Volume 2
Capítulo 3: Para Saber Com Quem Você Está Lidando
QUANDO O SINO sinalizando o fim da aula de manhã tocou, o que tomou conta da sala não foi o alívio habitual, mas um silêncio carregado de tensão. Os alunos da Turma A trocaram olhares inquietos instintivamente. Embora a revelação não anunciada de um exame especial estivesse se tornando algo comum, eles não conseguiam esconder o espanto diante do desenrolar um pouco diferente dos acontecimentos.
— Eu — quer dizer, como você pode dizer "É só isso"!? Você não explicou nada! — Ike-kun gritou apressadamente para Chabashira-sensei, que já se dirigia à porta, pronta para sair.
— Eu disse a vocês — respondeu ela friamente, sem virar o corpo, apenas girando a cabeça para encontrar os olhos dele. — Desta vez, não aceitarei nenhuma pergunta.
— Mas mesmo assim…! — sua voz tremia, presa entre confusão e desespero.
Com um suspiro exasperado, Chabashira-sensei continuou em seu tom afiado habitual.
— Não estou sendo fria apenas por ser. É simplesmente a regra. Nós, como professores, somos proibidos de explicar os detalhes deste exame específico.
A severidade em sua voz tornou a tensão na sala ainda mais palpável. O rosto de Ike-kun ficou rígido, e eu podia sentir a mesma inquietação se espalhar pela classe.
— Quero que vocês parem de agir como crianças e me mostrem que cresceram. Mostrem que não são mais os mesmos de quando entraram nesta escola.
Chabashira-sensei acrescentou essa última parte como se quisesse reforçar seu ponto. Não era uma provocação mesquinha. Ela simplesmente não tinha intenção de explicar as regras desde o início. Esperava-se que percebêssemos isso pelo anúncio feito em um momento tão estranho, justamente quando a aula estava prestes a acabar.
Sem nem olhar para trás, ela abriu a porta e saiu solenemente da sala. Mesmo depois que a porta bateu com estrondo, o silêncio não veio. Pelo contrário, a ausência dela só fez o barulho aumentar.
— Ela realmente acabou de sair? Como diabos vamos fazer qualquer coisa sem saber as regras?
— Ela disse que não estava sendo fria de propósito, mas, tipo, ela não foi super fria?
— Verdade? Foi muito fria. Será que é porque perdemos o último exame especial?
— Mas mesmo assim… nós nos esforçamos…
A sala fervia de reclamações, e todos começaram a resmungar abertamente, sem segurar a frustração.
— Eu entendo por que vocês estão irritados, mas por enquanto, apenas acalmem-se. Fazer escândalo não vai nos dizer as regras!
Como se para mostrar sua irritação, Sudo-kun enfiou o mindinho no ouvido esquerdo e chamou os colegas inquietos.
— Sudo-kun está certo, pessoal. Não há necessidade de se exaltar tanto. Todas as turmas estão na mesma situação; ninguém tem vantagem ou desvantagem neste momento.
Hirata-kun acrescentou, com voz calma seguindo a firmeza de Sudo-kun, tentando acalmar a classe. Ainda assim, as reclamações de Ike-kun não davam sinais de parar.
— Vamos lá, como vamos fazer qualquer coisa se nem sabemos as regras? Não seria melhor simplesmente ir no escuro depois de uma semana?
— Sim, acho que teria sido melhor — interveio Shinohara, concordando com a frustração de Ike-kun. — Isso tudo só parece que estamos sendo mantidos em um limbo.
Eu podia entender a frustração deles. Mas, independentemente de como se sentissem, o exame especial já havia sido anunciado. Esse fato não mudaria. O que importava agora era como reagiríamos. Concluir que não tínhamos pistas antes mesmo de pensar… esse era o verdadeiro erro.
Eu não podia deixar a classe mergulhar ainda mais no caos. Então, me levantei e falei claramente.
— O exame especial começa amanhã. Entrar em pânico agora só vai nos fazer perder tempo. O que precisamos é manter a calma, trocar ideias e discutir uma estratégia.
Ainda assim, o ceticismo persistia. Com os braços cruzados e os olhos fixos no monitor em branco, Hondo-kun expressou o que os outros estavam pensando.
— Mas sem as regras, que tipo de ideias podemos ter?
— Se unirmos nossas cabeças, talvez consigamos prever a natureza do teste. É só uma questão de preparar múltiplas opções baseadas nas possibilidades — respondi.
— É, bem, talvez você esteja certa, mas ainda assim, não podemos simplesmente ignorar a atitude da Sensei, né? Que raio de frieza foi aquela?
Shinohara-san parecia especialmente descontenta com a forma como Chabashira-sensei nos respondeu. Alguns outros alunos também compartilhavam o sentimento dela.
Eu realmente não achava que isso deveria ter prioridade sobre o conteúdo do exame especial…
É verdade que, comparado a como era antes, Chabashira-sensei havia suavizado bastante. Na segunda metade do nosso segundo ano, ela até começou a sorrir mais frequentemente, o suficiente para que parecesse uma pessoa completamente diferente. Mas agora, no terceiro ano, com Ayanokoji-kun ausente, até a Sensei devia sentir a falta dele. Não é de se surpreender que seu comportamento mostrasse sinais de mudança.
Ainda assim, isso não seria, por si só, um sinal de que ela entende que a Turma A está prestes a enfrentar uma batalha difícil e árdua a partir de agora? Talvez ela estivesse guardando qualquer gentileza ou calor desnecessário para nos preparar. Seja qual for o caso, esperar bondade de alguém sem oferecer nada em troca, independentemente do motivo, é simplesmente irracional.
Era assim que eu via. Mas os outros não viam. Logo, os olhares insatisfeitos não estavam apenas voltados para a professora, mas também para mim, Hirata-kun e Sudo-kun.
Todos estávamos lidando com um sentimento vago, mas pesado, de inquietação. Considerando isso, eu não podia repreendê-los diretamente. Afinal, toda a classe havia sido pega pela dissonância deixada por Ayanokoji-kun. Eles também eram vítimas disso.
E assim, o primeiro período chegou sem que nenhuma discussão significativa acontecesse. O tempo passou sem qualquer resolução.
*
Durante os intervalos curtos e o almoço, aproveitei cuidadosamente cada momento livre para me aproximar dos alunos ansiosos da Turma A, um a um, pedindo permissão para realizar uma discussão após a escola.
Eu queria aliviar um pouco a inquietação deles, mesmo que só um pouco, para que alunos como Ike e Shinohara, que vinham expressando sua insatisfação, não terminassem o dia escolar ainda perturbados.
Sudo-kun tinha dito que minha reação tinha sido exagerada, mas, ao ver Chabashira-sensei continuar tão fria quanto estava pela manhã, senti-me certa de que havia tomado a decisão correta ao agir por iniciativa própria.
— Horikita. Como mencionei durante o almoço, você tem um assunto do conselho estudantil para tratar em uma hora. Pode conduzir sua discussão, mas não se esqueça — lembrou-me ela ao passar por mim.
— Sim, entendo — respondi.
Como esperado, ela não comentou nada sobre o exame especial durante a última aula. Aproximou-se rapidamente, disse o que tinha a dizer e deixou a sala sem uma palavra a mais.
Assim que ela se foi, dei um passo à frente. Não tinha intenção de deixar a classe cair em outra rodada de queixas inúteis como aconteceu pela manhã. Quando me aproximei do púlpito, outro aluno começou a se mover também. Havia apenas uma pessoa com quem eu ainda não tinha falado, apesar de reconhecê-lo claramente como um ponto de atenção.
— Aquele cara… — murmurou Sudo-kun ao meu lado, clicando a língua irritado enquanto se virava.
De fato, como sempre, Koenji-kun, cuja presença parecia exigir atenção, levantou-se sozinho e saiu apressadamente da sala.
— Oi, Koenji — chamou Sudo-kun, meio como advertência. Mas Koenji-kun nem sequer olhou para trás ou diminuiu o passo. Ele apenas se foi.
Era típico. Ele não interfere em nossas discussões, mas também não contribui.
Por isso, eu nem me incomodava em tentar envolvê-lo fora do horário escolar. Chamar Koenji para isso só poderia gerar conflitos desnecessários. Já decidi que era melhor deixá-lo em paz.
Até Sudo-kun, o único que o confrontava, provavelmente pensava o mesmo, lá no fundo. O jeito como ele perdeu o interesse na figura de Koenji-kun que se afastava confirmava isso.
Tudo bem. Podemos começar nossa discussão sem ele, como sempre. É mais tranquilo assim e menos propenso a problemas.
…Mas ainda assim.
Será que é realmente certo continuar ignorando e deixando isso passar para sempre?
— Hirata-kun, desculpe, mas você pode começar sem mim? Já volto — pedi.
— Certo, entendido — respondeu Hirata-kun com um aceno despreocupado, e deixei o resto para ele por enquanto.
Mesmo sabendo que implorar seria inútil, saí apressada pelo corredor atrás de Koenji-kun. Corri pelo corredor, seguindo-o, presumivelmente em direção aos armários de sapatos. Assim que avistei suas costas altas à distância, aumentei o passo e passei a andar ao lado dele.
— Pode me esperar um instante? — perguntei, olhando para cima, de perto.
— Oh, Horikita-girl. Você tem algum assunto comigo? — respondeu ele, lançando-me um olhar de canto, sem sequer virar a cabeça, mantendo o rosto voltado para a saída.
Esforcei-me para acompanhar seus passos largos e largos, continuando a segui-lo.
— Gostaria pelo menos que você ouvisse o que eu tenho a dizer — comecei.
— Não me importo de ouvir, contanto que continuemos andando — respondeu casualmente.
— Não, quero que você volte para a sala agora e escute a discussão.
Um pedido modesto da minha parte, sem grandes expectativas. Koenji-kun não reagiu de forma grandiosa. Apenas sorriu, mostrando seus dentes perfeitamente brancos.
— Não seria inútil? Meu tempo é extremamente precioso, sabe. Além disso, você e eu temos um contrato estabelecido. Não tenho obrigação de ajudá-la além disso, certo?
— Sim, estou ciente disso. Mas tudo o que peço é que você ouça a discussão. Não estou pedindo sua cooperação no exame especial. Nem mesmo peço que fale.
Eu mesma sabia que, se dependesse de seu potencial para garantir nossa vitória, ele recusaria instantaneamente. E, de fato, ele tinha todo o direito de fazê-lo. Por isso ofereci algo mais simples.
— Você só precisa ficar sentado até o fim da reunião. Isso é tudo. Não é simples?
— Você certamente parece apaixonada — refletiu ele. — Mas não entendo. Qual é o ponto?
— Porque é necessário que a classe se una novamente. Não quero que você interrompa esse equilíbrio. Se apenas uma pessoa quebra a disciplina, afeta a moral de todo o grupo.
Essa era minha justificativa e meu apelo. Olhei para ele enquanto dizia isso. Com certeza, devia fazer algum efeito em Koenji-kun, ao menos um pouco. Pensei assim enquanto continuava olhando para seu perfil, mas o que recebi a seguir foi uma risada zombeteira.
— Hmph. Você diz as coisas mais estranhas. Se minha ausência sozinha pode quebrar a unidade da classe, então sua liderança não deve valer muito, Horikita-girl.
— Se sou competente ou não, não é a questão aqui. Se apenas um estudante age como quer, não podemos nos chamar de "unidos", certo? Uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco.
— Entendi. Então agora você é capaz de dar respostas divertidas — ele riu. — Mas você disse "unir novamente". Me diga, essa classe, excluindo-me, já foi realmente unida alguma vez?
Diante daquelas palavras impiedosas, minha expressão se endureceu por um instante e parei. Mas não podia deixar Koenji-kun sair apenas com esse nível de resistência, então imediatamente retomei a caminhada.
— Dizer que nunca estivemos unidos como classe é ir longe demais, não acha? Nos últimos dois anos, talvez não sempre, mas nos unimos várias vezes. É por isso que estamos na Classe A agora.
Enfrentamos e superamos dificuldades juntos. Talvez não seja algo para se vangloriar, mas ainda assim é a verdade.
— Gostaria que você acrescentasse "na minha opinião" a essa declaração — ele retrucou.
— Seria melhor se você acrescentasse "na minha opinião" à sua também — devolvi.
Mesmo que fosse apenas uma troca de farpas, não podia recuar. Tinha que pressioná-lo.
— Você está dizendo que o status da Classe A é prova de unidade? A classe só chegou até aqui porque Ayanokoji-boy estava puxando as cordas nos bastidores. Certamente você, de todos, entende isso sem que eu precise dizer, não é?
— É verdade que Ayanokoji-kun não está mais conosco. Mas isso não significa que só vencemos por causa dele.
— Se você diz isso de coração, então é uma história realmente cômica. Fala de unidade e solidariedade, mas não está apenas tentando se convencer de que ainda pode vencer sem Ayanokoji-boy?
— Isso é—
As palavras impiedosas dele pareciam uma lâmina cravando minhas costas.
— Mesmo se eu voltasse para a sala, seria inútil. Por mais que você se esforce, enquanto continuar sendo líder, não haverá vitória contra as outras classes.
Ele apontava minha falta de habilidade sem suavizar em nada.
— Então você está dizendo… que eu não sou boa o suficiente?
Ichinose-san, que conquistou a confiança capaz de unificar uma classe.
Ryuen-kun, que usava o medo e a intimidação para dobrar sua classe à sua vontade.
Sakayanagi-san, que entregava resultados com habilidade inegável e era reconhecida por isso.
E Ayanokoji-kun, aceito pela classe em um piscar de olhos devido à sua força esmagadora.
Comparada a eles... não podia negar que havia diferença.
— Sim… talvez você esteja certo. Mas isso não significa que eu deva desistir aqui, certo? Tenho que fazer o que posso, especialmente se queremos fortalecer os laços que temos, por mais imperfeitos que sejam.
— Não nego isso. Você é livre para fazer o que quiser. E, como não tenho razão ou obrigação de seguir suas instruções, também sou livre para manter minha não participação.
— Você é um excelente aluno, eu sei disso. Mas agora que Ayanokoji-kun se tornou um inimigo, a posição da nossa classe como Classe A estará ameaçada em breve. Você está bem com isso?
Sem cooperação, talvez não seja mais possível se formar como Classe A. Precisava saber: Koenji-kun realmente entendia isso? Estava preparado? Observei cuidadosamente cada movimento dele, determinada a não perder nem a menor mudança de comportamento, qualquer rachadura em sua máscara usual. Mas, mesmo sob meu olhar atento, Koenji-kun não vacilou. Em vez disso, encontrou meus olhos e sorriu, divertido.
