Volume 2
Epílogo: Outra História Começa a Desdobrar-se
ERA FINAL DE MAIO, em uma manhã de sábado pouco antes das onze, quando finalmente saí do meu quarto, pronto para encontrar a pessoa com quem havia combinado. O leve zumbido do dormitório me acompanhou até o saguão. Assim que saí das dependências, uma voz familiar me chamou.
— Bom dia, Horikita-san.
Lá estava ela — Karuizawa-san, sorrindo suavemente. Devia ter chegado mais cedo do que eu esperava.
— Bom dia. Desculpe por ter te chamado tão de repente ontem à noite.
Só havia enviado uma mensagem a ela bem tarde, perguntando se poderia me encontrar. Com a quantidade de amigos que tinha, não seria surpresa se sua agenda já estivesse cheia. Ainda assim, aceitou sem hesitar.
— Está tudo bem. Na verdade, receber um convite seu, Horikita-san, foi tão inesperado que fiquei realmente feliz.
Ela sorriu de forma gentil, acrescentando que estava ansiosa por esse encontro.
— Mas... por que você está de uniforme? — Perguntou curiosa, inclinando a cabeça.

— Tenho um compromisso com o Conselho Estudantil, preciso aparecer lá às duas.
Expliquei que era proibido entrar nos terrenos da escola com roupas casuais, e trocar de roupa só para isso seria um incômodo desnecessário. Além disso, muitos alunos vinham aos fins de semana para atividades de clube, então não chamaria atenção estando de uniforme.
— Uau, ser presidente do conselho estudantil deve ser complicado. Eu nunca aguentaria isso.
Balançando a cabeça e murmurando "de jeito nenhum, de jeito nenhum", seu olhar se desviou para o distante Keyaki Mall.
— Então — disse, voltando-se para mim com um brilho travesso nos olhos — qual é o plano? Confesso que estava empolgada para ver como o Horikita-san iria "me acompanhar" hoje.
— Se esperava algo divertido, temo decepcioná-la. Não a convidei hoje para passearmos.
Falei como um leve pedido de desculpas, mas Karuizawa-san arregalou os olhos de repente, soltando um suspiro como se tivesse percebido algo.
— Eh, ah... não me diga que você quer saber alguma coisa sobre o Ayanokoji-kun?
— Você é perspicaz. Esse é um dos meus objetivos.
— Bem, como o exame especial terminou sem grandes problemas, imaginei que pudesse ser algo assim. Mas não prometo ser de grande ajuda, viu?
— Entendo. Mas se até você não souber de algo sobre ele, poderei desistir mais facilmente.
Afinal, entre todos que conheço, ela é sem dúvida quem mais entende Ayanokoji-kun.
— Certo então — respondeu animada. — Pergunte o que quiser. Se estiver dentro do que sei, vou responder tudo.
Disse isso com confiança, mas logo coçou a cabeça com uma risada sem graça.
— Ah... desculpa, talvez não tudo. Mas a maior parte, sim. Posso falar sobre isso.
Suas bochechas coraram ao se corrigir. A reação despertou minha curiosidade, mas desde que compartilhasse o que pudesse, já seria mais que suficiente.
— Obrigada.
Sua postura dedicada, ou talvez mais precisamente proativa, me trouxe uma sensação de alívio.
— Também não pretendo mentir nem esconder coisas desnecessárias — continuei. — Vou explicar tudo: por que quero saber sobre Ayanokoji-kun e o que pretendo fazer. Quero que me escute.
— Claro. Pode não parecer, mas sei guardar segredo. Então mande ver.
Confiando em suas palavras, mencionei os nomes de Kushida-san e Ibuki-san, e expliquei que, como primeiro passo para enfrentar Ayanokoji-kun, precisava começar reunindo mais informações sobre ele. Para isso, planejava investigar também suas origens. Tudo isso coloquei diante de Karuizawa-san.
— Entendi. Sabe, mesmo antes de eu começar a sair com o Kiyotaka... ah, quer dizer, com o Ayanokoji-kun, eu já me perguntava que tipo de aluno de ensino fundamental ele tinha sido. Então entendo como você se sente. E... desculpa de antemão, talvez eu ainda escape e acabe chamando ele pelo primeiro nome às vezes.
