Aelum Brasileira

Autor(a): P. C. Marin


Volume 2

Capítulo 51: Magia de Raposa

GRIS

 

— Você está de brincadeira, não é? Eu quero aprender isso também! — exclama a Srta. Raposa.

É o quarto mês de treinamento, e o professor me ensinou o que ele disse ser o dom mais difícil de aprender: A manipulação de massa.

Achei que ver auras era algo difícil, mas aumentar ou diminuir o peso do meu corpo é muito mais. Principalmente, se levar em consideração que, se eu falhar ao usar o dom de resistência a danos, corro o risco esmagar meu corpo com o próprio peso.

Porém, faço o contrário agora. Diminui meu peso para me equilibrar sobre as águas do Rio Reluzente e caminho sobre elas. Essa é a razão da aflição da raposa.

— Será que tem alguma magia de vida que faz isso? Eu quero, me ensina, nunca te pedi nada, vai... — Alienor resmunga e suplica para o professor, mas ele só a ignora.

Com muita dificuldade, eu caminho passo a passo de volta à margem. Onde o professor está de braços cruzados apenas a observar meu treinamento.

— Professor, diminuir o peso do corpo me parece útil, mas qual a utilidade do aumento de massa? Ele só não me deixa mais lento?

— Humpf! — resmunga Valefar e dá um sorriso presunçoso.

Sem dizer nada, ele se abaixa e pega uma pequena pedra do chão, a confere de perto, então a posiciona entre o dedão e o dedo médio da mão direita, estende seu braço em direção à Floresta de Prata e dá um peteleco nela.

Vruuumm! Tum! A pedra viaja e produz um zunido, então explode contra uma árvore.

— É o capiroto! — grita a raposa. — Hahahaha.

Porém não é a pedra ser arremessada com tanta força que me chama a atenção, agora eu já consigo entender o quanto o professor é forte.

O que captura a minha atenção são duas coisas. A pedra ganhou ainda mais velocidade depois que saiu da mão do professor. Além disso, Valefar se deslocou alguns metros na direção oposta à pedra, assim que a lançou.

— Agora você entendeu?

— Acho que sim, ao lançar o objeto, o professor foi lançado na direção oposta.

— Sim, e um soco poderoso o suficiente poderia te arremessar a vários metros de distância no sentido oposto. Por isso, da importância do aumento de massa.

— Faz sentido.

— Mas há um segundo detalhe, você também percebeu?

— A pedra ganhou velocidade em pleno ar.

— Exato, eu aumentei a massa da pedra em minha mão antes de lançá-la, então ela voltou ao peso original no ar e ganhou ainda velocidade.

— Isso é incrível! — Olho para o furo que aquela pequena pedra abriu no tronco da árvore.

— Na verdade, é o dom que viabiliza o uso do impetus, e o coloca em igualdade com as magias mais poderosas que existem. A manipulação de massa abre um leque de possibilidades tão grande que deixaria até mesmo um orgulhoso dragão com inveja.

— Que bom que aprendi. Tive medo de não conseguir.

— Eu nunca duvidei de você, Gris.

Um único golpe do anão e já foi suficiente para me colocar fora de combate. Se me golpeasse com o martelo de guerra, eu já estaria morto, com certeza.

Estimei errado seu poder de luta. Creio que fiquei mal-acostumado com os combatentes do torneio.

O anão marcha em minha direção. Ele é muito forte, porém não parece ser veloz. Possui o dom da força, mas não consegue converter em velocidade.

Sinto um gosto de ferrugem em minha boca. Sangue verte pela minha garganta para fora: é hemorragia interna.

— Gurrp! — Vomito sangue misturado com líquido estomacal.

Um gosto rançoso toma conta do meu paladar.

Foi mais sério do que eu pensava, minha respiração ainda está pesada. Não estou em condições de fugir, devo desmaiar depois de algumas centenas de metros.

Barathun já está a dez passos de mim e se aproxima. Só há uma medida a tomar. Eu me levanto, ativo o dom da força para correr mais rápido.

— Só desista — o anão adverte.

Jogo a espada negra na direção dele.

O guerreiro levanta seu escudo para defender, mas perde seu campo de visão. Corro pela sua esquerda. Barathun abaixa o escudo e golpeia com o martelo de guerra.

Tum! Ele bate no chão. Eu salto e desvio, passo deslizando pelo solo até o lugar do primeiro golpe e deixo o guerreiro para trás.

— Ahm!? — ele resmunga.

Enquanto deslizo pelo chão, coleto minha mochila que estava caída e retiro dela um frasco com um líquido azul.

— Gurp! — Tomo em apenas um gole.