— No fim, você não é diferente dos outros — disse ele, mantendo o passo sem hesitar, afastando-se da sala a cada passo.
— Não diferente...? O que quer dizer com isso? — Perguntei, acompanhando seu ritmo.
— Aquela tática barata, de despertar meu senso de crise e me forçar a agir. É isso que quero dizer.
— Quer dizer que alguém tentou isso antes de mim? — Perguntei.
Há alguém na classe atual que confrontaria Koenji-kun pelo comportamento dele? Até Sudo-kun só dava avisos pela metade, e a maioria dos alunos evitava falar com ele por completo. Hirata-kun poderia falar, mas nunca faria algo que se parecesse com uma ameaça.
— Bem, quem sabe — respondeu Koenji, rindo levemente. Enquanto eu pensava nisso, percebi que estávamos prestes a chegar à entrada da escola.
— Qualquer perseguição adicional é perda de tempo — disse ele, casual. — Então faça um favor a si mesma e pare.
— Gostaria de seguir esse conselho — admiti. — Mas receio que não posso.
Irei atrás dele incansavelmente, até que ceda e aceite voltar para a sala. Senti o fogo da determinação arder dentro de mim — apenas para que essa chama fosse apagada em um instante.
— Conselho? Você está completamente enganada, garota. Infelizmente, isso não é conselho, é um aviso.
…!?
Fiquei imóvel. Seu olhar… aqueles olhos afiados me atravessaram, e me vi prendendo a respiração. Era uma leve, quase imperceptível ponta de hostilidade, uma frustração rara de ver em Koenji-kun. Um olhar distinto em seus olhos, diferente do que alguém como Ryuen-kun, acostumado à intimidação, mostraria.
— Está planejando fazer de mim um inimigo também, Horikita-girl?
Ele não era um aliado. Apenas neutro. E agora, essa neutralidade pendia por um fio. Era uma ameaça: se eu pretendesse fazê-lo quebrar essa postura, ele não mostraria misericórdia.
— Não é minha intenção — disse baixinho.
Minha determinação desapareceu num instante, e parei no meio do caminho. Não tinha outra escolha a não ser parar. Perder a cooperação dele já era ruim, mas se eu o transformasse em inimigo, as consequências seriam irreversíveis. Koenji-kun era, para o bem ou para o mal, um desestabilizador nato. Se algum dia ele decidisse de verdade quebrar esta classe, não hesitaria.
— Bom. Então, vou-me — disse ele.
E assim, simplesmente se foi. Fiquei parada ali, com a frustração torcendo meu peito, impotente. No fim das contas, nem sequer consegui impedi-lo de se afastar.
*
Enquanto a discussão da classe não chegava a lugar algum, eu não podia me dar ao luxo de ficar parada. Confiando o resto a Hirata-kun e aos outros, apressei-me em direção à sala do conselho estudantil para cumprir meus deveres.
Esperava, ao menos, ajudar a definir uma direção para todos, mas essa esperança escapou pelos meus dedos. Idealmente, gostaria de conversar até que todos chegássemos a um entendimento, mas não havia outra opção. Tendo aceitado o cargo de presidente do conselho estudantil, era minha responsabilidade cumpri-lo com o mesmo empenho que daria a um exame especial.
Quando cheguei à sala do conselho estudantil, Nanase-san já estava lá, inclinando levemente a cabeça em saudação.
— Obrigada pelo seu tempo, Presidente Horikita — disse.
— Você chegou bem cedo.
Com essa breve troca, entramos na sala ainda vazia. Sentei-me à cabeceira da mesa, e Nanase-san permaneceu ao meu lado, estendendo duas folhas impressas.
— Acabei de receber estes documentos do Hojo-sensei, o professor responsável pela turma 1-A — ela disse.
Cada folha continha o perfil de um estudante — uma era de Kusanagi Minato, da 1-A, e a outra de Maki Yuma, da 1-D.
— E esta — acrescentou, entregando-me outra folha depois que eu dei uma olhada nos perfis — é o resumo do caso que vamos lidar. Não havia nada particularmente complexo no relatório; era direto e fácil de entender à primeira vista.
— Então, esses dois se envolveram numa briga feia — murmurei.
Aconteceu na sexta-feira passada, atrás dos dormitórios dos primeiros anos. Maki-kun, da 1-D, chamou Kusanagi-kun, da 1-A, no local descrito. Eles tiveram uma discussão que escalou rapidamente e logo começaram a trocar socos.
Ambos se acertaram várias vezes, inclusive no rosto, resultando em ferimentos: Maki-kun precisaria de três semanas para se recuperar completamente, e Kusanagi-kun teve ferimentos mais leves, levando cerca de uma semana. A briga passou despercebida até que eles voltassem dos fundos do dormitório, machucados, e fossem vistos por um estudante que passava, que soou o alarme. Felizmente, ambos conseguiram retornar à escola na segunda-feira.
— Como aconteceu atrás do dormitório… não há filmagem da briga, certo? — Perguntei.
— Sim — Nanase-san assentiu. — Aquele local é um ponto cego para as câmeras de segurança. Pelo que parece, um aluno do terceiro ano que voltava para o dormitório percebeu os dois retornando e foi assim que a situação foi descoberta.
Onde há câmeras, e onde não há. Parece que até os alunos do primeiro ano, recém-matriculados, já estão começando a entender esses detalhes.
— Talvez precisemos solicitar formalmente à escola que instale mais câmeras — observei.
— Concordo — respondeu Nanase-san. — Perguntei brevemente ao Hojo-sensei sobre isso, mas ele disse que deveríamos ouvir os detalhes diretamente dos alunos. Ele não disse muito.
— Provavelmente para manter a imparcialidade. Esse deve ser o motivo pelo qual entregaram o julgamento ao conselho estudantil em primeiro lugar.
Nanase-san assentiu firmemente, depois continuou, como se algo viesse à mente.
— Na verdade… algo parecido aconteceu comigo no ano passado. Também fui chamada ao conselho estudantil.
— Você foi? Alguém te machucou? — Perguntei, surpresa.
— Não, nada disso. Foi por causa de um incidente envolvendo um colega de classe…
Ela deu um leve sorriso resignado antes de começar a explicar.
Aconteceu pouco antes do verão. Hosen Kazuomi-kun, da 1-D, e Utomiya Riku-kun, da 1-C, se cruzaram no corredor. O que começou como uma disputa pequena rapidamente se transformou numa discussão acalorada. Em pouco tempo, eles estavam se encarando cara a cara, à beira de uma briga física.
A tensão aumentou quando alunos de ambas as turmas próximas começaram a se envolver. Um aluno da 1-C, ao atingir seu limite, atacou um aluno da 1-D. Aproveitando o impulso, também avançaram contra Hosen-kun, mas foram derrubados facilmente em retaliação.
— Assim que Utomiya-kun, que estava se segurando, quase perdeu o controle, alguns professores passaram por ali e conseguiram apaziguar a situação. Depois, o caso foi levado ao conselho estudantil.
O aluno que Hosen-kun atingiu sofreu ferimentos que levaram três semanas para cicatrizar. Mas considerando que o aluno da 1-C havia desferido o primeiro golpe, e que outro também havia acertado um soco, ficou claro quem carregava a maior culpa. O caso se arrastou por duas semanas com várias reuniões para alcançar um julgamento justo.
Nanase-san contou tudo com calma, como se estivesse revivendo os eventos em sua mente.
— Nagumo-senpai deve ter passado por momentos difíceis também, não é? — Nanase-san disse, com um tom de simpatia.
— Acho que sim — respondi.
Apesar do cansaço, soltei uma risada baixa.
— Foi realmente tão engraçado assim? — Perguntou curiosa.
— Não exatamente. É só que… essas situações acontecem em todo lugar. Tive uma experiência parecida no meu primeiro ano.
— Sério? — ela piscou, surpresa.
— Sim. Um colega meu se envolveu numa briga com alguém da turma do Ryuen-kun, algo parecido com sua situação.
Naquele momento, meu irmão estava sentado exatamente neste assento em que me encontro agora. Sudo-kun havia dado um soco em um aluno no prédio especial, o que levou a uma discussão sobre quem começou e quem era culpado. Meu irmão, agindo de forma imparcial, lidou com a situação com calma e justiça como parte do conselho estudantil. Imagino que Nagumo-senpai tenha feito o mesmo no ano passado.
Pensando nisso, não pude deixar de sorrir.
— Quase virou tradição: os alunos novos sempre causam algum problema pelo menos uma vez. Só a ideia disso já me fez rir um pouco.
— Agora que ouvi sua história — Nanase-san disse —, tudo parece mais real. Já consigo imaginar algo parecido acontecendo no próximo ano.
— E quando acontecer, será sua vez de lidar com isso como Presidente do Conselho Estudantil.
— Eh? Eu? —respondeu, assustada.
— Se tudo correr bem, é assim que acontecerá. Você aceitará o cargo?
— Espero estar à altura. Mas todos os presidentes anteriores se formaram na 1-A, certo? E eu… ainda estou na 1-D.
Apesar do tom incerto de Nanase-san, não havia dúvida: ela era a candidata mais indicada para o cargo.
— Não deixe que precedentes criados por coincidência te pesem — disse com suavidade. — Até agora, apenas alunos da 1-A ou 1-B se tornaram presidente do conselho. Mas aqui estou eu, alguém que começou na 1-D, ainda dando conta do recado.
Parei por um momento e acrescentei.
— Isso pode servir como bom exemplo, mas mesmo eu não tenho garantia de me formar na 1-A.
Afinal, nossa posição atual na 1-A era temporária. Se não fosse pelo apoio silencioso de Ayanokoji-kun nos bastidores, nunca teríamos chegado aqui.
Olhei em seus olhos.
— Ao menos, acredito que você está mais do que qualificada para ser a próxima presidente do conselho. Acredite em si mesma.
— Obrigada — respondeu Nanase-san, baixinho. — Por enquanto, quero me provar como secretária e mostrar resultados.
Ainda reservada, ela aceitou minhas palavras com sinceridade, assentindo e inclinando levemente a cabeça em gratidão.
— O fato de a briga deles ter sido levada ao conselho estudantil significa que a situação ficou séria — disse, mudando de assunto. — Antes que cheguem, deixe-me compartilhar meus pensamentos. Dependendo de como as coisas se desenrolarem, precisarei do seu apoio.
Um dos alunos envolvidos era da 1-A. Normalmente, são estudantes das turmas 1-C ou 1-D que causam esse tipo de confusão, mas não desta vez. Kusanagi-kun possuía habilidades físicas e notas acadêmicas em nível B+. Claramente, ele não era apenas forte, mas também inteligente. Precisaremos nos preparar de acordo.
— Claro — disse Nanase-san.
Com o tempo restante, apresentei a ela alguns planos de contingência. Logo, uma batida seca soou na porta da sala do conselho estudantil: era a hora.
— Eles chegaram. Podem entrar — chamou Nanase-san.
Quando a porta se abriu, dois estudantes entraram, lançando olhares fulminantes um para o outro. Seus penteados chamativos e rebeldes já davam a impressão de delinquentes. A atitude era igualmente desafiadora, sem sinal de remorso, cada um convencido de que o outro era o culpado.
Mas mais do que a aparência ou postura, o que se destacava agora eram os rostos deles.
— Nossa, esses são ferimentos bem graves — murmurou Nanase-san, incapaz de se conter.
O estudante à minha esquerda era Maki-kun, da Classe 1-D. À direita, Kusanagi-kun, da Classe 1-A.
Embora um médico pudesse diagnosticar um tempo de recuperação de duas a três semanas mesmo para ferimentos leves, o que víamos agora era brutal. Ambos tinham o rosto inchado e machucado, evidência de que realmente haviam se enfrentado com toda força. As feridas de Maki-kun eram especialmente graves. Fica dolorosamente óbvio quem levou a melhor na briga.
— Vocês entendem por que foram convocados à sala do conselho estudantil, não é? — Perguntou Nanase-san, guiando-os gentilmente à responsabilidade.
— Tch, de jeito nenhum — retrucou um deles. — Por que diabos fui chamado? Ele que começou!
Kusanagi-kun rebateu imediatamente, mostrando os dentes para Maki-kun e gritando.
—Hã?! Não me zoa, seu idiota! Você é quem começou isso!
Maki-kun zombou.
— Ah, claro! Você que deu o primeiro golpe. Não que tenha acertado em cheio ou algo assim!
Uma acalorada discussão começou, ambos tentando culpar o outro por iniciar a briga. Nanase-san e eu trocamos olhares, mas optamos por não intervir ainda. Julgamos que deixá-los desabafar agora facilitaria as coisas depois.
O que começou como simples troca de acusações escalou gradualmente para insultos desnecessários e abuso verbal; eventualmente, o assunto derivou para temas irrelevantes, como altura e aparência.
— Crianças — murmurei.
— Crianças, de fato — ecoou Nanase-san suavemente.
Eles acabaram de entrar no ensino médio, mas já estavam adentrando um território que não podia ser ignorado. A briga deles estava escalando, sem sinais de parar; pelo contrário, parecia que poderiam se enfrentar fisicamente ali mesmo, na sala do conselho estudantil.
— Isso já foi longe demais. Vou precisar que vocês dois se acalmem agora — advertiu Nanase-san, incapaz de suportar o barulho.
Os garotos lançaram-lhe um olhar, mas não pararam. Claramente a subestimavam, pensando que não precisavam obedecer apenas porque ela era uma garota.
A atitude condescendente deles era óbvia para qualquer um que estivesse assistindo.
As palavras de Nanase-san podem não os ter silenciado, mas ficou claro que ouviram, e isso era suficiente por enquanto. A implicância deles vinha de insatisfação mútua, nada mais. Nesse caso, tudo que eu precisava fazer era agir como se estivesse prestes a emitir a decisão mais satisfatória possível.
Olhei para Nanase-san. Nossos olhos se encontraram, e ela deu um pequeno aceno, entendendo perfeitamente minhas intenções.
— Se vocês dois insistirem em discutir como quiserem, então não há necessidade de continuar esta reunião — disse ela friamente, com a voz distante. — Podemos ter que impor penalidades severas a ambos. Estão de acordo com isso?
Levantei-me silenciosamente, empurrando a cadeira para trás.
— Hã? Espera aí — gritou um deles — isso é um absurdo total!
— Isso não é algo em que um conselho estudantil ou uma garota deva se intrometer!
— Por favor, usem linguagem educada ao falar — advertiu Nanase-san com calma.
