Volume 1

Capítulo 15: A Vila Melnyk

A vila Melnyk ficava cercada por algumas colinas, e ao fundo uma floresta delimitava a fronteira com o distrito vizinho, a cerca de dez quilômetros do Castelo dos Dragões. O chão de terra batida formava uma trilha que levava até a estrada de paralelepípedos que cortava o vilarejo. Os sulcos das rodas de carroças deixavam claro o constante tráfego de mercadorias até ali.

Laki guiava seus companheiros até o alto de uma colina a noroeste da vila, onde, à esquerda, poucas árvores cresciam próximas ao muro de brita que cercava o núcleo do povoado. Os três Dragões amarraram seus cavalos em troncos distintos, e ela avançou à frente, procurando um ponto onde tivesse uma visão diagonal da vila e do movimento inimigo.

— Alice e Magnus estavam certos — sussurrou, em tom baixo o suficiente para os outros ouvirem. — Jaulas de madeira improvisadas, alguns guardas as vigiando de posições diferentes. São iscas fáceis.

— Goblins não deveriam ser tão espertos assim — resmungou Grimm.

— Mesmo assim, estão desorganizados o suficiente — Haru completou, analisando a vila de outro ângulo. — É o cenário ideal para um ataque furtivo.

— E como você sugere isso? — Laki ergueu a voz levemente em sua direção.

— Posso contornar pela esquerda da vila — respondeu o recruta, apontando na direção enquanto mantinha os olhos fixos no inimigo. — O movimento por lá é mais solto, despreocupado. Vai ser fácil me esgueirar.

— E o que pretende fazer com os sinos? — o Dragão Negro questionou, indicando os objetos próximos aos portões da frente e dos fundos.

— Deixe isso comigo — disse a arqueira, retirando o arco das costas. Segurou-o pelo centro e verificou a tensão da corda. — Vou dar cobertura do alto da colina. Você cuida das distrações.

— Você só pode estar brincando — murmurou Grimm, indignado. — Não vou ser um chamariz.

— Prefere entrar pela porta da frente e enfrentar todos sozinho? — retrucou Haru, com ironia. — Vai facilitar muito meu trabalho.

— Francamente... — Grimm bufou, ignorando o companheiro.

— Vá na frente, Haru — Laki revirou os olhos, mais pela atitude de Grimm do que pela provocação do recruta. — Seu caminho é mais longo. Tome cuidado.

O espadachim apenas assentiu e se afastou agachado, desaparecendo entre a vegetação. A Dragoa Vermelha então se virou para Grimm, com o semblante sério.

— Qual é o seu problema, garoto? — disse entre dentes, quase perdendo o controle do tom.

— Abaixa a voz! — Grimm a alertou, apreensivo.

— Se você só serve como brutamonte pra socar, estou te facilitando o trabalho — continuou ela, agora em sussurros. — Deixe que eles venham até aqui, e resolva isso do seu jeito.

— Você sabe que não é só isso...

— Justamente por saber da sua capacidade é que estou te tirando da zona de conforto — respondeu, cutucando o ombro dele com firmeza. — Você é o manipulador de terra do clã. Então faça o chão tremer e leve esses desgraçados ao desespero.

O olhar confiante de Laki, típico dela, bastava para encorajar Grimm — até mesmo nas piores horas. Ela apenas apontou para a direita da vila, e ele obedeceu, ajustando o machado nas costas antes de seguir o caminho.

Enquanto isso, Haru se esgueirava entre as árvores, lançando olhares periódicos ao muro para não perder o rumo. Percebeu alguns goblins revezando a vigília próxima aos sinos, o que despertou sua curiosidade. “O que vocês estão escondendo?”, pensou, apertando o cabo da espada. Seus passos leves, próprios de um militar treinado, mal produziam som sobre a grama. E, quando pisava na terra batida, usava a ponta das botas para deixar pegadas distorcidas, difíceis de rastrear.

