Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 2

Capítulo 7: Observador

JÁ HAVIA SE passado uma semana desde que o exame foi anunciado. E agora, finalmente, havia chegado a quinta-feira, o dia dos resultados. As únicas preocupações que ainda me rondavam eram o encontro com Ike e os outros no café, além do contato inesperado de Hoshinomiya-sensei. Fora isso, não houvera relatos de problemas vindos de nenhum dos meus colegas.

O incidente com Hoshinomiya-sensei, porém, fora bastante infeliz; qualquer interferência dela só poderia ser prejudicial à aliança. Ainda assim, refletia também o quão desesperadamente ela queria vencer.

De qualquer forma, desta vez o campo de jogo permanecia totalmente nivelado. Na verdade, nem sequer estava claro se havia se formado alguma vantagem real. Até mesmo a classe de Ryuen havia se comportado com uma calma pouco característica, evitando qualquer movimento agressivo contra as outras classes. Parecia provável que a vitória se decidiria por margens mínimas.

Enquanto esperava na sala de aula pela chegada dos colegas naquela manhã, Hashimoto entrou apressado pela porta, com uma expressão preocupada.

— Temos um problema, Ayanokoji. Bem no último momento, Rokkaku e Yano estão fora. Faltaram, com certeza.

— Ryuen?

— Também pensei nisso, mas… nada. Nenhum contato. Eles só ficaram doentes e tiveram febre.

Segundo a explicação de Hashimoto, os dois suspeitavam de uma possível causa para a febre: alguns dias antes, quando Rokkaku e os outros estavam fazendo compras, um atendente visivelmente doente no shopping espirrou bem em cima deles. Acreditavam que aquele episódio havia sido o gatilho.

Pelo que parecia, era um acontecimento inevitável e imprevisto. Rokkaku e Yano haviam identificado a causa da doença e, o mais importante, não fizeram nenhuma imprudência como forçar-se a ir à escola. Não havia como culpá-los pela decisão.

— Se as faltas e atrasos de hoje não afetarem o resultado, seria ótimo… mas não vai ser tão fácil, né?

— Provavelmente não.

Muito provavelmente, o escopo do exame se estendia até a frequência desta manhã, cobrindo toda a semana. Se fosse o caso, então aquela ausência poderia ter dado um golpe fatal em nossa competição tão acirrada.

— Nesse ponto, só nos resta rezar para que sua previsão esteja noventa por cento errada, e que esse exame seja algo completamente diferente — murmurou Hashimoto, com um sorriso irônico.

Era uma esperança vaga, mas ainda assim uma esperança. As regras desconhecidas e o conteúdo oculto do teste deixavam espaço para possibilidades.

— Não acho que isso será um problema para esta classe, mas certifique-se de avisar a todos para não difamarem os dois que faltaram. Mesmo que acabemos perdendo por causa disso, não terá nenhum efeito duradouro sobre a turma.

— Imaginei que você diria isso. Já espalhei a palavra.

Ele ergueu o celular, mostrando a tela onde uma mensagem recém-enviada aparecia no grupo.

Com o passar do tempo, mais colegas entraram na sala. Ao ouvirem as circunstâncias, traços sutis de decepção e ansiedade surgiram em seus rostos. Mas as expressões logo se dissiparam. Um a um, sentaram-se em suas carteiras e aceitaram a realidade diante deles. Sabiam bem que nenhum pânico poderia recuperar os pontos de avaliação já perdidos.

Ainda assim, nem toda esperança fora abandonada. Alguns, compartilhando o desejo de Hashimoto de que o exame pudesse não ter relação, curvaram-se sobre suas mesas e seguiram estudando.

*

 

Depois da escola, Ichinose havia me convidado para conversar um pouco sobre os resultados do exame. Foi assim que, pela primeira vez em uma semana, me vi caminhando de volta ao segundo andar do Keyaki Mall, até a entrada da academia.

Do lado de fora, notei uma figura familiar. Watanabe estava parado, olhando para a placa da academia. Ele hesitava, dava alguns passos além da porta, voltava novamente. Repetia o mesmo ciclo várias vezes — aproximar-se, hesitar, recuar. Não importava o quanto se aproximasse, nunca cruzava a entrada.

— O que você está fazendo? — Ao ouvir minha voz, ele deu um salto, virando-se de repente.

— Q-Quem…!? Ayanokoji!? H-Hey, quanto tempo… Que coincidência… haha.

As palavras saíam atropeladas, denunciando o nervosismo. Ele até levantou a mão, tentando disfarçar com um gesto casual.

