Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 2

Capítulo 4: Em Busca de Conhecimento

A MANHÃ APÓS o anúncio do exame surgiu tranquilamente. Esse dia marcava o início do período de uma semana que serviria tanto como o exame em si quanto como tempo para se preparar para ele.

Mas, para mim, não havia necessidade de nada especial. Eu simplesmente acordaria, iria para a escola, assistiria às aulas com diligência, aproveitaria meu tempo depois da escola como quisesse e me prepararia para o dia seguinte.

Quanto aos meus colegas, eu havia dado apenas uma única instrução. Além disso, estavam livres para fazer o que bem entendessem. Seguir a rotina de sempre, se desejassem. Estudar mais, caso sentissem vontade. Estava inteiramente nas mãos da iniciativa de cada um.

Ainda era bem cedo para sair, mas, a menos que tivesse algo específico a fazer, eu queria manter o hábito de chegar adiantado. Desliguei a TV, calcei os sapatos e rapidamente saí para o corredor.

Quando o elevador chegou e as portas se abriram, me deparei com a visão de cinco garotas e um garoto já lá dentro. As manhãs antes das aulas costumavam estar lotadas, então ver um elevador cheio não era nenhuma surpresa. Tecnicamente, ainda havia espaço, eu poderia me espremer, mas...

As três garotas — Shinohara, Matsushita e Inogashira — me encararam com olhares frios e distantes. Bem, não havia motivo para me forçar a entrar naquele espaço apertado. Melhor deixar passar e esperar o próximo. Eu poderia ter descido pelas escadas, mas decidi aguardar o próximo elevador.

Quando ele chegou, novamente havia três garotas dentro. Mas, dessa vez, havia espaço suficiente. Ainda assim... meus pés pareciam estranhamente pesados. Por um instante, hesitei.

Deveria entrar? Ou esperar mais?

Mas, se saísse agora, seria ainda mais estranho. Era óbvio que havia espaço. Dei um passo à frente e decidi entrar no elevador.

Virei-me para encarar as portas e esperei em silêncio enquanto descíamos. Logo chegamos ao primeiro andar. Como fui o último a entrar, acabei sendo o primeiro a sair. Após caminhar alguns passos pelo saguão, parei — e nesse instante duas garotas passaram rapidamente ao meu lado.

— Bom dia.

Uma voz suave me alcançou por trás, cuidadosamente gentil, para não me assustar. Era Hiyori, a garota que estava no elevador comigo. Desde que me transferi para a Classe C, eu a tinha visto algumas vezes, até me deparado com ela ocasionalmente. Mas ainda não havíamos tido uma conversa de verdade.

— Bom dia — respondi.

— Tem passado bem?

— Como sempre.

E só. Uma troca curta. Por algum motivo, não consegui dar continuidade à conversa, o que me deixou estranhamente inquieto. Se estivéssemos na biblioteca, eu teria começado pedindo desculpas pela transferência de classe e, aos poucos, deixaria o assunto deslizar para livros. Era assim que eu imaginava que aconteceria. Mas talvez eu não esperasse encontrá-la em um lugar como aquele.

Não, isso é só uma desculpa conveniente. Num espaço tão pequeno, um momento assim, só nós dois, era sempre possível. Inevitável, até. Poderia ter acontecido ontem. Ou no dia anterior. Eu deveria estar preparado. E, ainda assim, não encontrei palavras.

Isso nunca havia me acontecido antes.

Apesar da sensação estranha que pairava entre nós, começamos a caminhar lado a lado, compartilhando o caminho até a escola em silenciosa companhia. Era uma caminhada curta, de poucos minutos, mas imaginei que, se continuássemos, uma conversa acabaria surgindo naturalmente. Pelo menos, era o que eu esperava.

Mas, como costuma acontecer, as coisas raramente seguem o plano em momentos assim.

Quando saímos, cronometrando nossa partida para talvez quebrar o silêncio com algumas palavras, notamos um trio parado a certa distância do dormitório, seus olhos fixos no saguão — Hashimoto, Morishita e Shiraishi.

Pelo jeito, estavam ali por minha causa. Hashimoto deu um passo à frente, assumindo o papel de representante.

— Yo, bom dia. E para você também, Shiina, bom dia — cumprimentou-nos com sua habitual despreocupação.

— Queria discutir alguns assuntos relacionados à classe antes de irmos para a escola.

Normalmente, eu não me importaria com uma visita repentina de alguém da Classe C. Mas naquele momento? O timing não podia ser pior. Talvez percebendo isso, ou simplesmente querendo se afastar logo, Hiyori cumprimentou os três de leve e discretamente se despediu, seguindo sozinha pelo caminho da escola.

— Opa, interrompi alguma coisa? Minha culpa.

Embora sua postura fosse de desculpa, era claro que suas palavras tinham sido cuidadosamente escolhidas, um movimento calculado para afastar uma "estranha" que não fazia parte da nossa turma.

— Não tem problema.

Se eu realmente quisesse conversar direito com Hiyori, sabia que poderia encontrá-la na biblioteca, como havia planejado desde o início. Sempre foi uma opção, e eu sabia disso há muito tempo. Mas vinha adiando. Depois de hoje, porém, não poderia mais fugir. Era hora de encarar e esclarecer tudo.

— Você realmente não sabe a hora de parar, não é, Ayanokoji Kiyotaka? Até atrás da Hiyori Shiina agora?

— Como chegou a essa conclusão?

— Você diz isso, mas quem garante o que está acontecendo de verdade?

— Bem, não há nada de errado em se aproximar de algumas garotas bonitas, certo? E devo dizer, escolher a Shiina-san? Excelente gosto. Realmente, você tem um senso maravilhoso para a beleza.

Olhei para Shiraishi e percebi um brilho em seus olhos enquanto acompanhava a figura de Hiyori se afastando. A conversa que tive outro dia com Shimazaki e Yoshida me veio brevemente à mente.

De qualquer forma, não havia sentido em prolongar aquela conversa vazia, então pressionei Hashimoto a ir direto ao ponto.

— Queria confirmar a estratégia que você enviou ontem sobre o exame especial — disse Hashimoto.

