Classroom of The Elite Japonesa

Autor(a): Shougo Kinugasa


Volume 2

Capítulo 1: Misturando-se

DOMINGO DE MANHÃ. Espiando pela janela do meu quarto, percebi que, infelizmente, seria um daqueles dias em que a chuva cairia da manhã até a noite. Não chegava a ser um temporal, mas era o tipo de tempo suficiente para deixar qualquer um relutante em sair, mesmo com um guarda-chuva.

Quando já passava das dez, terminei de me arrumar e peguei um único guarda-chuva antes de descer para o saguão do dormitório. Ao entrar no elevador, notei que o chão estava molhado — sinal de que os alunos já iam e vinham desde cedo.

— Yo, bom dia.

Assim que o elevador chegou ao térreo e as portas se abriram, um estudante de moletom com capuz, que estava perto da entrada, virou-se, levantou a mão e me cumprimentou. Era meu colega de classe, Yoshida.

— Bom dia.

Depois da breve troca de cumprimentos, Yoshida logo desviou o olhar para o sofá.

— Shimazaki desceu há pouco também — disse ele.

Como se tivesse ouvido, Shimazaki se levantou e retirou um único fone de ouvido branco sem fio da orelha direita. Guardou-o num pequeno estojo que tirou da mochila — provavelmente feito especificamente para aqueles fones.

— O que você estava ouvindo? — Acompanhando Yoshida, aproximei-me de Shimazaki e perguntei.

— Treino de listening em inglês para o vestibular. Eu, pessoalmente, não sou exatamente bom em inglês, então quero aproveitar cada minuto livre que tiver.

Parecia que ele não queria desperdiçar nem o menor instante enquanto esperava pelos colegas.

— Hã? Você é ruim em inglês? Não tira notas melhores que eu? — Yoshida olhou para o teto e resmungou, como se tentasse lembrar os resultados das provas anteriores.

— Comparar-me com você não significa nada. Na verdade, é a minha pior matéria.

— É, tá bom… mal aí pela comparação então.

Apesar de parecer um pouco contrariado, Yoshida se desculpou.

Shimazaki tinha capacidade acadêmica e notas suficientes para se manter naturalmente entre os melhores do ano, mas provavelmente era justamente por estar ciente das próprias fraquezas — e trabalhar nelas com diligência — que alcançava tais resultados.

Como alunos do terceiro ano com o vestibular se aproximando, esse nível de consciência era exatamente o que se esperaria de ex-alunos da Classe A.

— Achei que fosse um comentário sarcástico, mas você não ficou irritado? — perguntei, surpreso. Eu tinha a impressão de que Yoshida era um pouco esquentado, mas ele não pareceu se incomodar com a fala de Shimazaki.

— Ah, me incomoda um pouco, mas esse cara só estuda e nada mais. Eu não sou tão apaixonado por estudo assim, e é fato que existe um abismo entre nós.

Foi assim que Yoshida respondeu, mas talvez fosse apenas porque os dois eram bons amigos.

— Sério mesmo, você não tem feito nada além de estudar ultimamente?

— Será? Eu garanto pelo menos cinco horas por dia para isso, mas só isso.

Essas cinco horas, é claro, não incluíam as aulas da escola. Eu não sabia quanto tempo, em média, um estudante de terceiro ano dedicava ao auto estudo, mas certamente não era pouco. Yoshida fez um gesto dramático com as mãos, como se dissesse que jamais conseguiria estudar tanto.

— O direito dado aos formandos da Classe A é só uma carta na manga. Fazer isso é o mínimo se você quer entrar numa boa universidade, e não sou só eu quem pensa assim. Hoje à noite vou pro cursinho no Keyaki Mall também.

— Sério? Quanto você vai estudar ainda…?

Pensando bem, havia mesmo um cursinho no Keyaki Mall administrado pela própria Advanced Nurturing High School. Eu nunca tinha passado por lá — era um lugar irrelevante para mim. Ouvi dizer que, mesmo sem pontos privados, era possível frequentar gratuitamente se atendesse a certas condições, como não ter problemas de conduta e ter um objetivo claro para o futuro, como uma universidade específica em mente.

— Cursinho, né… Quantos alunos realmente vão lá? — perguntei a Shimazaki, apenas por curiosidade.

Por algum motivo, ele me lançou um leve olhar de reprovação.

— Você não sabe? Só no terceiro ano, temos 20 alunos até agora. Mesmo assim, comparado às escolas normais, é uma porcentagem baixa. Provavelmente vai aumentar conforme o verão se aproximar.

Então era esse o número de alunos que já estavam se preparando para o vestibular.

— Não é como se suas notas fossem ruins, mas você não acha que deveria pelo menos aparecer lá? — disse Shimazaki, tentando encorajar Yoshida.

Comparado a Shimazaki, Yoshida era certamente inferior, mas ainda tinha alto desempenho acadêmico. Se ele pensasse em seguir para a universidade, não seria estranho começar a frequentar. A recomendação de Shimazaki provavelmente tinha boas intenções, mas Yoshida recusou na hora.

— Nem pensar, nem pensar. Eu tô de boa com uma universidade mais ou menos, só que decente. Não aguento ficar trancado estudando até nos meus dias de folga, quando era pra eu estar saindo com os amigos. É sufocante, sabe? Ficar só estudando.

Ele disse isso, lançando um olhar para Shimazaki, que sempre estudava com tanta seriedade.

— Se é assim, tudo bem. Não tenho intenção de forçar você a estudar. É justamente por isso que, enquanto não atrapalhar ninguém, eu faço o que quero, quando e onde quiser.

A testa de Shimazaki se franziu enquanto ele encarava Yoshida, talvez achando que sua atitude diante dos estudos era negligente.

— C-Claro, é sua escolha. Não precisa ficar bravo.

Yoshida levantou as mãos abertas e se desculpou rapidamente.

— Cof, cof… Enfim, qual é o motivo de ter chamado eu e o Ayanokoji no nosso dia de folga? — perguntou Yoshida, limpando a garganta como quem queria mudar de assunto. Era um dia precioso de descanso, que Shimazaki normalmente passaria estudando sozinho. Natural se perguntar por que ele nos chamaria.

— Pra ser honesto, meu assunto é só com o Ayanokoji, mas não temos intimidade suficiente pra sair ou conversar a sós. Achei que as coisas fluiriam melhor se você viesse junto.

Então Yoshida não estava realmente envolvido no motivo principal do encontro. Mas, com a palavra "consultar" entrando na conversa, o verdadeiro objetivo do convite de Shimazaki começava a ficar claro.

— Ah, entendi. Bom, eu sou do tipo que vive sendo chamado para ajudar — disse Yoshida, semicerrando os olhos com um sorriso divertido, como se fingisse estar incomodado. — De qualquer forma, já que pediu, eu coopero. Ayanokoji, dá um bom conselho pro Shimazaki.