Eles retribuíram com olhares de raiva, claramente insatisfeitos com nossa postura. Talvez pensassem que isso nos faria recuar. Que ingenuidade.
— Esta é a Advanced Nurturing High School, e o conselho estudantil detém certo grau de autoridade. Esta reunião é uma oportunidade rara para descobrir a verdade. Se vocês pretendem desrespeitá-la, não vamos perder mais um segundo. Vamos registrar um relatório aos professores, Presidente.
— Não acabem com isso por conta própria!
— Vocês dois estão livres para sair — disse Nanase-san, com um gesto leve e despreocupado. — Ou, se quiserem continuar sua pequena disputa, façam isso no corredor.
Eles ainda eram novos na escola, muito cedo para qualquer lição sobre o que é melhor para a classe fazer efeito. Para garotos como eles, o pior cenário era simples: que nenhum dos argumentos deles fosse aceito. O orgulho frágil deles não suportaria esse resultado.
Mas, gradualmente, começaram a perceber a mudança. Um peso estranho na sala que não tinham notado antes. Desde o momento em que entraram na sala do conselho estudantil, eu não disse uma única palavra.
— Por que a presidente do conselho está simplesmente em silêncio? Diga alguma coisa.
Eles claramente me reconheciam pelo discurso na cerimônia de abertura; sabiam exatamente quem eu era.
— Vocês têm visto tudo isso, certo? Então deveriam saber quem está errado! — disseram, apontando um para o outro, insistindo que o outro era culpado. Provavelmente pensaram que poderiam continuar assim até eu intervir e dar um veredito. Mas eu não disse nada.
Porque essa situação nem valia a pena ser respondida — e deixei que meu silêncio deixasse isso cristalino. Eventualmente, o efeito começou a surtir efeito. A tensão alta que preenchia a sala do conselho estudantil lentamente se dissolveu em silêncio. Um silêncio tenso e pesado. Eles perceberam: eram os únicos a se fazerem de tolos ali.
Ainda apegados ao orgulho, abriram a boca como se fossem protestar novamente, mas tudo o que saiu foi um murmúrio quase inaudível. No fim, ambos fecharam os lábios.
— Então o que devemos fazer? — finalmente, quase em uníssono, perguntaram com a voz mal acima de um sussurro.
E, por fim, olharam para mim, não mais para discutir, mas para pedir uma resolução.
— Parece que estão dispostos a resolver as coisas. O que você gostaria de fazer, Presidente?
Assenti silenciosamente e gesticulei para que Nanase-san conduzisse a situação.
— Muito bem, Kusanagi-kun, poderia nos contar seu lado da história novamente? Enquanto ele fala, Maki-kun, peço que permaneça completamente em silêncio, não importa o quanto esteja insatisfeito. Você terá sua vez de falar depois. Está claro?
Com os lábios firmemente pressionados, Maki-kun assentiu relutantemente diante da firme instrução de Nanase-san.
— Esse cara… Maki estava me olhando como se eu fosse algo nojento preso ao seu sapato. Então perguntei qual era o problema dele, e ele simplesmente perdeu a cabeça. Daí a pouco, ele me desafiou atrás dos dormitórios. Eu também não ia recuar, então apareci, e no momento em que cheguei, ele veio com tudo. Bom, eu suspeitava que era mais forte, então desviei levemente e contra-ataquei.
Ele sabia muito bem que, se interrompesse agora, correria o risco de ser pintado como o vilão. Mas, se permanecesse em silêncio, preservava sua chance de se defender.
Maki-kun deve ter percebido isso instintivamente.
Kusanagi-kun continuou por um tempo, colocando toda a culpa em Maki-kun. Quando ficou claro que nenhum novo depoimento surgiria, passamos a vez para Maki-kun, que havia suportado em silêncio até então.
— Você tem coragem de falar o que quiser e pular todas as partes inconvenientes! Foi ele quem me chamou de produto defeituoso primeiro! Tudo o que eu queria era que ele retirasse o que disse! E não vem com essa de "tive um palpite de que era mais forte" — quem deixou você tremendo depois daquele golpe no corpo fui eu, e você sabe disso!
Maki-kun deixou sua frustração reprimida transbordar direto no ouvido de Kusanagi-kun. Kusanagi-kun desviou o olhar, constrangido, claramente fingindo não saber de nada.
Produto defeituoso, hein… faz tempo que não ouço esse termo. Nós, como alunos do primeiro ano da Classe D, havíamos sido convocados exatamente da mesma forma. Talvez isso também fosse uma daquelas tradições desagradáveis que a escola herda ano após ano.
Deixando de lado as emoções e organizando os fatos de ambos os lados, a situação ficou um pouco mais clara. Tudo começou quando Kusanagi-kun chamou Maki-kun de "produto defeituoso", um insulto evidente. Maki-kun, compreensivelmente furioso, chamou-o atrás dos dormitórios e exigiu que retirasse a ofensa. Mas Kusanagi-kun recusou, e Maki-kun, incapaz de suportar mais a sua atitude arrogante, atacou. O primeiro soco errou. O contra-ataque de Kusanagi-kun, no entanto, acertou em cheio. O que se seguiu foi uma briga que rapidamente virou um confronto sério. Julgando pelas feridas, era claro que Maki-kun havia perdido. Ainda assim, ele se recusava a admitir, insistindo que esteve por cima o tempo todo. Já Kusanagi-kun reivindicava a vitória e dizia que havia parado de lutar no momento em que o resultado estava decidido.
Seus relatos se contradiziam completamente, tornando impossível julgar com justiça.
Depois que Maki-kun terminou de falar, Kusanagi-kun lançou-lhe mais um olhar hostil antes de relaxar a expressão e virar-se para mim com um sorriso confiante.
— Você entende, não é, Presidente? Quero dizer, nós dois somos da Classe A. Foi apenas legítima defesa.
Era a primeira vez que ele usava uma linguagem formal e respeitosa, mas só isso não era suficiente para ganhar qualquer favor.
— Estar na Classe A é apenas um rótulo — respondi friamente. — Tolos são punidos, independentemente do posto. E até mesmo alunos da Classe D são elogiados quando fazem o que é certo.
— H-Hã? Mas…!
Seu humor mudou instantaneamente. Então, há alunos assim, de temperamento tão explosivo, até mesmo na Classe A este ano.
— Pode até ser verdade que Maki-kun foi quem chamou você para lutar. Mas isso não justifica responder de forma tão imprudente. Principalmente quando você imediatamente percebeu que era mais forte que ele, não?
— Isso é…!
— Bem, para alguém tão confiante de que era mais forte, parece que você também sofreu alguns ferimentos feios, não acha?
Mesmo que Kusanagi-kun tivesse uma pequena vantagem, os danos que ambos sofreram sugeriam que estavam mais ou menos no mesmo nível. Kusanagi-kun desviou o olhar diante da pressão, claramente descontente, mas incapaz de negar.
— Não é à toa que você não consegue responder — zombou Maki-kun. — Você não venceu, afinal.
— Não brinca comigo, Maki. De qualquer ângulo, eu sou mais forte!
Se continuassem sem se desculpar ou se reconciliar, a única saída justa seria aplicar uma punição proporcional aos ferimentos: Maki-kun, 40; Kusanagi-kun, 60.
Quando eu começava a pensar nisso—
— Eu nem bati tão forte assim no Maki… droga — murmurou Kusanagi entre os dentes.
Foi mais um deslize inconsciente do que algo dito de propósito para nós ouvirmos. Normalmente, isso seria interpretado como uma tentativa de se salvar, mas Maki-kun, ao seu lado, não apenas deixou de contestar, como fez um gesto de ignorar.
Dado o rumo da conversa até aquele momento, ele absolutamente deveria ter refutado. Aquele silêncio soava estranho. Nanase-san e eu trocamos olhares instintivamente.
— O que você quis dizer com "não bati tão forte assim"? — Pressionei.
— Não, não é nada — murmurou, claramente tentando voltar atrás.
— Não é "nada" — retruquei com firmeza. — Violência é violência, mas é claro que Maki-kun sofreu ferimentos mais sérios. Levando em conta também o julgamento da escola, você pode receber uma punição mais severa. Não deveria se defender direito?
Por um breve momento, os dois garotos que só haviam se encarado com ódio até agora trocaram um olhar verdadeiro. Parecia quase como o tipo de contato visual que às vezes troco com Nanase-san.
— Não há mais nada a dizer… O que falei é tudo — murmurou, quase como se estivesse cansado. — Não é, Maki?
— É, mais ou menos… Além disso, o culpado aqui é o Kusanagi, não é? — resmungou Maki-kun.
— Sério? Ainda vai dizer isso? — retrucou Kusanagi-kun.
E assim, voltamos à estaca zero.
— Se não houver novos depoimentos, vamos encerrar por aqui. Vocês têm certeza de que estão de acordo com isso?
— Pelo que ouvi, ambos são igualmente culpados — afirmei, reforçando a posição do conselho estudantil. Os dois ainda mostravam sinais de insatisfação e protestaram, mas suas palavras começaram a enfraquecer, como se percebessem que insistir não levaria a nada sem novas provas.
— Tá bom — murmurou um deles por fim. — Mesma punição pros dois, né?
— Tsc. Tanto faz. Isso foi uma perda completa de tempo… — resmungou o outro, claramente contrariado, mas cedendo do mesmo jeito. Kusanagi-kun seguiu a liderança de Maki-kun, aceitando a decisão de má vontade, ainda que com amargura visível. Há pouco, eles estavam jogando a culpa um no outro. Ficava claro que ambos estavam apenas tentando aliviar suas próprias punições.
Nanase-san os incentivou mais uma vez a falar, caso tivessem algo a acrescentar, mas o silêncio rígido de ambos não mostrava sinal de ceder. O Conselho Estudantil também não podia detê-los indefinidamente, então decidimos dispensá-los naquele dia, concluindo que os resultados seriam entregues posteriormente.
*
A sala do conselho estudantil havia voltado a ficar completamente silenciosa. Soltei um suspiro sem reservas.
— Todo esse assunto… se quiséssemos mesmo, poderíamos encerrar com uma decisão justa e equilibrada.
— Eles não negaram que brigaram, mas não acha estranho como os dois aceitaram de repente a punição depois daquele deslize suspeito? — comentou Nanase-san.
Kusanagi-kun admitiu ter batido em Maki-kun e afirmou que esteve por cima. Por outro lado, Maki-kun também insistia que tinha levado a melhor. Ainda assim, a diferença em seus ferimentos era clara: Kusanagi-kun dominou de longe.
Aquele hematoma no rosto era decisivo, embora, curiosamente, Kusanagi-kun tivesse dito que não havia batido forte o suficiente para causar tal lesão. Mais estranho ainda era o fato de que Maki-kun, apesar de ter a oportunidade perfeita para distorcer aquilo em uma acusação de excesso de violência, não aproveitou. Apenas deixou passar. Ele poderia ter usado a chance para aliviar sua própria culpa, mesmo que não fosse a verdade completa. Mas não fez.
— Como você interpretou isso, Presidente? — perguntou Nanase-san. — Para mim, pareceu que Maki-kun não queria admitir a derrota e priorizou seu orgulho.
— Entendo. É uma possibilidade, mas… no começo, com certeza parecia que ele queria colocar a culpa pesada em Kusanagi-kun. Então é estranho que não tenha explorado aquele deslize. Ele também poderia ter protegido o próprio orgulho dizendo algo como: "Eu segurei meus socos de propósito, mas Kusanagi-kun não parou de atacar".
Ao responder, Nanase-san fechou os olhos, como se estivesse refletindo profundamente. Ou talvez… fosse hora de olhar para isso de um ângulo completamente diferente.
— Pode haver outra pessoa envolvida neste caso de agressão…
Só essa ideia já me fazia querer reavaliar ambos os depoimentos. Ao repassar os detalhes na cabeça, senti como se um fragmento da verdade começasse a surgir.
— Mas Kusanagi-kun foi quem venceu a luta, não foi? Se fosse um ato de vingança, não faria mais sentido se Kusanagi-kun tivesse sido o mais machucado?
— Vingança não é o único motivo. Não é impossível que uma terceira pessoa, insatisfeita com as ações de Maki-kun, tenha decidido puni-lo por provocar uma briga e perder. Não que isso torne a coisa aceitável.
— Entendi. É uma forma de ver a situação. Mas então não conseguimos explicar por que Kusanagi-kun não denunciaria isso. É porque ele tem medo de retaliação da pessoa que aplicou o castigo…?
— Isso está bem próximo do que eu pensava.
Se alguém como Ryuen-kun ou Hosen-kun tivesse se envolvido e punido Maki-kun, não seria difícil imaginar Kusanagi-kun, mesmo tendo vencido, não ousando abrir a boca. Ainda assim, parecia improvável. Será que veteranos realmente se dariam ao trabalho de intervir em algo tão trivial quanto uma briga entre calouros, e ainda por cima aparecer nos dormitórios do primeiro ano?
Além disso, se tais veteranos perigosos estivessem envolvidos, não havia como os dois garotos estarem se acusando abertamente diante do conselho estudantil. Teriam sido ordenados a fingir arrependimento, mostrar obediência e seguir em frente.
Mas aqueles dois? Não havia sinal nenhum disso. Ambos eram orgulhosos e confiantes em suas habilidades de luta, e nenhum tinha intenção de revelar tudo. Isso, pelo menos, eu podia afirmar com certeza.
— Mas, Presidente—
— Eu entendo — cortei suavemente. — Pelo que sei, não parece haver entre os calouros deste ano ninguém como Ryuen-kun ou Hosen-kun — alguém que governe através da violência e do medo. Era isso que você queria dizer, não é?
— Sim — assentiu Nanase-san. — Não consigo pensar em nenhum estudante que se destaque por tentar controlar a classe através da intimidação.
Ainda assim… será que alguém apenas está escondendo isso bem? Olhei novamente para os documentos que Nanase-san havia me entregue mais cedo. Talvez eu devesse falar com a primeira testemunha que encontrou os dois alunos feridos? Ou então chamar Maki-kun e Kusanagi-kun novamente, depois que esfriassem a cabeça? Também poderia tentar conversar com eles separadamente… embora eu duvidasse que ferir o orgulho deles nos aproximaria da verdade.
— Me diga, Nanase-san. Os garotos não tendem a agir de forma um pouco infantil?
— Hmm, sim. Eu diria que eles certamente têm esse lado. Aqueles dois, afinal… se comportaram como crianças o tempo todo que estiveram na sala do conselho.
