Classroom of The Elite Japonesa

Autor(a): Shougo Kinugasa


Volume 2

Capítulo 5: A Coragem de Yamamura

JÁ ERA SEGUNDA-FEIRA, o quarto dia desde o anúncio da prova. Com o fim de semana no meio, o horário pós-aula havia chegado mais uma vez. Perdi a conta de quantas vezes hesitei, mas agora cada dia parecia passar incrivelmente rápido.

Do lado de fora da janela, o céu ainda estava claro, mas não demoraria para ser tingido pelas cores quentes do pôr do sol. Talvez fosse isso que chamam de sentimentalismo. Não era um sentimento ruim, de forma alguma.

— Ayanokoji Kiyotaka. Preciso falar com você.

Assim que Mashima-sensei deixou a sala de aula, aquela voz desanimada veio do assento atrás de mim, puxando-me de volta à realidade. Sim, como se alguém puxasse com força os cabelos da nuca.

Puxão, puxão… Puxão, puxão...

Não apenas parecido com isso — eu estava realmente sendo puxado com certa força.

— Está me ouvindo direito?

— Estou ouvindo muito bem, então pare de puxar meu cabelo. Além disso, seu tom deixa muito a desejar.

Sem escolha, virei-me com relutância para ouvir o que ela tinha a dizer.

— Yamamura Miki quer falar com você agora.

— Yamamura?

Enquanto eu olhava pela janela, ela havia desaparecido sem deixar som nem rastro. Num instante, deve ter escorregado silenciosamente para o corredor. Ao que parecia, havia deixado um recado com Morishita.

— Suponho que ela poderia ter dito diretamente, mas se aproximar do atual Ayanokoji Kiyotaka cara a cara faria com que ela se destacasse demais, apesar de sua presença ser tão fina quanto filme plástico. Sim, admito que minha metáfora magnífica foi um fracasso. Isso é um problema?

— Eu não disse nada, porém...

Ela fez uma piada, rebateu a si mesma e depois ficou na defensiva, tudo sozinha.

Eu planejava ir à biblioteca hoje, mas certamente poderia reservar um tempo para me encontrar com Yamamura. Mais importante ainda, se perdesse essa chance, não havia como saber quando ela me chamaria novamente.

— O que devo fazer?

— Você deve vir comigo. Eu guio você. Está me devendo essa, viu?

Rapidamente, levantou-se e fez uma pose com o polegar erguido, como uma ajudante vindo ao resgate.

Sinceramente, eu não me importaria de ir sozinho se ela apenas me dissesse o lugar, mas em vez disso ela me colocou em dívida... Bem, recusar seria um incômodo, então decidi acompanhá-la.

Talvez Morishita também quisesse ir junto.

Olhei de relance pela sala para ver quem ainda estava presente. Shiraishi e Nishikawa conversavam com um pequeno grupo de garotas, mas Hashimoto e Kito já haviam saído.

*

 

Normalmente, quando planejava encontrar alguém, o local costumava ser dentro do Keyaki Mall. Mesmo para alguém como Yamamura, que mantinha sua presença no nível mais baixo possível, isso não era exceção. Mas o lugar que ela indicou era um pouco incomum — não um café ou algo do tipo.

— Oh? Ela não está aqui — comentou Morishita quando chegamos a uma área de descanso no segundo andar, ladeada por máquinas de venda automática.

Em vez de Yamamura, alguns alunos do primeiro ano estavam reunidos, conversando em um banco próximo.

Não importava o quão discreta fosse Yamamura, se ficasse escondida ao lado das máquinas de venda com tanta gente por perto, chamaria atenção de forma estranha.

— Parece que ela desistiu ao ver o grupo dos calouros — deduziu Morishita.

— Parece que sim. Mas se ela não está aqui, onde poderia estar? Você tentou ligar para ela?

Sem responder, Morishita fez um sinal para que eu a seguisse. De braços cruzados, aproximou-se das máquinas e colocou a palma direita no chão.

Eu não fazia ideia do que ela estava fazendo, então apenas observei em silêncio.

— Hmm... ela deve ter estado sentada aqui até pouco tempo atrás. Ainda está levemente quente — observou.

— É mesmo?

Mesmo que tivesse se sentado no chão, uma vez de pé, o calor deveria sumir em segundos, ou no máximo em dezenas de segundos, mas...

— Se não acredita, toque você mesmo. Assim vai sentir, indiretamente, o calor do bumbum da Yamamura Miki.

A forma como ela disse foi desagradável, mas a curiosidade me venceu e toquei o chão com a palma da mão. Em vez de calor, estava surpreendentemente frio.

— Uau, ele realmente tocou! Que pervertido.

— Foi você quem mandou eu tocar…

— Ayanokoji Kiyotaka, se alguém mandasse você apalpar alguém, você obedeceria?

— Não... eu não obedeceria…

— Exato. Você não deve ser tão facilmente enganado ou influenciado pelos outros. A partir de agora, precisa aprender a julgar por si mesmo o que é certo ou errado, sem se deixar enganar. Entendido?

Ela basicamente confessou que tinha me enganado. Eu queria apontar isso, mas o que me incomodava mais era o grupo de alunos do primeiro ano ali perto, que observavam com interesse a cena de uma garota pequena me dando sermão. Provavelmente também ouviram palavras como "bumbum", "calor" e "pervertido".

Do começo ao fim, tudo não passava de mal-entendidos, mas eu não teria chance de me explicar.

— De qualquer forma, vamos andando. Yamamura Miki está agora do lado de fora da saída sul.

Morishita disse isso mostrando uma mensagem de Yamamura em seu celular. De fato, uma mensagem havia chegado.

DESCULPE, POR FAVOR ME PERMITA MUDAR O LOCAL PARA A SAÍDA SUL. SINTO MUITO.

Mas a hora marcava cinco minutos atrás.

— Só para confirmar, quando você percebeu essa mensagem? — Perguntei.

— Assim que chegou. Por quê? — respondeu ela, casualmente.

Cinco minutos atrás, isso teria sido mais ou menos quando entramos no Keyaki Mall. Eu a vi fazendo o gesto de tirar o celular... então a mensagem de fato havia chegado.

— Então isso significa que você sabia que Yamamura não estava aqui, e que o chão já estava frio?

— Claro que eu sabia — respondeu com confiança.

No fim, todo esse desvio foi completamente inútil. Não, uma perda de tempo total.

— Vamos logo para a saída sul. Se deixarmos Yamamura Miki esperando muito, ela vai desaparecer da face da Terra.