— Não se preocupe com isso. Se for difícil chamá-lo pelo sobrenome, pode continuar usando o primeiro nome.
Mas Karuizawa-san balançou a cabeça com firmeza.
— Não. Para mim... isso é como traçar uma linha. Um tipo de encerramento, acho.
— Entendo...
Ela deu um pequeno sorriso amargo.
— Mesmo tendo namorado com ele, honestamente, não acho que saiba muito mais do que você, Horikita-san. Tentei perguntar algumas vezes sobre o passado dele, mas... nunca tive uma resposta adequada.
— Quer dizer coisas como em qual província morava ou em qual escola estudou?
— Isso... Bem, perguntei sobre suas comidas favoritas e o tipo de roupas que preferia. Isso ele respondia, mas... — sua voz foi se apagando, o olhar perdido como se buscasse memórias enevoadas.
Karuizawa-san começou a recontar em voz baixa os pequenos fragmentos de informação que havia reunido ou ouvido.
*
Finalmente chegamos ao Keyaki Mall, e a conversa fluía naturalmente enquanto caminhávamos pelos corredores polidos. Talvez fosse uma boa hora para sugerir que almoçássemos. Mas, antes que eu pudesse dizer isso, algo chamou minha atenção.
— Na verdade, tem outro motivo para eu ter te chamado hoje — falei, baixando um pouco a voz. — E tivemos sorte de encontrá-la.
— Como assim?
Em vez de responder imediatamente, desloquei meu olhar para a figura adiante, incentivando-a em silêncio a seguir minha linha de visão.
— Amasawa-san? — murmurou, quando seus olhos pousaram na pessoa que eu havia destacado. A poucos passos de nós caminhava uma garota de cabelo vermelho em duas longas tranças, as costas eretas enquanto se movia sozinha pelo movimento do shopping.
— Exato — confirmei em voz baixa. — Amasawa Ichika... ela tem ligação com o passado de Ayanokoji-kun. É por isso que ando investigando-a.
— Ahhh... entendi.
Karuizawa-san, ao meu lado, não pareceu surpresa. Sua expressão carregava um ar de compreensão silenciosa.
— Você já sabia da ligação deles, por acaso?
Ela balançou a cabeça.
— Não, não é isso. Mas... já vi o Ayanokoji-kun conversando com a Amasawa-san antes. Foi bem rápido. E, sinceramente, não parecia que eram apenas um senpai e uma kouhai que se encontraram por acaso nesta escola.
Não parecia haver diferença entre as informações que tínhamos, mas ouvir a opinião dela era reconfortante. Sentir o mesmo "cheiro", por assim dizer, é encorajador quando se está conduzindo uma investigação tão lenta e constante.
— Então... vamos segui-la agora? Ei, vamos segui-la? — Perguntou, os olhos brilhando.
— Você está entusiasmada demais com isso — respondi, suspirando.
— Quero dizer, não desgosto de fazer coisas de espiã. Honestamente, quem não se divertiria com algo assim?
Bem, se eu pensasse nisso apenas como uma extensão de uma encenação, talvez não fosse tão ruim... Mas a pessoa com quem lidávamos não era qualquer uma. Ela tinha ligação com o passado do Ayanokoji-kun e, pelo que já observei, possuía habilidades nada comuns. Um deslize, e o fio que nos conectava a ela poderia se romper de vez. Só esse pensamento já tornava difícil tratar aquilo como um jogo.
— Pelo menos, devo te contar o que notei sobre ela recentemente — falei, baixando o tom.
Durante várias tardes, eu havia observado discretamente a Amasawa-san depois das aulas. Ela sempre agia sozinha. Nunca a vi passar tempo com o que se poderia chamar de amigos ou mesmo colegas de classe. Até agora, se alguém se aproximava dela — fosse garoto ou garota —, ela respondia com um sorriso agradável, mas nunca se juntava a eles. Logo em seguida, voltava à solidão. Era a impressão de alguém que, deliberadamente, evitava formar relações próximas.
