Aelum Brasileira

Autor(a): P. C. Marin


Volume 1

Capítulo 18: O Demônio da Lua Nova e o Ritual de Chimurram

ALIENOR

 

Vejo os fogos de artifício no céu. São tão lindos e são tantos.

A noite está muito escura, pois é lua nova, e eu estou à beira de um rio muito belo, o qual parece ser o Rio Reluzente. Agora eu entendo o motivo dele ser chamado assim, tendo em vista que ele reflete com perfeição os fogos, fato que os deixam ainda mais estonteantes.

Cada explosão ecoa pelo ar e, quando a onda de choque toca a água, ela cria pequenas ondulações, as quais distorcem os reflexos. Eu acho que estou no paraíso. Devo ter morrido e estou no céu.

Porém, sem qualquer aviso, eu me sinto mal, pois uma aflição toma conta do meu corpo. É uma sensação de perigo e morte.

Os fogos param de ser lançados, e no lugar deles a completa escuridão toma conta da noite. Assim eu olho para minhas mãos, mas não as vejo, pois o breu é tamanho que não posso enxergá-las.

Tento falar, entretanto, eu não consigo, porque agora estou paralisada pelo medo.

Então olho para a lua negra, que somente sei que está ali por conta da figura que quase completa um anel de luz branca, e sinto tanto medo que eu desabo. Não tenho certeza se estou morrendo ou se desmaio.

Porém, ocorre o contrário, pois eu acordo. Era um pesadelo?

O meu breve alívio é logo lançado fora, pois olho para cima em busca da lua nova, a qual parecia tão real, e vejo algo ainda mais aterrorizante, pois uma criatura sinistra está atacando a Srta. Cintia.

Tento ajudá-la, mas meu corpo ainda não se move: Eu continuo paralisada.

Tento gritar, todavia não consigo, pois ainda estou muito fraca e não posso fazer nada. A sensação de impotência me consome, então escuto a criatura sinistra dizer algo:

— Está tudo bem. Você foi formidável, mas agora pode descansar.

Não, Srta. Cintia, não descanse, pois ele vai levar sua alma!

Escuto de longe, um dos servos do Lorde Demônio falar algo sobre chá. Ele não está sozinho! Você precisa fugir, Srta. Cintia!

Preciso ajudar a Srta. Cintia, vamos, você consegue, urgh! Não consigo me mexer! De novo, urgh! Nada. Eu não vou desistir de você, PROFESSORA! URGH!

Aaaahhh! Solte a Srta. Cintia, seu demônio imundo! — A minha voz finalmente sai.

Dá certo, pois ele a solta bem devagar.

A professora aparenta não ter mais forças, porque creio que ele havia começado a drenar sua alma!

Eu vou segurá-los o máximo de tempo que eu puder... Srta. Cintia? Ela parece ter recuperado suas forças e agora possui uma expressão de ódio.

A professora anda em minha direção. Sim, Srta. Cintia, eu consegui te salvar, agora vamos fugir! Ela se abaixa, me pega pelo pescoço e começa a me esganar.

Aaaahhh! Ela foi possuída, vai me matar, me ajudem! Me ajud... gah...

— Essas crianças têm tanta energia. Que saudades dos meus velhos tempos, mas acho que a Srta. Cintia deveria soltar a garota. Ela ainda está muito fraca — diz um homem muito bem arrumado e com um bigode nada convencional.

— Creio que aquilo que o Sr. Alan diz é certo. Melhor deixá-la — concorda o Demônio da Lua Nova.

Cintia para de me estrangular e calmamente me deixa na cama. Ele está controlando sua mente, Srta. Cintia, resista!

— Eu não quero morrer, professora, vamos fugir. Resista ao controle mental!

Ainda estou fraca, com poucas reservas de fluxo, mas como última tentativa desesperada, eu vou conjurar uma magia de proteção contra ataques mentais. Sim, isto vai ser suficiente!

Começo a conjurar, eu sinto o fluxo branco se reunir, à medida que a luz e o calor inundam meu corpo. Por sorte, estou na forma de raposa e não preciso dos sinais, nem das palavras, e posso conjurar quase que instantaneamente.

Aink! — Porém, sinto uma pancada rápida na minha cabeça, a qual interrompe a conjuração.

Foi Cintia: é muito rápida! É sobre-humana! Ela quebra minha conjuração com um simples peteleco.

