Aelum Brasileira

Autor(a): P. C. Marin


Volume 1

Capítulo 16: O Brilho Avermelhado

ALIENOR

 

É como olhar para uma serpente, sempre à espreita, e não sei como minha mãe não percebeu, pois não foi por falta de aviso.

Amigo de infância, ela dizia, e agora está morta. Eu sei que foi ele, porém não tenho como comprovar, nem terei tempo para fazer isso, não agora, pois estou numa enrascada.

— Creptus! — eu digo.

Bum! Três soldados morrem, com a explosão, e é de encher os olhos.

Sempre adorei essas explosões, desde pequenina. Digo, as magias de fogo também são lindas e adoro ver as chamas dançarem, mas quando me ensinaram que era possível combinar magia de vida com a de destruição para criar explosões, eu quase chorei de alegria.

Gastava praticamente todas as reservas de fluxo explodindo coisas. Às vezes, até desmaiar. Bum! Ah! o brilho é tão belo, que mais parecem com os fogos de artifício que os anões fazem, mas eu consigo criá-los eu mesma agora e no momento que eu quero.

— Creptus Mas!

Bum! Este sai quase perfeito, e eu posso ver a reação química dos uniformes dos soldados ao explodirem. Elas produzem algumas chamas com cores entre o verde e o azul, dentro daquele mar de faíscas bancas. É tão rápido, mas estou sempre atenta aos detalhes.

Que cores eu produzirei na próxima?

— Senhor! Ela já matou muitos de...

— Creptus!

Bum!

Guiah! — O soldado que gritava, agora é lançado pelos ares.

Gostou desta, pai?

Hahahaha!  — Não aguento a emoção e solto uma gargalhada, devo soar como a vilã de umas das histórias que meu pai contava.

Outra grande qualidade das explosões, elas mandam tudo pelos ares e, a depender do local que conjuro, o soldado pode até ser arremessado dando piruetas. É especialmente divertido fazer isso enquanto eles estão no meio da frase.

Pois, às vezes, eles projetam uns ruídos engraçados pela garganta no momento da explosão. Entretanto, ainda não dominei com perfeição essa última técnica e, por enquanto, dependo de sorte.

Chego ao auditório, exatamente como planejado, tendo em vista que este é o melhor ponto estratégico para mim. Aqui, eu tenho a vantagem artística. Minha mãe não deixava eu explodir as coisas neste local, mas agora nada me impede.

Só há uma entrada, a que acabo de passar, e uma saída, a uns trinta metros à frente. Era por onde os artistas costumavam sair, e nela posicionam-se aproximadamente uns oito soldados. Olho novamente para trás, e chegam mais cinco, a contar com a víbora.

A plateia está grande hoje, embora falte uma artista. Mas onde será que eu posso encontrar uma?

Eles acreditam que estou encurralada, porém só deixaram tudo mais divertido, pois eu posso ouvir os ecos das explosões agora. Assim, com o mesmo esforço, eu terei uma recompensa muito maior.

Portanto, preciso aproveitar a minha única vantagem. E aí vai uma grande!

— Creptus Mas!

Bum! Bum! Bum... Sim, ela ecoa com perfeição pelo auditório, e é a mais bela música. A acústica deste ambiente é como um tempero exótico.

Quatro dos oito soldados são jogados para longe. Eu poderia ter feito uns seis serem atingidos e mortos, mas da forma que eu lanço a magia é mais engraçado o arremesso, e a acústica é muito mais suave.

Receio que seja o meu lado artístico falando mais alto novamente, e todos sabem que vale tudo pela arte.

— Não há saída, Srta. Vermilion, ou melhor, regicida — diz Fineas, a víbora.

— Sempre há uma saída para mim, seu idiota! Creptus!

Bum! Lanço uma explosão na parede do castelo. Um buraco se abre, e agora eu posso fugir.

Droga, esta queda será alta, mas acho que não tenho escolha, afinal eu já gastei quase todo o fluxo.

Receio que eu deveria ter administrado melhor, mas o espetáculo estava tão lindo, que eu não me aguentei.

Gostaria de voltar no tempo e fazer tudo novamente. Que tristeza. Foi tão divertido enquanto durou.

— É uma pena que tenhamos chegado neste ponto, minha irmã — diz Loise, enquanto faz um sinal para os soldados suspenderem o ataque.

Loise de Vermilion, em aparência, é parecida comigo e com minha falecida mãe. Ela é ruiva, de cabelos longos. Um pouco mais alta e mais velha do que eu, pois ela tem dezenove anos agora, mas o que mais a diferencia é essa sua cara de biscate, que só ela tem!

— É uma pena que eu tenha uma irmã!

— Você sempre foi assim, não é? Uma besta irracional. Só precisava aceitar o fato de que eu serei a condessa de agora em diante, porém você quer disputar o poder! Eu sou a mais velha. O condado é meu por direito!

— Eu nunca quis governar, isso pouco importa, sua louca, mas eu não vou aceitar uma assassina no lugar da mamãe.

Os soldados olham com confusão para Loise, creio que já suspeitam disso também.

— Você teve sua chance. Eu sinto muito, irmã. Ignis hasta! — Loise estende as duas palmas das mãos, e dali se forma uma lança flamejante, a qual é disparada imediatamente contra mim.

Ela é habilidosa, e sua conjuração é rápida. Não conseguirei desviar.

A lança acerta meu estomago e atravessa: É um ferimento fatal.

O impacto me desequilibra e agora eu caio pelo penhasco. É uma longa queda, e vejo água no fundo: é o Rio Magenta, que percorre por Galantur.

Tudo como eu planejei, salvo que devo morrer antes de chegar até ele. Creio que só tenho uma saída. Ela enfrequecerá minha magia por alguns dias, e não conseguirei usar grandes explosões tão cedo...