Ele acrescentou isso, apoiando casualmente a mão no meu ombro.

— Depende do assunto da consulta. Sobre o que exatamente queria falar comigo?

Como o próprio Shimazaki disse, minha relação com ele não era próxima; havia uma certa distância entre nós. Devia haver um motivo claro para ele se dar ao trabalho de me chamar. Outra coisa que me incomodava era o fato de ele ter pedido que eu levasse um guarda-chuva.

Se fosse apenas uma conversa, não haveria necessidade de sair num dia chuvoso — poderíamos ter conversado no quarto de alguém. Shimazaki olhou em volta rapidamente antes de me encarar diretamente.

— Hoje, eu vou fazer você confessar todos os seus segredos.

— Segredos?

— Falar aqui não vai adiantar. Por enquanto, você vai entender se me seguir.

Dizendo isso, saiu do saguão, abriu o guarda-chuva imediatamente e começou a andar num passo rápido.

— Mas que raios? Onde será que ele vai? — disse Yoshida, estreitando os olhos para acompanhar o olhar.

— Quem sabe. Ele mencionou o Keyaki Mall, mas…

Depois de trocar um rápido olhar, seguimos atrás de Shimazaki.

*

 

Andando à nossa frente, Shimazaki seguiu direto para o Keyaki Mall. Ao chegarmos à entrada, ele colocou o guarda-chuva no dispensador de sacos plásticos. Após um leve "clique", puxou-o de volta, agora protegido pelo saco. Fizemos o mesmo e entramos logo atrás dele. Quando chegamos em frente a uma livraria, ele finalmente se virou para nós.

— Uma livraria? Vamos fazer um desvio?

Sem responder ao murmúrio de Yoshida, Shimazaki entrou na loja e foi direto para a seção guias de estudo, abarrotada de livros preparatórios e de referência acadêmica.

— É aqui que eu queria te trazer, Ayanokoji — disse ele com firmeza. Não era apenas um pequeno desvio; este era, aparentemente, o destino final.

— Quero que me diga quais livros de referência você costuma usar e como é a sua rotina de estudos.

Ao ouvir essas palavras, finalmente comecei a entender a natureza da consulta de Shimazaki.

— Então é sobre isso.

— Vendo os resultados do último exame especial, eu entendo que você está em um nível mais alto que o meu. Não espero te alcançar da noite pro dia. Mas isso não significa que eu vá parar de tentar te alcançar.

O olhar que ele me lançou quando falamos sobre o cursinho provavelmente veio de um senso inconsciente de rivalidade. Ele queria adotar um estilo de estudo mais eficiente para chegar, pelo menos um pouco, mais perto da minha capacidade acadêmica. Sua determinação ficava clara.

— Vai, ajuda ele aí, Ayanokoji — incentivou Yoshida, me cutucando.

Agindo como intermediário, ele me pressionou, mas eu não abri a boca. Ou melhor, seria mais correto dizer que eu não podia. Eu estava disposto a atender ao pedido, mas não tinha a resposta que ele procurava. Enquanto a maioria dos estudantes do ensino médio estava, agora, aprendendo assuntos novos, eu já havia concluído esse processo na infância. O estudo que eu fazia atualmente não era aprendizado, mas revisão completa, e por isso eu não podia dar a resposta que ele esperava.

— Ei, Ayanokoji… — começou Yoshida.

— Tudo bem, Yoshida. Como eu imaginava, ele provavelmente não quer me ensinar tão fácil assim — disse Shimazaki, franzindo o cenho diante do meu silêncio. — É um método de estudo que você desenvolveu sozinho. Não espero que me ensine de graça. Se for preciso, posso pagar com pontos privados ou, se houver algo que você queira…

Interrompi Shimazaki, que já tentava iniciar uma negociação para descobrir meu segredo.

— Se a consulta de hoje fosse um problema que eu pudesse resolver, eu teria cooperado de bom grado.

"Teria cooperado", é? Então é segredo profissional quando o assunto é estudo? Ou você quer uma recompensa maior?

— Não, não preciso de recompensa. Se a capacidade acadêmica do Shimazaki melhorar, isso naturalmente vai contribuir para elevar o nível geral da classe. Essa será a minha recompensa. Além disso, não é como se eu fosse ter problemas, não importa o quanto você melhore suas notas no futuro.

Tentei explicar da forma mais compreensível possível, mas sabia que não seria fácil.

— Entendo. Em parte, consigo entender a lógica. Mas o motivo pelo qual você ainda parece não querer me ensinar… É porque quer evitar que eu te alcance a qualquer custo?

— Não é isso. Se você acha que estou tentando proteger a todo custo o meu primeiro lugar, está enganado. Não tenho interesse em ostentar ou me apegar à posição de número um.

Nesta escola, certamente existem alunos melhores que eu em diversas áreas. Eu quero que eles existam — eles precisam existir. Se alguém conseguir me superar no campo acadêmico, quero ver isso acontecer.

— Se você vai falar tanto assim, então me diga quais livros de referência você usa. E também gostaria que me contasse, em detalhes, seus métodos de estudo e como gerencia o tempo.

Com a determinação de analisar tudo sobre mim, ele perguntou sem hesitar.

— É claro que não vou te culpar se não for eficaz. Vou apenas aceitar que o método não se adequa a mim, então não se preocupe — acrescentou ele.

Sua postura séria em relação aos estudos parecia genuína. Aproveitando a deixa, Yoshida se colocou ao lado de Shimazaki.

— Ah, pode me contar também? Se eu puder estudar de forma mais eficiente, eu copio.

O que eu deveria fazer? O método geral que ensinei à Karuizawa — algo que um aluno normal poderia ensinar a um colega — não funcionaria para estudantes de alto nível como Shimazaki e Yoshida. Por outro lado, eu jamais poderia implementar o método completo que estava considerando, baseado na filosofia de treinamento dos alunos da Sala Branca.

Preparado para ser encarado com desconfiança, escolhi revelar apenas uma fração da verdade.

— Para ser sincero, eu não uso muito esse tipo de livro de referência.

— O quê? Mas você também não aparece no cursinho. Você resolveu questões que nem sequer tinha aprendido, e não só as mais difíceis. Como explica isso?

— Honestamente, foi mais coincidência do que qualquer outra coisa. Costumo adquirir conhecimento pela internet. Hoje em dia, existem sites de vídeo onde as pessoas resolvem e explicam questões difíceis, certo? Eu simplesmente já tinha visto um problema parecido em um vídeo que assisti, então consegui resolvê-lo.