— Eu também fiquei curiosa com isso — acrescentou Shiraishi com um sorriso delicado. — Como o Hashimoto-kun parecia estar esperando pelo Ayanokoji-kun, achei que devia me juntar.

— E a Morishita também? — Hashimoto arqueou a sobrancelha. — É raro você se interessar.

— Sou apenas uma espectadora curiosa do bairro.

Declarou a vizinha bisbilhoteira de maneira direta.

— Você postou aquelas instruções sobre o exame especial no grupo ontem à noite, certo? — continuou Hashimoto, com um tom levemente admirado. — Ao ver aquilo, senti que você finalmente estava assumindo seu papel como líder da classe. Honestamente, fiquei até emocionado.

A mensagem ressaltava um ponto crucial: a escola provavelmente pretendia avaliar o comportamento dos alunos como parte do teste. Ela enfatizava que não apenas as condutas durante a semana, mas também as do fim de semana estariam sob observação. Aos que não tinham certeza sobre sua própria postura, recomendava-se permanecer nos dormitórios. Esses eram os tipos de detalhes sutis, mas significativos, que eu havia compartilhado.

— Com você no comando, sinto que a classe vai funcionar de forma muito mais tranquila do que imaginávamos. As coisas ficaram complicadas de diferentes maneiras sob a liderança da Sakayanagi, sabe? Não acha o mesmo, Shiraishi?

Hashimoto voltou-se para ela, pescando por concordância, mas a resposta não foi a esperada.

— Na verdade, ainda tenho grande consideração por nossa antiga líder, a Sakayanagi-san. É verdade que ela muitas vezes agia segundo seu próprio julgamento, mas mesmo assim, por dois anos, manteve a Classe A sem nunca deixá-la cair.

Se um caso atípico como eu não tivesse aparecido, ela provavelmente teria mantido esse controle por três anos inteiros, garantindo que todos se formassem com segurança na Classe A.

— Concordo com essa visão — acrescentou Morishita. — Embora pareça que Hashimoto Masayoshi, mesmo tendo estado ao lado dela, é estranhamente negativo quanto a ela.

— O que é esse olhar...? Só estou dizendo, foi justamente por ser seu braço direito que tive que aturar tantos problemas. No fim das contas, foi o comportamento imprudente dela que nos derrubou para a Classe C.

Hashimoto falava como se não tivesse absolutamente nenhuma culpa no assunto.

— Oh? Eu não acho bem assim. Quer que eu explique especificamente os motivos? — replicou Morishita, fria.

— Não, vou passar. Só de ouvir suas bobagens já é cansativo.

— Decisão sábia — Traidor Hashimoto THE Masayoshi.

— Mas que diabos esse "THE" quer dizer!?

Hashimoto, confuso com o apelido bizarro, rebateu com o timing de um comediante experiente.

— Ora, ora, o que é isso de traidor?

— Não ligue. Isso é só a besteira de sempre da Morishita. Enfim, vamos voltar ao assunto.

Assim que Hashimoto tentou retomar o tema do exame, duas figuras surgiram do saguão, bem no momento oportuno: Kondo e Komiya, da classe do Ryuen, caminhando em nossa direção e encurtando a distância. O passo deles era deliberado, quase como se tivessem cronometrado a entrada.

— Mas se não é o novo líder da classe e seus capangas — disse Kondo, com um sorriso enviesado.

— Tramando alguma coisa sombria logo cedo?

Ele deixou o olhar passear sobre cada um de nós, depois começou a circular ao redor do grupo como um predador avaliando a presa.

— Faz tempo, Kondo. Parece que você tem mantido distância da nossa classe ultimamente — comentou Hashimoto.

— As coisas mudaram — respondeu ele secamente. — Nós somos da Classe B, vocês da Classe C. Só nos preocupamos em vigiar os que estão acima de nós.

Ele fez soar como se não valêssemos o esforço, mas o simples fato de estar ali dizia outra coisa. Mais que tudo, sob o tom casual, havia um fio de tensão em sua voz, difícil de disfarçar.

— Então você podia ter simplesmente nos ignorado hoje também, sabia? — retrucou Hashimoto.

Kondo sorriu de lado.

— Achei que você podia ficar carente se eu não implicasse um pouco.

Assim como no outro dia, quando Ryuen invadiu nossa sala de aula, a barulhenta Morishita tinha ficado completamente calada, como um gato. Agora, permanecia olhando para as árvores com uma expressão inocente, como se nada daquilo tivesse a ver com ela.

— Além disso, se vocês estão tendo uma conversa interessante, achei que poderia ficar por perto e ouvir.

— Azar o seu — disse Hashimoto secamente. — Eu estava apenas lamentando o início de mais um dia entediante.

Era quase certo que Ryuen havia instruído Kondo e os outros a tentar descobrir as regras do exame. Talvez esperassem arrancar até a menor pista. Ou talvez, assim como nós, já tivessem formado uma teoria e enviado Kondo e os outros como vigias silenciosos.

De qualquer forma, grudaram em nós como cola até o fim. Sem dizer nada ou agir de forma suspeita, apenas emanavam uma pressão silenciosa e opressiva até chegarmos à sala de aula, onde finalmente nos separamos.

*

 

Quando o sinal final tocou, antes mesmo que eu pudesse dar um passo, Hashimoto se aproximou e falou.

— Sua agenda está livre hoje, certo? Vamos continuar de onde paramos de manhã.

— Desculpe — a voz de Morishita ecoou do assento atrás de mim antes que eu pudesse responder. — Tenho planos, então vou recusar. Tente não chorar por isso.

— Eu não estava falando com você... — suspirou Hashimoto. — Ayanokoji. Eu quis dizer Ayanokoji.

Eu já esperava por isso desde que nossa conversa foi interrompida mais cedo, mas nesse ritmo, a oportunidade de ir à biblioteca se afastaria ainda mais. Deveria recusar agora e priorizar encontrar Hiyori? Não... já estávamos em período de exame. Então, pelo bem do funcionamento saudável da classe, visitar a biblioteca — um assunto puramente pessoal — teria que esperar. Além disso, ainda havia a chance de encontrá-la depois que essa conversa terminasse.