— Exato. O problema é que tanto Kusanagi-kun quanto Maki-kun acreditam ser fortes. E por causa disso, tudo em que conseguiram se concentrar foi em quem venceu ou perdeu a luta. Mesmo diante do conselho estudantil, apesar da ameaça de punição, eles não recuaram um centímetro. Só tentaram jogar a culpa um no outro.
— Sim — respondeu ela.
— E se alguém tivesse enfrentado aqueles dois, tão confiantes, ao mesmo tempo?
— Quer dizer que eles perderam uma luta de dois contra um e tiveram o orgulho esmagado? Não é impossível, mas será que isso seria motivo suficiente para ficarem completamente calados? Eles poderiam simplesmente ter se unido e jogado a culpa nessa pessoa.
— Mas e se o adversário deles não fosse um garoto… e sim uma garota? E apenas uma garota? — acrescentei.
Nanase-san, que ouvia em silêncio ao meu lado, arfou suavemente e virou-se para mim, com uma expressão de súbita realização.
— É possível… aqueles dois, que se gabam e insistem que não perderam, certamente ficariam envergonhados demais para admitir que foram derrotados por uma colegial.
Este incidente poderia ser encerrado, já que os dois aceitaram a punição sem protestar mais.
No entanto, se uma terceira pessoa estivesse envolvida, especialmente sendo a verdadeira agressora, então isso deixava de ser apenas uma briga escolar. Seria um claro caso de agressão. Para manter a ordem daqui em diante, precisávamos lidar com isso agora, enquanto ainda podíamos.
— Já que nenhum dos dois se manifestou, teremos que tomar a iniciativa de investigar. Nanase-san, estaria disposta a me ajudar a chegar ao fundo disso?
— Claro, Presidente. Mas ser presidente do conselho estudantil deve ser exaustivo. Você é realmente incrível, Horikita-senpai.
— Não sou tão incrível assim. É verdade que muitas vezes fui chamada de excelente no ensino fundamental, mas Ayanokoji-kun, meu irmão, Nagumo-senpai… não, Sakayanagi-san e Ichinose-san também. Ao vê-los de perto, percebo isso constantemente. Comparada a eles, eu sou, inegavelmente… apenas comum.
Foi uma autodepreciação patética, mas eram meus pensamentos sinceros. Talvez ainda fosse porque eu não havia superado totalmente o modo casual com que Koenji-kun me dispensara depois da aula. Por algum motivo, os olhos de Nanase-san se arregalaram em leve surpresa enquanto ela me encarava fixamente.
— Ainda assim… eu acho que não tem problema. Não é algo ruim. Você é perfeitamente boa do jeito que é, Horikita-senpai comum.
Comum.
— Hmph… Por alguma razão, ouvir isso está me irritando um pouco.
De qualquer ângulo que eu olhasse, parecia uma provocação.
— Q-Que!?!?! Eu-eu sinto muito! Eu acho você muito incrível, Presidente Horikita!
Completamente atrapalhada, Nanase-san tropeçava nas próprias palavras em pânico.
— Não adianta tentar consertar agora — disse eu, fingindo irritação, antes de sorrir e pousar suavemente a mão em seu ombro. — Me empreste sua força por um tempo, tudo bem?
— S-Sim! Claro!
*
Os assuntos do Conselho Estudantil não podiam ser ignorados, mas ao mesmo tempo, eu tinha meus próprios deveres como líder de classe. Apesar do peso da fadiga, cheguei ao ponto de encontro, o Keyaki Mall, pouco antes das 18h. Este exame, por menor que fosse a recompensa ou a variação nos pontos de classe, tinha grande importância. E estava programado para ocorrer começando amanhã, com duração de uma semana, ou então apenas a partir da semana seguinte.
Se quiséssemos evitar a derrota — e buscar a vitória —, hoje era a única chance de nos prepararmos. Ao me aproximar do supermercado dentro do shopping, avistei uma aluna parada na entrada e corri até ela.
— Ei. O tempo anda bem ruim ultimamente, não é? — disse Karuizawa-san ao nos encontrarmos.
— É. Mas a temporada de chuvas ainda não deveria ter começado — respondi.
No domingo passado, havia chovido o dia inteiro, e a previsão ainda mencionava possibilidade de chuva novamente naquela noite, após a meia-noite.
— Obrigada por vir fazer compras comigo a esta hora — falei.
— Imagina. Eu já estava pensando em vir ao mercado de qualquer forma, então não se preocupe com isso — sorriu ela.
Cada um de nós pegou uma cesta e seguimos devagar do setor de frutas, próximo à entrada, em direção à seção de verduras. Enquanto eu pegava um kiwi dourado que estava em promoção, virei-me para olhar Karuizawa-san.
— Você percebeu algo estranho durante a reunião de hoje, depois da aula?
— Hmm, não sei. Pareceu o de sempre. Ninguém conseguiu concordar, cada um só dizia o que queria… E, ah, quero dizer, por que você está me perguntando isso, afinal?
Ela respondeu com um sorriso torto, como se dissesse: definitivamente não sou a pessoa indicada pra esse tipo de coisa, sabe? Ela não estava errada; Karuizawa-san nunca era de participar ativamente de discussões sérias. A maior parte da conversa geralmente ficava comigo, Hirata-kun ou outros colegas mais falantes.
— Não podemos continuar fazendo sempre as mesmas coisas. Por isso, quero dar um passo em direção à mudança.
— E é por isso que você me escolheu? Bom, normalmente você não viria a mim em busca de conselhos sobre um exame, já que não sou útil nisso.
— Não é isso — respondi, olhando diretamente em seus olhos. — Sim, eu procurei você porque quero que as coisas mudem. Mas não acho que você seja inútil. Você não é mais quem costumava ser.
Disse aquilo já sabendo que poderia irritá-la, mas suavizar as palavras, fingindo que ela sempre havia sido confiável, seria muito mais insultante.
— Você realmente não pega leve, não é, Horikita-san? — disse ela, sorrindo suavemente. — Mas eu gosto disso em você.
Sem sequer um traço de irritação, Karuizawa-san aceitou minha franqueza com um sorriso. Ela era muito mais sábia como pessoa do que eu jamais lhe havia dado crédito. Só essa constatação já era um ganho significativo.
— Bem então — disse ela em tom brincalhão —, já que aparentemente sou útil agora, talvez eu lhe dê uma mão. O que você acha que é a regra-chave por trás deste exame especial, Horikita-san?
Antes que eu pudesse começar a lhe perguntar qualquer coisa, Karuizawa virou o jogo e lançou uma pergunta em minha direção. Achei a cena estranhamente divertida, e não consegui evitar uma risada baixa.
Eu nem havia participado da reunião após a aula por uma hora inteira, mas meus colegas já tinham lançado várias ideias plausíveis: prova escrita, desafio esportivo, exames orais, apresentações, performance musical, até entrevistas. Alguns foram além e sugeriram programação, artes plásticas ou avaliação de desenho. O consenso geral era que algum tipo de exame ocorreria em uma semana. Muitos inclinavam-se para entrevistas, provavelmente influenciados pelo fato de estarmos no terceiro ano, prestes a encarar vestibulares e aplicações de emprego.
Dada a semana de preparação e a ausência de regras explicadas, não era uma teoria descartável. Mas também havia a opinião de que, se fosse realmente uma entrevista, eles teriam nos informado de imediato — não é o tipo de coisa que se mantém em segredo.
Enfim, as ideias variavam do plausível ao irrealista, mas nenhuma poderia ser considerada a resposta definitiva. Ainda assim, como algumas se repetiam, reduzi-las tornaria as coisas mais eficientes. Especialmente se o exame fosse acadêmico, envolvendo todas as matérias ou apenas específicas, o resultado mudaria drasticamente de acordo com nossa interpretação.
Compartilhei alguns de meus pensamentos com Karuizawa-san. Normalmente, uma conversa dessas a entediaria, mas ela escutou atentamente, sem qualquer sinal de desagrado. E logo, a conversa tomou outro rumo — mais profundo, mais especulativo. Algo que eu só poderia ter com ela.
Enquanto passávamos pelo corredor de temperos, ela falou.
— É só um palpite, mas… acho que a Classe C e a Classe D estão em algum tipo de aliança.
— Ayanokoji-kun está ajudando Ichinose-san… é isso que você está dizendo?
— Sim. Tenho certeza de que foi isso que aconteceu da última vez, e acho que será parecido agora também.
Ela me encarou diretamente, em tom calmo e firme. Foi Karuizawa-san quem primeiro levantou essa possibilidade como motivo de nossa derrota no último exame especial.
É claro, ainda não temos provas. Eu já havia notado algo estranho entre Ayanokoji-kun e Ichinose-san desde a transferência, mas não esperava que as coisas tivessem avançado a ponto de eles estarem compartilhando informações às escondidas.
— O que você acha, Horikita-san?
— Acho que a possibilidade não é baixa — respondi após uma pausa. — Do ponto de vista de Ayanokoji-kun, é natural que ele não queira que nossa Classe A vença. Como não teve a chance de nos desafiar diretamente da última vez, apoiar Ichinose-san com informações é uma estratégia que faz sentido. Afinal, ele conhece nossa classe melhor do que ninguém.
Enquanto eu estava inoperante, Hirata-kun e os outros assumiram a liderança e escolheram os membros para a batalha da minoria. Tenho certeza de que Ayanokoji-kun poderia imaginar aquela cena mesmo sem presenciar diretamente. Que tipo de discussões ocorreram e que conclusões foram alcançadas.
É claro que Hirata-kun e os outros não têm culpa. Mesmo se eu tivesse participado, sinto fortemente que o resultado final não teria mudado — apenas os passos que levariam até ele.
— Mas — acrescentei —, este exame especial pode não ser um confronto um contra um. Ayanokoji-kun pode acabar em desvantagem ao dar informações a Ichinose-san.
— Isso não vai acontecer — disse Karuizawa com firmeza.
— Você acha que ele não perderia, mesmo entregando informações?
Quando devolvi a pergunta, Karuizawa-san deu uma risadinha e negou.
— Se o objetivo dele ao transferir-se para a Classe C fosse elevá-la até a Classe A com as próprias mãos, isso seria meio meia-boca, não acha? Se estivesse realmente sério, teria ido direto para a Classe D, a última colocada.
— Mas isso só porque Ichinose-san está lá, certo? Depois que Sakayanagi-san saiu, a Classe C ficou sem liderança. Foi essa situação que ele aproveitou.
— Se fosse Ayanokoji-kun… ele teria ido para a Classe D, mesmo que isso significasse expulsar Ichinose-san.
— Isso é… uma suposição grande demais, de qualquer ângulo que se olhe. Claro, se fosse um exame especial com risco de expulsão, talvez alguém pudesse ser alvo. Mas você está dizendo que ele realmente tentou expulsar Ichinose-san no exame de fim de ano?
Aquele exame em particular não permitia manipular o resultado para expulsar alguém de outra classe. A estrutura só possibilitava expulsões internas.
— Eu não sei como ele faria — respondeu Karuizawa. — Mas expulsar alguém não precisa ficar limitado a um exame especial, certo? Ele poderia ter feito isso em silêncio, em um dia qualquer como hoje.
Talvez Karuizawa-san, que já namorou com ele, tenha uma opinião ainda mais elevada sobre Ayanokoji-kun do que eu. Naturalmente, não tenho intenção de argumentar que ela o superestima.
— Supondo que o que você disse seja verdade… então por que ele se transferiria para a Classe C?
— Isso eu não sei. Mas Ayanokoji-kun sempre parece pensar em coisas que nenhum de nós pode prever. E provavelmente não precisa depender de Ichinose-san para chegar à Classe A. É por isso que, se ele já a ajudou uma vez, achei que poderia fazê-lo de novo.
Se as classes mais baixas se unirem, será mais fácil lidar com os próximos exames. Será que a ajuda dele foi um favor estratégico com esse propósito? Não sei seu objetivo nem a resposta real. Justamente por isso, fazer suposições é perigoso. Mas mesmo assim, preciso manter essa possibilidade em mente.
Se este for realmente o campo de batalha que enfrentaremos, então precisamos identificar as regras do exame especial — e a resposta oculta — o quanto antes. Qualquer atraso a partir de amanhã pode ser fatal.
Não sou ingênua a ponto de acreditar que simplesmente fazer algo diferente vá magicamente trazer uma ideia brilhante. Ainda assim, tentar novas abordagens como esta certamente será útil mais adiante. Mesmo que digam que percebi isso tarde demais, pretendo aproveitar ao máximo este momento de clareza.
*
Desde que Ayanokoji-kun se transferiu para fora da nossa classe, já havia passado bastante tempo. Mas, mesmo agora, as feridas emocionais deixadas por sua partida ainda não haviam cicatrizado completamente. O mesmo devia ser verdade para Karuizawa-san, que havia ido às compras comigo mais cedo.
Mas nós duas conseguimos olhar para frente e seguir em frente, mais do que antes. Pelo menos agora, se por acaso eu encontrasse Ayanokoji-kun na escola, no Keyaki Mall ou nos dormitórios, eu conseguiria manter a expressão neutra e fingir estar composta.
O catalisador da minha recuperação foi Karuizawa-san, mas a outra pessoa que me ajudou — de sua própria forma distorcida — estava bem diante de mim agora.
— Para uma derrotada, você está com uma carinha um pouco melhor, Horikita — zombou Ibuki-san no instante em que abri a porta do meu quarto. Já passava das 18h30, e eu tinha acabado de voltar do supermercado quando ouvi sua batida violenta. Não era exatamente o tom que se esperaria de alguém que veio para ser servida com um jantar.
— Tudo graças ao seu adorável chute voador. Sou realmente grata — retruquei secamente.
Ibuki-san estufou o peito com orgulho exagerado, claramente satisfeita.
— Se acontecer de novo, vou chutar de verdade também. Melhor me agradecer antes.
Será que ela convenientemente interpreta isso na cabeça como elogio...? Estou começando a me arrepender de ter dito que ela foi, ainda que em pequena parte, uma das razões de eu estar me reerguendo.
Não... mais do que isso, para evitar futuras vítimas, parece melhor ensiná-la de uma vez que isso é um problema real, ao invés de usar sarcasmo que não surte efeito.
— Chutar alguém pelas costas desse jeito é perigoso. Quero que me prometa que nunca mais vai fazer isso. Pelo menos, não com ninguém além de mim.
Eu tinha conseguido evitar um ferimento sério graças ao meu treinamento em artes marciais e à sorte boba, mas se ela tivesse acertado no lugar errado, eu poderia ter me machucado de verdade. Ela precisava entender isso.
Mas, como sempre, Ibuki-san apenas riu, sem levar nada a sério.