— Bom, acho que coisas assim podem acontecer às vezes, mas…

Justamente por ser tão perspicaz, Shimazaki ficou ainda mais desconfiado com minha explicação. Sua voz foi se apagando, como se não estivesse convencido. Apesar da dúvida, fiz questão de frisar que não acompanhava nenhum site ou canal específico. No fim, provavelmente ficaria com a imagem de alguém misterioso, mas não havia como evitar.

— No entanto, existe um livro de referência que achei útil.

Costumo passear por livrarias. Ao fazer isso, já folheei vários livros de referência para ver que tipo de informação eles traziam e até onde iam. Confiando nessa memória, eu poderia indicar o que me parecia mais adequado para estudar.

— Se estiverem de acordo, posso dar um conselho.

Não é que eu recusasse totalmente ensinar; eu falaria o que pudesse e esperava que eles aproveitassem o que julgassem útil. Fiz questão de mostrar essa intenção claramente.

O resto dependia de Shimazaki e de como ele encararia isso. Ele me veria como um cara irritante que não queria contar a verdade e deixaria por isso mesmo? Ou, mesmo com dúvidas, escolheria seguir em frente por conta própria? Quase sem hesitar, Shimazaki assentiu.

— Certo. Vou aceitar sua recomendação de bom grado.

Pelo visto, ele decidiu começar confiando em mim, tudo para elevar seu próprio nível. Em resposta ao seu pedido, recomendei um livro de referência que me parecia bom. Os dois pegaram o livro sem hesitar, mas Yoshida logo desistiu de comprá-lo. Afinal, as informações necessárias num livro de referência variam muito de acordo com o nível e o tipo de universidade que se deseja.

Mesmo que fosse adequado para Shimazaki, que mirava alto, poderia não servir para Yoshida. Assim, depois de conversar com ele, eu e Shimazaki procuramos um livro que julgássemos adequado para o Yoshida.

Por cerca de trinta minutos, ficamos andando pela seção de guias de estudo, olhando vários livros, debatendo, pegando e devolvendo. Talvez, para alguns, parecesse um vai e vem inútil, mas para mim não foi um tempo ruim — pelo contrário, foi um momento satisfatório e até divertido.

Pouco a pouco, fomos entendendo melhor o que Yoshida estava procurando e, por fim, decidimos quais livros de referência ele compraria. Não era nada grandioso, mas dava uma sensação de realização, como se tivéssemos trabalhado juntos para criar algo.

Depois disso, nós três nos separamos por um momento para conferir outros livros que talvez quiséssemos, e depois voltamos a nos reunir.

Encontrei algumas revistas e romances interessantes, mas como não tinha pontos pessoais sobrando, resolvi deixar todos para outra hora.

— Que livros são esses? — Perguntou Shimazaki, reparando que Yoshida havia voltado carregando um monte de livros além dos que nós dois tínhamos recomendado.

— Ah, esses? Qual é, eu também posso comprar algo que não seja livro didático, não posso?

Os livros que Yoshida segurava eram revistas masculinas de moda e mangás. Um deles falava sobre aparência e roupas para atrair o sexo oposto, e outro sobre técnicas e habilidades de conversação.

— Estudar é importante, claro, mas eu também quero dar valor ao amor. Falta menos de um ano de ensino médio, sabe? Não vou desperdiçar minha última chance de namorar uma garota do colégio.

Yoshida disse isso enquanto nós três íamos em direção ao caixa.

— Não acho que necessariamente seja a última chance… — murmurou Shimazaki, um pouco surpreso, mas sem deixar de ter razão. Mesmo como universitário ou adulto, a possibilidade de namorar uma estudante do ensino médio não é zero. Mas, claro, quando a diferença de idade é grande, isso já traz outro tipo de problema.

Enquanto eu refletia seriamente sobre isso, o motivo principal provavelmente era outro.

— É porque você não vai poder ver mais a Shiraishi, não é?

Não seria exagero dizer que havia uma condição implícita: até a formatura da Advanced Nurturing High School. Eu só queria confirmar minha suspeita, mas, ao ouvir o nome de Shiraishi, Yoshida ficou extremamente nervoso e deixou cair um dos livros que segurava.

— H-Hey, Ayanokoji, não fala essas coisas desnecessárias!

Parecia prestes a tapar minha boca, mas o que já tinha sido dito não podia ser retirado.

— Eu só estava curioso de verdade… foi tão inadequado assim?

— C-Claro que foi! Eu-eu não gosto da Shiraishi nem nada! Já te falei isso antes, não falei!?

De fato, Yoshida já havia negado antes, mas seu comportamento sempre dizia o contrário. Até a própria Shiraishi tinha certeza de que ele gostava dela. Não seria exagero dizer que há 99… não, 100% de chance de ele estar interessado nela.

— Shiraishi? Você gosta da Shiraishi…? — disse Shimazaki, que vinha caminhando um pouco à frente, virando-se para trás e observando Yoshida pegar o livro do chão.

— Não é como se eu gostasse dela! Só tenho, sabe… um pouquinho, só um pouquinho de interesse, só isso! — negou Yoshida, aflito.

Sua resposta não deixava de soar como um "eu gosto dela". Provavelmente, até Shimazaki pensou o mesmo ao ver aquela reação. Shimazaki, que parecia ser o tipo totalmente dedicado aos estudos e sem o menor interesse em romance, manteve-se impassível… até que, por um instante, sua expressão escureceu. Será que algo lhe veio à mente?

— Entendo… — disse ele.

Percebendo a mudança repentina no semblante de Shimazaki, Yoshida ficou pálido. Num instante, vários pensamentos pareciam correr pela sua mente, convergindo para uma única conclusão.

— N-Não pode ser… não me diga que você é um dos "cem que ela derrotou"!?!

— Hã? Esse negócio de "cem derrotados"? Não seja ridículo.

Shimazaki descartou a ideia com um suspiro de exasperação, mas logo depois seu semblante mudou, revelando clara irritação.

— Yoshida, você gosta mesmo da Shiraishi?

— J-Já falei que não gosto dela! Eu só… sabe… tenho um pouco, mas só um pouco de curiosidade, só isso!

Quanto mais ele negava, mais parecia admitir o contrário. Na verdade, até Shimazaki provavelmente pensava isso.

— Tá, tudo bem, mas presta atenção: isso é só um boato. Não vá acreditando em qualquer besteira que falam por aí.

— Eu-eu sei, mas… você sabe o que dizem, "onde há fumaça, há fogo", não é…?

— Depende de como esse "fogo" começou. Esse foi um boato que a própria Shiraishi espalhou de propósito.

O apelido de "Matadora de 100" sempre havia me deixado curioso. Então, ouvir essa negação tão enfática — e vinda de alguém que eu não esperava — me pegou de surpresa. Mas a reação de Yoshida superou a minha: ele ficou tão chocado e agitado que a voz sumiu de sua garganta, como se tivesse congelado. Após um breve momento, quando parecia ter processado a informação, conseguiu forçar uma pergunta.