— Vamos mudar de lugar?

— Provavelmente é melhor. Você parece ter um espírito incômodo te rondando, Ayanokoji.

Com Hashimoto me incentivando a levantar, o segui até o corredor.

Shiraishi, que estivera conosco pela manhã, agora conversava animadamente com Nakajima, do grupo das garotas. Ela pareceu nos notar, mas sem dizer uma palavra, as duas saíram juntas da sala.

— O café do Keyaki Mall serve pra você? — Perguntou Hashimoto.

Não havia motivo para recusar, então assenti de forma casual.

— Você vai pagar, né, Hashimoto Masayoshi?

— Se você insiste, acho que posso... Espera aí — por que você está vindo junto!?

— Já que me chamou de espírito incômodo, achei que deveria honrar a palavra e assombrar você com princípios espirituais éticos. Pela honra dos espíritos persistentes, sabe?

Se seres espirituais realmente precisavam defender princípios ou proteger sua honra, era discutível. Mais provável era que ela simplesmente não gostasse da ideia de eu e Hashimoto conversarmos a sós.

— Aff. Você planeja mesmo me vigiar o tempo todo?

— Pelo bem do funcionamento saudável da classe, é um caminho inevitável — respondeu Morishita sem hesitar. — Mas não se preocupe, não vou exigir nada caro. Sou uma mulher econômica.

— Não vou pagar pra você.

— Oh? Vai pagar para Ayanokoji Kiyotaka, mas não para mim? Isso é... hah... discriminação de gênero... — não consegui dizer se ela estava realmente chocada ou apenas atuando, mas seus olhos se arregalaram teatralmente enquanto murmurava.

— Acho que vou postar isso online e reunir meus camaradas para um ataque coordenado — acrescentou, já tirando o celular e digitando.

— Argh, sério, sempre que você aparece a conversa não anda.

— Se quer que a conversa ande, por que não paga generosamente a "taxa de bater no chá" em vez de ser pão-duro? Vai ajudar as coisas a fluírem, é só um pequeno preço a pagar.

(N/SLAG: Morishita está basicamente falando que o pagamento vai fazê-la obedecer.)

— Tá bom, droga. Eu pago. Mas quando estivermos falando sério, fique quieta. Estou falando sério.

Como se aquelas palavras fossem o fator decisivo, Morishita fez um leve aceno e imediatamente fechou a boca. Em seguida, pressionando o polegar e o indicador da mão esquerda, fez um pequeno gesto como se estivesse fechando um zíper diante dos lábios, da direita para a esquerda.

Será que aquilo queria dizer que ela estava "fechando a boca com zíper"…?

Voltamos a andar e, depois de confirmar que ela realmente tinha ficado em silêncio, Hashimoto começou a falar, olhando para mim.

— Ontem, passei o dia inteiro observando as outras turmas.

— Achou alguma coisa?

— Infelizmente, não teve muito o que colher. Em uma prova especial sem explicação das regras, não é de se estranhar que ninguém consiga agir de imediato. As três turmas estavam quietas. Ou melhor, diria que não estavam diferentes do normal.

Claramente esse não era o ponto principal dele; Hashimoto resumiu o relatório e prosseguiu.

— As instruções que você nos deu ontem à noite, ou melhor, a sua ideia... Você contou para a Ichinose também?

— Claro. Como aliados, precisamos compartilhar informações.

— Entendi. Bom, por enquanto, até nos favorece se a Classe D subir no ranking. Se a gente ficar em primeiro e a Ichinose em segundo, seria o cenário perfeito.

Ele provavelmente não estava completamente livre de insatisfação, mas parecia mais uma checagem de precaução do que outra coisa.

— Se essa prova acontecer exatamente como você previu, a turma do Ryuen está praticamente garantida para perder de novo. E se a turma da Horikita demorar um passo sequer para perceber a regra, não vai conseguir se recuperar. Mesmo que tenha alguma surpresa depois, não perderíamos em uma disputa acadêmica. Diria que essa já está no papo.

— É justamente quando você baixa a guarda que acaba sendo surpreendido. E a Horikita não é burra, ela percebeu ontem que nosso "comportamento cotidiano" pode estar sendo observado.

Quando afirmei isso com certeza, Hashimoto parou no meio do passo, lançando um olhar de lado para mim.

— Hã? É mesmo?

Pelo meu tom de voz, ele percebeu que eu não estava blefando e voltou a andar.

— O que te faz ter tanta certeza de que ela percebeu?

— Porque unir uma turma… nunca é tão simples assim.

Não precisei falar mais nada. Hashimoto entendeu de imediato e soltou um assobio curto.

— Ou você tem um informante de primeira, ou um espião infiltrado em algum lugar. De qualquer jeito, você é bom em extrair informação.

Normalmente, o curioso Hashimoto teria pressionado mais, talvez até perguntado se eu já estava usando a Yamamura. Mas, dessa vez, se conteve. Seu instinto dizia que cutucar sem cuidado agora e azedar a minha opinião sobre ele não lhe traria benefícios.

*

 

Nós três seguimos em direção ao café no Keyaki Mall. Na entrada, uma garota nos avistou e acenou discretamente. Hashimoto e eu trocamos um olhar antes de irmos até ela.

— Pensei em me juntar a vocês também — disse Shiraishi, a mesma que havia saído mais cedo da sala junto com Nakajima.

— Onde está o Nakajima? — Perguntei.

— Conversamos um pouco e depois seguimos caminhos diferentes. Você sabia que eu estava com o Nakajima-san, isso é impressionante.

— Claro. Observar Shiraishi Asuka de longe é a especialidade de Ayanokoji Kiyotaka, praticamente devorando-a com os olhos. Não é?

Dizendo isso, Morishita bateu no meu ombro e me mostrou um joinha vitorioso.

— Dá para não me fazer parecer um pervertido? — murmurei.

— O quê, com medo de ser odiado? Mesmo que todos da sua antiga turma já te odeiem?