Essa preferência pela solidão me lembrava um pouco o próprio Ayanokoji-kun, embora eu logo tenha me contido. Talvez estivesse forçando demais essa semelhança. Afinal, Ayanokoji-kun não era alguém que recusava amizade; era alguém que simplesmente não conseguia fazer amigos, mesmo que quisesse.
— Não era só uma encenação, certo? Com certeza não... — murmurei.
Karuizawa-san balançou a cabeça com firmeza.
— Não. Não acho que fosse apenas um ato. Se for o caso, essa é justamente uma das características reais que eles têm em comum.
Deixando de lado minha ignorância lamentável sobre ele, estava claro que não era bom em lidar com pessoas. Essa parte, provavelmente, era genuína.
Mantivemos distância, seguindo discretamente Amasawa-san, que caminhava à nossa frente. Daquela posição, tudo o que eu podia ver era o balanço de suas tranças vermelhas e a linha ereta de suas costas.
Na verdade, eu deveria confrontá-la diretamente. Mas o mundo não é tão bondoso a ponto de alguém simplesmente se abrir comigo por causa disso.
Mais uma vez, um estudante do sexo masculino se aproximou da Amasawa-san. Conversaram por apenas cinco segundos, parecia apenas uma saudação. Ainda assim, aquilo já bastava. Todo aluno que conseguia falar com ela, mesmo que brevemente, valia a pena ser lembrado. Recolher informações de forma indireta era a única coisa que eu podia fazer no momento.
Enquanto memorizava o rosto dele, o celular vibrou em minha mão direita.
— O que foi? — Perguntou Karuizawa-san.
— Só um momento.
Peguei o telefone e encarei a mensagem, inclinando a cabeça em dúvida. Uma única linha brilhava na tela.
ESTAREI ESPERANDO NA SALA DO CONSELHO ESTUDANTIL.
— Quem poderia ser?
Era uma mensagem curta, de um contato não registrado. Não havia data nem horário especificados, mas... seria agora? Se a reunião marcada para as duas tivesse sido adiantada, não seria estranho se fosse um recado da Nanase-san. Ou talvez fosse sobre outra coisa?
Enquanto eu refletia, a figura de Amasawa-san se afastava, desaparecendo aos poucos dentro do Keyaki Mall. Preciso segui-la, disse a mim mesmo. Mas, em vez disso, desliguei a tela e fechei os olhos.
— Não tem jeito...
Como presidente do conselho estudantil, não podia agir por impulso. Se alguém estava me esperando na sala do conselho, eu tinha a responsabilidade de atender. Mesmo que — ainda que fosse uma chance de apenas um por cento — fosse o próprio Ayanokoji-kun. De forma mais realista, poderia até ser algo relacionado ao próximo Exame Especial.
— Me desculpe. Isso é repentino, mas preciso passar na sala do conselho estudantil.
Pedi desculpas por encerrar o encontro tão cedo, sem sequer termos almoçado, apesar de ter sido eu quem a convidou. Karuizawa-san, no entanto, apenas balançou a cabeça com um sorriso gentil.
— Não se preocupe com isso. De verdade. Além do mais, não vou seguir a Amasawa-san sozinha, então você não precisa ficar preocupada.
Ela já havia antecipado o alerta que eu pretendia lhe dar, aliviando minha inquietação antes mesmo que eu pudesse expressá-la. Agradeci novamente, com mais um pedido de desculpas, e então virei meus passos em direção à escola.
*
Levei cerca de dez minutos para chegar à sala do conselho estudantil. No entanto, ao chegar, o corredor estava vazio, sem sinal de ninguém esperando. Peguei o celular, mas não havia nenhuma mensagem de acompanhamento. O silêncio daquele corredor deserto parecia me pressionar.
Era natural, afinal era feriado, e a essa hora a sala do conselho estaria fechada e inutilizada.
— Uma pegadinha? — murmurei.
Ainda assim, a inquietação me corroía. Por precaução, tirei a chave que me havia sido confiada e abri a porta. A sala me recebeu com silêncio pesado e absoluto. Nenhuma figura, nenhum movimento, nem mesmo o ranger de um móvel. Permaneci ali por apenas alguns instantes antes de voltar ao corredor, decidindo esperar mais um pouco.