— Hã? Uma mentira? Co-como é que você sabe disso?

Em vez de responder de imediato, Shimazaki olhou calmamente ao redor, ainda mais cauteloso do que estivera no saguão. Felizmente, não parecia haver outros clientes por perto; a loja estava silenciosa. Quando se certificou de que estavam sozinhos, voltou-se para Yoshida, abaixou o tom de voz e finalmente começou a falar.

— Lembra quando começou a ouvir esse boato idiota?

— Hum… se não me engano… foi lá pro verão do primeiro ano… Algo sobre "Matadora de 20" ou coisa assim.

Para chegar a 100, tinha que começar com um. A menos que ela tivesse feito isso antes do ensino médio, era natural que o boato começasse com um número menor. Eu mesmo não estava muito familiar com o apelido.

— Para ser preciso, foi depois do exame da ilha desabitada. Foi quando Shiraishi começou a se aproximar do Nishikawa. Do segundo semestre em diante, começaram a surgir essas histórias absurdas.

Naturalmente, as circunstâncias da Turma 1-A naquela época eram totalmente desconhecidas para mim. Yoshida, tentando se lembrar dos acontecimentos, batia levemente a quina de uma revista no queixo.

— Você tá insinuando que o Nishikawa foi quem sugeriu espalhar o boato?

— Não tenho prova concreta, mas é provável. Mesmo que a parte dos 20 fosse verdade, o boato dos 100 é definitivamente mentira. Não tem como alguém aumentar de 20 para 100 de repente, ainda mais nessa escola. Qualquer um perceberia isso se pensasse por um segundo.

Eu mesmo tinha ouvido pela primeira vez o boato da "Matadora de 100" do próprio Nishikawa. Por curiosidade, perguntei se o apelido viraria "de 200" caso o número aumentasse, mas ele respondeu que "100 já era suficiente para soar impressionante".

Talvez ela tenha começado a espalhar esses rumores cedo, deixando a incerteza no ar para que crescesse até o apelido pegar de vez. Mas… para quê? Essa pergunta surgia naturalmente.

— Mas… ei, tem mesmo como ter certeza? E se a parte dos 20 na época da escola secundária for verdade? — insistiu Yoshida, focando em outro ponto e se aproximando de Shimazaki.

— Eu não sei nada sobre isso. Mas mesmo que fosse verdade, e daí? Isso tornaria um problema você gostar da Shiraishi? — retrucou Shimazaki, com um tom severo, quase como um professor repreendendo um aluno.

Yoshida, acuado, recuou ainda mais do que tinha avançado.

— Não… não é isso… mas mesmo assim…

— Pra começar, nem estudei na mesma escola que ela, então não teria como eu saber. Mas uma coisa eu posso afirmar: os boatos exagerados que circulam agora são falsos. Eu observo a Shiraishi desde o primeiro dia, então não há erro.

Logo após afirmar isso, Shimazaki pareceu se dar conta de que havia dito mais do que devia e desviou o olhar, visivelmente constrangido. Um silêncio desconfortável tomou conta da já silenciosa livraria.

— Eu observo todos os meus colegas, entenda — acrescentou, tentando disfarçar, mas depois de uma atitude tão fora de seu padrão, era impossível não notar.

— Você… — começou Yoshida.

Embora eu entendesse a razão por trás da negação dele e as circunstâncias ocultas, era provável que Yoshida estivesse hesitante em dizer algo diretamente. Seu rosto mostrava claramente o conflito entre a vontade de confirmar e a parte racional que lhe dizia para não fazê-lo.

— Não entenda errado, Yoshida… não é nada disso.

— Entender errado? Não, não é isso… Quer dizer… se for assim, tudo bem. Não é como se eu estivesse tão a fim da Shiraishi também…

Os dois trocaram palavras evitando deliberadamente se encarar, virados para lados opostos, como se o ar entre eles tivesse ficado pesado demais para suportar. Ainda assim, era óbvio: ambos nutriam fortes sentimentos por Shiraishi, sentimentos que não tinham por outras garotas. Ela própria parecia plenamente ciente de sua popularidade com o sexo oposto, e isso provava que sua confiança não era apenas um blefe.

— Enfim, já terminamos na livraria. Vamos sair, estamos só atrapalhando aqui — disse Shimazaki, evitando o olhar desconfiado de Yoshida. De fato, agora que já haviam decidido o que comprar, ficar ali conversando só incomodaria a loja. Além disso, seria melhor evitar que outros alunos ouvissem aquele tipo de conversa.

— Tá.

Pagamos rapidamente a conta e saímos da livraria.

*

 

Achei que iríamos nos separar depois de escolher os livros de referência, mas, inesperadamente, a sugestão de irmos até a área de descanso partiu de Shimazaki. Talvez nenhum dos dois quisesse deixar as coisas como estavam, com aquela atmosfera um tanto pesada ainda pairando no ar.

Naturalmente, interpretei dessa forma — provavelmente um sinal de que tenho me tornado mais atento às emoções. A "atmosfera de um lugar" é algo difícil de definir: intangível, impossível de medir fisicamente. Porém, dependendo de como se percebe expressões e tensões no ambiente, sua visão daquele espaço pode mudar completamente. No fim das contas, a atmosfera existe apenas na mente de cada um, moldada pela forma como o cérebro a interpreta.

Pensando bem, deve ter havido muitas ocasiões desde que entrei na escola em que não percebi o clima do momento e deixei passar. Mesmo quando achava que entendia, era apenas uma compreensão superficial — provavelmente havia muitas coisas sobre as quais eu não tinha certeza alguma. Isso só refletia o quão rasa sempre fora minha noção desse fenômeno chamado "emoção", resultado de pouca experiência direta com ele.

Mas, ultimamente, isso começou a mudar. Consigo sentir com clareza as emoções dos outros, e não apenas de forma lógica, mas quase instintiva. Na verdade, já comecei a percebê-las sem sequer me dar conta. Depois de colocar os livros recém-comprados no banco, Shimazaki se dirigiu à máquina de vendas.

— O que vai querer? É por minha conta, por ter me ajudado a escolher os livros — disse ele, de costas, enquanto observava as opções.

— Tem certeza?

— Claro. Além disso, vendo você lá na livraria, percebi que está economizando, não é? Sei que usou seus pontos particulares na transferência de turma.

Como ele ofereceu de forma tão espontânea, aceitei sem hesitar.

— Vai pagar pra mim também? — Perguntou Yoshida, esperançoso.

— Você paga o seu.

— Mão de vaca... — murmurou Yoshida, já resignado, enquanto se colocava diante da máquina ao lado de Shimazaki.

— Pra falar a verdade, eu até queria pagar algo num café, mas está cheio demais hoje — explicou Shimazaki. 