— Ei, só porque é verdade não quer dizer que você precise dizer em voz alta. Além disso, estamos aqui por causa dele agora. E, honestamente, como homem… bom, dá para entender querer olhar para a Shiraishi. — Hashimoto deu um tapinha no meu outro ombro e também mostrou um joinha.

— Este é o Ayanokoji Kiyotaka, mas, por favor, tenta não odiá-lo.

De qualquer forma que se olhasse, Morishita estava orquestrando tudo para me fazer parecer mal. E mesmo que eu dissesse que estava apenas acostumado a observar a turma como um todo, soaria como uma desculpa esfarrapada.

— Ora, na verdade eu fico lisonjeada. Ser observada por alguém em quem tenho interesse é uma honra — disse Shiraishi com um pequeno sorriso.

— Sério? Bom, parabéns, Ayanokoji. Parece que você tem uma chance aí — completou Hashimoto. Provavelmente não era a primeira vez que ele ouvia uma resposta dessas dela; sabendo que era meio brincadeira, entrou no clima com facilidade.

Eu, por outro lado, não sabia como responder, então deixei passar.

— Você entende, né, Morishita?

— Vou ser uma boa menina durante a conversa, pode ficar tranquilo. Só não esquece de me pagar algo, tá?

Agora em quatro, fizemos nossos pedidos e nos acomodamos em nosso lugar habitual. Estranhamente, os seres humanos são criaturas de hábitos. Eles tendem a voltar a lugares já conhecidos, onde se sentem confortáveis. Escolhem pontos que correspondem a condições sutis: o ângulo da luz, a vista da mesa, o espaço entre os assentos.

Não é só uma questão de conforto físico; a memória também pesa. Momentos agradáveis vividos ali, boas conversas, ocasiões em que uma ideia surgiu. Essas lembranças positivas atraem de volta, associações impossíveis de ignorar. Por outro lado, memórias ruins afastam com a mesma força. Uma tendência racional da mente humana, da qual suspeito que Hashimoto e Morishita também compartilham.

Mesmo com Shiraishi se juntando, o clima não mudou, nem para melhor, nem para pior. Ela tinha uma forma de se misturar naturalmente ao espaço, como se sempre tivesse estado ali.

— Sério mesmo? Me fazer comprar uma bebida e logo essa, caríssima? Você sabe que tô sem grana e ainda foi direto no golpe.

Em troca da promessa de ficar quieta, Hashimoto pagou para Morishita um frappé de morango novíssimo, tão recheado que dava para contar ao menos cinco morangos inteiros só de olhar. A maioria das bebidas custava em torno de 500 pontos privados, chegando a 800 nas mais caras. Aquela, porém, saía por 1.300 pontos.

— Minha mãe sempre me ensinou a ser ousada quando alguém está pagando. Eu apenas segui o ensinamento dela — respondeu Morishita. Provavelmente mentira, mas dita com perfeição. — Mas, na real… eu só queria um café latte comum — completou, enfiando o canudo no frappé com a mesma empolgação de quem cutuca um peixe morto.

— Então devia ter pedido um latte…

Enquanto observava a troca em silêncio, dei o primeiro gole no meu café e soltei um suspiro. O calor desceu pela garganta, um pequeno preparo para a conversa com Hashimoto que viria em seguida.

— Certo, a partir daqui é papo sério.

Logo depois, Morishita fez de novo o gesto de zíper na boca, indicando claramente que ficaria calada.

— Você parece bem empolgado — comecei em tom baixo, quando todos os olhares se voltaram para mim —, mas, na verdade, não pretendo me concentrar em ganhar ou perder essa prova.

— Como é que é? — Perguntou Hashimoto, desconfiado.

Como quase todos os alunos, ele estava obcecado em vencer cada prova daquele ano. Ouvir que eu não me importava com o resultado inevitavelmente causaria estranheza.

— É igual à última prova especial; a mudança nos pontos de classe foi mínima e com pouco impacto geral. Desta vez, a recompensa é apenas metade do que foi antes.

— Ok, pode até ser que não doa muito se a gente escorregar aqui — respondeu —, mas ainda assim, o que você quer dizer com não se importar em ganhar ou perder?

A ganância de subir uma posição que fosse parecia ser a mentalidade dele. Hashimoto não escondeu a insatisfação quando eu desafiei esse pensamento. Contudo, não tenho intenção de assumir uma postura rígida nesta prova.

— Para ser mais preciso, em vez de dizer que não me importo em ganhar ou perder, é mais correto dizer que não há motivo para se importar.

A formulação pareceu soar bem para Shiraishi. Ela sorriu discretamente e assentiu.

— Acho que entendi. Você acredita que a informação que nos passou é a mais próxima da verdade possível, não é?

A natureza exata da prova ainda estava oculta. Cada aluno do terceiro ano passaria a semana imaginando cenários possíveis. Se fosse uma prova escrita, por exemplo, com resultados ligados diretamente à habilidade, então, como Hashimoto, era natural querer vencer e se preparar ao máximo. Até mesmo se enterrar em estudos por uma semana poderia aumentar suas chances.

Mas o cenário que considerei mais provável era o de comportamento cotidiano.

— Dá para evitar os pontos negativos óbvios — expliquei —, mas não há como ganhar pontos extras. Só podemos esperar as outras turmas errarem. Por isso não faz sentido se desgastar.

— Então você não acha que vai ser uma competição de intelecto ou física? Mas, nesse caso, não teria sido melhor avisar todo mundo desde o início? Tem gente pirando, tentando se preparar para qualquer coisa.

— Se eles estão dispostos a se esforçar, que se esforcem. Como as regras ainda não estão claras, provavelmente não vão focar em um único alvo nem forçar demais.

A expressão de Hashimoto permaneceu um pouco rígida, como se ainda não estivesse convencido. Morishita continuou em silêncio, e achei que o assunto da prova estava encerrado, mas, para minha surpresa, Shiraishi se inclinou para frente.

— Posso fazer algumas perguntas? — disse Shiraishi. — Ayanokoji-kun, você julgou que a prova é baseada no nosso comportamento cotidiano, mas qual seria a probabilidade disso, na sua opinião?