Meu corpo brilha, a sensação de sonolência some e minhas forças se reestabelecem. Obrigado, Sr. Alan.

Olho para a direção de Ticandar. A partir do momento que eu correr, ele não conseguirá me pegar mais. Bato em retirada.

Olho para o anão, cujo rosto é marcado pela frustração. Imagino como se sente, afinal ele é muito mais forte que eu, mas isso nem sempre determina o vencedor.

— Superno Vincula. — Escuto uma voz masculina.

Meu corpo fica rígido, e caio no chão como uma pedra. Conheço a sensação, é a mesma magia que a Srta. Raposa usou em mim quando a conheci.

Droga! Foquei nos outros dons e deixei a visão, não consegui ver o fluxo se formar. Agora, com o dom ativo, vejo os cabos vermelhos e translúcidos envolverem todo meu corpo.

— Aaaah! — brado e rompo os cabos com a força do impetus, na medida em que me levanto.

Magia de raposa não funcionará mais em mim.

Outro fluxo vermelho se forma a minha volta.

— Radium. — É a voz de Filemon. Uma esfera de eletricidade aparece a minha frente, estoura e atravessa meu corpo. Meus músculos enrijecem com o choque. A dor é insuportável.

— Aaah! — Perco o domínio sobre meu corpo e vou ao chão novamente. Achei que desmaiaria.

Um homem de pele negra, barba longa e túnica bege aparece no meu campo de visão a uns dez metros de mim. Aura vermelha: Mago de destruição.

Ao lado dele, está uma mulher loira de cabelos cacheados, com vestes brancas. — Chega, Gris. Não queremos te machucar — diz Verônica.

Enquanto ela fala, eu me levanto e olho para todos os presentes. Verônica possui uma aura branca: Uma maga de vida.

— Você parece bem para quem estava envenenada — eu digo.

Se os três tiverem a mesma força que Barathun, eu não terei qualquer chance.

Fugir para Ticandar já não é mais uma opção, Filemon não permitirá com suas magias de longa distância. Preciso manter os olhos nele.

Barathun é forte, mas se eu mantiver distância, então ele não representará risco.

— Nossa intenção não é te fazer mal, Gris — responde a loira.

— Não é o que parece.

Barathum para sua caminhada e coleta a espada negra que eu joguei antes. Ele me mostra e questiona: — Onde você conseguiu isto?

— Foi um presente.

— Era do nosso companheiro, sabia? — interroga o anão.

— O caçador matou nosso amigo, garoto — aduz Filemon. — Depois pegou aquela espada dele.

— Vocês estão enganados, eu estive com Valefar nos últimos três anos e meio.

— Você estava com ele, quando foi à Capital do Aço há seis meses? — pergunta o anão.

Seis meses, foi quando Valefar saiu da cidade e ficou quatro dias fora. De fato, ele foi para Fubuldjin e voltou com a espada negra, a qual me deu de presente.

— Pela sua expressão, parece que você entendeu — diz Verônica.

— Não! Isso não prova nada. Só porque ele estava lá não quer dizer que ele fez o que vocês dizem.

Vem à minha mente as palavras da dríade, ela disse que o professor envenenava e emboscava pessoas. Atraia bestas da floresta até as cidades para matá-las.

— Mesmo que seja verdade! não tenho porquê acompanhá-los nisso! Não trairei o professor.

— Parece que você não é diferente dele então. — Barathun solta a espada e pega seu martelo de guerra que estava apoiado no chão. — Não é como se você tivesse escolha também.

Nenhum deles possui alinhamento de morte. Não preciso de resistência mental, mas contra inimigos que usam magia e um que usa impetus, precisarei manter os demais dons.

Entro em posição defensiva. Droga! Gostaria que meu braço não estivesse assim.

Ignoro o anão e parto em direção à maga de vida. A minha velocidade é o melhor trunfo.

Um fluxo vermelho surge perto de mim, seguido das palavras de Filemon: — Radium.

Desvio a tempo, mas escuto Verônica dizer: — Aqua salitas.

A flecha de água acerta minha barriga, porém só rasga minha camisa. Não é suficiente para atravessar as defesas do impetus.

Eles não terão tempo de conjurar outra magia. Estou a poucos metros de Verônica. Preparo para golpeá-la com as pontas dos dedos, entretanto Filemon entra no caminho.

— Aahh! — grita Filemon. As pontas dos meus dedos perfuraram sua barriga. Sinto suas entranhas.

O anão se aproxima e golpeia com seu martelo de guerra. Porém eu salto antes, desvio, e ele acerta o chão. A arma dele é poderosa, mas seu movimento é previsível. Chacoalho a mão para me livrar do sangue, depois limpo o restante na minha camisa.