— Então você está dizendo que, se for com você, tá tudo bem?
— Não está. Mas não vou ser chutada de novo. Afinal, a sua condição foi "se acontecer de novo", não foi?
Engraçado como a precaução que tomei, só por via das dúvidas, já estava se pagando.
— Heeh. Então você está dizendo que já se recuperou completamente?
— Posso dizer isso com confiança.
Ibuki-san, claramente desconfiada, soltou uma risada e tirou os sapatos de qualquer jeito antes de entrar no quarto. Eu os peguei e alinhei direitinho ao lado dos dois pares já organizados.
Um par era meu, obviamente. E o outro...
— Kushida, o que acha do que a Horikita acabou de dizer? — Perguntou Ibuki-san, olhando para a dona daquele segundo par.
— Nem uma palavra — respondeu Kushida-san imediatamente, os olhos ainda fixos no celular, sem sequer olhar para nós.
— Ela disse que não acredita — comentou Ibuki-san, quase divertida.
— Ela é igual a você, nunca concorda comigo de cara. Então não ligo muito — respondi com um suspiro suave, movendo-me da entrada para a cozinha. Enquanto tirava as compras do supermercado da minha sacola, chamei casualmente.
— Sente-se onde quiser e mexa no celular como ela. Não me importo se quiser ver TV também.
— Eu já ia fazer isso de qualquer jeito — respondeu Ibuki-san, jogando-se pesadamente em seu lugar de sempre. Seus olhos passeavam pelo quarto, examinando-o sem pressa. Vendo-a de lado, Kushida-san murmurou baixinho.
— Que cara é essa? É assustadora.
— Hã? De quem você está chamando a cara de assustadora!? — retrucou Ibuki-san.
— Só tem uma pessoa perto, então não há necessidade de citar nomes, não é?
— Podia ser a Horikita. Ela também parece assustadora.
— Entendo. É, talvez seja verdade. Posso ter causado um mal-entendido.
...Será que essas duas se lembram de quem é o quarto em que estão?
— Mas só para deixar claro, eu estava falando de você, Ibuki-san — completou Kushida-san sem emoção.
— Hã!? O quê, o quê? Por que está arrumando briga do nada? Quer que eu jogue uma almofada em você? — explodiu Ibuki-san, que sempre arruma briga.
— É porque parecia que você estava feliz de estar no quarto da Horikita-san depois de tanto tempo.
— Hã!? Hã!? Não tire conclusões erradas. Não é como se eu estivesse feliz de estar aqui. Só achei sorte ter uma refeição grátis.
— Isso não é basicamente estar feliz?
— Não é.
A barulhenta troca de provocações encheu o quarto, tornando-o mais animado do que estava momentos atrás. Eu as observei pelo canto do olho enquanto começava a cozinhar, meus movimentos automáticos pela prática.
Os ingredientes que comprei hoje custaram quase o dobro do meu orçamento habitual, mas mesmo assim ainda saíam mais baratos do que os dias recentes em que eu estava vivendo de refeições de loja de conveniência.
Não muito tempo atrás, as vozes barulhentas das duas jamais seriam algo que eu acharia agradável. Mas agora, estranhamente, soavam como música de fundo, relaxantes à sua maneira.
Engraçado como apenas uma pequena mudança na perspectiva pode transformar totalmente como você se sente por dentro. Enquanto picava os vegetais, me peguei refletindo sobre minha situação. Há pouco, menti para Ibuki-san. Quando ela perguntou se eu já tinha me reerguido, respondi com mais confiança do que realmente sentia.
Foi uma mentira.
Com certeza eu já tinha escalado para fora do poço mais profundo do desespero. Mas dizer que estava totalmente curada? Isso estava longe da verdade. Disse aquelas palavras pela paz, para evitar que mais alguém acabasse no alvo dos chutes da Ibuki.
Mas, se for honesta... Disse porque queria mentir para mim mesma. Queria me convencer de que estava bem.
É o quanto a realidade da saída de Ayanokoji-kun ainda pesa sobre mim.
A panela de arroz, que eu havia programado mais cedo, soltou um alegre bip bip sinalizando que estava pronto. Abri a tampa imediatamente e mexi o arroz com a pá, deixando escapar a umidade da superfície para garantir uma textura uniforme.
Assim que terminei, coloquei a refeição preparada diante de Kushida-san e Ibuki-san.
— Hambúrguer feito com Kuroge Wagyu nacional. Não é apenas carne de gado preto qualquer, viu?
— O q-quê!? Kuroge Wagyu? I-Isso não é meio... meio extravagante de verdade!? — gaguejou Ibuki-san.
Apesar do choque, ela abriu ligeiramente as mãos, os olhos brilhando de genuína admiração ao encarar a comida.
— Você que insistiu em comer algo bom, não foi? E trabalhe no seu jeito de falar japonês, soa muito estranho — acrescentei secamente, enquanto retomava a preparação do restante da refeição com eficiência prática.
— Se for para me tratar com comida assim, vou vir aqui todo dia — provocou Ibuki-san.
— Não vai não. Hoje é uma rara exceção — retruquei firme.
— Tá dura, dorme, Horikita. Fazer o quê, acho que vou me contentar com refeições normais a partir de amanhã — declarou Ibuki-san, como se já estivesse decidido.
Não faço ideia de quando ela começou a assumir que eu continuaria cozinhando para ela, mas dar corda para suas bobagens só iria inflar ainda mais o ego dela, então deixei passar.
Pelo menos, ela parecia genuinamente interpretar aquilo como um gesto de apreciação e valorizava o esforço que coloquei na refeição. A comida posta sobre a mesa carregava uma atmosfera diferente da habitual, um pouco mais refinada, mais calorosa. Antes que eu percebesse, até Kushida-san tinha parado de rolar o celular e encarava os pratos com atenção.
— Isso... realmente parece meio especial — murmurou, embora seus olhos mostrassem cautela. Em contraste com a encantada Ibuki-san, a desconfiança de Kushida-san só se aprofundava.
— Provavelmente tem alguma pegadinha... Se a gente comer isso sem pensar, pode acabar se arrependendo — começou, provavelmente querendo alertar Ibuki-san.
Mas já era tarde demais. Ibuki-san já estava com o garfo na mão, levando a comida à boca.
— Isso foi rápido...
O barulho alto de sua mastigação ecoou pela mesa. Dava para praticamente ouvir o nhac, nhac, nhac entusiasmado enquanto ela se empolgava. Uma garfada levava direto à próxima, sem pausa. Era como se o sabor tivesse sequestrado sua força de vontade. Assistir à sua alegria em comer me trouxe uma discreta sensação de satisfação.

Nada mau, para quem cozinhou.
— Selvagem.
— Quem você tá chamando de Selvagem!? — rebateu Ibuki-san, mesmo com a boca ainda meio cheia.
Observei as duas em silêncio por um tempo, sem tocar na minha comida.
Eventualmente, Ibuki-san levantou a cabeça com um sorriso brilhante.
— Ultimamente estou completamente quebrada, então uma refeição dessas parece um luxo.
Eu fiquei curiosa sobre o tipo de vida que ela estava levando, mas isso não era prioridade agora. Afinal, Ibuki-san tinha o hábito de ir embora no instante em que terminava de comer.
— Quero ouvir a sua opinião — falei.
— Sobre a comida? — Ibuki-san inclinou a cabeça.
— Não. Sobre Ayanokoji-kun, a pessoa de quem todos andam falando.
No momento em que seu nome saiu dos meus lábios, Ibuki-san se enrijeceu visivelmente. Ela nem tentou esconder o desgosto. Kushida-san, em contraste, me olhou com sua expressão de sempre. Mas seus olhos pareciam dizer "Eu já sabia", como se tivesse captado o motivo por trás da refeição incomumente elaborada.
— Sobre ele ter trocado de classe? Acho que já está um pouco tarde para falar disso agora — disse Kushida em tom neutro. Será que a saída dele realmente não a abalou? Mesmo com o nosso futuro na Classe A ficando cada vez mais incerto?
— Ele agora é nosso inimigo… mas ainda não sei como devemos enfrentá-lo — admiti. — Preciso de algo, qualquer coisa, que nos dê uma vantagem.
— Então está invocando o ditado "três cabeças pensam melhor que uma"? Nesse caso, a Ibuki-san só vai atrapalhar, não?
— Tenho plena consciência disso — respondi friamente. Nesse momento, Ibuki-san bateu de leve o punho fechado — ainda segurando o garfo — na mesa.
— Sei que você está tirando sarro de mim. Quer levar um chute?
— Talvez eu esteja zombando um pouco — admiti. — Mas pretendo contar com você. Especialmente nesse assunto… na verdade, espero que diga algo inesperado. Afinal, você nunca gostou muito do Ayanokoji-kun, não é?
— Hmph, entendi — respondeu com um leve aceno, aceitando a minha lógica distorcida.
— Você realmente não deveria aceitar assim tão fácil, Ibuki-san… Mas enfim.
Ela pegou o garfo de novo, enfiou uma grande colherada de arroz na boca e, depois de mastigar e engolir bem, soltou outro resmungo. Começou a girar o garfo nos dedos, de um jeito nada delicado, antes de assentir firmemente.
— Derrubar o Ayanokoji, hein? Impossível.
— Está desistindo fácil demais. Quero que pense um pouco mais.
— Eu estou pensando. Mas aquele cara é um monstro, forte pra caramba. Nem emboscadas funcionam. Se fosse alguém que parecesse vencível, eu estaria empolgada para derrubar na próxima vez, mas… ele está muito além disso. Eu já entendi. Por isso desisti.
É impressionante fazer alguém que gosta tanto de lutar como a Ibuki admitir algo assim. Como esperado de Ayanokoji-kun… Mas isso não era exatamente o ponto aqui.
— Você só está pensando em derrotá-lo fisicamente, não é?
— Hã? Existe outro jeito?
Qualquer pessoa com bom senso perceberia imediatamente que não era apenas uma disputa física, mas também intelectual. Ainda assim, esse modo peculiar de pensar era algo que só a Ibuki teria, e eu decidi aceitá-lo de forma positiva.
— Bem, talvez começar por esse ângulo não seja tão ruim assim.
Esse é o tipo de conversa que só podemos ter porque é a Ibuki que está sentada aqui.
— Na verdade, vou fazer a pergunta real: você ao menos sabe o segredo da força dele? — perguntou Ibuki.
— O segredo da força dele…?
— Nem você nem eu conseguimos igualar a força física dele. Até aquele Albert parecia uma criança diante do Ayanokoji. Em termos de pura força, o Ayanokoji não deveria ter a menor chance… e ainda assim fez o Albert parecer nada.
O garfo, que ela girava preguiçosamente nos dedos, parou. Ela o segurou firme, com a expressão séria.
O segredo por trás da força dele… Quando, e onde, ele teria adquirido um poder tão avassalador? Não era só força. Seu intelecto também estava claramente muito além do que se espera de um estudante do ensino médio.
— Infelizmente, não sei de nada — murmurei. — Ele nunca me contou nada…
Mesmo eu tendo sido a pessoa mais próxima dele… Não pude evitar de deixar escapar esse comentário de autoironia.
— Então vocês realmente não são mais um par, hein? Sempre achei que você e o Ayanokoji vinham em conjunto.
Foi uma observação dolorosa, para a qual eu não tinha resposta. Sinceramente, só queria tapar os ouvidos e fugir da imagem patética de mim mesma que aquilo refletia.
Mas, mesmo assim, estou lentamente aceitando. Toda vez que o nome de Ayanokoji-kun surge, não consigo evitar sentir esse misto de emoções. Estou finalmente começando a aceitar que é algo de que não posso mais escapar.
— Eu não entendo muito sobre o que faz alguém ser forte numa luta, mas isso significa que o Ayanokoji-kun deve ter algo além dos músculos, algo que até supera o Yamada-kun, certo? Fisicamente, o Yamada é obviamente mais forte — disse Kushida, inclinando levemente a cabeça.
— Bem, se quer que eu coloque em palavras… — Ibuki deixou a frase no ar e me lançou um olhar, claramente passando o resto da explicação para mim.
— No caso dele, não se trata de treino ou estilo de luta. Ele está… além disso.
Normalmente, o caminho para se tornar forte é o mesmo para todos. Você treina, se especializa em uma área — karatê, judô, etc. — e aprimora a técnica ao longo de anos de disciplina.
Expliquei isso para Kushida-san.
— Se ao menos soubéssemos qual é o alicerce que o torna tão refinado…
Mesmo alguém com talento natural precisa de anos para se tornar um mestre. Não presenciei tanto quanto Ibuki, mas durante o confronto com Hosen-kun e o acampamento de treinamento misto, vi fragmentos dessa força com meus próprios olhos.
E talvez seja justamente por eu também praticar artes marciais que meu cérebro se recusa a aceitar. Que alguém pudesse chegar a tal nível, sendo apenas um aluno do ensino médio? Não faz sentido.
— Ele teria aprendido essas habilidades depois de entrar nesta escola, ou já as dominava antes?
— De jeito nenhum ele aprendeu aqui. Já no inverno do nosso primeiro ano, ele era absurdamente forte. Não existe lugar aqui onde se treina a esse nível. Idiota, Kushida.
— Ei, olha aqui. Ao contrário de vocês duas, eu não sou cabeça-de-músculo, tá? É normal não saber nada sobre coisas bárbaras. Mas enfim, vocês nunca pensaram que talvez ele só tenha começado nas artes marciais ainda antes do primário e que seja só isso?
— Artes marciais não são diferentes de estudar, Kushida-san. Você não pode simplesmente dedicar tempo e esperar se tornar forte. Não importa o quanto estude, ser o número um ainda é difícil. Treinar sozinho não garante superioridade.
Passei toda minha vida no ensino fundamental e médio estudando sem parar, só para ser a número um. E, na verdade, naquela época, cheguei pelo menos ao top três da minha série. Mas quando entrei na Advanced Nurturing High School, perdi essa posição sem nem mesmo lutar. Eu podia manter uma boa classificação, mas alcançar o primeiro lugar? Isso virou outra história.
E quando entrar na universidade, provavelmente enfrentarei o mesmo destino. Com estudantes excepcionais vindo de todo o país, minha posição inevitavelmente cairá. É um ciclo repetitivo, que o esforço sozinho não pode superar.
— Então, só existe uma resposta possível. "Quem é o mais forte desta escola?" e "Quem é o mais inteligente desta escola?". Ayanokoji-kun simplesmente era um gênio que já ocupava os dois lugares desde o começo.