— Mais de noventa por cento — respondi sem hesitar. — Pelo menos, essa é a minha avaliação.

— Isso é alto — murmurou Hashimoto, meio incrédulo, meio divertido. — Nesse caso, talvez eu deva apostar também. Se você estiver certo, minha confiança em você só aumenta.

— Como exatamente você chegou a esse número? Nem dá para afirmar com certeza se essa semana é um período de preparação ou já faz parte da prova. É por isso que todo mundo está imaginando possibilidades de todos os ângulos. Você parece ter se baseado no comentário do Mashima-sensei sobre "a conduta digna de um estudante", mas só isso me parece uma evidência fraca.

Ela queria a explicação de como alguns fragmentos de informação se transformaram em uma afirmação de mais de noventa por cento.

— Se fosse apenas essa declaração, não teria nem chegado a cinquenta — respondi.

Hashimoto virou-se para os outros.

— Mas teve alguma outra coisa que ele falou que chamou atenção? Será que deixamos passar?

Ele repassou mentalmente a conversa de ontem com Mashima-sensei, esperando que Shiraishi e Morishita confirmassem.

— Eu não lembro de nada.

Shiraishi negou, e Morishita apenas assentiu em silêncio.

— Isso porque nenhuma outra pista surgiu, pelo menos não da Classe C — expliquei.

— O que você quer dizer com isso? — Perguntou Hashimoto.

— O que alguns alunos focaram nessa prova foi a frase do Mashima-sensei: "a conduta digna de um estudante".

— Sim, isso também me chamou atenção — admitiu Hashimoto. — Mas você não pode ter certeza de que está ligado à prova, certo?

— Quando algo é ambíguo, você testa. O que eu analisei foi um passo além: se a frase em si era significativa. E, se fosse, o próximo passo seria verificar se essa observação foi feita em todas as turmas. Se a escola tivesse instruído cada professor a repetir as palavras ao pé da letra, então eu poderia ter certeza de que a frase tinha significado.

— Você está falando… do que os professores das outras turmas disseram? — arriscou Shiraishi.

— Exato. Não tenho informação sobre o Sakagami-sensei, mas a Hoshinomiya-sensei aparentemente disse: "Vocês ficarão bem do jeito que sempre foram". E a Chabashira-sensei disse: "Mostrem que não são mais os mesmos de quando entraram nesta escola".

Somando o comentário do Mashima-sensei a esses, o esboço das regras dessa prova começa a se revelar. Até mesmo os três diante de mim deveriam conseguir enxergar agora.

— Isoladamente, uma frase não seria suficiente para restringir as possibilidades — comentou Shiraishi. — Mas quando juntamos as informações das outras turmas, é como se todo o ruído desaparecesse.

— É… sem dúvida — concordou Hashimoto. — Nesse ponto, não consigo imaginar outra regra que não seja comportamento cotidiano.

Ele soltou o ar, com um sorriso torto que mal escondia a admiração genuína.

A turma da Horikita, que perdeu todos os pontos de classe devido ao mau comportamento no início do curso. A turma da Ichinose, que sofreu algumas avaliações negativas, mas produziu resultados consistentes. E a turma da Sakayanagi, que se manteve mais estável que qualquer outra.

Tudo isso podia ser interpretado como conselhos dos professores que correspondiam ao histórico de cada turma.

— A propósito — acrescentei —, sobre como consegui informações dessas duas turmas… isso é segredo comercial.

Hashimoto e Morishita provavelmente deduziram que a fala da Hoshinomiya-sensei veio através da Ichinose. Mas, com Shiraishi presente e as informações da turma da Horikita misturadas, mantive a fonte em segredo. A aliança poderia ser revelada no momento certo.

— O comportamento cotidiano é algo para se ter atenção no dia a dia e não muda o resultado. Por isso você não pretende se preocupar com isso agora. É… agora tudo faz sentido — disse Hashimoto.

— Fico feliz que tenha entendido — respondi. — Mas mais do que essa prova, o que quero que vocês três mantenham em mente… é a próxima prova especial.

— A próxima? Quer dizer que há uma grande chance de que a próxima seja uma batalha séria?

— Sim. Considerando a anterior e esta, não seria estranho se envolvesse riscos reais.

— Você quer dizer… do tipo em que alguém pode realmente ser expulso?

— Não posso afirmar com certeza, mas não ficaria surpreso se isso fosse parte das regras. As chances não são exatamente baixas.

— Bom, não é como se todas as provas fossem sem risco, mas provas com tanto risco assim não são raras demais? — questionou Hashimoto, como se ponderasse se valia tanto cuidado.

— Não dá para dizer isso com certeza — Morishita finalmente abriu a boca, rompendo o silêncio que mantinha até então. — Comparado aos outros anos, o risco de expulsão no terceiro ano claramente foi maior. É só olhar para os veteranos dos últimos dois anos.

Pelo tom dela, estava claro que compreendia os casos da geração de Horikita Manabu e de Nagumo Miyabi também.

— Pensando bem — disse Hashimoto —, no início do segundo semestre do ano passado já tinha rolado um monte de expulsões, certo?

— Sim. Por volta de quinze — respondeu Morishita. — Naquele tempo, Nagumo Miyabi fazia o que bem entendia. Mesmo que tenha sido um caso extremo, não há como todos saírem ilesos este ano.

— Ser expulso numa altura dessas não teria graça nenhuma… mas, caramba, você lembra bem disso.

— Isso é conhecimento comum, c-o-n-h-e-c-i-m-e-n-t-o comum.

Hashimoto tem um bom faro para coletar informações sobre alunos do próprio ano, mas não parece tão interessado em acompanhar os de outras séries.

— Espera aí, você não disse que ia só ouvir quietinha? Que fim levou o "boca fechada"?

— Hã? Quando foi que eu disse isso? Que hora, que minuto, que segundo e em qual rotação da Terra?

— O quê? Que diabos de bobagem é essa? Quantas rotações da Terra… o quê?

— Ora, ora. Será que a juventude de hoje não conhece sequer as declarações das grandes figuras do passado?