— Eu tava pensando em entrar na academia, sabe? Digamos que despertei essa vontade de treinar, ganhar um físico mais definido… E também, se eu pudesse vir junto com a Amikura, daria pra passar mais tempo com ela. Então… acho que são os dois motivos, entende?

Nenhuma das razões era ruim. Mas pelo jeito como disse, ficava claro qual delas pesava mais.

— Se esse é seu plano, devia simplesmente ir em frente. Eu ficaria feliz se você entrasse também, Watanabe, já que assim teria mais alguém para conversar.

— S-Sério!? — Seus olhos brilharam como se eu tivesse jogado uma tábua de salvação. — Então, será que eu posso… dizer que foi você quem me convidou!?

Em vez de dar o passo final sozinho, parecia querer que alguém lhe desse o empurrão decisivo.

— Claro, não vejo problema algum.

Ao ouvir minha resposta imediata, Watanabe pareceu genuinamente feliz, os olhos cintilando de alívio.

— Estou me encontrando com a Ichinose depois daqui, mas você não quer aproveitar e entrar agora, talvez numa sessão experimental? Imagino que a Amikura provavelmente venha também.

— E-Espera… logo uma estreia de verdade!? — Sua voz falhou, mas então ele respirou fundo e assentiu com determinação. Por um instante, achei que recuaria, mas parecia ter tomado sua decisão. No entanto, assim que ficamos diante da entrada da academia, seus passos firmes pararam de repente.

— Isso não tá um pouco óbvio demais? — murmurou.

— Não posso negar. As garotas, em especial, parecem sensíveis quando se trata de romance. Se você, Watanabe, que nunca teve ligação nenhuma com a academia, de repente entrar para o grupo, é natural que Ichinose, ou até mesmo a própria Amikura, possam desconfiar.

Deixei que ele refletisse sobre isso, temperando minhas palavras com análise suficiente para que entendesse a implicação.

— Isso não pode acontecer! Se a Amikura descobrir agora, tô acabado! — Ele ergueu as mãos, já imaginando o quanto pareceria suspeito.

— Ainda assim, às vezes deixar alguém perceber o que você sente pode ser uma estratégia em si mesma.

— M-Mas eu não sou nenhum veterano como você, Ayanokoji… Sou mais tipo, sei lá, um herói iniciante de RPG que nem saiu da vila inicial ainda. No nível um, não tenho como lidar com isso…

Não entendi bem a analogia, mas parecia que ele queria evitar que Amikura descobrisse seus sentimentos por enquanto.

— Então talvez seja melhor esperar antes de se inscrever — sugeri.

— Hm… Eu realmente queria ter mais chances de falar com ela, mesmo que só um pouco mais… mas… — Suas palavras ficaram suspensas, o conflito estampado no rosto.

— Nesse caso, existe outra maneira. É um pouco indireta, mas você poderia camuflar seu verdadeiro propósito.

— Camuflar?

— Esconder uma árvore na floresta — sugeri, ainda que a frase soasse um pouco dramática. — Se duas ou três pessoas além de você se inscrevessem na academia ao mesmo tempo, seria muito mais difícil se destacar. Você seria apenas mais um no grupo convidado, e ninguém suspeitaria de nada.

— Ah, esse plano é bom. Acha que consegue chamar alguém da sua classe pra entrar também?

— Não da Classe C. Se você quiser se aproximar naturalmente do círculo da Ichinose e da Amikura, a melhor escolha seria alguém da Classe D.

Além disso, envolver a Classe C poderia causar problemas quando a estrutura da aliança eventualmente ruísse.

— É… faz sentido. Se for um colega, posso me aproximar sem parecer forçado. Mas… quem aceitaria entrar?

Essa era a primeira interação real que eu tinha com Watanabe desde a minha transferência. Apesar de eu ter saído da Classe A para a Classe C, ele não havia comentado nada sobre isso. Não parecia estar evitando o assunto, apenas não se importava.

— Não conheço muito bem a Classe D, mas que tal o Shibata? Ele já está no clube de futebol, provavelmente não se importa com atividade física, e poderia até fortalecer o corpo na academia—

— Isso é absolutamente impossível.

Antes que eu terminasse, os olhos de Watanabe se arregalaram e ele segurou meus ombros.

— Impossível, é?

— Isso é cruel, Ayanokoji. Você nem sabe o motivo, e isso só piora. Se o Shibata visse você e a Ichinose juntos, provavelmente cairia em lágrimas…

— Hã?

Ele murmurou algo depois do "impossível", mas foi baixo demais para eu entender.

Recuperando-se rápido, Watanabe cruzou os braços:

— Olha, ele poderia virar um rival pela Amikura, entende? Shibata é surpreendentemente popular entre as garotas.

