Aelum Brasileira

Autor(a): P. C. Marin


Volume 2

Capítulo 52: A Abominação

GRIS

 

Com algemas de promítia em meus pulsos, amarrado e amordaçado, jogado pelo chão, eu apenas aguardo qual será meu destino, na medida em que observo meus raptores decidirem o que fazer comigo.

Entendo as palavras de Valefar agora: Santos vivem pouco justamente por ajudarem aos demais.

O anão se aproveitou do fato de que eu me importava com Srta. Verônica para me atrair até uma emboscada.

Cintia tinha razão também: Os maiores perigos são encontrados dentro das cidades.

Enquanto pessoas assim viverem, os bons nunca estarão seguros.

— Pessoal, vamos parar com isso. É errado...

— Não vê o olhar dele, Verônica? — O anão aponta para mim. — Se o soltarmos, ele nos atacará na primeira oportunidade. É um assassino, igual a porra daquele caçador.

— Tsk! Não dá para voltar atrás — diz Filemon —, precisamos terminar o que começamos. Agora falta pouco para vingarmos Lin Kari.

Barathun se levanta e segura seu escudo e martelo. Ele olha para os lados e franze a testa. — Ouviram algo? — ele indaga.

— Vamos sair daqui então — aduz o homem de túnica. — Alguém deve ter ouvido...

Bum! Uma explosão se forma, mas o anão se interpõe com seu escudo e protege aos demais. Como ele percebeu e reagiu tão rápido? Será que possui o dom da visão ou é pura experiência?

— Essa foi forte! — reclama Barathun.

— Creptus mas. — É a voz da ruiva.

Outra explosão ocorre, a qual é defendida pelo guerreiro. — Ah! Meu braço está dormente agora, puta merda! Foi daquela direção. — Ele aponta com seu martelo de guerra para a mata.

Esperem! Vamos conversar. — Um lumen se revela com as mãos para o alto, ele usa armadura leve e verde e uma máscara de coiote. O homem vira o rosto e complementa em baixo som: — Eu disse para você esperar...

— Quem é você?! — questiona o homem das terras áridas, já preparado para lançar uma magia.

— Hoje, eu sou seu melhor amigo, prazer. — Ele leva seu braço direito à frente do umbigo e se curva de maneira cortês. — Mas pode me chamar de Coiote.

— Certo, Coiote, não se meta neste assunto. Estamos de saída — responde o anão.

— Creio que podemos chegar a um acordo, que tal? Esse garoto é um convidado importante em Ticandar, o que vocês querem em troca dele? Vamos negociar. — O mascarado gesticula com suas mãos enquanto fala, depois as esfrega uma na outra e inclina sua cabeça. Ele parece um comerciante, salvo o detalhe da máscara.

Os três aventureiros se olham, então Barathun diz: — Nada! Nós precisamos deste garoto e nada mais.

Ah! Vamos lá, eu sei que o Gris é meio chatinho às vezes...

O anão bate com seu escudo no chão e reafirma: — É melhor ir embora, Karakhan.

— Invoco Te Hasta. — proclama o mascarado, e diante dos seus pés uma lança marrom se projeta do solo. Ele a pega, gira algumas vezes em torno de seu corpo e entra em guarda. — Tenho outra proposta para vocês então: Deixem Ticandar e o Gris para trás, ou morram.

Duas garotas saem da mata também, uma ruiva e outra de cabelos brancos. Pensei que Kali fugiria na primeira oportunidade. Na verdade, ela olha para os lados e analisa rotas de fuga.

— Feline Celerita — diz Kali com o indicador apontado para o mascarado, este que brilha com uma luz verde. Magia de suporte.

— Então que seja — diz o anão.

Bum! Outra explosão de Alienor. Outra defesa de Barathun.

— Ah! Puta merda! — reclama o anão. — Magia do caralho!

O mascarado avança em direção ao Barathun. Não parece prudente, pois a força do anão é descomunal. Ele será morto!

Orbes de energia e torrentes de água surgem na frente do lumen, porém ele desvia de todos, enquanto avança em uma velocidade incrível.

Mais explosões maiores de Alienor são lançadas. Ela consegue conjurar em uma velocidade tão alta quanto uma besta.

O anão sofre com as magias da ruiva, mas se mantém em pé. De onde ele encontra tanta vitalidade?

Assim que o coiote entra no alcance de seu martelo, o anão tenta golpeá-lo na horizontal. Entretanto, a arma do anão impacta e atravessa o corpo do mascarado, esse que se divide em dois pedaços de barro, depois se estraçalha em pedações menores ainda, enquanto caem no chão. Eu não ouvi ele recitar qualquer conjuro para isso.

O Sr. Coiote reaparece ao lado do anão e o estoca com sua lança uma dezena de vezes, com uma velocidade que parece impossível. A lança penetra a armadura grossa do anão.

— Ah! — exclama Barathun, com perfurações em sua costela.

Sangue verte pelos furos da armadura do anão.

— Sana vulnera — diz Verônica.

Em resposta, o corpo do colega brilha em branco, e ele se cura.

— Superno Vincula — aduz Filemon, e prende o mascarado com uma magia de restrição. — Era invisibilidade!

Então o Sr. Coiote estava invisível. Mas desde quando?

O mascarado se livra da constrição com força bruta. Ele deve conseguir aprimorar sua força com magia de criação também. Quantas magias de alteração corporal ele consegue usar? Que habilidoso.

— Superno Vincula — diz Alienor. — Eu também sei fazer, seus bostas!

O anão paralisa com a magia da ruiva. Já o Sr. Coiote se aproxima dele e leva sua mão até a cabeça do adversário. Provavelmente, usará magia de morte.