Eu gostava de pensar que tinha um bom conhecimento sobre figuras históricas e suas frases célebres, mas essa me deixou sem pista alguma.

A Terra leva cerca de vinte e quatro horas para completar uma rotação, ou melhor, chamamos de "vinte e quatro" com base nesse período. Por essa lógica, considerando que o planeta tem cerca de 4,5 bilhões de anos, se multiplicarmos por 365 dias ao ano, levando em conta anos bissextos e continuando o cálculo—

…Não. Isso seria um cálculo completamente inútil.

— Se você realmente não consegue superar isso, eu devolvo a bebida — disse Morishita.

— Devolver…? Mas está vazia!

Enquanto ficava calada, ela vinha bebendo aos poucos o frappé de morango até o fim. Será que ela realmente engoliu tudo só para poder voltar a falar?

*

 

Depois disso, passei um tempo extraindo informações sobre a Classe C com Hashimoto e Shiraishi. Eram coisas que não se encontrava nas estatísticas do OAA nem nos resultados das provas escritas — como quem se dava bem com quem e quem não suportava quem.

Hashimoto tinha uma boa noção das dinâmicas da turma, mas, como esperado, havia muitos detalhes que só uma garota podia perceber em outras garotas. Consegui ouvir algumas observações que me fizeram concordar com a cabeça.

Já fazia quase uma hora que estávamos no café, e aos poucos o lugar começava a encher com a chegada da noite. Quando eu já começava a pensar em encerrar—

— Urgh… Ayanokoji de novo…!

Duas figuras se aproximaram da mesa ao lado da nossa, olhando para mim com clara decepção. Ike e Hondo — a mesma dupla com quem eu havia esbarrado no refeitório ontem.

— Parece que estamos destinados a nos encontrar — comentei.

Quando dei essa resposta, eles estreitaram os olhos com desagrado.

— Que história é essa de "destinados a nos encontrar"? Não vem bancar o amiguinho, seu traidor.

O desgosto transbordava da expressão dele. Achei que eles talvez fossem mudar de mesa logo de cara, como fizeram ontem, mas como o café estava lotado, acabaram se jogando nas cadeiras ao lado, como se não tivessem alternativa.

Vendo a dupla da Classe A, Hashimoto resolveu levar na esportiva.

— Qual é, mesmo que nossas turmas sejam diferentes, ainda somos estudantes vivendo na mesma escola. Vamos tentar nos dar melhor, né? Ou vão reclamar toda vez que a gente se encontrar?

— Não é bem isso… Mas ainda irrita, sabe — resmungou Ike.

Eles não descarregaram em Hashimoto, mas sim se inclinaram para mim, lançando outro olhar hostil.

— Pra quê tanto ódio? O Ayanokoji não se transferiu da C para a A. Foi só uma troca de turma, não afeta os pontos da classe. Nem é como se os bolsos de vocês estivessem sofrendo. Além de tudo, vocês são a toda-poderosa Classe A, não é? — disse Hashimoto, escolhendo bem as palavras para bajular só o suficiente e aliviar a irritação inútil deles.

— É, nós somos da Classe A — rebateu Ike —, mas o Ayanokoji estava escondendo o quanto era inteligente. Isso é uma traição desde o primeiro dia. Aí ele muda de turma e, de repente, tira uma nota perfeita? Nunca vi um "dedo do meio" maior do que esse.

Eu realmente produzi resultados concretos na segunda metade do meu tempo na turma da Horikita, mas para Ike e os outros, isso provavelmente só serviu como mais um motivo para me detestar.

— E além disso—

Ike se interrompeu, desviando-se de Hashimoto e fixando o olhar diretamente em mim.

— Tenho ouvido vários rumores nojentos — disse ele, a voz tensa. — De que você armou tudo desde o início para que a Sakura e a Maezono fossem expulsas. Não me diga… o Haruki também foi uma das suas vítimas?

Alguém especialmente próximo de Ike e Sudo, um antigo amigo deles, surgia repentinamente na conversa.

— Haruki? Quem é esse? — Hashimoto inclinou a cabeça, com uma expressão vazia, sem reconhecer o nome.

— Yamauchi Haruki! — gritou Ike, batendo as palmas na mesa e se levantando de um salto. As xícaras chacoalharam violentamente, embora, felizmente, nenhuma tenha caído. Até então, ele tinha conseguido expressar suas queixas sem perder o controle, mas aquilo tocara em um nervo inesperado.

— Yamauchi… ah, é. Agora que você falou, lembro desse cara. Mal aí, tinha esquecido completamente já que ele era de outra turma. Mas agora me recordo. Aquilo foi coisa da Sakayanagi, não foi? O Ayanokoji não teve nada a ver com isso. Você não pode jogar a culpa de tudo em cima dele.

Hashimoto ofereceu um pedido de desculpas rápido e sincero por ter esquecido, e logo tratou de apaziguar a situação antes que o temperamento de Ike piorasse ainda mais.

— Eu não vou deixar alguém como você me expulsar, de jeito nenhum! — gritou Ike, suas palavras afiadas e firmes.

— Se acalma, Ike — disse Hashimoto, erguendo a mão. — Não há necessidade de levantar uma bandeira enorme e inútil dessas. Trocar insultos aqui não vai ajudar ninguém.

Mas a atitude inflamada de Ike não dava sinais de esfriar, e, pela primeira vez, Hashimoto parecia genuinamente incomodado. Provavelmente ele não se importava com os sentimentos pessoais de Ike, mas aquela cena barulhenta não fazia nenhum bem à turma.

Horikita provavelmente já tinha explicado a ele uma das possíveis regras dessa prova, mas eu não conseguia dizer se ele realmente tinha entendido. Se estivesse fingindo esse acesso de raiva para sabotar a Classe C, seria uma coisa — talvez até engenhoso, em certo sentido. Mas também aumentava seu próprio risco de perder, uma tática ruim. E se continuasse gritando assim, era só questão de tempo até que alguém notasse e nos aplicasse uma penalidade.

— Tá bom… talvez eu tenha exagerado um pouco — admitiu Ike, contrariado. — Mas a Classe A tem todo o direito de reclamar disso. Então me diga, quanto eles te pagaram para vender a sua turma?