— Entendi. Não tinha considerado essa perspectiva.

Era verdade que eu quase não tinha informações sobre a rede de sentimentos e correntes ocultas na Classe D. Watanabe suspirou.

— Mas, por outro lado, não consigo pensar em ninguém que aceitaria entrar. A inscrição custa pontos, afinal.

Pedir a alguém para gastar tanto apenas por obrigação, sem ter interesse real em participar, não era exatamente um pedido leve.

— Nesse caso, eu tenho uma ideia. Contanto, é claro, que não seja um potencial rival para você, Watanabe.

— De quem exatamente você está pensando?

— Kanzaki, Himeno e Hamaguchi. Esses três não seriam escolhas seguras?

— Isso é… meio estranho, não acha? Himeno é uma garota, e Kanzaki e Hamaguchi não têm perfil de rivais amorosos, mas… não consigo imaginá-los indo para uma academia.

— Não necessariamente. Se Kanzaki estiver motivado, há uma boa chance de conseguirmos algo.

— Sério? — Watanabe inclinou a cabeça, sem acompanhar meu raciocínio.

— Se você não se importar, eu mesmo posso tentar falar com eles.

— Bem, quer dizer… sim, claro.

Na verdade, eu havia planejado usar Kanzaki e os outros como catalisadores para ajudar a provocar mudanças em Ichinose. Ela tinha mostrado sinais de progresso, até além das minhas expectativas, um avanço que deveria agradar Kanzaki. Mas se ele realmente acreditava que essa mudança era genuína, ou apenas temporária… isso era outra questão.

O fato de que, mesmo após ouvir sobre a aliança, ele não tivesse me procurado era prova suficiente de que suas dúvidas ainda persistiam.

Até então, nossas interações tinham sido superficiais, no máximo. Nos próximos meses, seria crucial reduzir essa distância, criando mais oportunidades para diálogos significativos.

Por mais que Ichinose tivesse superado suas próprias incertezas, ninguém poderia vencer sozinho. Elevar o nível de alunos como Kanzaki, Himeno, Watanabe e Amikura era parte indispensável do processo.

A ideia de transformar a academia em ponto de encontro com a Classe D havia sido um pensamento repentino, mas, se desse certo, poderia se mostrar surpreendentemente útil.

— Por enquanto — falei a ele —, adie sua inscrição hoje. Me dê algum tempo. Vou tentar trazer Kanzaki e os outros, criando uma oportunidade para que você se aproxime naturalmente de Amikura.

O rosto de Watanabe se iluminou, embora ele tenha tentado disfarçar.

— O-Oh. Valeu, Ayanokoji. Você é mesmo um cara legal, sabia?

Dito isso, virou-se e desceu as escadas. Tentou esconder a empolgação, mas seus passos o traíram, leves e saltitantes. Ainda faltava um pouco até a chegada de Ichinose, então decidi me trocar e começar a treinar.

Quando estava na recepção, entregando meu cartão de membro, um aluno entrou atrás de mim.

— Olá…

Era Utomiya, da Classe 2-C.

Nunca o tinha visto na academia antes, mas será que era membro? Talvez achando que eu pudesse suspeitar, ele falou com uma expressão desconfortável.

— Eu só estava um pouco curioso, então resolvi dar uma olhada — murmurou de forma rígida. — Hm… senpai, você vem aqui com frequência?

Parecia estar considerando se inscrever. Algo incomum, dado o quão poucos membros a academia possuía. Talvez ganhasse um novo rosto em breve.

— Sim. Um amigo me convidou há pouco tempo, então comecei a vir.

— Entendi. …Saquei.

A resposta foi curta. Ficava óbvio que ele não tinha interesse nos meus hábitos nem na minha opinião sobre o local.

— Eles oferecem sessões experimentais gratuitas — acrescentei, talvez um pouco intrometido. — Se tiver interesse, poderia experimentar uma.

— Vou pensar nisso.

A resposta fria veio exatamente como eu esperava. O tom deixava claro que ele não tinha intenção alguma de considerar. Como se estivesse incomodado por ter sido flagrado cogitando a inscrição, virou nos calcanhares e saiu quase tão rápido quanto entrara.

— Aquele não era o Utomiya-kun? — chamou uma voz leve. Ao virar, vi Akiyama-san passando. — Vocês dois não se dão bem? Pareciam meio tensos.

— Não exatamente, mas também não diria que somos próximos.

Na verdade, sempre que eu falava com Utomiya, Tsubaki costumava estar junto. Era raro interagirmos a sós, e, quando acontecia, a conversa era superficial.

— Mas me surpreende que você soubesse o nome dele.