Apesar de ter causado todo o atraso, ela se virou sem a menor sombra de arrependimento.

*

 

Do lado de fora da saída sul, escaneamos a área ao mesmo tempo.

— Ora? Ela também não está aqui.

— É... não está.

Por ser um lugar distante dos dormitórios e pouco movimentado, achei que a encontraríamos logo, mas não havia sinal dela. Olhei em direção às árvores da estrada, mas nada.

— Que garota problemática. Faz as pessoas correrem em círculos.

— Olha quem fala.

Continuamos procurando em cada canto, mas não encontramos nem ela, nem qualquer vestígio que tivesse deixado.

— Isso está parecendo uma versão em live-action de "Onde Está Wally?". Que perda de tempo.

— Olha quem fa— ah, deixa pra lá.

Por mais que eu retrucasse, provavelmente não adiantaria mais.

— Mesmo assim, acabo retrucando de novo. Esse é o papel do tsukkomi numa dupla de comédia — disse ela, respondendo a si mesma como se eu fosse seu parceiro.

— Não me coloque numa dupla sem me perguntar antes.

Se tivéssemos ido direto para a saída sul, estaríamos aqui dez minutos mais cedo. Talvez Yamamura tivesse esperado em silêncio... ou talvez não.

O ar estava parado e silencioso quando, de repente, o celular de Morishita vibrou em sua mão.

— É da Yamamura Miki. "Encontre-me se puder"? Que provocadora!

Uma mensagem assim da Yamamura? Olhei de canto para a tela, apenas para descobrir que era uma notificação sobre as últimas notícias econômicas.

— Não fique espiando o celular dos outros, que falta de educação — veio a bronca afiada. Percebi que meu ato impulsivo havia sido realmente rude.

— Não tem jeito. Devo tentar ligar para ela? — sugeriu Morishita.

— Não é que "não tem jeito". Não teria sido melhor fazer isso desde o começo?

— As ondas de rádio fazem mal para o cérebro. Quero evitar usá-las o máximo possível — explicou.

Não fazia ideia do que ela estava falando, mas senti que era melhor não insistir. No momento em que colocou o telefone no ouvido e começou a ligar, senti uma brisa leve vinda de trás.

— A-Ah, hum—

— Uau, Yamamura Miki acabou de aparecer do nada. Não me assuste assim.

— M-Me desculpe…

Sem fazer barulho, Yamamura surgiu, baixando um pouco a cabeça com uma expressão de desculpas, provavelmente pelo sermão repentino e pela mudança do local do encontro.

— Ouvi da Morishita que você tem algo para falar comigo, é verdade?

É triste precisar desconfiar já nesse ponto, mas a relação de confiança que construí até agora com Morishita tornava isso inevitável.

— S-Sim… Desde que Ayanokoji-kun mudou de turma, nós não, hum, não trocamos nem uma palavra… então… — gaguejou Yamamura.

Já fazia cerca de um mês, e mesmo contando apenas os cumprimentos de ida e volta da escola como conversas, não seria exagero dizer que ela era a única aluna da classe com quem eu não havia falado de verdade.

— Entendo. Fiz isso por consideração, já que você não queria se destacar. Mas isso te incomodou?

— N-Não, não é isso. Eu fiquei grata… — murmurou, com a voz trêmula.

Ela parecia ainda mais nervosa do que quando nos conhecemos. Para olhos destreinados, poderia até parecer que tinha regredido, mas não era o caso. Até agora, Yamamura havia se mantido em silêncio, escondendo-se, quase invisível. Mas agora, vendo-a tentar desesperadamente falar, interpretei aquilo como um sinal de que estava tentando romper com seu antigo eu — uma evolução em andamento.

No entanto, considerando a vida que levara até então… Para alguém que viveu de forma passiva 99% do tempo, ser de repente empurrada a agir era um desafio enorme. Ela tentava, em vão, levar a conversa adiante, mas não conseguia.

Morishita provavelmente não conhecia esse lado de Yamamura, perdida desse jeito. Pessoas passivas falam de um jeito característico, e até então, suas conversas certamente haviam seguido esse padrão.

— É… eu… hum… então…

Decidi apenas observá-la por enquanto. Se eu me adiantasse e perguntasse "É isso que você quer?" ou "É aquilo que você deseja?", só a deixaria ainda mais passiva.

— Ah… e… então…

Sim… o importante era esperar pacientemente. Mas já havia passado quase um minuto, e ela ainda não conseguira terminar uma frase. Deveria dar-lhe um empurrãozinho para facilitar? Não… pelo bem de seu crescimento, eu deveria esperar, o tempo que fosse, até que Yamamura conseguisse falar sozinha.

— E-Então, o que eu queria dizer é…

A conversa parecia travar sem fim. Há muitos estudantes que não sabem se comunicar bem, e eu não nego que pertenço a essa categoria, mas é impressionante como existem tipos diferentes. Há pessoas como eu, que não sabem o que dizer, e há pessoas como Yamamura, que têm o que falar, mas não conseguem colocar em palavras.

Enquanto eu mantinha a postura de esperar em silêncio, Morishita, ao meu lado, parecia já ter perdido a paciência e se aproximou de Yamamura. Por um instante, pensei que ela fosse oferecer algum tipo de apoio sutil—

Fuuush!

Morishita franziu os lábios e soprou um jato de ar direto no ouvido de Yamamura.

— Kyaaah! Wah! Wah! O quê!?

Yamamura, que até então parecia olhar para mim, mas sem realmente prestar atenção, não havia notado Morishita se aproximando tanto. Seu grito — provavelmente o mais alto de toda a sua vida — ecoou em volta.

— O-O-O que você está fazendo…!?

— Hmph. Este é a Pistola de Ouvido. Todo mundo se assusta quando é pego desprevenido — disse Morishita com um sorriso malicioso, sem nenhum arrependimento.

— Você só trocou "arma de ar" por isso, mas… no fim é a mesma coisa, não é? — Comentei.

— Agora que você falou, é verdade. Dou-lhe esse crédito, Ayanokoji Kiyotaka.

Talvez tenha sido o elogio mais sem graça que já recebi na vida. Enquanto isso, a tensão que Yamamura havia acumulado cuidadosamente se desfez como se nunca tivesse existido.

Orgulhosa, Morishita exibia um sorriso satisfeito e esticou a mão para beliscar levemente a bochecha de Yamamura.

— O-O que você está…!?

— Ora, Yamamura Miki. Não está um pouco mais relaxada agora?

— Eh? Ah… talvez… sim.