Sim, se não pensar muito fundo, essa é a resposta a que se chega. Ele não é apenas mais um daqueles alunos estudiosos que aparecem todo ano. É alguém com talento genuíno, excepcional. Do tipo que consegue se manter no topo até mesmo nas universidades e escolas mais prestigiadas do Japão. Não há dúvidas de que Ayanokoji-kun é um desses raros indivíduos.
— Para ser franca, pode ser mesmo isso — admiti. — Mas, ainda assim, não parece real. Já conheci muitas pessoas mais capazes que eu, e mesmo assim… ele é diferente. É como se estivesse em um lugar que ninguém mais consegue alcançar.
Sinto que acabei avaliando ele alto demais, quase como uma divindade. Mas talvez, por enquanto, eu me permita pensar nele assim. E se, no fim, ele for apenas alguém no top 10–20%? Bem, isso já seria tranquilizador à sua própria maneira.
Depois de uma breve pausa, me lembrei de algo que havia acontecido não muito tempo atrás.
— Eu queria saber mais sobre o passado dele, então cheguei a ir conhecer o pai do Ayanokoji-kun durante a conferência de três vias com os pais.
Kushida, que não mostrara quase nenhum interesse durante nossa discussão sobre artes marciais, de repente se inclinou para frente, curiosa.
— O pai do Ayanokoji-kun? Que tipo de pessoa ele era?
— Também quero saber. Era algum brutamontes, tipo um gorila musculoso? — perguntou Ibuki, os olhos brilhando de curiosidade.
— Bem — respondi —, vocês talvez fiquem decepcionadas de ouvir isso. Ele parecia um pouco severo à primeira vista, mas, sinceramente, era apenas um homem comum e calmo. Ele até disse que não havia nada de especial na forma como criou o filho.
— Nem ferrando. Isso só pode ser mentira. A menos que ele tenha transformado o filho em um ciborgue ou algo assim, não faz sentido — declarou Ibuki-san, sorvendo ruidosamente sua sopa de missô enquanto jogava a ideia absurda no ar.
— Dito isso, não tive a impressão de que ele estivesse mentindo.
— Mas estamos falando do pai do Ayanokoji-kun. Não seria mais estranho assumir que ele realmente diria a verdade?
— É, você provavelmente tem razão.
Fazia sentido. Não havia como alguém se tornar daquele jeito apenas com uma educação normal. Mesmo com um treinamento de elite de primeira linha, ele ainda parecia alguém que existia em um patamar inalcançável. Talvez o pai tenha mentido apenas para não soar como se estivesse se gabando do próprio filho.
— Falando nisso… vocês acham que há alguém nesta escola que estudou na mesma escola fundamental que Ayanokoji-kun?
— Quem sabe? Já tentei perguntar a ele algumas vezes, mas ele sempre conseguiu se esquivar da questão.
— Normalmente, as pessoas não hesitam em dizer de qual escola vieram. O fato de ele não querer… bem, meio que sugere que está escondendo algo.
Soava convincente vinda de Kushida-san, que também queria manter em segredo o que havia acontecido em sua escola anterior. Afinal, a menos que haja algo inconveniente a ser revelado, geralmente não existe motivo para esconder uma informação tão básica.
— Vocês acham que Ayanokoji-kun também é bom em esportes, além de lutar? Digo, ele era muito rápido — acrescentou Kushida-san.
— Não tenho certeza — respondi pensativo. — No começo não dei importância, mas agora que sabemos que ele vinha tirando notas baixas de propósito nas provas… pode ser que estivesse se segurando nos esportes também.
— Então mesmo que descobríssemos de qual clube ele fazia parte no fundamental, ainda haveria a chance de que estivesse escondendo sua verdadeira habilidade lá também?
— Sim. Se ele fosse extremamente talentoso em algum esporte, então, independentemente da província de onde viesse, alguém certamente teria ouvido rumores sobre ele… — respondi.
— Acabei de pesquisar o nome dele — disse Kushida-san, deslizando pelo celular. — Mas não aparece nada. Achei que o sobrenome raro ajudaria a filtrar, mas não existe registro algum de conquistas nos tempos de escola primária ou fundamental. Só celebridades e políticos sem relação.
Aparentemente, antes de entrar no ensino médio, Ayanokoji-kun era o tipo de estudante que, para o bem ou para o mal, não deixava pegadas no mundo.
Embora o que descobrimos pudesse ser considerado uma pista, não parecia que havíamos feito qualquer progresso real. O que precisávamos era de alguém com uma ligação genuína com Ayanokoji-kun.
— Aquele cara... parecia que sabia de alguma coisa, não parecia? — murmurou Ibuki-san, recordando um incidente passado.
Quase ao mesmo tempo, percebi que me lembrava da mesma pessoa a quem ela se referia.
— Como era mesmo o nome dele? Uhh, vamos ver… um ano abaixo de mim…
— Yagami. Yagami Takuya-kun — recordei.
— Isso mesmo — Yagami. Ele era realmente perturbado. Causou todo tipo de caos. Não foi ele que bateu no Komiya e nos outros naquela ilha deserta? Acho que também disse algo sobre Ayanokoji naquela época?
Enquanto Ibuki-san e eu relembrávamos de Yagami-kun, Kushida-san, que ouvia em silêncio até então, pareceu se enrijecer ao ouvir o nome dele.
Encurralado na sala do conselho estudantil por Nagumo-senpai, Ryuen-kun e os professores, Yagami-kun foi expulso por agredir alguém durante o exame da ilha deserta.
Naquele momento, tive a sensação de que alguém estava por trás de tudo aquilo. Uma suspeita silenciosa de que Ayanokoji-kun fora o verdadeiro mentor. Agora, aquela desconfiança enterrada começava a se agitar novamente.
— Amasawa apareceu no final, não foi? E aqueles adultos estranhos de terno preto também invadiram.
— Isso mesmo… acho que disseram que eram conhecidos de Yagami-kun e de Amasawa-san. Minha memória está um pouco vaga, mas tenho certeza de ter ouvido isso.
Yagami-kun e seu grupo haviam tramado para expulsar Ayanokoji-kun. Mas, ao que tudo indicava, Ayanokoji-kun havia virado o jogo, atraindo Yagami-kun para uma armadilha escondida em uma carta.
O único elo confirmado até agora é que Yagami-kun e Amasawa-san eram conectados. Mas qualquer ligação com Ayanokoji-kun ainda era incerta.
— Yagami, Amasawa e Ayanokoji… será que estudaram na mesma escola fundamental? Ou talvez já fossem conhecidos de longa data? Isso é bem possível. Tenta procurar também sobre Yagami e Amasawa.
— Já procurei. Sem resultados, infelizmente — respondeu Kushida-san, virando a tela do celular para nós.
Naquele instante, uma memória que eu nem percebia ter esquecido veio à tona.
— Espera. Pensando bem, Yagami-kun estudou na mesma escola fundamental que eu…
— Hã? Sério? Então não tem nada a ver com Ayanokoji… Por que não se lembrou disso antes?
— Dá pra me culpar? Eu nem o conhecia naquela época. Mas Kushida-san… você conhecia.
Kushida-san, que ouvira calada até então, colocou suavemente o celular sobre a mesa.
— Você estudou na mesma escola fundamental que eu. E conhecia Yagami-kun. Não é verdade, Kushida-san?
— Então a Idiota da Kushida é a culpada aqui. Desembucha logo.
— Yagami-kun… — murmurou Kushida, com a voz baixa e inescrutável. Em seguida, continuou, calma e sem hesitação.
— Bem, já que Ayanokoji-kun se transferiu de classe, não há mais motivo para manter isso em segredo. Então vou contar. Yagami-kun e eu nunca estudamos na mesma escola fundamental.
— Hã?!
— O quê? Espera aí — o que você quer dizer com isso? Isso está ficando muito confuso — explodiu Ibuki-san, com a voz carregada de frustração.
Senti a mesma desorientação me invadir. Eu me lembrava claramente: logo após os calouros entrarem no ano passado, Yagami-kun havia visitado as salas dos segundos anos, e ele e Kushida trocaram palavras que confirmavam terem sido colegas de escola. Não havia motivo para duvidar, e eu acreditei sem questionar. Agora, toda aquela premissa desmoronava diante de mim.
Kushida-san começou a explicar.
Os alunos daquela escola conheciam sua verdadeira natureza. Embora não tivesse lembrança de nenhum veterano chamado Yagami Takuya, ele claramente demonstrava sinais de que a conhecia.
Temendo que negar qualquer vínculo pudesse levá-lo a revelar seu passado, ela mentiu instintivamente, afirmando que eram da mesma escola, apenas para ganhar tempo e descobrir até onde Yagami-kun sabia sobre ela.
Mas o resultado foi pior do que poderia imaginar.
Yagami nunca tinha estudado na mesma escola que ela, e mesmo assim sabia de tudo sobre seu passado — até mesmo as verdades mais feias. Em troca de manter esses segredos enterrados, começou a exigir sua cooperação de diversas maneiras.
Aparentemente, Amasawa também estava envolvida nisso.
— E-Espera um pouco. Isso é informação demais para digerir. Eu sabia que Yagami-kun era inteligente, mas… ele realmente não era seu veterano?
— Foi logo depois que vi o OAA dos novos alunos, então o reconheci um pouco. A Habilidade Acadêmica dele era A, então me chamou a atenção. Seria problemático se um veterano da mesma escola viesse para cá, como aconteceu com a Horikita-san, certo? Então, quando tive acesso, conferi todos os rostos e nomes.
Ela confessou que usou esse detalhe sobre a nota acadêmica de Yagami-kun para fingir que eram conhecidos.
— Não sei até que ponto Horikita-san e os outros acreditaram — disse Kushida de repente, interrompendo —, mas posso afirmar com certeza: foi Ayanokoji-kun quem expulsou Yagami-kun.
Ela tocava justamente na questão que Ibuki-san e eu não conseguíamos responder de forma definitiva.
— Perguntei diretamente a Ayanokoji-kun depois que Yagami-kun foi expulso. Ele disse que só lidou com ele para me proteger, já que eu estava sendo usada. Aparentemente, eles não estudaram na mesma escola, mas se conheciam. O mesmo vale para Amasawa-san, ele disse que ela morava por perto.
— Você devia ter dito isso antes, Idiota.
— É um passado que mantive trancado, não é algo de que eu queira falar livremente — respondeu Kushida-san em voz baixa.
— Droga, pensar que alguém tão próximo tinha todas as respostas que procurávamos…
— Exatamente… entendo seus motivos, mas isso é realmente a definição de "esconder a verdade bem diante de nós" — acrescentei.
Era como se toda a estrutura que eu havia construído cuidadosamente em minha mente tivesse sido derrubada de uma só vez, estilhaçada por uma mão invisível.
— Ayanokoji-kun disse uma vez que conquistou o ódio deles — começou Kushida-san, relembrando a conversa o melhor que podia. — Acho que Amazawa-san o perdoou… talvez tudo não tenha passado de um mal-entendido que acabou resolvido. Mas Yagami-kun não. Pelo que me lembro, ele desenterrou meu passado como parte da vingança contra Ayanokoji-kun… ou pelo menos é assim que guardo na memória.
— Nunca imaginei que contaria essa história para mais alguém… mas nunca se sabe como as coisas acabam, não é?
Ela completou com um sorriso irônico, tomando um pequeno gole de água — talvez estivesse com a garganta seca depois de finalmente falar sobre uma verdade que havia mantido enterrada.
— Talvez eu tenha forçado você a lembrar de algo desagradável — comentei —, mas isso é uma revelação importante. Teremos que voltar e reorganizar tudo desde o início...
Kiyotaka Ayanokoji — uma pessoa cujo passado ainda permanece envolto em mistério. Agora era inegável que ele tinha alguma ligação tanto com Amasawa-san quanto com Yagami-kun, que também possuíam habilidades extraordinárias. Ser apenas conhecidos casuais parecia improvável. Em algum momento, ele havia conquistado o ressentimento deles.
— Ensino fundamental? Ou talvez até antes — infância?
Algo devia ter acontecido naquela época… E assim, comecei a reconstruir tudo do zero, peça por peça, em minha mente.
— Eu não sei muito sobre artes marciais — começou Kushida-san, hesitante. — Mas não existem dojôs de karatê ou judô famosos em todo o país? Não seria possível ele ter treinado em um lugar desses?
— Idiota. Esse não é o tipo de força que se consegue assim tão fácil, mesmo em um dojô renomado.
— Eu avisei que não entendia de artes marciais, não avisei? — rebateu Kushida-san, com um sorriso tenso. — Só porque não se encaixa no que você acredita, não te dá o direito de me atacar. Você só está se fazendo de tola. E pode parar de me chamar de "idiota" toda vez que abre a boca? Você e eu nem estamos na mesma liga em termos de notas, você nem teria como competir.
Kushida-san suspirou e acrescentou.
— Eu só estava oferecendo uma perspectiva, do ponto de vista de uma pessoa normal.
— Hmph. Qualquer um com bom senso deveria ao menos conhecer o básico de artes marciais — resmungou Ibuki-san.
— Pois é, mas isso não é exatamente o que eu chamaria de "bom senso" — retrucou Kushida, seca.
— Certo, parem de brigar — interrompi. — Mas é verdade, mesmo frequentar um dojô famoso não daria as habilidades que Ayanokoji-kun tem. Se for o caso, talvez tenha sido o contrário. Ele já tinha talento, foi descoberto por um dojô, e acabou se encontrando com eles por causa disso. Essa parece uma teoria mais plausível.
Minha mente voltou aos adultos que apareceram para levar Yagami-kun após o incidente na sala do conselho estudantil. Se estivessem ligados ao passado dele, a teia de conexões poderia começar a se revelar.
— Talvez eu devesse tentar conversar diretamente com Amasawa-san — pensei em voz alta.
— Você acha mesmo que aquela diabinha vai abrir a boca? — veio a resposta, carregada de sarcasmo.
— Pode ser que não... mas e vocês duas? — perguntei, olhando para ambas.
— Vou passar.
A primeira respondeu de forma curta, sem interesse.
— Se eu ver a cara da Amasawa, vou querer socar. Então não, não vou.
A outra declarou, a irritação estampada claramente.
Ambas rejeitaram a ideia quase ao mesmo tempo, sem um pingo de hesitação. E, para ser justo, tinham razão. Enfrentá-la sem pensar dificilmente nos levaria a algum lugar. Talvez fosse mais sensato esperar e apenas observar como as coisas se desenrolariam.