— Ele tem aparecido por aqui nos últimos dois dias — explicou ela. — Já nos encontramos na recepção ou na entrada algumas vezes, então trocamos palavras rápidas.

— Então, isso significa que ele está considerando entrar?

Akiyama-san inclinou a cabeça, com um leve sorriso.

— Hm… talvez. Pode ser parte disso. Mas, sinceramente, acho que ele está mais interessado na kouhai-chan dele.

— Kouhai?

Ela assentiu.

— Sim. Uma caloura que ele trouxe anteontem. Ela se inscreveu há dois dias e, pelo jeito, pareciam próximos. Talvez ele tenha aparecido hoje só porque estava curioso em relação a ela.

Então não era alguém que ele havia conhecido recentemente, mas talvez uma conhecida de antes, que só agora havia ingressado?

— Parece que ela ainda não chegou, né~.

— Entendi…

Ainda assim, se fossem realmente próximos, ele não precisaria vir até aqui apenas para verificar. Uma simples mensagem ou ligação teria bastado. O que podia significar que… talvez ainda não tivessem contato suficiente para trocar informações pessoais.

— Aliás, essa garota é incrivelmente atlética. No primeiro dia, juntou uma multidão ao redor da esteira. Quando fui ver, ela corria a 20 quilômetros por hora por vários minutos. E, mesmo depois disso, continuou treinando como se nada fosse. Até o Mashima-sensei ficou impressionado.

Vinte quilômetros por hora. Em uma academia comum, isso era praticamente inédito. Um passo em falso nessa velocidade significava ser lançado contra a esteira, e nem o botão de emergência desaceleraria rápido o bastante para evitar o acidente. No máximo, era algo que atletas experientes de atletismo, futebol ou artes marciais tentariam — e apenas em rajadas curtas de treinamento especializado.

Para uma aluna do primeiro ano do ensino médio, de 15 ou 16 anos, e ainda por cima uma garota, conseguir isso significava que ela tinha uma habilidade excepcional.

Era talento bruto, algo que nem alguns alunos da Sala Branca haviam alcançado antes de desistirem.

De qualquer forma, um prodígio notável havia entrado naquela academia. Mas por que, exatamente, Utomiya estava tão fixado nela?

Enquanto eu refletia, Akiyama-san riu baixinho.

— Quem sabe não esteja surgindo uma pequena tempestade de amor?

Fazia sentido. Talvez fosse mais um desses entrelaçamentos. Os sentimentos sinceros de Watanabe, as manobras sutis dos rapazes ao redor de Shiraishi. O romance, em formas que eu jamais teria reconhecido se não tivesse caminhado um dia ao lado de Karuizawa.

De repente, a imagem de Hiyori surgiu em minha mente.

Com cada experiência, eu me tornava mais sensível, mais consciente dos delicados padrões de afeto ao meu redor e dos que estavam próximos a mim.

— Ah, certo… tem algo que eu queria perguntar, pode ser?

— O que foi?

— Bem… sobre o Mashima-sensei. Como posso dizer isso… Ele é realmente só aquilo que parece ser? Não existe a chance de ele ser, tipo, um conquistador ou algo assim… certo?

— Não posso negar totalmente a possibilidade de que ele tenha esse lado — respondi com cautela —, mas acredito que seja um professor confiável. Duvido que seja muito diferente da impressão que você já tem dele.

— S-Sério? Obrigada — murmurou.

Não era como se houvesse acontecido algum progresso entre eles. Na verdade, era a postura de Akiyama-san que insinuava a possibilidade de algo que ainda poderia vir a acontecer.

A academia estava incomumente silenciosa. Nem Koenji, nem a tão comentada caloura estavam presentes, deixando o espaço estranhamente vazio.

*

 

Depois de suar bastante, saí da academia com Ichinose e Amikura.

— Bem, vou fazer um pequeno desvio no caminho de casa — anunciou Amikura assim que pisamos do lado de fora. Rapidamente se afastou, acenou e desceu pela escada rolante.

— Ela estava bem apressada. Será que vai se encontrar com alguém? — Perguntei.

— Hm, acho que ela só quis ser atenciosa. Assim você e eu poderíamos conversar a sós, Ayanokoji-kun.

Se era por consideração ao vínculo entre líderes aliados, ou por outro motivo, não tinha como saber. Mas não era difícil imaginar sua real intenção.

— Gostaria de voltar caminhando comigo? …Embora, dito assim, fica meio difícil recusar, não é?

— Não, tudo bem. Eu já planejava ir direto pra casa. Além disso, ainda não tivemos a chance de conversar sobre o exame.

— Sério? Fico feliz… isso me deixa contente — respondeu ela, erguendo o olhar com um sorriso caloroso e olhos semicerrados.