Ao chegar ao muro, Haru procurou por frestas entre as pedras para escalar. Em poucos impulsos, já havia ultrapassado a barreira e se esgueirava até a parede de madeira da casa mais próxima. Encostou-se nela, fechando os olhos por um instante para escutar os passos ao redor, enquanto soltava a mão do cabo da espada. Num movimento rápido, virou-se e agarrou o primeiro goblin que passou por ali, prendendo-lhe o pescoço em um mata-leão. Devido à estatura baixa e ossos frágeis da criatura, sua garganta foi esmagada com facilidade. Haru amaldiçoou o fato de ainda estar fora de forma.

Os goblins mais altos não passavam de um metro e quarenta. Eram magros, alguns com barrigas levemente protuberantes, vestindo apenas trapos puídos roubados, usados para cobrir as genitálias. A pele era viscosa e esverdeada, coberta por feridas purulentas e abcessos rompidos. Seus dentes, podres e pontiagudos, reforçavam o aspecto animalesco da raça.

Haru acomodou o cadáver do goblin como se estivesse apenas descansando, com a cabeça pendida para frente, escondendo o pescoço quebrado. Notou uma adaga presa à cintura da criatura e, ao longe, avistou o corpo de um humano caído — talvez a origem da arma.

— Você não vai precisar disso — murmurou, afastando a mão de três dedos do defunto e pegando a adaga, que prendeu à própria cintura.

Após controlar a respiração, avançou em silêncio até a próxima casa. O fôlego contido aguçava-lhe os ouvidos, e passos se aproximando o fizeram parar. Avançou dois passos precisos para ajustar a mira e lançou a adaga, atingindo um goblin entre os olhos. Ao se aproximar do corpo e ver o quanto a lâmina havia penetrado, percebeu o quão afiada estava. Recuperou a arma e limpou-a na própria calça antes de guardá-la novamente.

O susto ao perceber outro inimigo se aproximando foi abafado por um breve tremor no solo. Haru correu até a parede à sua frente, agachando-se próximo a um barril de água. Os sons de agitação se intensificaram, e uma flecha voou do leste, cravando-se no peito de um goblin. À distância, viu Grimm se esgueirando até um tonel perto de uma canaleta.

— Não saiam me assustando assim — murmurou, aliviado por não estar sozinho.

Ao analisar os arredores, avistou uma criança entre os prisioneiros que o observava com olhos arregalados. Haru levou o dedo indicador aos lábios, pedindo silêncio. Aproximou-se deles, mas parou ao perceber outro goblin surgindo, armado com uma lança e se dirigindo ao garoto.

A criatura se preparava para atacar quando foi apunhalada por Haru, que tampou-lhe a boca. Sentindo que o golpe não fora suficiente, o ex-militar o esfaqueou três vezes na lateral do tronco. Um ruído o alertou de outro inimigo se aproximando; sem hesitar, arrancou a lança do cadáver e a arremessou na direção do novo oponente ao noroeste, perfurando-lhe o pescoço.

— Não vou conseguir ficar nas sombras por muito mais tempo — murmurou, sentindo outro tremor menor e voltando a atenção aos reféns. — Fiquem aqui. Nós voltaremos para libertar vocês.

— Eles estão prendendo alguns de nós no casarão, senhor! — avisou uma mulher, apontando para uma casa a poucos metros às suas costas.

“Deve ser a casa do senhor Gustav…” pensou, agradecendo à prisioneira. Afagou a cabeça do garoto que se manteve em silêncio, como pedira, e sussurrou um agradecimento.

Haru girou a adaga no ar algumas vezes e correu em direção ao casarão, rodeando-o enquanto procurava por uma forma de entrar. Quando encostou na parede, ouviu estrondos ao longe e sentiu uma dor aguda na cabeça. Os olhos lhe traíam, e imagens de memórias antigas o invadiram. Apoiado na parede, tentou controlar a respiração.

— Agora não… — sussurrou entre dentes, sentindo o ar pesar. Teve a impressão de ver névoa e a terra cinzenta do fronte. — Isso aqui não é A Queda, Haru. Você tem pessoas para salvar aqui.

Não muito distante dali, Grimm apertava o cabo de sua arma, observando os arredores e refletindo sobre o caminho percorrido até aquele ponto.

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