Mas não importava quanto tempo passasse, ninguém aparecia. Apenas o tempo escorria, os minutos se acumulando inutilmente. Talvez eu devesse ter seguido a Amasawa-san, afinal.
Enquanto um leve arrependimento começava a brotar, decidi voltar para casa, já que ainda restavam cerca de duas horas até meus deveres originais no conselho estudantil. Desci as escadas até o primeiro andar e comecei a caminhar em direção à saída.
— Presidente Horikita.
Eu havia dado apenas alguns passos pelo corredor quando, de repente, uma voz cortou o silêncio. Até aquele momento, não tinha visto ninguém no meu campo de visão. Surpreso, girei o corpo rapidamente.

— Você é... Ishigami-kun, não é? Precisa de algo comigo?
Vestido de forma impecável com seu uniforme, estava diante de mim Ishigami Kyo, da Classe 2-A. Era um nome que eu não recordava fazia tempo — e um rosto ainda mais raro de se ver, especialmente ali, naquele lugar.
Comecei a me perguntar o que poderia tê-lo trazido até ali. Afinal, era sábado. A menos que tivesse atividades de clube, as chances de encontrar outro aluno no campus eram extremamente baixas.
— Faz tempo — disse ele, educadamente. — Tenho algo para discutir, poderia me conceder um momento?
— Claro. Realmente faz bastante tempo desde a nossa última conversa.
Ele acenou levemente com a cabeça.
— Naquela época, foi você quem veio até mim, Presidente.
— É verdade — respondi em tom suave, enquanto a lembrança surgia.
Naquele dia, eu havia lhe feito um convite para ingressar no conselho estudantil. Ele recusou sem hesitação — e não havia nada de errado nisso. Aceitar ou não era apenas uma questão de escolha pessoal. Se eu não estava enganada, Ayanokoji-kun também estivera presente naquele dia...
— Importa-se se mudarmos de lugar? — Perguntou Ishigami-kun, de repente.
— Outro lugar? É algo... difícil de discutir aqui?
— Prefiro que ninguém nos veja. Não vou lhe causar muito incômodo.
Sem esperar por minha resposta, virou-se de costas e começou a andar. Hesitei por um momento, refletindo. Não havia motivo urgente para eu voltar para casa imediatamente, então não haveria mal em ouvi-lo. Mas... a escola estava estranhamente silenciosa naquele feriado, os corredores desertos. Não importava onde conversássemos, ninguém nos ouviria. O que significava apenas que ele estava determinado a manter esse assunto fora dos ouvidos de terceiros.
— Foi você — perguntei baixinho — quem me enviou aquela mensagem?
Ele olhou por cima do ombro.
— Por que pensa isso?
— Vejo que não começa negando.
Observei sua reação. Não havia confusão alguma em sua expressão ao mencionar a mensagem. Pelo contrário, sua postura tinha a naturalidade de quem já aceitara a verdade. Não parecia disposto a esconder nada.
— Se realmente tinha algo a discutir — continuei calmamente —, então, num feriado silencioso como este, eu poderia ter ouvido em qualquer lugar. Ainda assim, você disse especificamente que não queria ser visto. Se nos encontrássemos na sala do conselho, sempre haveria a chance de alguém aparecer ou, pior, outros membros do conselho se reunirem. Além disso, você me abordou justamente quando eu estava voltando daquela sala. Em outras palavras, primeiro confirmou que eu estava sozinha antes de agir.
Percebi: ele havia manobrado. Ficou à espreita, fora do meu campo de visão, esperando o momento exato para surgir sem ser notado.
— Admito, peço desculpas por ter usado um método tão indireto.
— Não me incomoda particularmente. Mas se for um assunto urgente envolvendo o conselho estudantil, entenda que talvez eu não consiga guardar só para mim.
Quanto maior o problema, maior a responsabilidade de torná-lo público, não apenas para os alunos, mas também para a direção.
— Não precisa se preocupar com isso.
Estreitei os olhos.
— Isso não é algo que você possa decidir sozinha.