— Tensão e alívio são importantes em tudo. Esse é o segredo de quem domina a comédia.

— C-Comédia…?

— Bem, isso não importa. Apenas vá logo e diga ao Ayanokoji Kiyotaka.

A rigidez da expressão de Yamamura se suavizou visivelmente, e o rubor em suas bochechas diminuiu um pouco. Apesar de bruta e um tanto sem sentido, a intervenção de Morishita acabou tendo um efeito positivo inesperado.

O olhar de Yamamura, que até então estava fixo de forma estranha na ponta do meu nariz, finalmente se ergueu para encontrar meus olhos. Mas talvez fosse pedir demais — logo desviou de novo, voltando para sua concha.

— H-Hoje… eu te chamei porque… havia algo que eu queria te dizer… — falou, ainda com um traço de hesitação, mas de forma bem mais clara do que antes. O gaguejo que prendia suas palavras desaparecera, substituído por uma firmeza sincera.

— Eu quero mudar. Quero ter mais confiança em mim mesma e conseguir sorrir diante das pessoas. Eu realmente… quero isso.

Respirou fundo, como um mergulhador voltando à superfície, e prosseguiu com cuidado, mas sem recuar. Cada palavra era escolhida, conectada com esforço, carregando o peso de tudo o que vinha reprimindo.

Quanta coragem havia sido necessária para expor algo tão vulnerável, tão dolorosamente consciente de si? Ainda assim, mesmo sem conseguir sustentar meu olhar por muito tempo, desviando a cada vez, ela continuava.

E isso já era bom. Um pequeno triunfo em si mesmo. A semente da mudança havia germinado dentro dela. E com essa nova resolução no coração, ela estendeu a mão até mim.

— Por favor… deixe-me ajudar você. A chegar à Classe A.

— Yamamura — respondi —, você já tem as notas. Já é uma vantagem para a turma.

— Eu quero fazer mais. Acho que… há coisas que só eu posso fazer.

Ao meu lado, Morishita interveio com um tom firme, mas encorajador.

— Você entende, não é, Ayanokoji Kiyotaka? É aqui que você deve responder às expectativas de Yamamura Miki.

— Sim. Você tem razão. Nesse caso, há algo que eu gostaria que você fizesse imediatamente.

— S-Sim!

Uma tarefa simples, perfeita para testar suas capacidades — o primeiro passo para ver até onde Yamamura Miki poderia ir.

— Quero saber sobre Shiraishi Asuka.

— S-Shiraishi-san…?

Ela provavelmente estava preparada para qualquer tipo de espionagem — desde que fosse contra outras turmas. Ser encarregada de investigar alguém da própria sala, no entanto, claramente a pegou de surpresa.

— Então o herói que veio salvar a turma não passa de um pervertido…? De fato, o fim dos tempos chegou — disse Morishita, sem perder tempo.

— Você continua com suas interpretações absurdas… — suspirei.

— Estou errada? Shiraishi Asuka é a Madonna oculta da classe. Com certeza até você, Ayanokoji Kiyotaka, já caiu de amores por ela. Que tal ser honesto com seu corpo e com seu coração? Pois bem, vai se explicar?

Ela fechou a mão em punho e a pressionou contra minha bochecha, como se fosse um microfone. Quase seria engraçado… se não doesse de verdade.

— Estou tentando ampliar meu entendimento sobre a classe. Já avancei com pessoas como Yoshida e Shimazaki, mas com Shiraishi… é como empurrar contra uma cortina. Não posso me prender indefinidamente a uma colega só, por isso quero a sua ajuda.

Morishita inclinou a cabeça, ponderando minhas palavras.

— Bem, esse é um argumento plausível. Suponho que haja algum espaço para simpatia se você realmente está tendo dificuldades em entendê-la.

— S-Sério…? — murmurou Yamamura.

— É claro que você não saberia, Yamamura Miki — prosseguiu Morishita. — Você usa seu perfil discreto para espionar outras turmas ou pessoas como Hashimoto Masayoshi, do tipo que não se pode confiar. Mas alguém como Shiraishi, que parece inofensiva à primeira vista? Você nunca vigiou alguém assim.

— E-Eu acho que posso tentar — respondeu Yamamura após uma pausa, sua voz suave, mas firme. — Se você quiser, investigarei Shiraishi-san do meu jeito. Mas não posso prometer que encontrarei algo útil…

— Tudo bem — respondi. — Até o menor detalhe serve, só descubra se ela tem algum lado que não mostra para mim ou para o resto da classe.

Espionagem contra outra turma sempre trazia riscos. Mas com uma colega, a chance de isso se transformar em algo sério era baixa. Mesmo que Shiraishi percebesse que Yamamura estava envolvida, seu ressentimento provavelmente seria direcionado à pessoa que puxava os fios, e não a Yamamura em si. E se ela realmente pensasse que Yamamura estava agindo sozinha… bem, isso me diria tudo o que eu precisava saber sobre sua percepção; minha análise dela poderia ser considerada completa, mesmo que sua personalidade permanecesse obscura.

Desde que me transferi, nunca tinha trabalhado tão de perto com Yamamura. Dentro da classe, só Morishita parecia ter notado alguma conexão entre nós.

*

 

Era mais ou menos quando terminei de passar as informações sobre Shiraishi, encorajado pela súbita coragem de Yamamura, que a quietude da entrada sul — onde nenhuma alma tinha passado até então — foi quebrada. Do corredor silencioso adiante, surgiu uma figura solitária, entrando em cena com uma casualidade quase teatral. Ao nos avistar, ele balançou a cabeça em um gesto de "meu Deus", com um leve sorriso no rosto, e começou a se aproximar.

— Ora, ora, que frieza! Não me convidaram para o que parece ser uma conversa importante.

Os olhos de Morishita se estreitaram imediatamente. Ela nem tentou esconder a desconfiança na voz.

— Como você soube que estávamos aqui, Hashimoto Masayoshi?

— Processo de eliminação — respondeu Hashimoto, dando de ombros. — Corri por toda a escola e pelo Keyaki Mall, sabe. Fiquei imaginando para onde vocês duas poderiam ter ido juntas… talvez tenha imaginado um encontro que não dá pra discutir.

(N/SLAG: Encontro romântico.)

— Por favor — respondeu Morishita, de forma seca. — Guarde as piadas para você.

— Isso foi um pouco cruel — Hashimoto riu, fingindo estar ofendido. — Estou bastante confiante na minha aparência, sabe.