Talvez por causa da chuva, muitos alunos com tempo livre no dia de folga se aglomeravam no café. Quando passamos por lá antes, já havia uma longa fila esperando para entrar. Nesse sentido, pelo menos hoje, este lugar era mais adequado para conversar.

Ele me entregou uma lata de café preto e eu puxei a aba, ouvindo o chiado suave ao abrir. Por um momento, brinquei com a lingueta com as pontas dos dedos antes de pressioná-la de vez. Da borda levemente amassada da lata, um aroma torrado e suave se elevou, subindo como um fio invisível de conforto.

— Café preto, é? Você tem bom gosto.

Shimazaki, que disse isso, também tinha uma lata igual na mão.

— Você gosta? — Perguntei.

— Pra ser honesto, não muito. Mas é perfeito quando preciso me concentrar. O efeito estimulante é forte — respondeu ele, dando de ombros.

Pelo visto, para ele não importava o sabor, mas sim o efeito. Enquanto isso, Yoshida ainda estava parado diante da máquina, resmungando como se fosse tomar uma decisão de vida ou morte.

— Você está demorando. Se não quiser, não precisa se forçar a comprar nada, sabia? — comentou Shimazaki.

Vendo que Yoshida nem sequer tocava nos botões, ele não resistiu a provocar.

— É que minha garganta tá seca, mas não tanto assim. Nessas horas, não fica difícil decidir qual pegar? — disse Yoshida, deslizando para o lado e nos mostrando duas opções.

Uma era um chá de 500 ml, a outra de 280 ml — o mesmo produto, só mudava o tamanho.

— O de 280 ml já é suficiente pra mim, mas a diferença de preço é de 20 pontos. Não sei qual é a escolha mais inteligente, e isso tá me deixando maluco!

Isso não vale só para bebidas; acontece com vários produtos. Mesmo com lanches, o pacote grande costuma sair mais barato por quantidade, mas perde na praticidade dos pequenos, embalados individualmente.

— Normalmente, o ideal é priorizar custo-benefício. Com só 20 pontos de diferença, compre o de 500 ml sem pensar duas vezes — respondeu Shimazaki, sem hesitar.

— É, mas muitas vezes eu não consigo terminar e sobra... Ainda assim, é verdade que, considerando o custo—

— Eu pegaria o de 280 ml. Se você já sabe que não vai conseguir terminar, o grande vai perder o sabor com o tempo. Mesmo que o chá tenha propriedades antibacterianas, depois de aberto e bebido direto na garrafa, bactérias da sua boca vão parar lá dentro. Não dá pra ignorar a questão higiênica.

— Argh... v-você tem razão... — Yoshida resmungou, claramente incomodado com a lógica.

No fim, ele apertou os dois botões de uma vez. Saiu o de 500 ml. O olhar que ele fez segurando a garrafa não era de satisfação, mas de dúvida: "Será que foi a escolha certa?"

Quando ele já havia bebido cerca de um terço, notei que ficava lançando olhares para Shimazaki, inquieto, como se quisesse retomar a conversa da livraria, mas sem coragem. Resolvi quebrar o silêncio.

— Shimazaki. Sobre aquele boato, o da "Matadora de Cem"...

Yoshida se aproximou imediatamente e sentou ao lado dele.

— Você não vai me dizer que também acredita nisso, né, Ayanokoji? — Perguntou Shimazaki, erguendo uma sobrancelha.

— Quando ouvi pela primeira vez da Nishikawa, aceitei como verdade. Mas ouvindo a história até agora, algumas coisas não batem. Mesmo estando em outra turma, com um apelido desses, não seria estranho eu ter ouvido falar dela antes — mas nunca ouvi nada.

— É mesmo...? Acho que parecia que você não sabia de nada, mas ainda assim... — comentou Yoshida.

— Mas, se assumirmos que tudo que o Shimazaki disse é verdade, por que fazer algo tão sem sentido?

A ideia de usar o boato como forma de afastar garotos já devia ter passado pela cabeça de Yoshida. O problema é que isso não é garantia — Yoshida mesmo, apesar de saber do boato, não tinha perdido o interesse por Shiraishi. Além disso, o fato de o rumor não ter se espalhado por outras turmas ou séries, como se fosse mantido sob controle, deixava tudo ainda mais estranho.

— É só uma especulação, mas... acredito que Nishikawa tenha sentimentos especiais por Shiraishi. Talvez ela tenha pensado que o boato da "Matadora de Cem" fosse útil para afastar os garotos. Embora alguns pudessem achar a fama excitante, é mais provável que causasse repulsa — disse Shimazaki.

— Do que você tá falando? A Nishikawa é uma garota.

— Sim, mas não é como se amor tivesse que seguir gênero hoje em dia — respondeu calmamente.

— Bom, talvez seja verdade... Mas, ainda assim, Shiraishi não teria nada a ganhar com isso, teria?

— Não apostaria nisso — Shimazaki deu de ombros. — Shiraishi não tem intenção de namorar garotos agora, então pode ter aceitado a proposta entendendo as intenções da Nishikawa, como forma de mantê-los afastados.

— Ainda assim... não é exagero? — disse Yoshida. — Só pra evitar namorar, é pesado ser vista por todos como alguém fácil.

— Concordo — replicou Shimazaki. — O que nos leva a outra teoria.

— Outra...? — Perguntou Yoshida, confuso.

— Talvez Shiraishi nunca tenha se interessado por garotos. Assim como Nishikawa, talvez ela se sinta atraída pelo mesmo sexo. Isso explicaria por que não se importaria com um boato que a tornasse impopular entre os rapazes.

— Q-Quê...? N-Não pode ser! — Yoshida reagiu, incrédulo.

Era uma hipótese que permitiria manter os garotos afastados e, ao mesmo tempo, estar aberta à aproximação de garotas. Se Nishikawa sabia ou não das preferências de Shiraishi, ainda era incerto — mas a possibilidade não podia ser descartada.

— Como eu disse, isso é só especulação. Não há garantia de que qualquer coisa além da mentira dos "cem" seja verdade. É só algo que concluí por observação. Se não acreditar, descubra por si mesmo.

Dizendo isso, Shimazaki se levantou, jogou a lata vazia no lixo e voltou.

— Ei, por que tá me contando tudo isso com tantos detalhes?

— Quer mesmo saber o motivo?

— Nah... é como... eu quero saber, mas também não quero.

— Pode ficar tranquilo, Yoshida. Eu ia te contar mesmo que você não perguntasse.

Com isso, Shimazaki deu um passo à frente — não na direção de Yoshida, mas sim de mim.

— Esse guia de estudos foi de grande ajuda. Mas ainda tem muita coisa que eu quero que você me ensine. Pensei que, se eu te ajudasse aqui, o Ayanokoji talvez se abrisse comigo algum dia.