Então, suas palavras vieram — baixas e firmes, mas carregadas de peso:
— O que quero discutir... é que você tem investigado bastante a Amasawa, não é, Presidente?
O passo de Ishigami-kun não vacilou, seus olhos fixos à frente, sua voz soando como se fosse apenas uma conversa casual.
— O que quer dizer com isso?
Minha compostura vacilou, apesar de mim mesmo. As palavras dele me pegaram de surpresa, mas forcei-me a fingir ignorância. Jamais havia conectado Ishigami-kun à Amasawa-san. Mas talvez eu o tivesse subestimado. Se Amasawa-san tivesse percebido minha vigilância antes do esperado, poderia muito bem ter buscado a cooperação de Ishigami-kun. Essa possibilidade estava longe de ser improvável.
— Vejo que você também não começa negando.
Ele parou abruptamente e se virou para mim, o olhar afiado e firme. Seus olhos cravaram nos meus, como se quisessem despir o véu que eu tentava manter erguido, medir a inquietação que eu lutava para esconder. Um atraso no meu senso de cautela me atingiu de repente.
— Amasawa e eu estamos na mesma classe. Se houver algo de incomum nela, as informações naturalmente chegam até mim.
— Entendo.
Nos últimos dias, eu havia analisado arbitrariamente a Amasawa-san como uma estudante que preferia agir sozinha. Mas, na realidade, talvez não fosse o caso. Será que ela estava incomodada por eu segui-la e confiara em Ishigami-kun, pedindo sua ajuda...?
Não, mas...
— Você ficou insatisfeito com o fato de eu investigar sua colega? Isto é um aviso?
— Não. Mas preciso saber por que o conselho estudantil está investigando a Amasawa. Se houver algum problema com ela, a classe será forçada a assumir a responsabilidade, afinal.
Uma razão lógica. Para a Classe A, que se orgulhava da ordem e da estabilidade, uma falta de conduta de um colega não era apenas pessoal — era uma ameaça ao coletivo. Não era surpreendente que tivessem os radares atentos para possíveis escândalos internos.
— Nesse caso, pode ficar tranquilo. Ela não está causando nenhum problema.
Primeiro, eu precisava dissipar sua suspeita. E, convenientemente, isso também serviria ao meu propósito.
— Então poderia me dizer o verdadeiro motivo? — insistiu ele.
— Você conhece um aluno do terceiro ano, da Classe C, chamado Ayanokoji-kun?
— Nunca falei diretamente com ele, mas mesmo entre os do segundo ano, ele se tornou bastante comentado como o estudante que se transferiu voluntariamente da Classe A para a Classe C.
— Entendo. Então você o conhece. Quando menciono esse assunto, a maioria dos alunos me pergunta como me sinto a respeito, mas você não parece ser assim.
— Infelizmente, não tenho interesse em outras séries. E não vejo qual a relação disso com você investigar a Amasawa.
Pelo visto, Ishigami-kun só se interessava pelos assuntos da própria classe. Isso não era exatamente uma boa notícia para mim... mas, por ora, eu continuaria a conversa.
— Estou tentando encontrar um aluno que saiba sobre a vida dele antes de ingressar nesta escola. E, nesse processo, surgiu a possibilidade de que Amasawa-san seja uma antiga conhecida de Ayanokoji-kun. É por isso que quero perguntar a ela em detalhes, mas não temos intimidade. Estou hesitante em abordá-la diretamente, então tenho buscado uma forma de aproximação, algum fio condutor que me permita chegar a ela naturalmente.
— Por que a presidente do conselho estudantil está investigando alguém que traiu a própria classe?
— Não é algo que acontece com frequência nesta escola — respondi com calma —, mas, uma vez que uma transferência de classe ocorre, torna-se um assunto impossível de ignorar. Ele está na Classe C agora, o que faz dele meu inimigo. Buscar cada fragmento de informação para derrotá-lo no futuro não é nada estranho, concorda?
— Então, para conhecer o inimigo, pretende pisar em território inimigo?
— Algo assim. Posso continuar investigando a Amasawa-san no futuro, mas fique tranquilo: isso não afetará negativamente a Classe 2-A.