Tive que admitir, ele merecia algum crédito. O fato de não ter nos seguido assim que saímos da sala mostrava que tinha bom senso. Ele tinha considerado o risco de ser visto e ajustado seu timing de acordo.

— Estou do seu lado, sabia? Não precisa ser tão cautelosa — disse, aproximando-se de Morishita, apesar de ela evitá-lo abertamente.

— Se você encostar em mim, soltarei um grito feminino de "vidro quebrando", seu monstro.

Não tinha certeza se "vidro quebrando" e "feminino" poderiam coexistir na mesma metáfora, mas a imagem era vívida. Embora eu tivesse que admitir, uma pequena parte de mim estava genuinamente curiosa: como seria o grito de Morishita?

— Bem, suponho que posso entender por que você não quis me incluir desta vez — disse Hashimoto, em tom leve, mas com olhos ainda afiados. Ele desviou o olhar da firme Morishita para Yamamura. Sob seu olhar, ela recuou um passo, desviando os olhos como um animal assustado.

— Então… você está tornando Yamamura uma das suas aliadas próximas, Ayanokoji?

— Não é isso — respondi. — Para mim, este ainda é meu primeiro semestre na Classe C. Não há muitas pessoas em quem eu possa confiar de verdade. Mas Yamamura e eu estivemos juntos durante a viagem escolar e o acampamento de treinamento. Acredito que construímos algum grau de vínculo, e a julguei como alguém em quem posso confiar. Então não se trata de adicioná-la ao meu lado, mas sim de fazê-la escolher se juntar a mim.

Essa inversão de posição era importante.

— Ora, ora — Hashimoto riu —, parece que você realmente conquistou a confiança de Ayanokoji, Miki-chan.

— E-E… M-Miki…? — ela gaguejou, surpresa com a familiaridade repentina.

A voz de Morishita cortou o ar, afiada como uma lâmina.

— Chamar uma garota pelo primeiro nome sem permissão, quão grosseiro, Hashimoto Masayoshi.

— Você que fala, me chamando pelo nome completo assim — revidou Hashimoto. — Vamos, Ai-chan, por que não nos damos bem também?

— De jeito nenhum.

— Cruel. O que vai ser necessário para você confiar em mim?

— A confiança não se constrói em um dia — declarou Morishita. — No seu caso, talvez seja mais preciso dizer que leva anos para construir… e apenas um momento para perder.

Ela apontou o dedo indicador bem na frente do rosto dele, gesto preciso e cortante.

— Mesmo que Ayanokoji não me apoie, pelo menos Miki-chan apoiaria… espera, o quê? — piscou Hashimoto.

No breve momento em que a atenção dele foi desviada pela adaga verbal de Morishita, Yamamura já havia se afastado novamente, silenciosa como a neve caindo.

— Como esperado de uma descendente de ninja — disse Morishita com um sorriso de compreensão. — O talento claramente transcende o tempo.

Eu tinha certeza de que ela não tinha nenhum ancestral assim.

— Vou voltar também — acrescentou Morishita, já virando sobre os calcanhares. — E nem pense em me seguir.

— Pode deixar — disse Hashimoto, virando-se para mim com um sorriso torto. — Você é o único que eu vou seguir, Ayanokoji.

— Meus pêsames — respondeu Morishita, jogando a fala por cima do ombro.

Sem dar um único passo em direção ao Keyaki Mall, ela desviou e continuou pela rua, claramente indo direto para casa. Quando ficamos apenas nós dois, Hashimoto deixou os ombros caírem de forma exagerada.

— Será que sou realmente tão pouco confiável? — Perguntou, como se buscasse outra resposta.

— Você acha que não?

— Não — admitiu ele após uma pausa.

— Então deve se preparar para que as pessoas escondam coisas de você ou até evitem você completamente.

Ele fez uma careta.

— Ai… Isso dói.

Hashimoto não era bobo. Sabia muito bem que suas ações passadas lhe deram reputação de alguém a ser evitado, e tinha feito as pazes com isso. Mesmo assim, ele me seguiu. Da minha perspectiva, esse tipo de atitude só poderia trazer problemas, sem benefícios.

— Acha estranho? Eu aparecer quando me disseram para não vir.

— Eu estaria mentindo se dissesse que não pensei sobre isso.

— Heh. É… quero chegar à Classe A. Eu costumava ser o cara que achava que tudo bem trair minha turma se fosse necessário. Realmente tentei de tudo para me aproximar das outras turmas. Mas agora, estou convencido de que esta turma pode vencer. Até joguei fora meus pontos privados, isso já é prova suficiente, não é?

Era verdade. Ele havia sacrificado uma quantia considerável, então comprar um bilhete de transferência para mudar de turma caso afundássemos agora era praticamente impossível. Para Hashimoto, aquilo era sua declaração: estava pronto para afundar junto com o navio, não importando quão turbulentas fossem as águas.

— Você é um cara incrível, Ayanokoji — continuou. — Mesmo sem minha ajuda, acredito que você vai vencer. Sei que é mais inteligente não me arriscar e acabar odiado assim. Mas não consigo evitar. Quero me jogar de cabeça e dar tudo de mim, para que possamos chegar à Classe A.

Ele disse isso com uma seriedade que não combinava totalmente com seu comportamento habitual… e logo deixou o sorriso voltar ao lugar.

— Não que você vá acreditar em mim. Mas ainda vou continuar te acompanhando.

Parecia que ele não tinha intenção de se segurar, independentemente da opinião das pessoas.

— Faça o que quiser — disse. — Embora eu espere que Morishita continue com suas intermináveis… reclamações. Ou melhor, insultos.

— Esse é meu único verdadeiro problema — resmungou Hashimoto com um sorriso torto. — Ela é barulhenta, sabe? Então, e agora? Quer ir a algum lugar?

— Gostaria, mas estou indo para a escola.

— Escola? Que, a biblioteca? Não encontrou a Shiina na sexta-feira?

— Não, ela já havia ido para casa naquele dia, então não consegui vê-la. Esta é minha nova tentativa, por assim dizer.

— Entendo? — O tom dele carregava uma leve desconfiança.

Na sexta-feira, ele me deixou ir sem questionar, mas ouvir a mesma razão dois dias seguidos parecia provocar uma reação diferente. Sua expressão mudou, apenas um pouco, para algo mais cético, como se ponderasse se eu estava apenas o dispensando.

— Sabe, você — começou, mas parou de repente. Um pequeno riso escapou, seguido de um longo suspiro enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro.

— Deixa pra lá. Se você quer ver a Shiina, hoje também vou ceder silenciosamente. Então, estou indo.