*
Ibuki-san, satisfeita com a refeição, foi a primeira a sair. Kushida-san a seguiu alguns minutos depois, calçando os sapatos na entrada. Imaginei que fosse sair sem sequer olhar para trás.
Mas—
— Obrigada pela refeição de hoje. Eu agradeço.
— Você ainda é melhor que algumas pessoas. Pelo menos sabe dizer "obrigada" direito.
— Não é como se fosse por sua causa — acrescentou Kushida, com um sorriso leve. — Para ser honesta, eu nem sinto vontade de agradecer ninguém. Acho que virou hábito. Tento sempre colocar as coisas em palavras, e acaba saindo sem eu perceber.
Ela disse isso de forma tão casual, como se até aquela cortesia fosse apenas um reflexo inconsciente.
— Entendo... Bem, independente de como você realmente se sente, palavras têm importância — murmurei.
Mesmo que sua gratidão não passasse de uma formalidade, me senti estranhamente satisfeita. Eu havia assumido que ela sairia imediatamente, mas por alguma razão, ela se virou para me encarar.
— Aliás, as coisas em relação ao exame especial estão indo bem? Já tem alguma ideia das regras?
— Estou reduzindo as possibilidades. Pretendo anunciar algumas diretrizes para a classe amanhã.
Esse tipo de conversa não seria possível com Ibuki-san, da classe rival, presente. Talvez por isso Kushida-san tivesse decidido ficar um pouco mais.
— Mesmo que seja só a Ibuki-san, tenha cuidado com ela.
— Sinceramente, nem havia necessidade. Fiquei atenta durante o jantar, achando que ela tentaria sondar algo sobre nossa estratégia para a prova. Mas ela nem pareceu considerar isso. Provavelmente nunca passou pela cabeça dela.
Não havia dúvida de que ela tinha vindo ao meu quarto apenas para comer. Ainda assim, Kushida fez questão de manter a conversa longe de qualquer assunto sensível, só para garantir. Essa discrição... eu realmente apreciava.
— Ainda não sabemos as regras. Você ainda pretende vencer esse exame especial?
— Me surpreendeu perguntar isso. É claro que pretendo. As mesmas condições valem para todas as classes.
— Mas a Classe C tem o Ayanokoji-kun.
Seus olhos afiados encontraram os meus, penetrando fundo, indo direto ao ponto sem hesitação. Senti como se minha resistência mental estivesse sendo testada outra vez.
— É estranho, não é? Quando entramos nessa escola, eu jamais imaginaria isso. Mas agora, só de ouvir o nome dele, meu corpo se contrai instintivamente... Tenho medo e, ao mesmo tempo, admiração. Nem consigo vê-lo como alguém que eu poderia derrotar.
Soltei um suspiro baixo, reconhecendo a verdade que já não podia esconder. Minha própria fraqueza me encarava.
— Mas ainda assim lutamos, acreditando que podemos vencer. Não é esse o mínimo que devemos fazer? — Perguntei.
— Talvez sim — respondeu Kushida, desviando os olhos por um instante.
— Achei que, ao alcançar a Classe A, finalmente poderia respirar, talvez até saborear a vitória por um tempo. Mas aqui estamos, correndo para sobreviver... como coelhos sendo caçados por leões. Se continuarmos perdendo assim, o fim não vai ser bonito.
Kushida, que sempre se orgulhou da imagem de aluna modelo, se importava profundamente com aparências. Ela nunca havia dito em voz alta, mas estar na Classe D certamente a corroía por dentro. Ela odiava ser qualquer coisa menos que perfeita. E então veio o exame especial de votação unânime — o dia em que seu verdadeiro eu foi exposto. Seu mundo mudou para sempre.
Agora, era forçada a trabalhar ao lado de pessoas que desprezava — eu inclusa. Era obrigada a continuar lutando, mesmo sangrando pelas feridas que já havia sofrido. A Classe A, posição que havia conquistado com tanto esforço, agora parecia escorregar de suas mãos. O estresse devia ser insuportável.
— De qualquer forma que se olhe, só a Horikita-san não vai ser suficiente.
— Eu... não posso negar isso, mesmo que quisesse — admiti, sem argumentos.
— Enfim, se encontrar alguma pista para o exame especial, me avise. Eu vou pensar a respeito à minha maneira.
— Claro — respondi com um aceno. Então, após uma breve pausa, seu tom mudou.
Mesmo desabafando sem reservas, Kushida ainda mostrava uma surpreendente disposição em ajudar.
— Não esperava que você oferecesse apoio — falei, com sinceridade. — Acho que você realmente tem um lado gentil.
Eu quis que soasse como um elogio, mas ela apenas soltou um pequeno sopro pelo nariz. Seu sorriso permaneceu, mas os olhos estavam estranhamente imóveis.
— Eu só amo a versão de mim mesma que finge ser gentil. Sei muito bem que tenho uma péssima personalidade. É por isso que consigo agir como um anjo até com alguém como a Horikita-san. Enfim... espero que você não seja apenas uma tempestade em copo d’água.
Com uma risadinha despreocupada, ela abriu a porta e saiu.
— Então é assim — murmurei. — Parece que ainda não sei ler as pessoas direito.
Mas não me decepcionei. Pelo contrário, fiquei impressionada. Kushida havia me mostrado um jeito de viver — moldado meticulosamente em torno de sua imagem, como se sua performance fosse sua própria realidade.
E muito depois de ela ter partido, suas últimas palavras ecoavam em minha mente.
"Espero que você não seja apenas uma tempestade em copo d’água."
— Eu também espero isso — respondi baixinho.
Quando a porta se fechou, soltei um suspiro e voltei para a sala de estar. Um novo exame especial começaria amanhã. Mas hoje ainda tinha suas próprias responsabilidades, então o descanso teria que esperar.
— Bom... melhor eu limpar isso aqui.
Reprimindo a leve sensação de preguiça, voltei meu olhar para a mesa. Kushida, como sempre, havia comido com elegância e cuidado. Mas quem me surpreendeu foi Ibuki.
Embora seja comum deixar alguns grãos de arroz, ela havia comido tudo, sem deixar um único vestígio. Isso, por si só, era louvável.
Dito isso...
— É a única coisa que dá pra elogiar. O resto foi um desastre.
Sopa de missô derramada e restos de comida espalhados não só pela mesa, mas até pelo assento onde estava sentada. A saia do uniforme provavelmente estava manchada também. Eu só queria que ela tivesse pelo menos um pouco de consciência de que seus modos estavam sempre sendo observados—
Assim que estendi a mão, congelei. Um pensamento súbito me veio à mente.
— Entendo... Esse tipo de possibilidade é totalmente plausível...
Uma prova especial de uma semana imposta pela escola… sem explicação das regras.
Ela estaria falando da semana que passou ou da que ainda estava por vir? Eu ainda não tinha a resposta. Essa incerteza certamente pairava sobre todas as turmas, deixando todos igualmente perdidos em pensamentos.
— As chances não são baixas — murmurei.
O tom de voz de Chabashira-sensei, suas ações, sua própria postura—
E se tudo isso fosse apenas uma forma de nos dar uma pista? Uma mensagem desesperada, mas sutil, destinada apenas a nós? Como se quisesse ver se havíamos crescido desde o nosso primeiro dia aqui.
Aquelas palavras frias dela— não eram apenas advertências. Eram seus verdadeiros sentimentos, nascidos de ter presenciado o quão imaturos éramos antes.
Se os pensamentos que emergiram em minha mente estiverem corretos, tenho que agir hoje — sem demora. Especialmente porque, se aquela pessoa poderá ou não ser contida até amanhã… decidirá tudo.
*
Já passava das oito da noite quando saí apressada do meu quarto e desci pelo elevador. Diante da porta de Sudo-kun, respirei fundo, acalmei meu coração acelerado e bati de leve.
Momentos depois, ouvi passos apressados vindos de dentro, seguidos de a porta se abrindo com um puxão um tanto brusco.
— Mas que… quem diabos tá batendo a essa hora...?
Lá estava Sudo-kun, ainda com o uniforme escolar, apenas sem o blazer. Usava óculos, uma visão rara, que lhe dava uma aparência inesperadamente fresca.
— Desculpe aparecer sem avisar — disse eu. — Só preciso conversar com você por um instante.
— S-S-Suzune?! O-O que você tá fazendo aqui— n-não que seja um problema ou algo assim!
Ele se atrapalhou, gesticulando em pânico, e percebi que segurava com força uma lapiseira.
— Hã? Horikita-san? — Por trás de um confuso Sudo-kun, uma voz familiar soou, e Onodera espiou pela porta.
Meus olhos foram instintivamente para a entrada. Dois pares de sapatos estavam alinhados ali— o suficiente para levantar, pelo menos, uma pontinha de suspeita.
— Vim em má hora?
— Nah! Você não tá atrapalhando nada! — Sudo disparou, aflito. — A gente só tava estudando, só isso!
— Estudando?
De fato, ele usava óculos e segurava uma lapiseira. Ambos ainda estavam com o uniforme. Do ponto de vista de uma presidente do conselho estudantil, não havia nada a criticar.
— Bem... é que — continuou ele, sem jeito —, esse negócio da prova especial... disseram que não precisava estudar ainda, mas se for uma prova escrita, tamo ferrados, né? Então resolvi me preparar um pouco. Só por precaução.
Eu nem tinha anunciado a estratégia para amanhã, mas ele já havia tomado a iniciativa de se preparar. Ninguém teria esperado isso dele quando entrou na escola.
— Isso é admirável, mas leve Onodera-san de volta ao dormitório antes do toque de recolher, certo?
— Óbvio que vou! Mas sério, o que você tá fazendo aqui sem avisar?
Ele tentou empurrar Onodera de volta para a sala de estar com um aceno, mas eu o detive. Já que havia outra pessoa presente, seria mais prático explicar de uma vez, em vez de repetir depois.
— Posso entrar só um instante? Prefiro que isso não seja ouvido por alunos de outras turmas.
— Ah… sim, claro.
Entrei no corredor e fechei a porta silenciosamente. Então, voltando-me para Onodera, que me observava curiosa, fiz sinal para que se aproximasse.
— Sobre a prova especial que começa amanhã... não posso ter certeza, mas tenho uma teoria de como ela pode funcionar.
Baixando um pouco a voz, comecei a explicar para os dois.
— Sério? Que tipo de regras você acha que vai ter? — Perguntou Onodera, estreitando os olhos de curiosidade.
— Chabashira-sensei não pareceu mais fria que o normal ao anunciar? — respondi.
— Sim, o Kanji e os outros estavam reclamando disso. Ficaram tentando arrumar mil motivos pro jeito dela.
— Mas não acho que foi estresse ou cansaço. Acredito... que ela agiu friamente de propósito.
— Hã, de propósito? Pra quê? Não ia acabar sendo odiada?
— Interpretei isso como uma pista sutil. Acho que ela quis nos lembrar de quando entramos aqui.
— Você quer dizer no primeiro ano? É, naquela época ela era bem fria mesmo — disse Sudo, trocando um olhar rápido com Onodera. Ambos buscaram na memória por alguns instantes e depois assentiram.
— Lembram qual foi a nossa primeira prova especial quando estávamos na Classe 1-D?
— Hmm? Não foi aquele teste da ilha deserta? — murmurou Onodera, avançando para o lado de Sudo.
— Onodera está tecnicamente certa. Mas houve uma certa prova de um mês logo após a matrícula, uma em que as regras não foram explicadas. Aquilo foi o começo de tudo, o motivo de termos sofrido durante dois anos inteiros.
Assim que terminei, os olhos de Sudo brilharam em compreensão, e Onodera logo o acompanhou.
— Ah, é mesmo! Era coisa como chegar atrasado, faltar aula, se comportar mal... Eles estavam observando tudo isso, e a gente acabou perdendo todos os pontos da classe, né?
Foi uma surpresa da escola nos dar, de início, pontos equivalentes a cem mil ienes por mês. Éramos apenas calouros deslumbrados com tamanha generosidade. Assim, sem nunca questionar a real intenção, desperdiçamos. Atrasos, conversas na aula, coisas que julgávamos inofensivas. Os professores nunca nos repreendiam. Apenas observavam em silêncio.
E a Classe D, alheia à armadilha sob seus pés, se deleitava na ilusão de privilégios.
O preço foi alto — e levou diretamente aos dois anos árduos que acabei de mencionar.
— Então é a mesma prova de novo, hein? — murmurou Sudo, franzindo o cenho. — Pensando bem, ela falou algo sobre mostrar o quanto a gente cresceu... Será que era um jeito de dizer pra não repetir os mesmos erros?
Ele havia prestado atenção nas palavras de Chabashira e, agora, juntando as peças por conta própria, começava a entender.
— Foi assim que interpretei — confirmei. — Por isso acredito que esta possa ser outra prova especial, com regras semelhantes.
— Parece razoável — comentou Onodera, com expressão de entendimento. — Ou melhor, dito assim, parece até a única conclusão lógica.
— Claro, ainda há a chance de ser um teste completamente diferente, com regras sem relação. Não podemos ignorar isso. Mas, mesmo assim, nos esforçamos tanto na última prova especial que já há uma frustração perceptível na turma. Não há garantia de que vamos manter bons resultados desse jeito.
Poucos são os alunos que conseguem manter a motivação como esses dois.
— Pra ser sincera, essa estratégia de se preparar para as duas possibilidades não combina com a nossa turma.
— É bem mais fácil quando dá pra focar em só uma coisa.
— Claro, é um risco — continuei. — Se no dia disserem que é uma prova escrita, podemos estar totalmente ferrados. Mas, ainda assim...
— Não sei o que o Sudo pensa, mas eu meio que quero seguir o plano da Horikita. Estudar não é ruim, mas quando você força demais, perde eficiência. Uma estratégia simples e direta talvez seja o jeito mais eficaz da turma vencer. É o que eu acho.
— Sim. Pretendo compartilhar isso com a classe hoje e fazer todos adotarem uma vida regrada e disciplinada a partir de amanhã. Um único atraso pode ser a diferença entre vitória e derrota.
As turmas de Ayanokoji-kun e Ichinose-san são formadas por alunos-modelo. Naturalmente, eles mantêm um padrão elevado— sem atrasos, sem faltas, mesmo sem esforço consciente.
Para nós, um único deslize inicial pode ser fatal.
— Então temos que garantir que isso não vaze. Se o Kanji e os outros deixarem escapar sem querer, vamos levar um golpe sério.
— Exato. Conseguir vantagem no primeiro dia é um fator crucial.
Independentemente das outras turmas, não há como Ayanokoji-kun não ter previsto isso. A Classe C quase certamente já considerou esse cenário. E, como Karuizawa teme, essa informação pode muito bem já ter chegado à Classe D também...