— Entendo. No entanto, não posso prever como os outros ao nosso redor interpretarão isso. Se os olhos da presidente do conselho estão fixos na Amasawa, facilmente pode surgir a impressão de que há problemas dentro da nossa classe. Preferiria que resolvesse isso o quanto antes.
Não é como se eu quisesse prolongar isso, mas... se fosse simples, eu não estaria enfrentando tantas dificuldades.
— Por ora, não tenho informações sobre o Ayanokoji-senpai, mas tenho uma ligeira ideia de alguém que pode saber sobre o passado dele.
— Sério? Quem?
Perguntei diante de sua afirmação intrigante, mas Ishigami-kun não respondeu de imediato.
— Não me importo de lhe dizer, mas há uma coisa que gostaria que prometesse. O nome que lhe darei não pode, em hipótese alguma, ser rastreado até mim. Quero que mantenha absolutamente em sigilo minha identidade.
Por um instante, pensei que ele pudesse exigir Pontos Privados ou algum tipo de taxa pela informação, mas não era esse o caso.
— Se esse é o seu desejo, prometo proteger seu anonimato.
— A pessoa em questão é um estudante bastante perspicaz. Naturalmente, tentará rastrear a origem da informação. Quando isso acontecer, você terá de lidar com isso com o orgulho da Classe A — e como presidente do conselho estudantil. Está confiante de que pode?
Ele pressionava deliberadamente, aplicando peso às palavras, garantindo que eu sentisse a carga antes de aceitá-la. Talvez, para Ishigami-kun, essa pessoa fosse perigosa o suficiente para exigir tais precauções. Mas, na verdade, isso já era óbvio. Se alguém realmente soubesse do passado de Ayanokoji-kun, por definição, não seria um estudante comum — seria alguém formidável.
— Farei o máximo. No momento, só posso pedir que acredite na minha determinação.
Respondi dessa forma, preparada para recusar se ele exigisse uma aposta ou tentasse me prender a algum contrato.
— Muito bem. Confiarei em você, Presidente Horikita, e lhe darei a informação.
— Obrigada.
As próximas palavras dele, no entanto, me congelaram.
— É uma estudante da turma 2-D chamada Nanase. Como ela faz parte do Conselho Estudantil, você a conhece bem, não é?
Um nome que eu jamais teria considerado. Alguém perto demais, próxima demais. Por um breve momento, minha mente ficou em branco.
— Receio que isso seja impossível — respondi enfim, recuperando a compostura. — Uma vez, tive a oportunidade de fazer-lhe uma pergunta parecida, durante um chá. Ela me disse que não sabia de nada.
— Ou talvez simplesmente não tenha lhe dito a verdade?
Não foi dito como um mero palpite: havia confiança na voz de Ishigami-kun, enquanto ele me fitava fixamente.
— E por que pensa isso? Não posso duvidar dela sem motivo.
— Mesmo sendo da Classe A, eu coleto constantemente informações sobre as outras turmas. Nesse processo, descobri coisas como o contato precoce de Nanase com Ayanokoji-senpai.
— Isso é—
Quase falei mais do que devia. Nanase-san havia estado envolvida naquele exame no ano passado, o teste secreto revelado apenas a alguns poucos do primeiro ano: a prova que oferecia pontos privados em troca da expulsão de Ayanokoji-kun. Ela fora uma das participantes. A verdade estava na ponta da língua, mas engoli em seco.
Nem todos os alunos do segundo ano sabiam disso, e muito menos os do terceiro. Mencionar aquilo agora só traria à tona um ninho de vespas. Ninguém ganharia nada com isso.
— Durante o primeiro exame especial enfrentado pelo seu ano, minha classe entrou em contato com a dela para estabelecer cooperação. Talvez fosse apenas ligado a isso?
— Temos consciência disso. Mas não seria possível que até mesmo aquela coordenação inicial tivesse sido orquestrada por Nanase, unicamente como meio de se aproximar de Ayanokoji-senpai?