Pelo visto, o que importava para Shimazaki não eram os verdadeiros sentimentos de Shiraishi ou de Yoshida. Mais do que isso, parecia que ele queria priorizar a eficiência dos estudos naquele momento.

— Pode me contar agora, sabe? — insistiu.

Balancei a cabeça.

— Desculpa, mas além do que já falei, não fiz nada de especial.

Ao repetir a mesma resposta, Shimazaki soltou um suspiro.

— Você disse que pesquisou na internet e assistiu a vídeos, certo? Desculpa, mas uma nota perfeita não se explica com um método tão comum assim.

— Eu já falei — respondi —, a coincidência teve um papel grande. Eu só gosto de me aprofundar em coisas que a maioria não liga. Tipo… muitas vezes acabo pesquisando assuntos que vamos estudar só no ano que vem, ou até na faculdade. Acho que já criei esse hábito.

Parei por um instante e acrescentei.

— Foi assim que eu já sabia… como resolver os problemas que caíram na prova. Só isso.

Enquanto eu despejava desculpas em sequência, Shimazaki apertou os lábios, claramente insatisfeito. Mas, talvez percebendo que estava ficando muito sério, relaxou e soltou um suspiro leve.

— Bem… acho que nem tudo pode ser entregue de mão beijada.

Sem me pressionar mais, Shimazaki pareceu desistir — pelo menos por enquanto. Sua perspicácia e a falta de teimosia desnecessária o tornavam uma pessoa surpreendentemente fácil de conversar.

— Mas informação ainda é informação — acrescentou. — Um dia, vou querer que você me pague de volta.

Já que era uma dívida que não podia ser paga com dinheiro, parecia difícil de quitar, mas eu não tinha espaço para argumentar.

Percebi que essa conversa não só tinha tirado um peso emocional dos ombros do apaixonado Yoshida, como também foi significativa para mim, que ainda tinha dúvidas sobre as verdadeiras intenções de Shiraishi.

*

 

Pouco depois, Shimazaki foi embora antes de nós, dizendo que precisava estudar. Yoshida, por outro lado, continuou sentado no banco, com as costas curvadas, segurando com força, com as duas mãos, a garrafa de chá agora pela metade. Parecia perdido em pensamentos, tentando organizar os sentimentos. Pensando bem, talvez a garrafa de 280 ml tivesse sido a escolha certa.

— Acho que já está na hora de voltarmos. Parece que o tempo só vai piorar — falei suavemente.

Se a chuva ficasse mais forte, nem o guarda-chuva impediria minha calça de ficar encharcada. Ele não respondeu. Seu olhar estava distante, perdido além da cortina de chuva. Fiquei perto, observando-o em silêncio por um tempo. Quando eu ia falar de novo, seus ombros curvados começaram a se erguer lentamente.

— É… você tem razão… — respondeu de forma arrastada, levantando-se sem ânimo e começando a andar.

— Você esqueceu seu livro.

Entreguei a ele o livro no saco de papel que estava no banco. Ele pegou, mais uma vez respondendo sem energia. Aquela conversa ainda devia estar pesando na cabeça dele.

— O que eu vou fazer se a Shiraishi gostar de meninas… Eu sou um cara, um cara, entende?

— Isso nem foi confirmado ainda.

— Mas mesmo assim…

— Se você já está abalado só com essa possibilidade, talvez seja melhor parar de ter sentimentos por ela. Pode ser que o boato da "Matadora de 100" seja verdade, ou que ela goste do mesmo sexo, ou então outra coisa que o Yoshida não gostaria. Não acha?

Isso não se limitava ao caso da Shiraishi. Podia acontecer com qualquer pessoa. Quanto mais você tenta conhecer alguém, maiores as chances de encontrar coisas que nunca imaginou. Você vai encarar essa realidade várias vezes na vida. Se ainda não está preparado, recuar também é um tipo de coragem.

— Algo que eu não gostaria, né.

Talvez pelo choque, ou por ter finalmente admitido que gostava da Shiraishi, ele já não demonstrava vontade de discordar.

— Eu… é, é isso mesmo… Não importa o lance da "Matadora de 100", ou se ela gosta de meninas, eu tenho que aceitar, caso contrário não vou conseguir seguir em frente.

Para abrir possibilidades, é preciso caminhar por um caminho espinhoso. Quando Yoshida apertou o livro contra o peito, um leve brilho voltou aos olhos que antes estavam apagados.

— Certo! Eu vou…!

— Em vez de se preocupar com o passado, o que você deveria estar mais atento agora é que o Shimazaki gosta da Shiraishi. Isso é um fato inegável.

— Guhah!

Quando estava começando a se motivar de novo, Yoshida levou dramaticamente a mão ao peito e fingiu cuspir sangue, como se tivesse levado um golpe mortal.

— Ei, Ayanokoji! Você tá tentando me animar ou me zoar? Decide aí!

— Acho que foi só o timing que foi ruim. Eu só quis te informar sobre a situação atual. Não é nenhum dos dois.

— Nenhum!? Isso é cruel, cara!

Pensando bem, ele tinha razão.

— Eu quero te animar.

— Não fala como se fosse algo decidido na última hora… Você é bem desse tipo mesmo, né.

Yoshida respondeu meio brincando, mas com um fundo de verdade. Assim como eu vinha analisando ele, parecia que ele também vinha fazendo o mesmo comigo.

— Mas sério… essa é a realidade, né? Nunca pensei que o Shimazaki ia virar meu rival… haah — murmurou, soltando um longo suspiro.

Talvez por não haver ninguém por perto quando saímos do Keyaki Mall, ele disse isso em voz alta de novo. Provavelmente não conseguiu se conter. Enquanto começávamos a andar, a chuva apertou rapidamente, batendo com força contra nossos guarda-chuvas.

— Você odeia o fato de Shimazaki ser seu rival?

— Claro que odeio. Quanto menos rivais assim, melhor. A Shiraishi já é popular do jeito que é. Graças aos boatos, não tem muita gente com coragem de chegar nela abertamente, mas se um dia descobrirem que é mentira, pode apostar que vai aparecer um monte de gente.

E, nesse caso, o Shimazaki nem seria mais o maior problema.

— Mesmo assim — acrescentei —, não parecia que Shimazaki tinha planos de se declarar para ela tão cedo.

Pelo jeito, para ele, apenas observá-la à distância já era suficiente. Dependendo da perspectiva, dava pra dizer que lhe faltava coragem para transformar aquilo em romance — mas isso dependia de quanto peso ele dava àquilo para o futuro. Apesar do excelente desempenho acadêmico, Shimazaki não deixava o sucesso subir à cabeça. Continuava estudando até nos feriados, determinado a acumular resultados, por menores que fossem. Só isso já mostrava o quanto a escola-alvo dele devia ser exigente. E era por isso que, sem dúvida, ele não podia colocar o romance como prioridade agora.