Sem olhar para trás, ele se virou e desapareceu na multidão do Keyaki Mall. Observei-o partir; a leve nuance em seu tom permaneceu na minha mente. Mas o tempo já estava escapando. Acelerei o passo, com os olhos fixos na escola.

*

 

Após me separar de Hashimoto, segui de volta para a escola.

O relógio já havia passado das cinco. O campus estava mais vazio agora; a maioria dos estudantes tinha ido para casa, e os poucos que restavam estavam espalhados pelos arredores, absorvidos em suas atividades de clube. Do campo veio o coro agudo de gritos, da quadra, o rangido dos tênis deslizando pelo chão polido.

Eu não estava ali para treinar. Meu destino era a biblioteca. Ou, mais precisamente, a pessoa que me esperava lá: Hiyori. Era um encontro que eu vinha adiando repetidas vezes.

Na sexta-feira, tivemos apenas uma breve troca de cumprimentos. Nenhuma conversa real. Nenhuma chance de explicar. Ela me havia convidado para me transferir para a Classe B. Eu recusei, escolhendo, em vez disso, entrar na Classe C, totalmente alheia a ela, por causa dos meus próprios objetivos. Não me arrependo dessa decisão.

E ainda assim… algo continuava a puxar, levemente, no fundo da minha mente. Talvez fosse porque parte de mim realmente queria aceitar o convite, entrar na Classe B onde ela me esperava. Apenas como mais um garoto da Advanced Nurturing High School.

Não como líder. Não como estrategista. Apenas um estudante entre muitos, vivendo um ano livre de obrigações. Poderia ter sido meu futuro. Um futuro que eu tinha o poder de escolher. 

Meus pensamentos voltaram ao fim do meu segundo ano, àquele dia em que Ishizaki sorriu, segurou minhas mãos e as juntou às de Hiyori.

— Será que me arrependo?

Parei, encarando meu reflexo fraco na janela de vidro por onde passava. Durante todo esse tempo, meus pés me mantiveram longe da biblioteca sob o pretexto de "afazeres pessoais" e desculpas frágeis. Era verdade que o timing frequentemente fora ruim, com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Mas não era como se eu não pudesse ter ido à biblioteca. Eu deveria ter conseguido encontrar um intervalo em algum momento e feito tempo para, pelo menos, aparecer.

Talvez… eu estivesse evitando inconscientemente. Evitando ela.

Por quê?

Eu já sabia a resposta.

Porque eu não queria ver aquela expressão triste no rosto de Hiyori. Porque eu havia traído o sorriso que ela me deu quando me convidou genuinamente, mesmo sabendo que não deveria.

Não era lógico. Quanto mais eu me afastava, pior as coisas ficariam. A tristeza dela só se aprofundaria. Se eu estivesse errado, a coisa sensata a fazer seria enfrentá-la, pedir desculpas e tentar reparar o que quebrei. E ainda assim, continuava me perguntando a mesma coisa, mesmo sabendo que a resposta não mudaria.

Nenhuma resposta veio. Claro. A resposta estava na minha cabeça desde o início. Fingir o contrário, fingir que não sabia, não era comigo. Era… estranho, como se meus pensamentos tivessem perdido o ritmo.

Eu havia sido quem escolheu a Classe C, quem recusou o convite de Hiyori. Então, o próximo passo deveria ser óbvio: pedir desculpas a ela.

Então, por que deixei algo tão simples se arrastar por tanto tempo? Não era como se eu não tivesse meios. Eu poderia tê-la chamado ou enviado uma mensagem. Mas nem sequer considerei isso como uma opção real.

E Hiyori não era a única que havia sido magoada pela minha decisão. Minha saída afetou muitos. Horikita e os outros da Classe A, que tinham como objetivo se formar naquela turma, foram alguns dos primeiros a arcar com o custo.

E ainda assim, por que eu… só me preocupo com Hiyori…?

Desviei os olhos do reflexo no vidro, respirei fundo e coloquei meus pés parados em movimento novamente. Não tinha nenhuma prova concreta, mas… se eu fosse enfrentá-la, sentia que entenderia algo.

— Ah…

Assim que tomei a decisão e retomei a caminhada, vi Hasebe emergir do corredor que levava ao meu destino. O corredor estava vazio, exceto por ela. Não pude deixar de me perguntar o que ela fazia ali sozinha a essa hora. Uma pequena parte de mim estava curiosa, mas não éramos exatamente próximas, nem conversávamos casualmente. Muito provavelmente, passaríamos um pelo outro sem trocar uma palavra.

E parecia que ela pensava o mesmo. Percebeu-me imediatamente, mas abaixou o olhar, com a expressão escondida pelas pálpebras baixas. Passamos uma pela outra em silêncio.

No entanto—

— Ei…

Era uma voz tão suave, tão incerta, que por um momento pensei ter imaginado completamente. Era fraca, mas inconfundível; vinha de Hasebe.

Parei no lugar e me virei. Ela também havia se virado, embora seu olhar permanecesse fixo em outro ponto, recusando-se a encontrar o meu.

— Gostaria de conversar… só um pouco, se tudo bem…?

Seria fácil recusar, mas eu podia ver uma forte determinação em Hasebe. Ela havia se aproximado de mim da mesma maneira no final do ano letivo, mas devido à interferência de Amasawa na época, não consegui ouvir o que ela queria dizer. Se eu deixasse passar novamente, talvez ela nunca mais tentasse se aproximar.

Naquele tempo, eu ainda não havia trocado de classe. Agora, eu já tinha saído. O que quer que ela quisesse dizer poderia ter mudado, mas… ainda parecia algo que eu deveria ouvir.

— Certo. Você tentou falar comigo antes, mas eu não tive a chance de ouvir — respondi.

— Você se lembrou? — ela perguntou suavemente.

— Foi há pouco tempo — respondi.

— É verdade… — Ela hesitou, depois continuou. — Mas nesse tempo, você se transferiu para outra classe. Isso foi… culpa minha? Fiz você se sentir desconfortável ao falar comigo?

— Não tem relação alguma, pode ficar tranquila. Fui abordado por pessoas da atual Classe C antes mesmo da prova especial de fim de ano. A expulsão de Sakayanagi só tornou isso possível.

Era uma mentira, uma pequena fabricação inofensiva. A verdade não importava. Se meus motivos para sair ou para trair fossem um ou cem, não fazia diferença.

— Entendi… compreendo.

Se ela acreditou ou não, soltou um suspiro como se estivesse aliviada, ou talvez, um pouco feliz.

