Volume 1
Capitulo 8: Selo
Alguns minutos se passaram. O silêncio da casa era cortado apenas pela respiração pesada dos dois. Seth tentou se levantar, mas o corpo parecia pesar o dobro, mas insistiu.
— Ei! Você tem que descansar! — Mirror avisou, a preocupação escapando na voz mais do que ela queria mostrar.
Então Seth se levantou.
— Relaxa, eu tô bem.
— Bem!? Você tava quase morto! — ela retrucou, levantando-se e segurando o braço dele antes que ele caísse. — Fica quieto um pouco, idiota.
Seth deu uma risada curta e cansada. O corte havia fechado, mas a dor ainda latejava por baixo da pele, como um fogo manso.
— Eu tô vivo, não tô? Preciso ir pra casa antes que o Green e a Laly fiquem preocupados.
Mirror desviou o olhar, soltou o braço dele e cruzou os braços.
— Você tem muita sorte de ser Aeternis. Qualquer outra raça teria morrido depois daquele ferimento.
— Já foi. — Seth forçou um sorriso. — Ah... me passa teu número? Como amanhã não tem aula, a gente poderia conversar direito.
Mirror arqueou a sobrancelha.
— Tá me pedindo o número depois de quase morrer na minha frente?
— Se você vai ajudar a gente, a gente precisa se falar, né? — ele sorriu de canto.
Ela suspirou, rendida.
— Tá bom, anota aí. Mas me manda mensagem sem motivo e eu te bloqueio.
Seth riu e pegou o celular. Mirror começou a ditar:
— (11) 98XX3-8130
Ele digitou, salvou o contato como: Mirror (Dragão — quase manso).
— Pronto. — disse ele.
— Se eu descobrir que colocou um nome pra me zoar, eu vou arrancar seu coração!
— Ameaça logo no começo? Já começou bem. — provocou Seth, rindo.
Mirror bufou, mas a ponta dos lábios dela traiu um quase-sorriso.
Seth encostou-se na parede e respirou fundo. Algo dentro dele estava diferente. O ar ao redor vibrava de um jeito que ele não conseguia explicar. Ele passou a mão pelo abdômen e sentiu a cicatriz ainda quente.
"Por que me sinto mais forte? Se não fosse a dor, nem pareceria que eu quase morri..."
Mirror observou em silêncio. O Etheryn que escapava de seu corpo não era normal: havia uma liberação constante o suficiente para tornar o ar mais denso ao redor. Mesmo para um Aeternis, aquilo era perigoso. Se ele tentasse usar alguma técnica naquele estado, poderia até colapsar.
Seth notou o olhar dela.
— O que foi? Tá me encarando assim por quê?
— Nada. Só não força demais. Você ainda não tá completamente bem. — Mirror desviou o olhar.
— Pode deixar. — Ele sorriu sem jeito e caminhou até a porta.
O sol já se punha, tingindo a rua de laranja. Cada passo doía, mas a dor parecia distante, abafada por uma sensação estranha de vigor. Seth nunca havia se sentido tão vivo.
Mirror ficou parada na porta, observando enquanto ele se afastava. O vento bagunçou seu cabelo. Por um instante quis chamá-lo de volta, mas as palavras não saíram. Ela murmurou, baixo:
— Idiota...
Seth caminhava para casa em silêncio. Seus passos ecoavam pelas ruas vazias sob o céu roxo-avermelhado.
"Ela parecia diferente depois de absorver minha energia… será que aquele mau humor era fome?"
O trajeto pareceu mais longo do que o habitual. O ar frio arrepiava sua pele; a dor no abdômen apertava a cada inspiração profunda. Ainda assim prosseguiu, tentando não ruminar demais os eventos da tarde.
Ao chegar, já era noite. Luzes amarelas escapavam pelas janelas da casa e o som distante da TV preenchia a sala. Ele bateu na porta.
— Tá destrancado! — chamou Green, do outro lado.