— Se fossem realmente conhecidos de longa data, ela poderia ter falado com ele abertamente. Não haveria necessidade de artifícios—
— Talvez tenha razão — interrompeu Ishigami-kun em voz baixa, recuando apenas o suficiente para deixar-me na dúvida se realmente cedia. — Se for apenas imaginação minha, está bem. Esqueça que mencionei.
Nanase-san sabe do passado de Ayanokoji-kun?
Era apenas especulação, fundamentada unicamente na sugestão de Ishigami-kun, sem nenhuma prova concreta. Mas só o fato de essa possibilidade ter sido lançada já a gravava em um canto da minha mente.
Por mais improvável que fosse, se por acaso fosse verdade… se Nanase-san realmente guardasse esse conhecimento—
— Estaria disposto a cooperar comigo?
— Cooperar? Em quê, exatamente?
— Quero investigar Nanase-san. Apenas por precaução. Vocês dois são do segundo ano. Mesmo em turmas diferentes, deve ter pelo menos alguns pontos de contato com ela, certo?
— Isso é verdade. Mas acho que a cooperação seria difícil. Esse é, em parte, o motivo pelo qual pedi anonimato. Veja… Nanase não gosta de mim.
— Não gosta de você? Por causa dos conflitos entre as turmas?
— Tive que intervir em inúmeros problemas com Hosen, da Classe D, até mesmo fora dos Exames Especiais. Não consigo apontar a causa exata, mas é certo que sou detestado.
O OAA já havia provado que Ishigami-kun possuía excelente capacidade acadêmica. Ele não parecia ser o líder de sua classe, mas, se assumirmos que contribuía em uma posição próxima à de estrategista, era natural que Nanase mantivesse hostilidade contra ele — ou melhor, contra sua classe como inimiga.
Ainda assim, pelo que eu conhecia dela, Nanase não era do tipo a estender a rivalidade entre classes para suas relações pessoais. Ao menos, não pelo que eu sabia.
Se Ishigami-kun não conhecia sua verdadeira natureza, talvez sua interpretação fosse apenas o esperado. Ou talvez — pensei, lançando-lhe um olhar de soslaio — ele simplesmente não quisesse se envolver em assuntos problemáticos, usando esse "desgosto" como desculpa conveniente.
Confiável ou não, eu precisava de aliados agora.
— Muito bem — disse Ishigami-kun após refletir por um instante. — Não posso agir abertamente, mas farei investigações discretas, até o ponto em que minha identidade não seja descoberta. Também considerarei a possibilidade de Nanase não estar envolvida, e então verificarei Amasawa… ou qualquer outra pessoa que possa saber algo sobre Ayanokoji-senpai. Quanto a você, Presidente Horikita, apenas mantenha sua promessa comigo e siga sua investigação livremente.
— Sim, obrigada. Mesmo que seja pressionada, protegerei você a todo custo.
— Estou ansioso pelos resultados. Pois bem… — disse em voz baixa, antes de virar as costas.
Ele se afastou, não em direção à saída, mas deliberadamente no sentido oposto. Talvez por cautela, para que Nanase-san não tivesse a menor chance de vê-lo comigo.
Quanto mais eu tentava descobrir a verdade sobre Ayanokoji-kun, mais sentia que afundava, como em um pântano sem fundo.
— Ayanokoji-kun… quem é você, afinal…? — murmurei no vazio.
Ainda assim, não havia escolha senão seguir em frente, atolando-me na lama, perseguindo a silhueta de suas costas.
Mas, naquele momento, mesmo renovando minha determinação, eu ainda nada sabia.
Nada sobre a verdadeira origem de Ayanokoji-kun. Nada sobre a existência daquela instalação cruel e irreal, onde a imaginação comum jamais alcançaria, nem sobre a educação que ela impunha. Nada sobre como, entre inúmeras crianças quebradas e descartadas uma após a outra, apenas ele resistiu. Nada sobre o destino cruel que o aguardava no fim de seu caminho. Sem dúvida, aquele era o ponto de virada.
O reencontro com Ishigami-kun marcou o início de uma mudança profunda e irreversível em minha vida. O começo de meu envolvimento com a vida de um homem — Ayanokoji Kiyotaka.
Um encontro orquestrado nas sombras.
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