— Pensei que o ressentimento viria primeiro — disse.

— Ressentimento… não. Não é como se eu tivesse direito de guardar algo assim contra você. Se alguma coisa, sinto que sua mudança de classe criou uma distância mais apropriada entre nós. Claro, eu continuarei na minha classe atual por bastante tempo, então ao menos isso eu entendo.

Uma distância que sufoca, mesmo estando do mesmo lado. Uma distância que estranhamente conforta, mesmo quando se deveria ser inimigo.

Parecia ser assim que Hasebe via as coisas agora.

— Então, se não é ressentimento, sobre o que você queria falar comigo?

— Ah, bem… na verdade—

Ela se interrompeu, gaguejando, procurando as palavras. Seus dedos se moveram rapidamente sobre o telefone, tocando e deslizando como se procurasse algo com pressa.

— Eu só queria muito que você a visse, Ayanokoji-kun, para ver o quanto ela está se esforçando—

Pelos movimentos atrapalhados e pelas poucas palavras fragmentadas, já podia entender o que ela queria dizer. Alguém que havia deixado esta escola. Sakura Airi — a vida dela após ter saído daqui. Hasebe devia ter alguma informação sobre isso.

Eu tinha ouvido rapidamente que ela havia passado em uma audição, mas isso era tudo o que sabia. Algum tempo atrás, eu não teria me interessado. No entanto, pelo contato com Tsubaki, desenvolvi uma leve curiosidade sobre o que acontece para aqueles que abandonam a escola. Uma curiosidade tênue. Só isso. Certamente não suficiente para me fazer parar e voltar. Mas Hasebe me observava agora, os olhos turvos de incerteza. Se a dispensasse ali, o único ganho seria alguns minutos livres que dificilmente valeriam a pena.

— Não está bem assim? — sussurrou, apertando o telefone com mais força quando não respondi de imediato.

— Não é isso — disse finalmente. — Quero ouvir.

— Eh— s-sério?

— Sim. Eu não tive coragem de procurar sozinho… mas, honestamente, estava curioso há algum tempo.

A percepção dela sobre mim estava se solidificando, tornando-se mais cautelosa. Ainda havia pequenas fissuras aqui e ali, mas em breve, extrair informações de dentro se tornaria muito mais difícil. Nesse caso, só me restava abordá-las de um novo ângulo.

Tendo jogado tudo fora e traído minha classe, minha posição agora era delicada. Exatamente por isso, não podia desperdiçar nenhuma chance de testar os mares, ver como atrair alguém ou buscar a menor brecha que pudesse levar a um avanço.

Os olhos de Hasebe se iluminaram ao me mostrar o telefone.

— Essa garota, ela está começando a aparecer na TV aos poucos, embora em um horário noturno.

— Na TV? Isso é incrível.

Sakura foi expulsa no início do segundo semestre do ano passado. Nem um ano se passou desde então, e ela já estava na televisão. O simples fato já era surpreendente. Eu imaginava que ela teria apenas se transferido para outra escola qualquer e se instalado em uma vida estudantil comum.

Pelo visto, Hasebe queria falar sobre Sakura no final do ano letivo, convidando também Miyake e Yukimura, e pude confirmar que o conteúdo que ela queria transmitir era exatamente o mesmo. Nossa conversa se estendeu mais do que eu esperava, e a paisagem lá fora começou a tingir-se de vermelho gradualmente.

— Ah…! Desculpe, Ayanokoji-kun. Fiquei empolgada falando… Você não estava a caminho de algum lugar? — ela disse de repente, percebendo a hora.

— Tudo bem. Gostei de conversar com você depois de tanto tempo, Hasebe, e fico feliz por ter aprendido mais sobre a Sakura.

— S-Sério? Ainda não consegui falar quase nada sobre a Airi, mas… fico feliz.

— Se você não se importar, vamos marcar um horário algum dia para que você me conte mais. Ou, se quiser ser cuidadosa e evitar problemas com a Classe A, podemos fazer por telefone.

— Claro. Vou garantir que Kiyopon se torne o segundo maior fã da Airi.

Ela não parecia perceber, mas inconscientemente me chamou pelo meu antigo apelido.

Logo depois nos separamos. Quando cheguei à biblioteca, pouco antes das seis, Hiyori já havia ido embora. A bibliotecária, a mesma de antes, disse que ela tinha saído cerca de dez minutos antes. Há duas rotas principais da biblioteca até a entrada principal. Eu tinha escolhido a errada.

Quando me perguntaram se queria deixar recado, recusei.

— Voltarei outro dia.

Não havia necessidade de pressa. Mais cedo ou mais tarde, chegaria o momento em que descobriria a resposta que buscava.

*

 

Tendo acabado de jantar sozinho no dormitório, Kaneda estava em frente ao prédio de karaokê com fachada de vidro iluminada, inquieto, mexendo-se nos pés. O horário marcado para a reunião era às oito, mas ele chegara cedo, bem antes do necessário. Suas mãos se moviam sem parar, ora ajustando as mangas, ora os óculos, enquanto os olhos vagueavam pelo local.

De vez em quando soltava um suspiro quieto ou dava uma volta lenta pelo estabelecimento, tentando matar o tempo sem admitir que estava nervoso. Tal comportamento estranho desapareceu instantaneamente com a aparição de uma certa pessoa.

— Es-estou ansioso para trabalhar com você hoje, Shiina-shi — gaguejou, curvando-se respeitosamente. Os óculos, levemente tortos pelo movimento, foram ajustados de forma prática. O sorriso que se seguiu era rígido, quase mecânico. Mas ao ver Shiina em sua roupa casual, algo raro, ele soltou um longo suspiro, tentando aliviar a tensão no peito.

— Também estou ansiosa, Kaneda-kun. Isso é um pouco diferente, não é? — respondeu, com tom leve.

— Sim, realmente. Mas fico me perguntando o que Ryuen-shi está pensando com tudo isso.

Juntos, eles inclinaram a cabeça para olhar a fachada do karaokê, suas luzes de néon piscando em tons quentes de vermelho e dourado, convidando os transeuntes como um farol. Kaneda, porém, mal viu o prédio; sua atenção estava totalmente em Shiina, memorizando cada detalhe dela.

Ele havia chegado tão cedo por um motivo: achava que ela poderia fazer o mesmo. Seu pressentimento se confirmou. Agora, com vinte minutos de antecedência antes dos outros chegarem, estavam sozinhos.

— Ainda temos um tempinho antes da reunião. Acho que o melhor seria entrarmos e aguardarmos dentro—

Ele não terminou a frase. Uma voz estrondosa ecoou pelo shopping, quebrando o silêncio delicado entre eles.