Seth entrou devagar. A primeira imagem que teve foi do irmão sentado no sofá, de costas, espalhado de anotações sobre a mesa. A luz do abajur refletia no vidro da janela, e foi nesse reflexo que Seth percebeu algo estranho: o cabelo do Green, antes preto, agora tinha um tom verde-claro; os olhos, refletidos no vidro, brilhavam esmeralda.
— O que aconteceu com você? Por que seu cabelo e os olhos tão verdes? — perguntou Seth, surpreso.
Green riu baixo, sem se virar de imediato:
— Eu e a Laly começamos sem você. Liberei o Kor dela… e o meu também.
Quando Green se virou por fim, seu rosto mudou. Parou, os olhos presos na cicatriz do abdômen de Seth.
— Seth… o que é isso?
Seth olhou a marca.
— Ah… longa história. Mas tô bem, de verdade.
Green levantou-se devagar, visível a preocupação.
— Longa história? Você tá diferente — disse ele. — Essa energia ao seu redor… Como isso aconteceu?
Mas antes que pudesse responder passos leves vieram do corredor: Laly apareceu, prendendo o cabelo. As pontas exibiam agora reflexos em azul-escuro; o efeito era sutil, mas, à medida que ela se aproximava da luz, o tom azul sobressaía e os olhos dela ganharam um brilho semelhante.
— Finalmente, hein? — disse ela, com um sorriso. — Demorou tanto que achei que o Green já ia surtar.
O sorriso evaporou ao ver a cicatriz.
— Seth… o que aconteceu?
— Eu já disse, tô bem. — ele desviou o olhar, tentando encerrar o assunto.
— Isso não parece “bem”. — Laly deu um passo à frente, observando. — O ar aqui tá… pesado.
Green manteve-se sério, observando-o de perto.
— Ele tá liberando Etheryn constantemente. Não é uma ativação controlada: é como um vazamento. Se você tentar usar algo agora, pode colapsar, mas pra isso acontecer seu selo tinha que ser quebrado, não desfeito! O que aconteceu lá, Seth?
Seth respirou fundo e contou, com a voz baixa:
— A Mirror me atacou enquanto tava fora de si. Ela precisava de Etheryn e ofereci o meu, no processo, senti algo quebrando. Acho que foi isso.
O nome fez Laly fechar o semblante.
— De novo? — cruzou os braços.
— Ela também me salvou depois. — disse Seth, sério. — Não foi só ataque.
Green fechou os olhos, entendo a situação.
— Se ela quebrou o selo, isso explica . Mas ela ter habilidade pra isso é surpreendente.
— Ainda assim — Laly interrompeu, irritada — ela quase te matou. Não me dá confiança.
Green a olhou com firmeza:
— Eu sei. Mas se ela tem essa capacidade, pode ser útil. Não podemos ignorar que alguém quebrou um selo criado por aquela mulher... Ela realmente pode nos ajudar muito…
— Que mulher? — perguntou Seth.
— Uma conhecida minha.
Laly suspirou, relutante.
— Tudo bem. Mas eu não confio nela!
Green apenas olhou para Laly, então disse:
— Em teoria seu fluxo vai ficar normal amanhã. Então, se não tiver problema, vê com a garota se consegue te ajudar amanhã, primeiro vou focar no treino da Laly, tudo bem?
Seth assentiu, exausto.
— Certo.
Laly manteve o olhar tenso, a preocupação misturada à desconfiança. Seth olhou para a cicatriz uma última vez: a marca ardia, mas havia uma sensação nova sob a pele, um vigor que o assustava e ao mesmo tempo o fazia sentir-se vivo.
— Vou para o meu quarto. — disse ele, já cambaleando. — Tô cansado.
Tomou banho, deitou-se e, antes de dormir, deixou os pensamentos se enrolarem em memórias e perguntas até que o sono o alcançasse.
— Você cresceu muito… — disse uma voz distorcida.
Seth abriu os olhos num sobressalto. O quarto estava banhado pela luz suave da manhã. Por um instante, ficou ali, deitado, tentando entender se aquela voz era parte de um sonho ou só estava imaginando coisas.