Barathun se livra das amaras antes e desfere um soco na barriga do mascarado, o qual é lançado para perto de mim e dos dois magos inimigos.

Droga! Se eu não estivesse tão perto dos dois magos, Alienor poderia lançar suas magias neles. Eu só atrapalho aqui.

Kali junta as duas mãos com as palmas viradas em direção ao anão e pronuncia: — Lux Mas. — Um feixe de luz branca contínuo sai da mão da lumen em direção ao anão, o qual responde interpondo seu escudo.

Ziiiuuummm! O Feixe de luz produz um zunido estranho, ao passo que que impacta contra o escudo de metal.

Barathun começa a marchar de costas e devagar em minha direção, enquanto protege seus companheiros.

O escudo do anão ruboriza com o calor gerado pela magia de luz. Em resposta, Verônica lança outra torrente de água um pouco à frente da proteção, a qual o esfria. Barathun mantém sua marcha e se aproxima do mascarado inconsciente cada vez mais.

Outra explosão de Alienor, mas desta vez perto da cabeça de Barathun. Ele cai de joelhos e começa a sangrar. Porém mantém seu escudo de pé.

— Brrruuul! — resmunga o anão, ao passo que balança sua cabeça e produz um som com suas bochechas parecido com o relinchar de um cavalo. — Porra de bruxa do caralho!

Verônica lança outra magia de cura em seu companheiro. O trabalho em equipe deles é impecável, diferente do nosso. Não tivemos tempo para isso.

O Sr. Coiote está caído no chão e desacordado. Foi só um soco de Barathun, e ele está nocauteado.

Um forte brilho branco surge na direção das minhas companheiras. Será outro ataque de Kali? Da luz, vejo sair um lobo prateado que dispara em direção à orla exterior. É a lumen! Ela... fugiu.

Claro, claro que ela fugiu. Esta sempre foi a intenção dela desde o começo. Só lhe faltava a oportunidade. Que ingênuo eu sou.

Parece que você também errou, professor. Uma santa a menos para o seu placar.

O Sr. Coiote recobra a consciência e tenta se levantar, mas uma torrente de água o envolve, junto com o orbe elétrico de Filemon.

— Aaggh! — O grito do lumen é abafado pela água. Sua máscara não resiste aos golpes consecutivos e trinca.

— Fumus Harena — diz Filemon. Uma cortina de fumaça aparece ao nosso redor. — A ruiva não conseguirá usar as explosões! Mate-o, Barathun!

O anão solta seu escudo, o qual cai pelo chão produzindo um som metálico e abafado. Ele segura com ambas as mãos o seu martelo de guerra. O guerreiro se prepara para golpear o lumen caído.

— Espera! Não, Barathun! — grita Verônica.

— Hmmmm! — Não posso fazer nada mais que gemer. Sigo amordaçado.

O mascarado, ainda no chão, vira seu rosto para o lado. Sua máscara trincada termina de se rachar e se divide em duas, revelando o rosto de um lumen muito bonito, de olhos prateados e cabelos longos.

— Não pode ser... — sussurra Barathun, o qual solta seu martelo ao ver o rosto do lumen. Ele franze a testa em uma expressão de tristeza.

— Lin... É você mesmo? — pergunta Verônica, que se ajoelha no chão.

— Não, nós... o enterramos... — aduz Filemon.

Lágrimas saem dos olhos da mulher loira ao ver o lumen caído, ela junta as mãos em um sinal de oração e tampa sua boca.

Quem é Lin? Eles o conhecem?

Entretanto, o lumen, até então rendido, abre um sorriso maldoso em seu rosto e proclama: — Lupus Grotês-Ká! Grrrrrrrrrr. — Na exata medida em que ele recita as palavras distorcidas e rosna como um cão raivoso com uma voz gutural, seu corpo aumenta, e a criatura agarra o anão com apenas uma de suas mãos, tirando-o do solo como se não fosse nada.

— Aaaahhh! — grita Barathun.

Não parece que a criatura esteja esmagando-o, só pode ser uma magia de morte para causar dor.

Envolvida por uma fina fumaça preta, a aberração continua a crescer até três metros de altura, na figura de um lobo humanoide com uma pelagem negra e fosca, com garras e presas gigantes e afiadas: É um demônio.

A aberração joga o anão contra o solo, e passa a socá-lo e arranhá-lo de forma frenética.

Verônica lança magias de resistência e cura em seu companheiro, enquanto Filemon ataca a monstruosidade com orbes elétricos.

O ambiente é impregnado pelo cheiro dos pelos queimados diante dos golpes de destruição. Mas a criatura ignora tudo e continua com seus ataques.

— Droga! — grita Filemon. — O que é essa coisa!?

No momento em que o anão desmaia, a criatura encerra sua investida, levanta seu focinho para o alto e lança um uivo sinistro:

Awuuuuuuuuuu!

Diante de tudo que vejo, esqueço de respirar, estou ofegante agora. Os pelos de meus braços se arrepiam ao ouvir o aulido sobrenatural. A cicatriz do meu antebraço direito começa a doer, já meu corpo passa a suar frio. Acho que vou morrer. Se já não estivesse caído, eu teria vacilado.

Essa coisa, ela está do nosso lado?

Filemon e Verônica caem de joelhos diante da opressão sobrenatural do demônio. A névoa escura que nos cercava se dissipa.

— Puta merda! é uma Abominação Lupina! — grita Alienor.

A criatura fita a ruiva, mas fixa seus olhos escarlates em Verônica, mostra seus infinitos dentes e presas pontiagudas, então lança um rosnado.

Grrrrrrrrrrrrr!

 

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