A ferida da derrota na última prova especial ainda latejava, com a frustração fervendo logo abaixo da superfície. Não era algo que pudesse ser abafado com as respostas descontraídas de Hashimoto. Se nada mais, deixar ele desabafar e absorver toda a raiva poderia ser o único jeito de evitar que aquilo explodisse.

— Quem sabe? Pode ter sido 20 milhões, pode ter sido 30. Infelizmente, não tenho a menor intenção de te contar o valor exato aqui — respondi.

O importante era manter minha resposta fria e desapegada. Assim, Ike e o amigo poderiam despejar todo o ressentimento sobre mim sem hesitar. E quando levassem isso de volta para a turma deles, serviria como um inimigo comum para se unirem contra.

Mesmo que a escola estivesse nos observando com câmeras ou monitores infiltrados, eu queria que parecesse que a Classe A era a agressora, enquanto a Classe C tentava manter a civilidade.

Se a escola realmente monitorava nesse nível, era incerto. Mas, ainda que essa prova nada tivesse a ver com o comportamento cotidiano, ainda era vital agir com a disciplina esperada de um estudante. Isso, ainda que minimamente, influenciava os pontos de classe mensais.

As palavras dos professores, enviadas a cada turma, serviriam como uma boa oportunidade para reforçar a importância de se manter os fundamentos.

— Não venha rastejando depois, implorando para voltar para a nossa turma — cuspiu Ike, lançando um último insulto antes de ele e Hondo se recostarem e voltarem aos seus lugares.

Eles tinham acabado de se sentar ali, e eu não ia arruinar o pouco tempo que lhes restava no café prolongando aquilo.

— Vamos voltar? — Perguntei aos três, erguendo meu copo quase vazio enquanto me levantava.

— Sim. Já dissemos o que precisávamos — respondeu Hashimoto, acompanhando meu movimento, com Morishita e Shiraishi logo atrás.

Ao sairmos do café, Hashimoto lançou um olhar por cima do ombro em direção a Ike e aos outros.

— Todo aquele discurso foi só o Ike girando em falso. Do jeito que ele coloca a culpa de tudo em você… é, a atmosfera da turma deles ainda está pesada. Eles precisam mudar o rumo, e rápido.

— Isso pode ser verdade logicamente, mas acho melhor dar um pouco de espaço para eles. Se eu estivesse na Classe A agora, duvido que estaria calmo também.

— Talvez — concedeu Hashimoto. — Mas ainda assim, você não recebeu nenhuma compensação. Não devia ter negado? Do contrário, eles vão espalhar qualquer porcaria que quiserem.

— Tá tudo bem — respondi friamente. — O boato já circula por aí. Mesmo que agora pareça um pouco mais crível, não vai mudar nada.

— Então você realmente não se importa com o que pensam de você, hein? Ainda assim, ligar tudo até o Yamauchi… isso já é forçar a barra, se quer saber — murmurou Hashimoto.

Enquanto ele parecia exasperado, Morishita me lançou um olhar estreito e desconfiado.

— Nunca se sabe. Não dá para ter certeza do que esse homem, Ayanokoji Kiyotaka, anda fazendo por trás das cortinas. É bem possível que tenha tido uma mãozinha nisso, por acaso — disse ela.

— Ah, não, aí já é exagero — rebateu Hashimoto, abanando a mão. — Mas, se por acaso fosse verdade, só tornaria ele um aliado e tanto. Quanto mais forte o aliado, melhor.

Não importava como as coisas se desenrolassem, Hashimoto estava decidido a encarar de forma positiva.

— Se você superestimar alguém demais, a decepção depois vai ser ainda mais pesada — avisei.

— Vou superestimar você o quanto eu quiser — disse Hashimoto sem hesitar. 

Eu queria manter minhas apostas equilibradas, mas parecia que ele não pretendia recuar.

*

 

Quando saímos do Keyaki Mall, o relógio já passava das cinco. O céu ainda estava de um azul intenso, mas logo o pôr do sol começaria a despontar no horizonte.

— Desculpem — falei —, mas vou fazer um pequeno desvio antes de voltar.

— Um desvio? Para onde? Eu pensei que voltaríamos juntos — Hashimoto franziu o cenho.

Aparentemente, ele tinha assumido que voltaríamos para os dormitórios juntos.

— Para a escola — respondi. — Vou passar na biblioteca.

— Ah, a Shiina, né? Agora que penso, acho que interrompemos a conversa de vocês dois hoje de manhã — Hashimoto fez uma expressão de desculpa adequada. Já que eles haviam priorizado seus próprios assuntos mais cedo, não poderia reclamar disso.

— Nesse caso, hoje vou te deixar ir em paz — disse. — Vamos, Morishita, Shiraishi, hora de voltar.

— Não, obrigada. Por que eu teria que voltar de mãos dadas com Hashimoto Masayoshi?

— Eu nunca disse nada sobre andar de mãos dadas! Como você chegou nessa conclusão?

— Eu não volto com você nem que não seja de mãos dadas. Vou dar uma volta pelo Keyaki Mall e depois vou para casa. Até mais.

Com um giro gracioso, Morishita rodopiou nos calcanhares e desapareceu de volta no Keyaki Mall.

— Parece que o Hashimoto-kun é mais odiado pela Morishita-san do que imaginávamos.

— Pra mim, tanto faz se ela me odeia. Não me importo nem um pouco de ser detestado por ela. Bom, então, Shiraishi, vamos—

— Também vou dar um pequeno desvio no caminho. Vamos voltar juntos outra hora, certo, Hashimoto-kun?

— Droga… sério? Que pena.

Quando Morishita o rejeitou, Hashimoto não pareceu ligar muito, mas ser dispensado também por Shiraishi o surpreendeu. Ele curvou os ombros, visivelmente desapontado, e voltou sozinho.

— Se não se importar, eu gostaria de andar com você um pouco — disse Shiraishi.

— Você tem algum assunto na escola?

— Não. Só pensei que gostaria de conversar mais um pouco com o Ayanokoji-kun.