Juntos, deixamos o Keyaki Mall.

Já passava das seis e meia da tarde, mas o céu ainda não havia escurecido. Um sinal de que o inverno finalmente afrouxava sua pressão, permitindo que a luz permanecesse por mais tempo a cada dia.

— O resultado desta vez foi infeliz, não foi? — disse Ichinose em voz baixa.

— Mesmo com um gerenciamento rigoroso da saúde, há coisas inevitáveis. Não havia o que fazer — respondi.

Como esperado, o período de avaliação cobria toda a semana anterior. O foco era o estilo de vida e a adesão estrita às regras da escola.

Embora a divisão exata dos pontos não tivesse sido revelada, relatava-se que as quatro classes haviam tido desempenhos quase idênticos.

No fim, a classe de Ichinose ficou em primeiro lugar, ganhando +50 pontos. As classes de Horikita e Ryuen empataram em segundo, recebendo +10 pontos cada. Já a minha classe, prejudicada pelas duas ausências, terminou em último, com -25.

Ao menos foi uma sorte que as ações imprudentes de Hoshinomiya-sensei não tenham sido contabilizadas contra nós.

Classe A de Horikita: 1240 pontos

Classe B de Ryuen: 1081 pontos

Classe C de Ayanokoji: 867 pontos

Classe D de Ichinose: 864 pontos

Não houve mudança no ranking das classes, e a distância entre a Classe A e a Classe D permaneceu praticamente a mesma.

— Não há grande problema. Se vencermos no próximo exame especial, isso vai se equilibrar.

— Entendi, isso é bem reconfortante. Eu também vou dar o meu melhor para ajudar no que puder.

— Claro. Estou contando com você — respondi. Então, após uma breve pausa, acrescentei: — Na verdade, tem outra coisa sobre a qual queria consultar você. Estou pensando em aumentar o número de membros da academia. Seria um problema se eu convidasse algumas pessoas?

— Acho uma ótima ideia. Pra ser sincera, eu mesma estava um pouco preocupada… os membros são poucos, e não pude deixar de pensar nas finanças da academia.

A resposta dela veio sem a menor hesitação.

— Mas, na verdade, você não precisa da minha permissão para algo assim — acrescentou com uma risada leve.

— Não é bem assim. As pessoas que estou considerando convidar são da sua classe.

— Oh? Quem?

— Eu estava pensando… em Watanabe, Kanzaki e Himeno.

Falei seus nomes de forma natural, sem ordem ou entonação que pudesse trair alguma intenção. O nome de Hamaguchi, no entanto, deixei de propósito de fora.

Mas manobras sutis como essa eram inúteis contra ela. Ichinose riu baixinho, os olhos brilhando de forma perspicaz.

— Um trio interessante — refletiu. — Kanzaki-kun tem se mostrado um pouco distante de mim ultimamente. Por outro lado, sinto que fiquei mais próxima da Himeno-san, até conversamos algumas vezes. Quando eu estava mostrando meu lado mais fraco, percebi que ela se esforçava para me apoiar. Se fôssemos à academia juntas, isso poderia aproximar ainda mais. Mas… não faria sentido convidar o Hamaguchi-kun também?

Ela havia me lido perfeitamente. Não só minhas intenções, como também os detalhes sutis da dinâmica interna da sua classe.

— E tem também o Watanabe-kun — acrescentou com um sorriso. — Ele só quer ficar mais próximo da Mako-chan, não é?

Exalei levemente, admitindo.

— Muito bem. Então você percebeu, hein.

Meu desejo de apoiar a academia era genuíno, mas ela havia enxergado com facilidade os verdadeiros motivos por trás da minha seleção.

— Eu consigo te ler pelo menos até esse ponto — disse calorosamente. — Mas, de verdade, eu aprovo. O Watanabe-kun ficará bem, contanto que eu finja não saber das verdadeiras intenções dele. A única questão é… será que Kanzaki e os outros vão realmente aceitar entrar?

— Eles vão. Não… eles precisam entrar, no mínimo.

Ichinose assentiu, pensativa.

— Você tem razão. Não precisa ser necessariamente pela academia, mas mais cedo ou mais tarde… eu sinto que precisamos nos unir de verdade como classe.

— Então vou convidá-los sem hesitar.

— Certo, obrigada. Esse tipo de apoio vindo de você, Ayanokoji-kun, me deixa muito feliz.

Ichinose, caminhando ao meu lado direito, me ofereceu um sorriso inocente. Por um instante, o dorso de sua mão esquerda roçou levemente na minha. Aos poucos, seus dedos se aproximaram de novo, até que nossas pontas se tocaram, entrelaçando-se brevemente.