— Chega de gracinha, Alienor, pois o Valefar não vai te atacar. Se assim ele quisesse, você já estaria morta — diz Cintia.

Olho novamente para o Demônio da Lua Nova e ele... está de pernas cruzadas, tomando chá! Enquanto conversa com o Sr. Bigodes!

Hum... Muito bom, muito bom. Eu lhe trouxe algumas lembrancinhas, Sr. Alan, como havíamos combinado. Demorei bastante tempo para decidir o que trazer, mas enfim encontrei um aparato que pode te agradar. — Ele começa a tirar alguns objetos de sua mochila.

Parece que a mochila é maior por dentro do que por fora, pois cabe muita coisa ali. Será que é mágica?

Ele retira algo que aparenta ser de barro, como um tipo de copo ou uma caneca, mas sem alça e maior. Além disso, retira um... é um canudo de metal? Mas a ponta dele possui uma protuberância, com vários furos pequenos. Depois ele remove vários sacos de uma erva verde.

— O que seria isso, Sr. Valefar? — pergunta o do bigode.

— Os anões inventaram recentemente, e parece que é chá, mas eles se ofenderam quando eu chamei de chá.

— Que bom que você teve bastante tempo livre em sua viagem. Fico realmente contente que suas férias na capital do aço tenham sido tão produtivas! Humpf! Enquanto morríamos aqui — esbraveja a Srta. Cintia, depois ela vira o rosto e cruza os braços e as pernas.

A Srta. Cintia parece estranhamente nervosa com os objetos. Será que estes itens seriam para algum tipo de ritual maligno do Demônio da Lua Nova?

Ah! Os garotos estão bem, Srta. Cintia! Eu já cuidei deles. Agora só precisam descansar e estarão quase novos. Quero dizer... — O Sr. Bigodes faz uma breve pausa, olha para o Gris, que ainda está dormindo, e depois continua a falar. —  Vamos, Sr. Valefar, me diga o que é isso.

Isto significa que o alvo do ritual é o Gris e não a Srta. Cintia. Sinto muito, Gris, você é um menino bom, mas teremos que fugir sem você. Eu não vou conseguir te carregar na forma de raposa, e a Srta. Cintia ainda está sob efeito de controle mental.

— Bom, eles me disseram que você precisa colocar a erva neste recipiente de barro, ferver água, despejá-la, aí você põe este canudo de metal e é só sugar. Há mais alguns detalhes, mas eu não entendi muito bem, por isso comprei também um manual — diz o Capiroto.

Mas espere aí, se o chá estiver quente, o canudo de metal não vai queimar a boca? Será que é um ritual de tortura?

— Que interessante, ele parece a junção de um filtro com um canudo, contudo, por ser de metal, não pode queimar a boca?

Sim! Vejo que o Sr. Alan além de ser um apreciador da verdadeira arte, também é muito perspicaz. O nome disso aí deve ser um filtrudo ou quem sabe um canutro. Eu diria para eles, mas o Sr. Demônio me interrompe e fala:

— Eu perguntei para o anão, porém ele me respondeu que um anão de verdade não se preocupa com isto. Eles estão acostumados com o calor das forjas, dos vapores das máquinas e afins.

— Que magnífico! — exclama o do bigode. — Deve refletir um pouco da cultura deles, todavia devo concordar com seu raciocínio, pois, fora o risco de queimar a boca, o funcionamento é bem parecido com um chá.

Também acho!

— Mas eu não diria isso a eles, pois o dono da loja de ervas ficou bem ofendido quando eu disse que parecia chá. Ele jogou um saco de erva em mim e queria me expulsar do estabelecimento. Ele só desistiu pelo fato de eu ser muito maior em estatura, e também por eu ter pedido desculpas e prometido não falar bobagens novamente. Foi muito vergonhoso.

— Creio que os valores dos anões devem ser muito diferentes dos nossos. É sempre bom tomar cuidado em terras estrangeiras, pois muitas vezes algo normal para nós é uma ofensa para eles — diz sabiamente o Sr. Bigodas.

— Concordo, ah! Antes que eu me esqueça, aqui há o livro que explica os detalhes do funcionamento. Eu comprei, pois tive medo de envolver algum conhecimento alquímico que eu não tivesse notado. Toma — responde o Demônio da Lua Nova, enquanto retira o livro de ritual de invocação e tortura de sua mochila.

— Não vejo a hora de provar! E qual o nome deste aparato todo?

— Eles o chamam de Chimurram.

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