Mesmo assim, o surgimento repentino de um rival seria capaz de abalar qualquer um que colocasse o amor em primeiro lugar.

— Pode acontecer uma mudança de coração, sabe… Se eu começar a me aproximar mais da Shiraishi, os sentimentos que ele guarda podem explodir. Tô errado?

— Pode ser que esteja certo.

Talvez por já ter admitido os sentimentos na frente de mim e de Shimazaki, Yoshida não parecia mais interessado em esconder o que pensava. Sentimentos românticos não são algo que se controla facilmente. Mesmo que eu não os tivesse sentido de verdade, entendia o princípio.

— Só pra confirmar… você não vai dizer que também tá de olho na Shiraishi, né?

— Acho que já neguei isso uma vez — respondi.

— Mas e se os boatos forem falsos? — retrucou Yoshida. — Aí você pode entrar na disputa também. Vai que, sei lá, seus sentimentos mudam. Você senta ao lado dela, afinal.

Ele estava decidido a arrancar uma promessa verbal de mim.

— Não sei se dizer isso vai te tranquilizar ou não — falei calmamente —, mas… pode ficar tranquilo. Isso não vai acontecer.

Nesse momento, eu não sentia nada por Shiraishi além do que sentiria por qualquer colega de classe. Yoshida, que me observava como se quisesse confirmar minhas intenções, acabou assentindo, aceitando de certa forma. Talvez fosse o único jeito que encontrou de lidar com aquilo: convencendo-se a aceitar.

— Bom, a Karuizawa, com quem você já namorou, é de um tipo completamente diferente dela — acrescentou. — Não falo isso de forma negativa. A Karuizawa é bem bonita.

Muitos caras viam Karuizawa como só mais uma gyaru, ou uma garota fútil, mas isso estava longe da verdade. Ela tinha um lado que contrariava essas suposições, e não era o tipo de garota que a maioria imaginava. Mesmo assim, o que Yoshida disse agora só confirmava o que muitos já pensavam: sua aparência por si só já despertava inveja em quem estivesse por perto.

— Sei o que você quer dizer.

Assim como as pessoas têm preferências para comida, também há gostos e afinidades — grandes ou pequenas — para parceiros românticos. Na verdade, Shiraishi e Karuizawa nem estavam na mesma categoria: eram tipos fundamentalmente diferentes. Isso por si só já parecia tranquilizar um pouco Yoshida. Ainda assim, parecia mais do que coincidência que tanto Shimazaki quanto Yoshida, com quem eu havia me aproximado, tivessem sentimentos por Shiraishi. Talvez até um bom número de colegas também gostasse dela, mesmo sem perceber.

— Uma coisa que eu não entendo é… a Shiraishi é realmente popular entre os caras? Bom, admito que a aparência dela chama mais atenção que a de uma aluna comum, mas…

Talvez só houvesse um punhado de garotas como ela em todo o ano, mas não seria errado dizer que elas existiam.

— Ela é inegavelmente bonita. E também…

— E também?

Parecia que ele queria dizer que o encanto dela ia além da aparência. Mas, seja por vergonha ou por não querer falar mais, deixou a frase no ar.

— Posso perguntar o que exatamente te atrai nela?

Buscando uma resposta, decidi pressioná-lo um pouco.

— Hã? Bem… é tipo…

Yoshida ficou levemente sem jeito, mas conseguiu continuar:

— Como é que eu posso dizer… é aquela parte misteriosa dela, sabe? Isso é o que é legal.

Misteriosa. Essa era, de fato, uma descrição bem acertada. Eu também sempre achei difícil compreender os pensamentos da Shiraishi — de alguma forma, ela era enigmática. E ouvir Shimazaki afirmar com tanta convicção que o apelido de "Matadora de 100" era mentira só reforçava essa impressão.

— Misteriosa, né isso? Acho que entendo o que você quer dizer, mas… quando o assunto é ser misteriosa, você não acha que a Morishita está em um nível mais alto? — Perguntei.

Ao questionar se ela também poderia ser um interesse romântico, Yoshida imediatamente estreitou os olhos.

— Não seja ridículo, Ayanokoji — retrucou. — A Morishita não é misteriosa, ela é só uma estranha incompreensível. Você também levou pedaços de borracha na cabeça quando estava de costas, não foi? É disso que estou falando. Comportamento de esquisita total. Nunca coloque ela no mesmo patamar da Shiraishi. A Shiraishi é bem gentil, sabe?

A voz de Yoshida carregava uma força que só alguém com cicatrizes pessoais poderia ter. Ele provavelmente também já tinha sido vítima das esquisitices de Morishita. E, pelo jeito que observava a Shiraishi de perto, era óbvio que tinha visto aquele momento em que ela me atingiu.

— Desculpe. Retiro o que disse — pedi desculpas de imediato. Sabia que tinha cometido um erro ao compará-las e precisava corrigir.

— Desde que tenha entendido. Ei, não me diga que você tem algum interesse na Morishita?

— Como você chegou a essa conclusão?

— Ah, sei lá… achei estranho quando ela disse que queria você sentado na carteira da frente. Além disso, ela nunca anda com ninguém, mas fala demais com você. Ela até seria bonitinha se não abrisse a boca, né? É um daqueles casos raros em que a personalidade anula a aparência.

Se essa "anulação" realmente funciona… é algo discutível. Provavelmente seria melhor encerrar o assunto por ali. Ela não gostaria de ser comentada tão livremente pelas costas.

— Sinto desapontar, mas não é isso — respondi de forma seca. — Se for para dizer algo, ela é mais cautelosa comigo do que com qualquer outra pessoa. É quem mais desconfia de que eu realmente queira ajudar a classe.

Era justo dizer que ela estava tão longe de ser um interesse romântico quanto possível.

— Então é por isso que ela mantém você por perto. O que você disse era verdade, então.

— Estou me virando para lidar com ela falando um monte de coisas — verdadeiras ou não — todos os dias atrás de mim.

É como se eu tivesse sido amaldiçoado por algo desagradável — essa talvez seja a melhor descrição.

— Entendo. Pelo jeito, a Morishita nunca vai ser um interesse romântico para você. E, se um dia ela se apaixonar por alguém, vai ter que ser outro esquisitão como ela. Além disso, você já é popular o bastante pra não precisar se incomodar com alguém como a Morishita… Pra ser sincero, morro de inveja.

— Eu sou popular?

— Não fala desse jeito irritante. Você é bonito, mais inteligente que o Shimazaki, atlético… e, além disso, saiu da Classe A para Classe C e ainda acabou virando líder, sabia? Uma garota comum não ia te deixar em paz.