— Comigo? Comparado ao Hashimoto, não sei se consigo ter conversas interessantes, tem certeza?

— Isso é só modéstia. Você é uma pessoa muito interessante, Ayanokoji-kun.

Mesmo que soasse como bajulação, não era ruim ouvir aquilo. Lado a lado com Shiraishi, caminhamos devagar em direção à escola. Nesse ritmo, levaríamos apenas alguns minutos até a entrada.

— Pensando bem, esta é só a segunda vez que ficamos a sós assim.

A primeira foi no dia seguinte à minha transferência para a Classe C, naquela manhã em que cheguei cedo para observar os novos colegas.

— Fufu, é verdade. Não se passaram muitos dias desde então — disse ela suavemente.

— Também é verdade.

Desde aquele dia, tentei criar o hábito de chegar cedo à escola, mas Shiraishi já não aparecia primeiro na sala. Minha impressão agora era de que ela chegava um pouco mais tarde. Ela mesma havia dito, naquela ocasião, que era raro acordar cedo, então provavelmente não era parte da rotina dela.

Olhei para ela e perguntei.

— Shiraishi, que tipo de impressão você tem de mim?

— Oh? Essa é uma pergunta bem direta — respondeu.

— Hã?

— Achei que você fosse mais do tipo estoico. Então me surpreendi com uma pergunta ousada dessas — brincou ela levemente.

— Não… ah, entendi, pode ter soado assim. Foi mal.

Talvez tenha parecido que eu estava perguntando em tom romântico, como se fosse sobre gostar de mim ou não.

— O que eu queria perguntar era sobre minha transferência para a turma. Senti que você me acolheu desde cedo, mas normalmente não seria mais natural desconfiar?

Ela sorriu e devolveu a pergunta.

— Por que você acha que foi assim?

— Eu não sei... Ficamos dois anos sem trocar uma palavra. Achei que os colegas que me observavam de longe teriam, na verdade, uma impressão negativa de mim.

Ao passar com segurança pelo primeiro exame especial, consegui fazer meus colegas aceitarem minha presença. Mas Shiraishi parecia ter confiado em mim mesmo antes disso. Não havia sinal de que Hashimoto ou Morishita tivessem dado a ela alguma explicação especial desde o início.

— Depois que Sakayanagi-san saiu, foi você quem se transferiu para a Classe C, não foi? Hashimoto-kun estava convencido de que você se tornaria um grande trunfo. Embora não me surpreenda que algumas pessoas ainda tenham dúvidas, suspeito que, na verdade, haja bastante gente, como eu, que prefere se apegar à esperança e acreditar em você de forma direta.

Em vez de desistirem da Classe A, eles decidiram apostar todas as fichas nessa última chance. Dizer isso em voz alta é fácil, mas enganar o próprio coração é outra história.

Pensando em Yoshida e Shimazaki, quero evitar ficar sozinho com Shiraishi o máximo possível de agora em diante. Mas talvez seja justamente por isso que eu devesse me aproximar um pouco, só desta vez.

— Pode parecer coisa da minha cabeça, mas... seria possível que você já me observasse de alguma forma antes mesmo da minha transferência, Shiraishi? — Perguntei.

Seu olhar no karaokê, a forma como me observava, parecia intenso demais para alguém que era praticamente um estranho. Diferente de como ela mantinha distância de Yoshida e dos outros garotos.

— Aah…

Seus lábios se entreabriram, liberando um som suave, entre um suspiro e uma palavra. Parando em seu caminho, Shiraishi olhou diretamente para mim, seus olhos fixando-se nos meus a poucos passos de distância.

— Ah... isso não é bom — disse em voz baixa.

— Não é bom? O que você quer dizer?

Ela sorriu suavemente e manteve meu olhar, sem responder.

Por alguns segundos, o silêncio se estendeu entre nós como se o tempo tivesse parado.

— Eu sou Shiraishi Asuka.

Ela disse as palavras de forma simples. Já tínhamos nos apresentado há muito tempo e até passamos intervalos e feriados juntos. No entanto, agora, por alguma razão, ela renovava sua apresentação e estendia a mão para mim.

— E você... quem é?

Qual seria a intenção por trás dessa pergunta? Ou estaria apenas brincando comigo?

— Eu sou Ayanokoji Kiyotaka.

Preparado para ser alvo de alguma provocação, respondi e apertei sua mão. O toque de seus dedos delicados era frio, mas, ao mesmo tempo, inegavelmente quente sob a superfície.

— De alguma forma, dizer o nome completo me faz lembrar de Morishita-san.

— De fato...

Não parecia uma provocação, mas a semelhança com Morishita fez Shiraishi rir baixinho.

Comparado a Hashimoto, Morishita, Yoshida e Shimazaki, era claro o quão pouco eu realmente entendia sobre ela. A Shiraishi que Yoshida via, a Shiraishi que Shimazaki via... entrelaçando essas impressões com as minhas, eu havia avançado apenas um pouco. Eu esperava compreendê-la mais, mas, na verdade, o mistério só se aprofundava.

Aqueles olhos dela, misteriosos e indecifráveis, não podiam ser resumidos às categorias simples de colega de classe ou vizinha. Ou talvez essa fosse justamente a essência de sua atmosfera enigmática.

— Bem, eu já vou indo. Por favor, mande lembranças para Shiina-san.

Não consegui dizer se era por não haver motivo ou se simplesmente não queria responder. De qualquer forma, ao menos por agora, ela não parecia ser uma ameaça.

A partir daqui, eu queria aprofundar mais e entender que tipo de pessoa ela realmente era. 

Depois disso, atravessei a escola e cheguei à biblioteca. Mas às vezes, quando o tempo está fora de sintonia, está completamente fora.

Na espaçosa biblioteca, Hiyori não estava em lugar algum. Quando perguntei a uma das bibliotecárias que eu costumava ver por lá, ela disse que Hiyori havia saído antes das cinco horas. Era sexta-feira, o início do fim de semana, então não era de se estranhar que Hiyori tivesse um ou dois planos.

E assim, dia após dia, a chance de encontrar Hiyori continuava sendo adiada cada vez mais.

 

 

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