A espada negra está no chão. Sorte que ele não a arremessou para longe. Eu corro e a pego. A sensação do sangue e gordura causam um desconforto ao manusear a arma.

— Sana vulnera — diz Verônica.

Deve ser uma magia mais avançada que a cura de Alienor. A loira a lança, e os ferimentos de Filemon são curados à distância.

Os três estão juntos agora. Com o anão por perto, será ainda mais difícil de me aproximar. O grupo se completa, não há aberturas.

Tum! Barathun joga seu escudo para o lado, o chão treme em resposta. O anão pega seu martelo de guerra com as duas mãos na empunhadura e diz: — Não precisamos dele inteiro, só vivo.

— Barathun, nós não machucamos crianças. Eu não concordei com isso.

— Esse garoto não é mais uma criança — aduz Filemon, com a mão ainda em sua barriga e uma expressão de dor.

— Desistam, eu não me renderei. Se vocês partirem, guardarei segredo sobre isso.

— Não fomos nós que escolhemos esta situação, garoto — aduz o anão, depois corre em minha direção.

Sua velocidade aumentou para a de uma pessoa normal, agora que se livrou do escudo torre.

Uso a diminuição de massa. Invisto contra o guerreiro. Preciso calcular bem, pois em um golpe, ele pode me esmagar. Salto na direção dele e me preparo para golpeá-lo com a espada.

— Falta experiência, garoto — diz Barathun.

Por que eles nunca calam a boca?

Assim que estou quase na distância do alcance de seu martelo, o anão prepara um poderoso ataque descendente para me golpear. É quando eu uso o aumento de massa ao limite.

O aumento brusco do peso de meu corpo me desacelera tanto que quase paro em pleno ar.

— Ahm?! — ele resmunga.

Tum! O anão golpeia o solo a minha frente.

Diminuo o peso novamente, e o movimento do meu corpo volta. Piso sobre seu martelo caído e cravo a espada em seu pescoço, na fragilidade da armadura, com toda a força que tenho.

— Aaah! Seu merdinha! — o anão grita.

O professor estava certo, a manipulação de massa dá possibilidades infinitas em batalha.

O anão puxa seu martelo, e eu solto a empunhadura da espada que está completamente cravada em seu ombro. Preciso deixar a arma ali para impedir que Verônica o cure.

Salto por cima do anão e parto em direção à loira. De todos eles, ela é a que menos quero ferir, porém preciso tirá-la de combate o mais rápido possível, ou tudo será em vão.

Outro fluxo vermelho se forma, em conjunto com um fluxo branco ao meu redor. Ainda estou no ar, não conseguirei desviar. Não possuo nada em minhas mãos para arremessar...

— Aqua flux — proclama Verônica.

— Radium.

Antes que eu toque o solo com meus pés, sou submergido em água, e o orbe elétrico explode em contato com ela. A eletricidade atravessa meu corpo, e meus gritos são abafados pela água. É quando minha visão escurece.

Acho que apaguei por um instante. O choque foi muito mais potente que o anterior.

Caído no chão e com meu rosto voltado para cima, vejo que Barathun já está curado, e ele pressiona o seu escudo torre contra mim no solo.

Percebo os cabos vermelhos da magia de restrição de Filemon. Meu corpo está congelado, como pedra.

— Rápido, Verônica! Coloque as algemas nele — exclama o homem das terras áridas.

Mesmo com toda força, meu corpo não se move. É muito pesado.

Verônica traz consigo uma maleta com dois furos na lateral para colocar meus braços. Só podem ser algemas de promítia.

Ao olhar para o alto, vislumbro a imensidão da floresta, com seus infinitos vaga-lumes, e algumas brechas entre os galhos das árvores que possibilitam ver a luz do sol e o céu azul. Não quero ser preso de novo.

Libero todos os dons. Entre as árvores lá no alto, um fluxo vermelho se forma em um vórtice, depois um ponto branco cresce em seu centro e se expande, como um gatilho que causa uma ignição súbita. Eu a vi fazer isso milhares de vezes: é magia de raposa.

Bum! A explosão se forma. A minha não é tão bonita quanto as dela.

Verônica coloca meus braços dentro da maleta. As algemas geladas envolvem meu pulso, sinto um calafrio. Aquela aflição toma conta de mim novamente.

— Ele que fez isso? — pergunta Filemon.

— Eu não o ouvi recitar — diz Verônica.

— Impossível, é um usuário de impetus — responde Barathun.

Espero que você tenha ouvido. Venha dizer de novo que a acústica foi horrível. Por favor, me ajude, Srta. Raposa.

 

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