado, mas parece mais tranquilo. Os escudos baixaram só um pouco”.Ela reflete, fazendo um gesto para ele se sentar na poltrona de frente a dela. Ele obedece.



—Então, eu devo começar meu relatório…

—Não te chamei aqui para falarmos da missão, Haru. —ela diz, inclinando um pouco o corpo para frente do assento.

—Desculpa.—o recrutado diz curioso. —Não entendi, então.

—Haru, eu te chamei aqui para pedir desculpas.


Alice respira fundo, por um momento, sua cabeça retornou ao Haru que encontrou dentro da cela solitária nas masmorras de Golden. Ela pensa que por um momento, aquele olhar perdido do recrutado desapareceu, mas ainda há muito que entender sobre ele. Uma semana passou e ele se dedicou mais do que o esperado, mas a que custo? Ver ele machucado daquela forma a assustou muito.

—Você pulou etapas aqui que eu jamais pediria a alguém para fazê-lo. —a Dragoa Opala coloca ambas as mãos sobre o colo, entrelaçando cada um dos dedos, buscando justificativas vazias. —Nossa falta de preparação acaba te machucando e eu assumo essa responsabilidade.

—Não. —o Dragão de Prata a mirou por um segundo. —Eu admito ter sido imprudente nos últimos dias e isso pode ter preocupado muita gente. A responsabilidade é minha.

—Ser imprudente não é pecado, nunca foi.—ela sorri, ajeitando o cabelo em ambos os lados.—Ter visto vocês três voltarem daquela forma me deixou nostálgica. Rainha Wanda sabia exatamente o horário que chegaríamos sempre que saímos em missão, estar no lugar dela hoje me deixou assim.

—Eu imagino. —o recrutado se sente vulnerável, as lembranças que teve de sua mãe esperando quando ele saia da escola e da faculdade inundaram sua mente.

—Talvez você não saiba a sua importância aqui. —a rainha inspira fundo e expira tranquilamente. —Mas desejo que a perceba com o tempo. Eu acredito que os planos que os 12 tenham para você conosco serão incríveis.


Haru ouve atentamente cada palavra. Esta sendo agradecido por diversos lados e ainda não sabia os porquês. Está sendo e se sentido acolhido e não se achava merecedor disso. Por aquele momento, ele só disse.

—Ainda há algo que eu deva saber?

—Sim.—ela se levanta. —Tire o dia de folga hoje e descanse. Vou esperar o relatório da Mia e assim passarei o regime de treino para sua recuperação.

Assim eles se despedem. Haru sai do escritório, respira fundo enquanto digere tudo o que foi falado. Como o plano inicial, vai ao refeitório. Não poderia descansar de barriga vazia.



*****************************



—Por favor! Continue me ensinando o estilo Jishin!

O grito de Grimm ecoou pelo centro de treinamento do castelo, deixando Ragna desconcertado. Ele quase deixa a aluna mais nova cair quando vê seu aluno o reverenciando no meio do local.

—Eu ensinaria mesmo contra sua vontade, garoto. —o mestre endireita a aluna e volta a atenção a postura dela. —Mas o que te fez mudar de opinião garoto?

—“A primeira missão muda um cavaleiro”.—Magnus estava passando por ali até ouvir o berro de Grim. Ele achou divertido e quis participar da situação. —Meu pai sempre disse isso.

—Admito que me lembrei disso também. —Ragna diz depois de uma risada ruidosa.

—Eu achei que seria necessário pedir desculpas a você, mestre. —Grimm mantém o corpo inclinado. Seu professor o ergue.

—Bobagem, garoto. —o Dragão de Jade, como o antigo Rei Maximoff o chamava, dá uma piscadela ao seu pupilo, dando uma leve palmada no ombro dele.—Seria chato se nós concordássemos com tudo. Mesmo assim fico feliz com o pedido.

—Obrigado, Ragna.

—Grimm. —o rei pigarreia, pedindo atenção. — Você me permite me acompanhar um pouco?

—C-Claro.

Grimm pede licença ao professor que deseja um bom descanso a ele. A tarde está caindo, o Sol laranja de Anfell dá um aspecto mais aprazível as paredes negras do castelo dos Dragões. Magnus não revela, mas as tardes assim são saudosas. Podia se ver criança com seu pai caminhando a frente de ambos.

—Grim, eu sou um rei ruim?—o rei perguntou, olhando para o lado onde leva ao chafariz do castelo.

—De forma alguma!—o Dragão Ônix responde surpreso com a pergunta. —Eu duvido que haja um rei como você hoje em Anfell.

—Você consegue ser exagerado quando quer, garoto! —Magnus ri alegremente, bagunçando os cabelos rebeldes do garoto. —Não pense que estou inseguro, só estou pensativo.

—Eu entendo. —Grimm sorri, desviando do olhar de sua majestade.

—Eu queria pedir desculpas por ter sido duro com você anteriormente. —o Dragão Granada, a alcunha entregue por Ragna, abaixa os olhos acobreados, ainda pensativo. —Acho que exagerei um pouco nas palavras que usei.

—E-está tudo bem. —o machadeiro suspira. —Estava com sangue quente, não consegui me controlar.