— Que diabos, eu pensei que seria o primeiro a chegar, e vocês dois já estão aqui?!

Mesmo sem nada que justificasse surpresa, Ishizaki chegou com uma reação exagerada.

— Olá, Ishizaki-shi — resmungou Kaneda, com uma ponta de desagrado na voz. Não era apenas a atitude exagerada de Ishizaki; havia algo que incomodava.

— Vocês chegaram cedo. Tinha a impressão de que você era do tipo atrasado.

— Você parece desapontado, Kaneda. Não me diga que você—

Talvez percebendo o motivo do olhar desconfiado de Kaneda, Ishizaki sorriu maliciosamente.

— Q-Que foi…? — Perguntou Kaneda, com a voz tensa.

— Receber Ryuen-san é meu trabalho. Não vou deixar você bancar o descolado!

— Entendo… então é por isso que você veio cedo, Ishizaki-shi.

— Os três chegamos quase ao mesmo tempo. Então não há primeiro lugar aqui, lembre-se disso.

— Pode deixar, não dou importância a essas coisas.

— Mesmo assim, fico me perguntando o que Ryuen-san está pensando. Disse que chamaria até aquele Tokito hoje, não só você, Kaneda. Ele não tem classificação alta o suficiente para ser chamado para uma reunião, certo?

— Não sei sobre Tokito-shi, mas como me encontro regularmente com Ryuen-shi, apreciaria se não me incluísse — respondeu Kaneda, levantando os óculos com o dedo médio.

De fato, Kaneda havia falado com Ryuen várias vezes durante o período de provas, na maioria em encontros individuais onde estratégias confidenciais eram discutidas.

— A política para o exame especial já deveria ter sido definida, certo?

— Sim. Até agora não recebemos instruções adicionais. Ou talvez esta seja uma reunião para relatar alguma outra possibilidade que ele descobriu…

— Ou talvez — Ishizaki sorriu novamente — ele precise da nossa força agora, sabe, quando nos reunimos, ideias incríveis surgem do nada.

— Entendo o que quer dizer — contra-argumentou Kaneda —, mas nem qualquer pessoa serve… Não acha, Shiina-shi?

Era um ditado antigo: mais mãos nem sempre significam melhores resultados. Kaneda estava prestes a envolver Shiina na conversa quando o ar mudou.

Ryuen havia chegado. No momento em que ele apareceu, a conversa animada dissolveu-se em um silêncio pesado. Ishizaki endireitou-se, forçando uma máscara de seriedade, antes de fazer uma profunda reverência.

Sem uma palavra, Ryuen caminhou em direção à entrada do karaokê, seguido pelos outros. Dentro, o pessoal do local os conduziu por um curto corredor até a parte mais silenciosa do prédio, onde uma sala reservada fora preparada antecipadamente.

Ryuen recostou-se na cadeira, a luz tênue do karaokê iluminando o leve contorno de seu sorriso enquanto deslizava o cardápio pela mesa.

— Peçam algo — disse, deixando a folha laminada em frente aos três que esperavam.

Kaneda, sempre meticuloso, foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Parece que Katsuragi-shi e Tokito-shi ainda não chegaram. Tudo bem?

— Mandaram mensagem. Disseram que vão se atrasar — respondeu Ryuen, sem nem olhar para ele. — Mais importante, Kaneda. Teve notícias daquele Hashimoto?

Kaneda balançou a cabeça devagar.

— Não. Estávamos em contato regular até pouco antes de nos tornarmos terceiros anos, mas desde que a transferência de Ayanokoji-shi foi confirmada… ele tem ignorado minhas mensagens.

Ryuen fechou os olhos por um instante, o canto da boca curvando-se levemente.

— Então ele tomou sua decisão.

Kaneda ajustou os óculos.

— Parece que ele valoriza muito as habilidades de Ayanokoji-shi. Tive que rever minha própria avaliação dele várias vezes recentemente, mas… ainda acreditava que Hashimoto-shi deixaria a opção de se transferir para outra classe.

— Bem, Sakayanagi teria achado divertido a diplomacia "morcego" de Hashimoto, mas com Ayanokoji, você nunca sabe como as coisas vão acabar. Se ele demonstrar algum sinal de garantir uma rota de fuga só para si, será cortado sem misericórdia. Nem aquele cara tem coragem de atravessar tal ponte.

Ou corte relações e comprometa-se totalmente com Ayanokoji, nadando ou afundando com ele. Essa era a consequência da decisão dele após pesar as opções, respondeu Ryuen.

— Você realmente o estima muito.

Kaneda murmurou, sem compartilhar totalmente da convicção de Ryuen. Reconhecia as habilidades de Ayanokoji, mas não ao mesmo nível. Para ele, Ayanokoji ainda parecia um estudante comum, alguém que poderia ter falhas a explorar, não a presença afiada como navalha que Sakayanagi e Ryuen possuíam, fazendo as pessoas pensarem duas vezes antes de se aproximar.

Ryuen voltou o olhar para Shiina, que permanecera em silêncio desde a entrada na sala.

— Como Ayanokoji lhe parece agora?

— Eu? — ela perguntou, surpresa.

— Desde que ele mudou de classe. Suas ações. O que acha que ele busca?

Shiina hesitou, então lembrou-se da expressão dele outro dia, quando se encontraram por acaso no elevador. Era um olhar que permanecera em sua mente, e que ainda não conseguia decifrar completamente.

— Não sei… Não consigo responder direito.

Ishizaki balançou a cabeça com um sorriso irônico.

— Isso é impossível, Ryuen-san. A visão de Shiina sobre Ayanokoji é filtrada, sabe…

— Um filtro? O que você quer dizer com isso, Ishizaki-shi? — o tom de Kaneda era curioso, quase divertido com a escolha estranha de palavras.

— Bem, sabe… é um filtro especial. O filtro Ayanokoji.

Naquele instante, a expressão de Kaneda ficou rígida, tornando-se séria e afiada, como se as palavras carregassem peso além de uma simples piada.

— Eu—

Até Shiina, que normalmente era meio distraída para essas coisas, entendeu o que Ishizaki queria dizer, mas baixou o olhar, constrangida. Por outro lado, apenas o olhar de Ryuen sobre Shiina permaneceu inalterado.

— Não me importo com os sentimentos que você tem por Ayanokoji. Mas enquanto você for membro da minha classe, precisa se esforçar para que a turma vença. Entendeu?