Ele piscou algumas vezes e virou o rosto para o lado, onde o celular vibrava, então viu a hora: 6h17. Havia várias notificações, mas uma chamou sua atenção imediatamente:
M: Seth? Acordado?
Ele esfregou os olhos e respondeu, ainda sonolento:
S: Mirror? Aconteceu alguma coisa?
M: Só queria saber como cê tá.
S: Ah, eu tô bem!
M: Então ok, tchau.
Seth arqueou uma sobrancelha, meio confuso.
S: Ei, hoje tá livre?
M: Sim.
S: Consegue começar a me ajudar com os bagulhos? Tipo, treino, hoje?
M: Que horas?
S: Que horas consegue?
M: Qualquer uma, mas agora de manhã seria melhor.
S: Pode ser então!
M: Tá, então se arruma e vai pra floresta perto da escola.
S: Calma ai, literalmente agora?
M: Sim. Tchau, não demora muito.
Seth soltou um suspiro e jogou o celular de lado.
— Ela aparentemente tá bem também. — murmurou, com um meio sorriso.
Sentou-se na cama, sentindo o corpo inteiro reclamar. O abdômen ainda ardia sob a cicatriz, mas o desconforto era menor do que esperava. Quando respirou fundo, sentiu o ar vibrar levemente, aquela sensação estranha de ontem à noite ainda estava lá, como se algo dentro dele pulsava junto com o ritmo do coração.
— Certo… treino com a garota que quase me matou. — ele murmurou, se levantando. — O que pode dar errado?
Foi até o banheiro, lavou o rosto e olhou-se no espelho. Havia olheiras sob os olhos e o cabelo bagunçado em todas as direções.
— Maravilha, cara… total cara de quem dormiu bem.
Vestiu uma camiseta escura e uma jaqueta leve, depois pegou uma pequena bolsa onde guardava algumas coisas básicas. Antes de sair, olhou para a própria cicatriz mais uma vez, se certificando de que estava tudo bem.
— Espero que isso não abra no meio do treino…
Desceu as escadas e encontrou Green na cozinha, tomando café.
— Já acordado num dia sem aula? — perguntou o irmão, surpreso. — Nem parece você.
— É, digamos que tenho um treino hoje cedo. — respondeu Seth, pegando uma maçã da fruteira.
— Com a…? — Green arqueou uma sobrancelha, já sabendo a resposta.
— Mirror.
— Hm… boa sorte pra não morrer de novo, então.
— Engraçado você, se eu morrer quem fica traumatizado é tu.
— Mas não vai morrer, você é forte!
Seth riu, acenou com a maçã e saiu pela porta da frente.
O ar da manhã estava frio, e a rua ainda silenciosa. Caminhou com as mãos nos bolsos, sentindo o vento bater no rosto enquanto o sol começava a subir no horizonte.
A cada passo, o peso no peito diminuía. Apesar da dor leve e do desconforto da cicatriz, havia algo dentro dele que vibrava, um ânimo gigante, a sensação de estar prestes a descobrir algo novo, algo importante.
Quando chegou à floresta próxima à escola, o orvalho ainda cobria a grama, e a luz do sol atravessava as copas das árvores em feixes dourados. O som distante de pássaros misturava-se ao farfalhar do vento.
Seth parou, olhou em volta e soltou um suspiro.
— Ok, Mirror… cadê você?
Uma voz ecoou entre as árvores, calma e firme:
— Atrás de você.
Seth se virou num sobressalto e lá estava ela, encostada em uma árvore, com os braços cruzados e um olhar levemente entediado. A luz filtrada pelas folhas realçava o brilho prateado do cabelo dela e o contraste com os olhos vermelhos intensos.
— Você se atrasou. — disse ela, sem mexer muito o rosto.
— São seis e quarenta da manhã! Isso nem é hora de estar acordado!
— É pra quem quer sobreviver. — respondeu ela, virando-se. — Vamos começar.
Seth respirou fundo e a seguiu, enquanto a floresta ia ficando mais densa. Ele sentiu estar próximo de descobrir do que é capaz.
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