—Sua cabeça está no lugar, mas ser imprudente…

—Não é pecado.—o machado real alegra-se, completando a frase—Sinto falta do vovô Max.

—Eu também. —Magnus inspira fundo. —Eu quero que você saiba que quero sempre o melhor para vocês, isso nunca vai ser uma questão, só que, isso implica e ser duro às vezes.

O rei para em seu caminho, levando as mãos sobre a cintura. “Eu já tive essa conversa com você, não é, pai?” Ele questiona mirando o céu acima do teto sobre sua cabeça. Grimm para alguns passos à frente, observando o rei com admiração.

—Eu ainda lembro do dia que você chegou aqui. —Magnus ajeita o cabelo próximo a testa, fazendo os seus olhos brilharem quase como dourados. —Você continua aquele garoto determinado a fazer seu melhor. E eu só quero fazer isso acontecer, por isso, preciso tomar decisões difíceis também. Decidi treinar o Haru por achar ser o certo.

—Eu entendo. —Grim desvia o olhar de novo.

—Então me faça acreditar nisso! —Magnus impõe, se aproximando de seu discípulo. —Ragna também é um rear, ele saberá te treinar melhor do que eu nunca poderia e você deu um primeiro passo hoje. Estou orgulhoso.

Magnus puxa Grimm para perto, o abraçando de forma acolhedora, dando um leve beijo em sua testa. O guerreiro odeia admitir, mas tem que mudar, evitar aceitar o que estava acontecendo. Talvez, antes de tudo, ele estava confortável demais. Ambos se despedem e ele se coloca pensativo em direção ao seu dormitório, até um puxão te trazer para um caminho diferente.

—Você vem comigo!—Laki diz autoritária, carregando um jarro de vidro no braços.

—Hey!

—Sem reclamar! —a arqueira continua o puxando. —Vamos ver o Haru agora!



***********************



Haru está sentado na cama, com um livro no colo, um caderno de anotações sobre o colchão e um lápis na mão. Resolveu estudar um pouco sobre a teoria da mana, mesmo que estivesse convicto de que deve aprender mais sobre a energia na prática.

Ao ajeitar o travesseiro nas costas, se encosta, sentindo o cérebro pesar alguns quilos a mais após tanta informação. Vira sua atenção para o céu do começo da noite de Anfell, se permitindo admirar aquele momento. Logo alguém bateu na porta.

Ele estreita os olhos, surpreso, mas se rende a curiosidade. O recrutado se levanta abrindo a porta e, em poucos segundos, vê Laki entrando no quarto com algo abraçado contra o corpo.

—Eu falei com você que ele estava acordado. —a arqueira analisa cada canto do quarto. —Quer lugar arrumadinho esse?

—O que vocês…

—Não me pergunte. —Grimm entra com os braços cruzados contra o peitoral. —Sou refém também.

—Para de ser tão dramático. —Laki senta no chão, abrindo o pote em mãos. —Fui na cidade um pouco e Seu Sebastião, dono da vendinha disse que eu podia pegar o que eu quisesse pela conclusão da missão. Nada melhor que biscoitos amanteigados com geleia.

—Você trouxe um pote inteiro?! —o cavaleiro diz incrédulo. Haru ainda não entendia o porque estavam ali. —Você sabe que não pode ficar entupindo de doces.

—Tá bom, papai! —a arqueira bufa, fazendo um sinal para eles se sentarem. —Se não vierem, eu comerei tudo.

—O que vocês estão fazendo no meu quarto?!

O Dragão Prateado se viu obrigado a elevar sua voz para ter atenção. Isso fez com que eles o olhassem por um segundo. Laki se pôs a rir como uma criança arteira.

—Viemos comemorar o êxito na nossa primeira missão. —a Dragoa rubi tira o primeiro biscoito mordiscando-o.—Não seria justo se fizéssemos isso separados.

—Tenho que concordar. —a afirmação de Grimm fez ambos o fitarem.

—É a segunda vez que você concorda com a Laki, ainda hoje. —Haru comenta, sem entender o que estava dizendo.

—Eu também to assustada. —a líder dá outra mordida, um pouco mais lenta no biscoito. —Chamo um exorcista ou um padre comum serve?

—Vocês dois concordando entre si é um inferno também. —Grimm se senta próximo de Laki, pegando um biscoito da jarra emburrado.


Haru vê ambos sentados no seu quarto, e não evita se sentir feliz com a situação, mesmo não demonstrando. Seu corpo inconscientemente se senta sobre a cama, na beirada, próximo a Laki, levando a mão para dentro da jarra e tirando alguns biscoitos.

Ele permanece em silêncio por alguns minutos, apenas analisando os dois. Está se sentindo confortável, mas não queria expressar isso. Aos poucos, se deixa levar pelos assuntos que eles propunham.

Aqueles que nascem para ser Dragões viviam como eles. Mesmo que solitários, um dia buscam seus grupos. Haru não sabe, mas o livro que Ita escolheu para sua história estava sendo escrito e os caminhos continuam firmes assim como as páginas virariam. A Primavera Negra ainda é um ponto longínquo no horizonte, como o Sol e o sorriso que o recrutado esconderam naquela noite.

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