Shiina assentiu com seriedade.

— Sim, entendi.

— Bom. Então, você já teve a chance de falar com Ayanokoji desde que ele se transferiu, certo? Conta tudo.

— Não… na verdade, ainda não conversei direito com ele.

— Hã? Por que não? Eu disse para ele ir te ver corretamente.

Ishizaki inclinou a cabeça, confuso, enquanto a energia de Shiina parecia se esvair visivelmente ao ouvir o nome de Ayanokoji.

— Vou contatá-lo agora mesmo—

Começou Ishizaki, mas Ryuen o interrompeu.

— Aqui você já cumpriu seu papel. Apenas cante.

Como se dissesse que não havia necessidade de ele falar nada desnecessário, Ryuen pegou o microfone e o jogou para ele.

— U-hu-hu, s-sim, senhor! — Ishizaki pegou com destreza, um sorriso se espalhando pelo rosto, achando que havia recebido o papel de animador.

Depois de escolher sua música, a introdução começou a preencher a sala. Assim que a voz de Ishizaki começou a subir, a pesada porta de madeira se abriu, e Katsuragi entrou primeiro, sua voz cortando o murmúrio.

— Desculpem pela demora.

Mal ele falou, Tokito entrou apressado, aproximando-se de Ryuen.

— Qual é o sentido disso? Me chamar também?

Ryuen sorriu.

— Às vezes, é bom ouvir também os inúteis. Só deu vontade.

Enquanto a animação da música de Ishizaki preenchia a sala, faíscas começaram a voar entre Ryuen e Tokito.

— Calma — disse Katsuragi. — Primeiro, explique por que nos reuniu aqui hoje. O plano do exame especial já deveria estar definido, certo?

— O desmantelamento de Ayanokoji e o próximo exame especial. Achei que seria bom tocar nesses pontos.

— Hoh. Parece um tópico bastante interessante.

— Tem alguma informação nova sobre Ayanokoji?

— Não, não tenho. Não conversei muito com ele recentemente — respondeu Katsuragi. — Sempre há alguém da Classe C, geralmente Hashimoto, rondando Ayanokoji. Então estou evitando contato desnecessário.

Tokito, por outro lado, desviou o olhar e permaneceu em silêncio.

— Ryuen-shi. Se não se importar, posso investigar Ayanokoji-shi? Como ainda não me aproximei dele até agora, talvez consiga descobrir algo novo.

— Faça como quiser — respondeu Ryuen, sem grandes expectativas.

Com a música de Ishizaki encerrada, a discussão mudou para o próximo exame especial.

— Na minha opinião, o resultado deste exame especial não será um grande problema. No entanto, olhando para a recompensa mais branda, não seria estranho se os pontos da classe flutuassem consideravelmente no próximo exame especial. Perder isso não será perdoado de forma alguma.

Katsuragi, talvez compartilhando a previsão de Kaneda, assentiu firmemente.

— Exatamente. Mesmo que sejamos a Classe B e o de Horikita seja a Classe A, estamos longe de estarmos seguros. Desde nossa última derrota, a pressão de baixo só aumentou além da diferença estreita. Se perdermos duas ou três vezes seguidas, um empate é inevitável. E muitos começarão a nos ver como azarões, em vez de iguais.

— Aquele exame especial será a linha final de defesa da nossa classe — concluiu Kaneda, com expressão séria.

Ainda era apenas maio. Com o próximo grande exame especial marcado para junho ou julho, o pior cenário poderia se desenrolar antes mesmo da metade do ano letivo. O peso dos desafios iminentes era intenso.

— Se há alguma esperança — Katsuragi ponderou —, é que a probabilidade de um exame especial focado apenas em estudos acadêmicos não é muito alta. Estudar sempre faz parte da vida estudantil, inseparável dela. Mas se formos forçados a competir apenas nessa arena, nossa classe não teria chance desde o início. A escola não permitiria que a disputa fosse tão injustamente desequilibrada o tempo todo.

No estágio de separação das turmas na matrícula, a Classe A estava repleta de estudantes de destaque. Isso era, indiscutivelmente, uma vantagem significativa, uma grande "reserva" no ponto de partida. Ainda assim, se tudo fosse determinado apenas por isso, não haveria necessidade de competição; seria uma mera formalidade, totalmente supérflua.

— Se as recompensas valem a pena — acrescentou Katsuragi —, devemos usar tudo à nossa disposição, incluindo os pontos privados que economizamos da última vez. Não estou defendendo isso, mas até mesmo ultrapassar uma linha tênue de ética pode entrar em jogo.

— Você está começando a entender, Katsuragi. Mas não pretendo lutar dentro das regras. Seja falta ou qualquer coisa, usarei qualquer meio necessário para vencer.

— Eu sei, mas vou te impedir.

Katsuragi manteve sua posição firme, mantendo sua postura de estrita adesão às regras.

A conversa se estendeu, entrando em um impasse sem resolução. Entre suas palavras, o silêncio pesava, contrastando com o barulho animado que vazava da sala vizinha, onde outros estudantes riam e celebravam. Em comparação, a deliberação tensa deles parecia estranhamente isolada.

— Ryuen-kun… você não está tentando arrancar informações sobre Ayanokoji-kun de mim, está?

— Apenas não acho que conseguirei tirar informações úteis de você.

— É só isso mesmo?

— Hã? O que está tentando me fazer dizer? Quer que eu mande você usar qualquer meio necessário só para descobrir suas fraquezas?

— Isso é…

Shiina hesitou em responder, mas Ryuen já conhecia bem seus sentimentos, que iam muito além de uma simples amizade.

— Vou garantir que você seja útil — declarou —, não para Ayanokoji, mas para esta classe.

Mesmo que isso significasse explorar esses sentimentos, Ryuen imaginava um futuro em que eles derrotariam Ayanokoji.

— Sim. Essa determinação — pretendo concretizá-la — Shiina assentiu firmemente.

Desde a transferência, ela não havia conseguido compartilhar mais que algumas palavras com Ayanokoji. Essa distância não dita pesava sobre ela, forçando-a a se fortalecer. Para Ayanokoji, ela poderia ser apenas uma conhecida, talvez menos que isso. Se fosse verdade, qualquer sentimento remanescente serviria apenas como uma pesada corrente, prendendo-a e impedindo seu avanço.

Kaneda observava silenciosamente o perfil triste de Shiina, como se ela estivesse prestes a desaparecer por completo. Era um momento pungente, a primeira verdadeira batalha de espírito para alguém que sempre vivera livre do fogo do conflito.

 

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