Acho que vou chorar, mas o que posso fazer, é melhor do que morrer assim.

— Vulpis Ignis — eu digo.

— Ela se transformou, vocês viram?

— Sim, eu vi, uma raposa, igual a falecida Condessa Heloísa! — dizem os soldados, que estão no auditório.

Um dos dois faladores é chutado por Loise, o qual cai pelo penhasco também. Ela diz algo, mas não escuto.

A biscate parece furiosa. Hahahaha.

Pensei que conseguiria pôr um fim nisso sozinha.

É triste, mas eu tenho que admitir, se não fosse por ele, eu já estaria morta. Droga, nem para me deixar morrer em paz ele serve. Se sairmos vivos, espancarei esse delinquente assediador.

Vem com aquele papinho de: Ain! Eu não tenho medo do professor, nem de você! Seu idiota! imbecil! burro!

Você vai ver o medo na hora que eu te explodir pelos ares, seu ranhento tapado!

— Ignis! — diz Fineas.

Droga, essa luz é um saco, e não consigo ver nada. Minha visão fica turva, mas logo ela retorna.

Olho para o chão e percebo um bracelete banco e preto, todo ensanguentado, e ele vem rolando em minha direção. Como assim, ele tirou?

Olho para o Gris e percebo o que ocorreu. Fineas mirou no braço direito e o cortou fora. Mas que merda! Eu não pude fazer nada.

Que ódio, não era para você estar aqui, seu imprestável! Só eu deveria morrer.

— Acabou! — exclama Fineas.

A víbora deixa o Gris e corre em minha direção. Parece que acabou mesmo. Eu queria tanto ver mais algumas explosões antes de morrer.

Droga, não temos mais chance. Se nos rendermos, talvez haja alguma saída. Só pare de tentar e desista, Gris, que eu farei o mesmo. Talvez, assim, eles deixem ao menos você vivo.

Porém, ele se levanta e pegar sua adaga com a mão esquerda. O ranhento é rápido, mas não dará tempo.

— Fujaaaaaa! — grita o Gris.

Que imbecil, como se eu pudesse.

Sinto um fluxo positivo e negativo a minha volta, eles se unem e ficam cinza. Parece com um ritual, mas não vejo um conjurador.

Algo está prestes a acontecer. Olho para origem do evento e vejo o Gris: É ele o conjurador?

Estou com frio e escuto um fino assovio. O som dele é belo e assustador, como um convite para a morte.

Não pode ser tão rápido! Está reunindo fluxo sem as palavras e dando forma sem fazer o sinal.

Algo forte vem e só uma coisa me vem à mente quando penso em uma magia tão sinistra, porém ele não conseguiria fazer algo assim. Ou conseguiria?

— Vitale! — grita Fineas.

Sim, a víbora também entendeu. Em resposta, conjuro a magia de resistência à morte.

Estou protegida, mas a sensação que atravessa meu corpo é de desespero.

Percebo que os vaga-lumes param de brilhar e caem, assim como alguns soldados que perdem suas forças e morrem.

Ele drenou o fluxo de seus corpos.

Uma segunda onda vem, mas desta vez ela parte do Gris, como uma rápida explosão negativa. Porém, agora, eu não consigo reagir a tempo...

— Você fez bem até aqui, mas já pode desistir agora. Não há vergonha alguma em desistir, Alienor.

— Mãe?

— Descanse, filha, pois já é tarde para ficar acordada. Você já pode dormir, meu brilho avermelhado.

É tão real que posso sentir o calor das suas mãos em meu rosto.

Você é tão cruel por fazer isso comigo, Gris, mas até eu sei que não pode ser real.

Sinto muito, mãe, você... já morreu e o homem que te matou...

— Seus idiotas, é uma alucinação, ignorem isso e voltem — diz a víbora.

Fineas olha para o Gris, joga sua espada para o lado e começa a levantar ambas as mãos. Conheço a forma do fluxo, e ele vai conjurar uma lança de fogo. Isso matará o Gris, assim como quase me matou.

Parece que, enfim, verei minha última explosão, mas, desta vez, irei caprichar.

Você está vendo, mãe? Essa também brilhará em vermelho!

Revogo a magia que me transformou em raposa, só assim será forte o suficiente. Não terei muito tempo, o ferimento na minha barriga me matará.

Já me transformo com a mão direita estendida em direção ao Fineas e digo: — Creptus Mas!

BUM!

Já é tarde da noite, e há um silêncio no ambiente. Com isso, o som ecoa lindamente e sem ruídos pela clareira até meus ouvidos. O corpo de Fineas é lançado a vários metros de distância. Ele dança de forma belíssima pelo ar, e a explosão brilha com um leve tom avermelhado, mesclado com faíscas brancas e gotículas do sangue de Fineas, as quais saem de seu braço destroçado.

Estou segura que foi a mais bela das explosões.

Uau! Belos fogos de artifício, adorei! Que alegria.

Sim, de fato, eu fiz o meu melhor, não é? Há pelo menos um que sabe apreciar as coisas belas.

Quando olho para quem diz, vejo um homem vestido muito bem, com um bigode único e engraçado.

Ah! Droga, sujei meus sapatos completamente... Vocês sabem como se divertir, hein? Vamos ver o que posso fazer pelo belo casal aqui.

Vish! Acho que dá para colar, mas o Sr. Torv não vai gostar nada disso. Será que ele ainda vai me dar a lembrancinha?

— Senhorita, isso aí é bem grave. Você deveria tomar mais cuidado onde brinca. Toma esta poção aqui, não vai te curar completamente, porém te estabilizará. Em todo caso, eu recomendo a você voltar àquela forma fofa de antes.

Desculpe, professora Cintia.

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