Mas então, como se tivesse percebido que cruzara uma linha invisível, Ichinose afastou a mão às pressas. Suas bochechas ficaram vermelhas, desviou o olhar, mas lentamente voltou a me encarar.

— De-desculpa… me desculpa. É que… eu senti vontade de te tocar… mesmo que sejamos apenas amigos.

Mesmo que soubéssemos tudo um do outro, o vínculo que compartilhávamos ainda permanecia dentro dos limites da amizade.

Talvez a diferença estivesse apenas nas palavras que usávamos, mas entre nós se erguia uma grande e imóvel parede. Seria fácil segurar aquela mão hesitante. Tenho certeza de que a própria Ichinose não se incomodaria com isso.

Sua personalidade, seus pensamentos, seu corpo — nada daquilo me desagradava. Pelo contrário, era mais cativante do que a maioria das pessoas que levavam suas vidas pela metade. Ao encará-la, encontrei seu olhar acompanhado de um sorriso tímido.

Ela também possuía uma imensa capacidade de me aceitar, mesmo sabendo de uma parte da minha escuridão.

Ainda assim—

Se me perguntassem se eu estava balançado pelo aspecto do amor naquele exato momento, a resposta seria não. Meus pensamentos vagaram para outro lugar. De volta àquela tarde na biblioteca, ao lado de Hiyori. À lembrança dela, em silêncio, segurando a flor entre as mãos.

Era uma atmosfera envolta em felicidade, uma sensação que eu nunca havia experimentado antes.

Eu claramente desejava aquilo que senti naquele dia, naquele instante — uma emoção desconhecida para mim até então.

— Em quem você está pensando?

Como se tivesse deslizado para dentro dos meus pensamentos pelo nosso olhar fixo, seus lábios se moveram para me perguntar.

— Por que você acha isso? — Perguntei calmamente.

— Porque você parecia feliz, acho.

Ichinose sempre teve um instinto para ler pessoas, captar mudanças sutis no ar. Mas, desde aquela noite, essa intuição se aguçara, mais afiada do que nunca.

— Desculpa — recuou rapidamente, em voz baixa, arrependida. — Você não precisa responder. Não é algo em que uma amiga deva se intrometer… não é?

Por um breve instante, uma sombra de solidão cruzou sua expressão, mas desapareceu tão rápido quanto veio, substituída pelo sorriso gentil que era sua marca.

Caminhamos o resto do trajeto em silêncio, mantendo uma pequena distância entre nós, até que o dormitório surgiu à vista.

— Estarei esperando pelas respostas do Kanzaki-kun e dos outros.

— Certo — respondi, observando-a correr levemente à frente até desaparecer pelas portas do dormitório.

Fiquei para trás, levantando os olhos para o céu tingido pelo laranja profundo do pôr do sol.

A alegria de descobrir uma nova emoção. A questão de como essa emoção me moldaria, e como sua influência se espalharia para os outros. Será que acabaria levando à prosperidade, ou à ruína? Ou talvez a algo que nenhuma das duas palavras pudesse definir?

Naquele momento, eu vivia plenamente o agora — satisfeito, preenchido de uma forma que nunca havia experimentado antes. E por isso, só podia ser profundamente grato.

*

 

Era quinta-feira, pouco depois das 16h30. No mesmo horário em que Ayanokoji se encontrava com Ichinose e os outros, Shiraishi caminhava discretamente até o restaurante, após ser convocada por uma mensagem reservada.

Diferente do café agitado, que atraía a maioria dos alunos nesse horário, o restaurante, mais voltado para refeições, estava quase vazio, com cadeiras desocupadas que se destacavam no silêncio. Sentando-se em uma mesa no canto, Shiraishi pediu uma xícara de chá pelo tablet.

O sabor não tinha nada de especial, apenas o gosto barato de um pacote de chá de baixa qualidade. Não pôde deixar de pensar que, se o restaurante tivesse o mesmo padrão do café, estaria lotado mesmo naquela hora. Em vez disso, o silêncio só era quebrado pelo tilintar ocasional de talheres e o zumbido distante da cozinha.

Ainda assim, não estava completamente deserto; havia alguns poucos clientes espalhados.

Assim que seu chá foi entregue, a porta se abriu com um leve toque sonoro. Outro estudante entrou e se acomodou diretamente na mesa atrás dela. Logo depois, Shiraishi ouviu o som eletrônico do tablet sendo usado para fazer o pedido.

— Fiz você esperar? — Perguntou uma voz suave atrás dela.

Era uma voz surpreendentemente encantadora, não polida, mas firme, carregando uma força sutil por trás do tom.