— Ayanokoji talvez já tenha percebido tudo.
Mesmo sem eu dizer em voz alta, parecia que Sudo-kun havia chegado à mesma conclusão. Isso, por si só, era prova suficiente de que ele entendia o quão formidável Ayanokoji-kun realmente era.
— Ainda assim, não podemos ter certeza quanto às outras classes. Você vai cooperar comigo?
— Sim — ele assentiu, batendo no peito com um estrondo seco e ficando ereto. — Tenho uma boa ideia de como fazer aqueles caras seguirem as regras e manterem a boca fechada.
A confiança dele era estranhamente reconfortante.
— Mas só manter o Ike-kun e os outros sob controle não vai bastar — falei, deixando meu tom mais sério. — Existe um problema maior... um obstáculo central em nossa classe.
— Um obstáculo...? Ah, já sei. É por isso que você veio aqui, não é, Suzune? — Sudo-kun percebeu rapidamente.
A mesma imagem surgiu na mente dele e na de Onodera-san: um certo encrenqueiro que não escutava ninguém.
— Ele não é do tipo que falta às aulas ou chega atrasado sem motivo. Mas no que diz respeito a como se comporta em sala ou leva a vida... é um problema ambulante. Se ele cometer um deslize, mesmo que único, nossas chances de vitória caem a zero.
Para sobreviver a esse exame especial, conquistar a cooperação dele não era apenas importante — era absolutamente essencial.
— Mas não é impossível? Fazer aquele cara seguir instruções?
— Pedir diretamente não vai funcionar — admiti. — Mas tenho um plano. É por isso que pensei em visitar o quarto do Koenji-kun. Só que nunca estive lá antes. Então gostaria que alguém da nossa classe fosse comigo, por precaução.
— Ir ao quarto do Koenji agora? Isso é definitivamente perigoso — respondeu Sudo-kun. — Se aquele cara surtar, nem eu vou conseguir contê-lo facilmente. Você tem razão em não ir sozinha.
Não era exatamente isso que me preocupava, mas… Não senti vontade de discutir essa linha de raciocínio estranha, então deixei passar.
— Então, tudo bem se eu "pegar emprestado" o Sudo-kun por um tempo? — Perguntei. — Prometo devolvê-lo em dez, no máximo vinte minutos.
— Por mim tudo bem. Vão lá fazer o que precisam, eu espero aqui — Onodera-san concordou sem hesitar.
*
Chegamos finalmente ao quarto de Koenji-kun, e, sem hesitar, Sudo-kun tomou a dianteira, batendo com firmeza na porta. Nenhuma resposta veio do outro lado.
— Será que ele ainda não voltou...? — murmurei.
Eu tinha assumido que ele estaria em seu quarto a essa hora. Talvez tivesse sido otimista demais.
— Vai saber — resmungou Sudo-kun. — Esse cara é do tipo que ignora qualquer coisa irritante. Não me surpreenderia se estivesse fingindo que não está.
Dizendo isso, ele bateu repetidamente na porta com certa força. O fato de conseguir fazer coisas que eu hesitaria sem pensar duas vezes era realmente útil. Depois de alguns segundos com as batidas ecoando pelo corredor silencioso, a porta finalmente rangeu e se abriu.
— Yo, Koenji. Sabia que você estava aí — disse Sudo-kun com um sorriso de canto.
— Ora, ora. Eu me perguntava que tipo de idiota poderia ser, mas no fim das contas era apenas um colega de classe — respondeu Koenji-kun com sua habitual extravagância.
— Desculpe incomodar tão tarde — falei, avançando. — Tenho um simples favor a pedir.
— Se queria um encontro comigo, não teria sido mais fácil ligar? — retrucou ele, com a arrogância habitual na voz.
— Não havia garantia de que eu conseguiria contato por telefone, e eu não podia arriscar esperar até amanhã. Além disso, achei que você não me ouviria a menos que fosse pessoalmente. É sobre o exame especial.
— Ah, então é isso. Ainda agarrada a esperanças, não é, Horikita-girl? — disse, com diversão zombeteira nos olhos. — Pensei que nossa conversa mais cedo já teria bastado para você entender o seu lugar.
— Você não precisa participar das discussões, nem carregar o fardo da classe sozinho. Mas... e se este pedido trouxer benefícios pessoais para você? Não valeria a pena ao menos escutar? — mantive o tom firme, mas controlado. — Se apenas ouvir, prometo que não será um mau negócio.
Eu não gostava da ideia de ficar balançando cenouras diante de um cavalo que se recusava a andar. Mas não podia dizer isso em voz alta.
— Hmm. Nesse caso, suponho que ouvirei um pouco — disse ele.
Antes mesmo que respondêssemos, abriu a porta de par em par.
— Seria difícil conversar se nossas vozes se espalhassem pelo corredor, não acha? — acrescentou, como se já tivesse deduzido algo a partir da menção ao exame especial. Sem hesitar, nos convidou a entrar.
— Nunca pensei que veria o dia em que entraria no seu quarto — murmurou Sudo-kun, meio incrédulo.
— Fufufu. Regozije-se, Cabelo Vermelho-kun — disse Koenji-kun com uma risada teatral. — Você é o primeiro homem a pôr os pés no meu quarto.
— Nem um pouco feliz com isso... — resmungou Sudo-kun, fazendo até um gesto de ânsia falsa. Depois, de braços cruzados e expressão séria demais, deu meio passo à frente, como se fosse conduzir uma negociação dramática.
— Muito bem, vamos ouvir o que tem a dizer. Imagino que seja algo que vá me beneficiar?
— Sim — respondi calmamente. — A partir de amanhã, quero que vá à escola como deve, sem faltar nem se atrasar. E sem conversar asneiras durante as aulas.
A sobrancelha dele se contraiu, mas continuei.
— Além disso, quero que corrija sua postura em sala, mantenha as mãos quietas e pare de causar problemas em lugares como o Keyaki Mall. Apenas por uma semana.
Claro, aquilo era apenas um pedido, e eu sabia muito bem que não teria peso algum para alguém como Koenji-kun. Ele jamais aceitaria apenas por boa vontade. Por isso, não perdi tempo e passei ao ponto que realmente importava:
O que seria vantajoso para ele.
— Assim como para os outros colegas, se você passar uma semana inteira sem causar nenhum problema, eu lhe darei duzentos mil pontos privados.
Era praticamente duzentos mil ienes apenas por se comportar durante sete dias. Sem dúvida, uma recompensa absurda.
Sudo-kun me lançou um olhar que dizia claramente: Isso não é exagerado demais? Mas qualquer coisa menor não teria efeito em alguém como Koenji-kun. Ele precisava de um prêmio de impacto. Na verdade, se ele começasse a reclamar que não era suficiente, eu já estava preparada para subir a oferta para trezentos mil.
— Então, Horikita-girl acredita que manter a disciplina é a verdadeira regra deste exame? — Perguntou ele, com aquele sorriso teatral no rosto.
— Sim — respondi sem hesitar.
— Que coincidência, cheguei à mesma conclusão.
— Isso é realmente uma coincidência — disse, estreitando os olhos. — Se importa de me dizer como chegou a essa conclusão?
— Provavelmente do mesmo jeito que você. Pela atitude da professora.
Ao contrário de mim, que só percebi momentos atrás, Koenji-kun talvez já tivesse enxergado isso muito antes. Tive vontade de perguntar detalhes, mas me contive.
— Contudo — prosseguiu ele —, o mundo é cheio de surpresas. Do jeito que as coisas estão, há uns 70% de chance de que este exame seja para testar nossa disciplina.
Então, sorriu maliciosamente.
— Ainda assim, se acabar sendo algo completamente diferente, ou se vocês perderem por motivos que não têm nada a ver comigo, ainda assim esperarei receber o valor integral dos pontos privados. Concorda?
— O quê!? Isso é ridículo! — exclamou Sudo-kun.
— Não existe nada mais caro do que aquilo que é de graça — disse Koenji-kun, com um sorriso de escárnio. — Se não aceitarem esses termos, temo que não poderei ajudar em nada.
— Já imaginei que diria isso — respondi com calma. — Estou disposta a aceitar sua condição, mas espero que evite qualquer comportamento que resulte na perda de sequer um único ponto.
Uma risada traiçoeira escapou de seus lábios.
— Fufufu. Então temos um acordo. Durante a próxima semana, venderei minha disciplina... pelo generoso preço de 500 mil pontos privados.
— Esse preço é realmente alto. Não acredito que esteja falando sério em negociar por essa quantia.
— Isto sou eu sendo generoso, sabia? — disse ele, abrindo um sorriso. — Não poder usar um espelhinho em sala para checar minha franja... é uma tortura para alguém como eu, que vive em busca da beleza. Além disso, não sou do tipo que gosta de dançar em volta das intenções dos outros. Prefiro fechar o negócio de uma vez.
Aquele único comentário deixou claro: ele tinha me visto por inteiro. Sabia que eu não tinha estabelecido um teto de duzentos mil pontos. Assim como depois da aula, ele não perdia a chance de atacar onde mais doía.
— Agora você está forçando a barra. Acha que só porque tem vantagem pode exigir absurdos—
Segurei Sudo-kun, que parecia prestes a avançar, e o cortei no meio da frase.
— Confio que entende que impor sua lógica egocêntrica sobre os outros é igualmente irracional, certo?
— Naturalmente — respondeu com um suspiro exagerado. — Mas devo dizer, a visão das minhas belas pernas cruzadas sobre a carteira fará falta a partir de amanhã. Uma tragédia, de fato... mas inevitável.
— Tem certeza disso, Suzune? Quinhentos mil pontos privados é só—
— O acordo está fechado — interrompi friamente. — E nem uma palavra deste contrato deve sair deste quarto.
Isso era um risco. Assim como Koenji-kun apontou, não há garantia de que seguir as regras da escola faça parte dos critérios do exame especial. Se a chance é de 70%, isso já é o melhor que podemos esperar. Mas, agora, preciso agir com a convicção de que posso inclinar a probabilidade a nosso favor. Sem a determinação de assumir esse nível de risco, nunca estaremos à frente das outras turmas.
Mais do que tudo, o Koenji à minha frente jamais cederia por algo comum. Se eu tivesse pedido algo que apenas ele pudesse fazer, como tirar a nota máxima em um teste ou dominar nos esportes, nem teria assento à mesa de negociação. Mas, desta vez, é o oposto: tudo o que quero… é que ele não faça nada.
Embora fosse caro, ao menos ele aceitou minha proposta.
— Então, você já pode ir. Ainda tenho uma longa noite pela frente. Ou… — Ele sorriu, virando-se para mim. — Talvez, Horikita-girl queira me acompanhar nesta noite? Prometo que você não vai se arrepender.
— Você só pode estar brincando! Vamos, Suzune — Sudo-kun explodiu, agarrando meu braço. Sem dar ao homem mais um segundo de atenção, ele me puxou para o corredor.
— Maldito… dizendo coisas tão ridículas — murmurou ele baixinho enquanto esperávamos pelo elevador.
— É só uma piada boba, não se preocupe. Além disso, as negociações correram bem.
— Mas mesmo assim, 500.000 pontos por não fazer nada é exagero, não acha?
— Se os outros alunos soubessem disso, sem dúvida fariam reclamações — disse calmamente, logo depois tranquilizando-o. — Mas não se preocupe. Não tenho intenção de fazer ninguém mais na turma arcar com o custo desses pontos privados.
— Não era isso que eu quis dizer… — Sudo-kun respondeu, coçando a cabeça de forma desconfortável. — Mesmo que seja tudo por sua conta, ainda haverá pessoas que não vão gostar dessa proposta se souberem, sabe?
— Você tem razão — admiti, assentindo. — Por isso mesmo pedi que você viesse comigo. Confio em você, Sudo-kun, não vai contar a ninguém sobre essa negociação, vai?
Embora eu nunca tenha dito diretamente, a mensagem era clara: isso devia permanecer estritamente confidencial. Sudo-kun pareceu momentaneamente confuso, mas ao estender a mão para o botão de chamada do elevador, me deu um firme aceno.
— B-Bem… se você está pedindo para eu ficar quieto, então não vou contar a ninguém.
— Obrigada. Ah, descer está bom.
Antes que seu braço lentamente apertasse o botão, eu estendi a mão e pressionei o botão de descer.
— Vou pelas escadas. De qualquer forma, obrigada novamente por me ajudar com tão pouco hoje. Boa noite.
Com essas palavras de gratidão, virei nos calcanhares e me dirigi à saída de emergência.
— Suzune!
Sua voz me chamou.
— O que foi?
— Eu… eu, hum…
Será que ele não tinha pensado no que dizer, ou simplesmente não conseguia encontrar as palavras? Inclinei ligeiramente a cabeça diante de seu comportamento nervoso enquanto ele engasgava com as palavras.
— Se tem algo a dizer, fale. Não gostou da forma como conduzi as coisas?
— Não, não é isso. Não era isso que eu queria dizer… — disse ele, lutando para se expressar. — Eu… talvez eu não consiga substituir o Ayanokoji, mas mesmo assim…
Ayanokoji-kun. Ouvir aquele nome fez meus olhos se arregalarem de surpresa.
— Eu não sou tão forte, nem tão inteligente quanto aquele cara… mas, mesmo assim, estarei sempre ao seu lado, Suzune. Então, sempre que estiver em apuros, confie em mim, como fez hoje.
Com os olhos cheios de determinação, Sudo-kun olhou diretamente para mim e disse aquelas palavras.
— Você causou bastante problema para a turma no nosso primeiro ano. Então, no próximo ano, espero que faça a sua parte até o fim.
— Ugh…
Diante da minha resposta direta e inflexível, Sudo-kun soltou um sorriso tenso, talvez até começando a suar frio.
— O elevador chegou. Mande lembranças para Onodera-san — disse.
— Ah— sim. Bem… até amanhã — respondeu ele, constrangido.
— Mm. Até amanhã.
Observei Sudo-kun entrar no elevador, depois virei e segui em direção à escada de emergência.
— Obrigada, Sudo-kun. Ouvir isso de você me deixou muito feliz.
Não consegui dizer essas palavras em voz alta. Ainda não. Porque não podia ignorar o calor que crescia em meu peito. Tenho pessoas ao meu lado. Colegas de turma em quem posso confiar. Mesmo que Ayanokoji-kun se vá, não posso me permitir permanecer na desesperança para sempre. Preciso encontrar uma maneira, custe o que custar, de corresponder àqueles que continuam me apoiando.
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