Então era isso que significava ser "popular". Pelo visto, era assim que eu parecia para os outros. Um traidor da minha turma, um covarde que escondeu suas habilidades. Fiz coisas que me fariam ser odiado, independente do gênero, mas parece que essa impressão já tinha sumido para os alunos da Classe C que se tornaram meus aliados.

— Cara, eu quero MUITO namorar a Shiraishi! — Incapaz de segurar as emoções, Yoshida gritou, deixando seus sentimentos explodirem.

— A Shiraishi está bem atrá—

HÃ? NEM PENSAR! — Yoshida gritou, arremessando o guarda-chuva para o alto ao pular de susto. No pânico, até deixou o livro cair, mas consegui pegá-lo antes de atingir o chão.

— Era o que eu ia perguntar: o que você faria se fosse o caso?

— Que tipo de blefe é esse!? Tô todo molhado agora!

Ele correu para pegar o guarda-chuva, mas já havia respingos por todo o moletom.

— Ah, isso seca rápido.

— Fácil pra você dizer! — reclamou, ainda pingando.

Devolvi o livro e voltamos a andar. O rosto de Yoshida mudava a cada instante — alegria, raiva, tristeza e risos se alternavam sem freios. Essa transparência toda vinha de uma única raiz inegável: o amor. Era um fato que até ele reconhecia sem hesitar — estava apaixonado por Shiraishi, e isso transparecia de tal forma que ninguém duvidaria.

Eu, por outro lado, ainda não entendia essa emoção em sua verdadeira essência. Comecei a namorar Karuizawa para aprender sobre "sentimentos românticos", mas terminamos antes que eu pudesse realmente conhecê-los.  Tudo o que adquiri foi a estrutura de um relacionamento entre garoto e garota — nunca compreendi de fato a emoção em si.

Apaixonar-se por alguém. Passar a odiar alguém. Na verdade, ainda não entendo completamente nenhum dos dois. Se não fosse meu objetivo manter o equilíbrio entre as quatro classes, talvez eu pudesse ter passado mais um ano correndo atrás dessa resposta. Talvez, quem sabe, tivesse conseguido ver Karuizawa sob a ótica de sentimentos românticos genuínos. Mas esse navio já partiu. Agora não passa de uma fantasia inútil. Olhando para Yoshida, que havia falado tão seriamente, decidi apenas dizer o que me veio à mente.

— Você disse que me inveja, mas… na verdade, eu é que te invejo, Yoshida.

— Hã? Eu? Por quê? — Perguntou, surpreso.

— Você pode dizer abertamente que gosta da Shiraishi. Aliás… o fato de você sequer conseguir sentir algo assim já é algo que eu realmente invejo.

Diferente de problemas que podem ser resolvidos com fórmulas matemáticas, o amor não é algo que a lógica possa dissecar. E, ainda assim, Yoshida conseguia se entregar a essas emoções incalculáveis com naturalidade.

— N-Não, para com isso! — ele tentou afastar a ideia com as mãos. — Não é nada disso… é só uma paixão boba e unilateral, sabe?

Tentou negar de novo, mas, talvez percebendo que não adiantava mais fingir, soltou um suspiro e falou mais calmo.

— Não tem nada pra invejar. Você tá só tirando com a minha cara, né? É isso? Hein?

Ele riu, mas havia um traço real de frustração em seu olhar. Não era só brincadeira. Mas eu também não estava brincando — falei sério.

— Não é ironia — respondi. — Eu ainda não entendo o que significa realmente se apaixonar. Gostar de alguém de verdade. Querer que esse amor dê certo, ter medo de ser rejeitado, ou medo de ser odiado… ou até o contrário: deixar de amar, querer terminar. Não consegui entender esse tipo de emoção, seja positiva ou negativa.

— Como é que é? — Yoshida franziu a testa. — Não parece que você tá brincando… mas sério mesmo? Você não namorou a Karuizawa? E por um bom tempo, ainda?

Ele não estava errado — estava jogando uma verdade na minha cara.

— Deixa para lá. Esquece o que eu disse.

Mesmo que eu colocasse meus pensamentos em palavras, seria algo que a outra pessoa não conseguiria compreender. Do ponto de vista de Yoshida, eu era simplesmente o cara que namorou Karuizawa. É natural que ele assumisse que eu já tivesse vivido todas as fases de um romance.

No entanto, pelo meu jeito de falar e agir, ele pareceu captar algo, mesmo sem entender por completo.

— Bom, acho que insistir mais ia ser intromissão, então vou parar por aqui — disse ele, quebrando o silêncio. Mas, após uma breve pausa, Yoshida, que ainda parecia ter algo a confirmar, olhou para mim e perguntou.

— Então… você não gosta de ninguém agora?

— Não.

— Entendi… então existe cara assim.

— É por isso que eu te invejo. Por conseguir se apaixonar de verdade por alguém.

— Espero que você também encontre alguém. Uma garota de quem você consiga gostar de verdade.

Uma pessoa do sexo oposto por quem eu realmente pudesse me apaixonar. Talvez eu já tivesse chegado perto disso, seja com meu tempo ao lado da Karuizawa ou com aquele vínculo estranho e indescritível com Ichinose, que ninguém mais provavelmente entenderia.

Achar uma garota bonita. Achá-la adorável. Tocar essa pessoa e sentir o coração acelerar a cada momento. Já passei por experiências assim, de certa forma. Mas, ainda assim, o sentimento romântico não floresceu dentro de mim. Ou talvez tenha florescido… e eu simplesmente ainda não tenha percebido. 

Nossa conversa casual, enquanto víamos a chuva cair, terminou naturalmente.

— Enfim, vamos voltar, Ayanokoji. Parece que a chuva vai piorar — disse Yoshida.

Era exatamente o que eu tinha dito mais cedo… mas resolvi poupar a provocação.

Voltei a andar, retomando o passo. Foi pouco tempo, mas, conversando com Yoshida e Shimazaki, consegui ter uma boa noção da personalidade deles.

Para o bem ou para o mal, nenhum dos dois finge — ambos dizem o que pensam de forma direta. Na superfície, Yoshida é mais duro com as pessoas, mas, por dentro, é bastante atencioso. Shimazaki, por outro lado, mantém uma distância saudável de todos, nem muito próximo nem distante demais, sempre interagindo de forma equilibrada e justa.

Ao longo disso, também entendi um pouco de suas dificuldades pessoais no campo amoroso. No que diz respeito a conhecê-los como colegas, eu diria que minha análise está completa. Ambos são indispensáveis para a turma e continuarão sendo peças valiosas no futuro — e, se surgirem problemas, terei que estar lá para apoiá-los e protegê-los. E assim, enquanto a chuva ficava mais forte, seguíamos em silêncio até voltar para o dormitório.

 

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