— Por favor, não se preocupe. Acabei de chegar.

— Tem certeza de que esse é um bom lugar para nos encontrarmos?

— Sim. Sentadas de costas, com um sofá nos separando, nossas vozes ainda chegam facilmente. Não é conveniente?

— É verdade que, com tão poucos clientes, é fácil conversar. Mas, por outro lado, isso também significa que chamamos atenção. Qualquer um que entrar pode nos notar de imediato; é difícil não deixar uma impressão.

O tom não trazia nervosismo, mas por baixo da compostura havia um fio de cautela afiada.

A situação, em que apenas a voz da outra chegava até ela, jogava a favor de Shiraishi.

Ninguém além das duas poderia saber do palco incomum sobre o qual aquele encontro agora se desenrolava em silêncio.

— Visualmente falando, talvez você tenha razão — murmurou Shiraishi calmamente. — Mas, com essa disposição de costas, ninguém poderia deduzir nossa relação. Se os olhos de alguém recaírem sobre nós, os nossos recairão sobre eles também. Contanto que não entremos em pânico, não haverá problema.

Para um observador casual, não passava de coincidência: dois estudantes de classes diferentes, até de anos diferentes, que por acaso jantavam no mesmo restaurante quase vazio.

O número de pessoas que poderia suspeitar que elas haviam marcado intencionalmente de se encontrar e até mesmo estavam conversando seria extremamente pequeno.

— Estudantes comuns não pensariam duas vezes — disse Nanase suavemente. — Para eles, pareceria apenas que cada uma estava esperando por outra pessoa. Mas o número de pessoas de quem preciso ter cuidado é muito pequeno. Se uma delas, Ayanokoji-senpai, nos visse assim…

— Mesmo que ele não conseguisse entender de imediato, guardaria a imagem. Depois, quando fosse necessário, a resgataria da memória — respondeu Shiraishi em seu tom habitual, sereno.

"Naquele dia, naquela hora, Shiraishi e Nanase estavam sentadas de costas uma para a outra no restaurante. Talvez estivessem fingindo não ter relação, discutindo algo que não queriam que fosse ouvido."

Ele começaria uma linha de raciocínio à qual uma pessoa comum jamais chegaria.

— Sabendo disso, posso perguntar por que escolheu deixar esse risco?

— O risco de que você tem medo, Nanase-san, já foi eliminado — respondeu Shiraishi com naturalidade. — Ayanokoji-kun entrou na academia com Ichinose-san há pouco tempo. Pelo menos durante uma hora ele não sairá de lá.

— Você não perguntou diretamente a ele, perguntou? Nem mandou alguém verificar? Mesmo isso já seria suficiente para levantar suspeitas.

O tom de voz dela não mudou, mas Shiraishi não deixou escapar um leve traço de ansiedade que carregava.

— Não se preocupe. Hoje apenas troquei cumprimentos matinais com ele.

— Então, como descobriu a localização de Ayanokoji-senpai?

— Como obtive a informação é segredo comercial.

Foi uma frase escolhida de propósito, emprestada de algo que o próprio Ayanokoji havia usado em uma de suas conversas anteriores com ela.

— Perdoe-me a franqueza, mas se usou sua amiga, Nishikawa-senpai, acredito que ela é inadequada. Se o seguisse de forma descuidada, não haveria como Ayanokoji-senpai não perceber. É bem possível que suspeitasse que você, sua amiga próxima Shiraishi-senpai, estivesse por trás disso. Ou será que ela possui alguma habilidade oculta?

Uma mudança sutil ocorreu no discurso de Nanase, imperceptível para uma pessoa comum. Somente ao mencionar o nome de Nishikawa houve uma ênfase ligeiramente diferente.

— Você sabe tão bem quanto eu que ela jamais conseguiria realizar uma tarefa dessas. Nishikawa não passa de uma amiga. Seu excesso de pensamento não tem fundamento.

— Entendo.

— É válido verificar minuciosamente se cometi alguma falha, mas você também tem sido bastante descuidada, Nanase-san. Permitir que estudantes alheios descobrissem a existência do seu segundo celular, e depois ser ouvida conversando com alguém que deveria ter deixado a escola.

— Está certa. Fui descuidada nesse aspecto.

— Já garanti que Hashimoto-kun e Morishita-san, que por acaso testemunharam, permaneçam razoavelmente calados. Existe a possibilidade de Ayanokoji-kun ouvir sobre isso eventualmente, mas por ora deve estar tudo bem.

— Então você me encobriu. Obrigada — disse Nanase, a voz suave, mas com uma ponta de inquietação.

