Volume 1
Capítulo 16: Machado e Flechas
Muito a contragosto, Grimm obedeceu a ordem de Laki e pulou o muro para dentro da vila. Ajustou o machado emprestado nas costas, cuidando para que as lâminas não tilintassem contra o suporte da correia que o prendia. Ao ouvir passos se aproximando, buscou abrigo atrás de um muro de madeira.
— Hora de começar a bagunça. — murmurou.
O rear suspirou e socou levemente o chão. Ao contato do punho com a terra, um leve tremor espalhou-se pelo solo, causando desorientação nos inimigos próximos. Golpeou o chão novamente, percebendo que talvez aquilo não fosse suficiente. Espiou pela quina da parede sul do esconderijo e viu uma flecha cravar-se na garganta de um goblin, próximo ao sino do portão dos fundos da vila.
A cena serviu de gatilho para que ele começasse a se mover, liberando um pouco de sua aura. Puxou uma faca de arremesso do cinto de couro e a lançou contra o inimigo à sua direita, acertando-o no ombro. Num impulso, empunhou o machado e decapitou o monstro com um corte limpo.
Após recuperar a faca, sondou os arredores. A leste, um goblin tombou com um punhal cravado na testa, denunciando o esconderijo do recruta. Ao perceber que alguém poderia se aproximar, pisou com força no chão, provocando um tremor ainda maior.
Laki deixou a floresta, segurando o arco com uma das mãos e ajustando a aljava no dorso. Seus olhos amendoados, que à sombra pareciam vermelhos como os de um demônio, buscaram um ponto alto. Encontrou uma colina a alguns metros, à esquerda da vila, próxima a uma elevação menor que dava vista para o nordeste.
— Ótimo! — murmurou.
Ela deu um afago de despedida em Marine e partiu em corrida. Seus passos eram tão leves que o farfalhar soava como o vento. Sentindo um leve tremor, puxou uma flecha ainda em movimento, armou o arco e disparou em linha reta contra o goblin ao norte. Não precisou confirmar: sabia que o havia atingido na garganta.
A arqueira fez um desvio, apoiando a mão no chão para redirecionar o corpo, levantando um pouco de poeira, e tomou um atalho para subir o morro. Suas passadas eram longas e atléticas, evitando marcas ordenadas no solo.
Do alto da colina leste, analisou a movimentação: goblins confusos, como se fantasmas os assombrassem. Engatilhou a próxima flecha, liberando mana e sentindo o vento sussurrar em seu ouvido.
— Um pouco mais à esquerda.
Puxou a corda um pouco além do normal e soltou o disparo. Na vila, Haru viu a flecha acertar o peito de um monstro, antes de notar Grimm se esconder próximo a um barril. Laki deixou o vento sussurrar em seus tímpanos, como se o ar fosse um observador atento.
A flecha seguinte foi disparada com atenção no movimento do recruta, impedindo que outro goblin alcançasse um dos alertas da vila — o projétil certeiro cravou-se no olho esquerdo da criatura.
— Sim, eles estão escondendo algo. — comentou, puxando mais uma flecha. Pelas pontas dos dedos, sentiu que tinha munição de sobra. — Se continuar assim, terminamos sem dificuldades.
A pontaria da parceira ainda surpreendia Grimm, mas ele sabia que não tinha tempo para se impressionar. Haru também estava impecável — uma verdadeira sombra na vila —, e admitir isso o irritava.
A admiração cessou quando percebeu um erro. A lança que atravessou o pescoço de um monstro acabou alertando outro, que se aproximou do Dragão Negro. Isso o fez ponderar sobre o próximo movimento.
Os passos vinham curiosos, acompanhados dos guinchos típicos da raça. “Devo deixar para a Laki? Não, ele está atrás da casa, ela pode não ter visto!”, pensou, preocupado. Enquanto deixava sua mana vazar lentamente, lembrou-se das palavras de Ragna.
“Sabe a maior vantagem de ser um manipulador de terra?” — a voz do mestre ecoou em sua mente, acalmando-o. Ele respondeu num sussurro:
— Toda a criação é minha aliada.
Pressionou os dedos na forma de Garra de Leopardo — uma das posturas de golpe do estilo Jishin — e empurrou o ar como se impulsionasse a terra. O resultado foi uma estaca de pedra que atravessou o corpo do perseguidor. Em um movimento fluido, ergueu-se.
A mana empurrou a madeira da casa, e um estrondo fez o solo da frente se erguer, formando um bloco maciço de pedra. Parecia um punho gigantesco, que atropelou outro monstro mais a leste, arrancando a parte superior do corpo com a violência do impacto.
—Eu preciso refinar isso o quanto antes — disse Grimm, respirando fundo. Levou as mãos aos joelhos para recuperar o fôlego antes de abandonar a posição
.
O bloco de pedra se desfez, retornando à terra em fragmentos repartidos, uma mistura de rochas duras e areia marrom batida. Ambos os estrondos fizeram o recruta cambalear enquanto ele entrava na mansão.
A visão de Haru ainda estava turva, mas ele conseguiu atravessar a porta destrancada. Sua mente alternava entre o futuro e o passado; reconheceu aquelas paredes como as de uma casa antiga em uma de suas missões. Balançou a cabeça, mas as imagens continuaram a pregar-lhe peças.
Ele se agachou, apoiando-se na parede próxima à pia da cozinha. O piso de madeira rangeu, trazendo-o de volta à realidade, embora as sensações permanecessem como uma viagem indigesta no tempo. Nesse instante, ele girou o corpo em um chute forte.
O impacto atingiu com força a perna de algo que estava às suas costas. O recruta puxou o punhal e cravou a lâmina um pouco acima da cintura do inimigo, cuja silhueta sua mente confundiu com a de um guarda do fronte. O panorama escurecido ocultava o rosto, mas seus sentidos permaneceram aguçados.
Haru desviou de golpes de faca. O coice que dera pareceu deslocar parte do corpo do adversário, que tentava se defender arrastando-se. Ele bloqueou um golpe e acertou o cotovelo na têmpora do inimigo, revelando a face de uma aberração de pele verde-musgo.
Soltando o punhal com a destra e empunhando-o com a canhota, Haru se abaixou e perfurou profundamente a garganta do monstro. Em seguida, sacou a lâmina e golpeou-o mais quatro vezes entre o tronco e o abdômen. O goblin caiu, gorgolejando sangue quente e negro.
O espadachim sacudiu o punhal para limpar o sangue e, por fim, pisou com força na cabeça da criatura, quebrando-lhe o pescoço e encerrando seu sofrimento. Observou as manchas de sangue em suas mãos e sentiu um pouco do fluido lhe respingar o rosto. Limpou-o com a manga da farda, mantendo a expressão impassível.
Ao se virar, encontrou seu antigo capitão, Kyle, diante de si.
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