Shiraishi ergueu o pires com a mão esquerda firme e encaixou os dedos direitos na alça da xícara. Cada movimento era calculado e controlado.

— Vamos passar ao assunto real? Entrar em contato comigo já é uma clara violação das regras.

Nanase inspirou fundo, tentando se recompor.

— Eu entendo que você tenha levado sua vida escolar até agora apenas como uma estudante comum. Mas eu também tenho um trabalho que só eu posso fazer, então não pude evitar. Por favor… empreste-me sua força.

— O que você quer que eu faça?

— Quero que Ayanokoji-senpai seja expulso, o quanto antes, e em um momento totalmente imprevisível.

Shiraishi fechou os olhos, deixando o peso daquelas palavras penetrar em sua mente. Havia urgência no tom de Nanase, mas não mentira. Ela testou internamente a credibilidade do pedido.

— Entendo seus sentimentos. Mas devo recusar.

— Por quê?

— Porque sou apenas uma observadora — respondeu Shiraishi com firmeza. — Desde o começo, nunca me foi dado papel algum além desse. Nestes dois anos, não me envolvi em nada. E é justamente por isso que Ayanokoji-kun sempre me viu apenas como uma garota qualquer de outra turma, a Estudante A—

— Então por que começou a se aproximar agora? Mesmo que ele não saiba quem você é, Shiraishi-senpai, pode acabar percebendo que você não é uma estudante comum.

— Pode ser. Mas o que eu poderia fazer? Por acaso do destino, acabamos na mesma turma. Por coincidência, ficamos sentados lado a lado. Por acaso, surgiu a oportunidade de conversar uma manhã na sala de aula… Diga-me, Nanase-san, em tais circunstâncias, como alguém poderia suprimir seus impulsos?

A lembrança daquela manhã, só os dois na sala silenciosa, veio à mente de Shiraishi, trazendo um leve sorriso aos seus lábios.

— Continuarei vivendo ao lado de Ayanokoji-kun como sua colega de classe. Por agora, quero apenas aproveitar esse ambiente como ele é. Nada mais, nada menos. Sou, afinal, apenas uma observadora. Sakayanagi-san, a problemática, já se retirou voluntariamente. Isso também simplificou as coisas.

— Entendo. Compreendo. Nesse caso, parece que será difícil contar com você, Shiraishi-senpai.

Ela levou à boca o leite gelado que o garçom havia acabado de colocar à sua frente, bebendo lentamente pelo canudo. A doçura fria lhe deu um instante para pensar.

— O(s) colega(s) de Shiraishi-senpai também recebeu(ram) o mesmo papel que você? São também apenas observadores?

— Quem sabe. A possibilidade de terem recebido o mesmo papel que eu não é zero, mas não sei. O que nos foi imposto foi simplesmente isto: viver três anos como estudantes comuns. Nada além disso.

— Eu tomarei uma atitude enquanto Ayanokoji-senpai ainda estiver ao meu alcance. Se não puder contar com sua cooperação, Shiraishi-senpai, talvez eu precise encontrar alguém que coopere.

— Mesmo que me ameace, cooperação está fora de questão.

— Mas estou do seu lado.

— Suas palavras parecem um pouco curtas, não? Você quis dizer "por enquanto", não foi?

— Minhas desculpas. É verdade que minha posição pode, de fato, ser indecisa, mas essa ambiguidade não significa que eu não esteja presa às regras da mesma forma que você?

— Talvez. Mas o único motivo pelo qual aceitei me encontrar com você hoje foi para aliviar suas preocupações em relação a Hashimoto-kun e Morishita-san. Fora isso, não tenho a menor intenção de cooperar.

— Então, pelo menos alguma informação… Apenas o(s) nome(s) do(s) seu(s) companheiro(s). O resto eu mesma posso resolver…

— Se quer saber, deveria perguntar diretamente aos superiores. Tsukishiro-san, não é? Você já tem alguém confiável do seu lado. Não gosto dele, mas isso é problema seu.

Shiraishi pousou suavemente a xícara vazia sobre o pires e se levantou do sofá.

— Entendo que, por ora, você não cooperará. Mas há apenas uma coisa que quero que se lembre. Posso dizer? — Perguntou Nanase em voz baixa.

— O que é?

Shiraishi olhou para baixo, seus olhos indecifráveis.

— Se eu for expulsa antes que o destino de Ayanokoji-senpai seja decidido… as coisas podem seguir numa direção que Shirogane-sensei jamais pretendeu. Por favor, tenha isso em mente.

— Entendido. Vou me lembrar disso.

Sem sequer acenar, Shiraishi deu sua resposta e deixou o restaurante, abandonando Nanase com seu leite gelado pela metade.

 

 

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