Volume 1
Capítulo 9: O que espera mais à frente
DEPOIS DE TER entrado em contato com kushida e da festa de boas-vindas, chegou a tarde do dia seguinte. Havia um problema dentro da classe que eu queria resolver o quanto antes, e tinha planejado tratar disso em breve com a participação de certa pessoa.
Para minha surpresa, essa pessoa foi quem se aproximou primeiro. Recebi um chamado fervoroso da parte dela, dizendo que queria me ver imediatamente, então deixei a sala de aula para atender ao convite.
No corredor, os estudantes que já haviam terminado de se preparar para ir para casa começavam a aparecer um por um. Nesse momento, encontrei dois antigos colegas de classe, Hondō e Komiya, mas eles desviaram o olhar imediatamente.
Parece que a reação deles não se devia apenas ao fato de que eu havia me transferido, mas também ao resultado do último exame. Pouco a pouco, a impressão que tinham de mim estava começando a mudar.
Sem prestar atenção neles, segui em direção à saída e deixei o prédio escolar. Depois, decidi voltar diretamente ao dormitório.
— Ah…
No caminho, vi Utomiya e Tsubaki caminhando em minha direção.
— Como estão?
Utsunomiya me cumprimentou com uma leve inclinação de cabeça, sem se dar ao trabalho de esconder sua atitude indiferente.
— Faz tempo que não os via juntos — comentei.
— Não estamos juntos o tempo todo — respondeu Tsubaki, de forma fria.
Não tinha nada de particular para dizer a eles, então tentei continuar meu caminho sem parar.
— Virou um rumor, sabe? Isso de você ter se mudado de classe.
Tsubaki parecia indiferente, mas mencionou isso como se fosse uma conversa trivial enquanto me observava.
— Subir para a Classe A e depois cair para a Classe C... não é algo normal.
— Bem, é que o senpai não é normal, né? — acrescentou Utomiya.
— Talvez você tenha razão — respondi.
A última vez que falei com Tsubaki foi durante o acampamento de verão, quando nos encontramos cedo pela manhã e trocamos algumas palavras.
Falamos sobre quem gostaríamos de ver depois de formados. No final, a conversa foi interrompida quando Horikita e Ibuki acordaram e nos encontramos com elas. Desde então, não tivemos a oportunidade de retomar a conversa.
Ainda assim, ao vê-la agora, Tsubaki não parecia querer tocar no assunto. Talvez, no fim das contas, não fosse algo importante.
— Temos algo para fazer, então vamos embora.
— Entendi.
Eu também tinha um compromisso, então não podia ficar conversando por muito tempo. Ambos começamos a caminhar em direções opostas e nos cruzamos. Nesse momento, senti o olhar fixo de Tsubaki sobre mim, como se quisesse dizer algo.
Após esse breve encontro, experimentei uma estranha sensação de nostalgia.
— Tsubaki Sakurako…
Uma lembrança esquecida.
Uma lembrança desnecessária.
Mas os seres humanos são criaturas curiosas. Mesmo que acreditemos ter esquecido algo, às vezes podemos lembrá-lo com surpreendente facilidade.
— O que foi? É um pouco assustador você me chamar pelo meu nome completo de repente.
Parece que Tsubaki me ouviu murmurar. Ela parou e se virou para me olhar com uma expressão ligeiramente irritada. Talvez “assustador” fosse uma exageração, mas eu entendia por que ela reagia assim. Afinal, a maneira como a chamei poderia soar estranha.
— Recordei nossa conversa durante o acampamento.
— Êh? Você ainda lembra do que falamos? Tenho certeza de que para você não foi um assunto importante.
— Do que vocês dois estavam falando? — interveio Utomiya.
— Não tem nada a ver com você, Utomiya-kun.
Tsubaki o cortou de forma brusca, fazendo com que ele desviasse o olhar, desconfortável.
— Nossa conversa ficou pela metade naquela hora.
— Sim, acho que sim. Mas para você não foi nada importante, né?
— Recentemente, pela primeira vez em muito tempo, senti vontade de ver alguém além da minha família. Acho que foi por causa da nossa conversa no acampamento. Então, de alguma forma, agradeço por isso.
— Alguém além da sua família? Quem? — Tsubaki não parecia interessada, mas ainda assim perguntou.
— Não sei como explicar... Se eu tivesse que colocar em palavras, o mais próximo seria... uma amiga de infância.
Sim. De repente, lembrei.
Quase todos os nomes das crianças com as quais estudei na Sala Branca desapareceram da minha memória. Mas entre elas, havia uma garota.
O nome dela era Yuki.
Eu acho.
Não posso ter certeza, mas talvez o fato de associá-la à flor “Yuki-tsubaki” e o leve parecido que ela tinha com Tsubaki tenha feito essa lembrança voltar. Provavelmente foi uma coincidência.
(N/SLAG: Yuki-tsubaki é o nome japonês para a camélia da neve, uma variedade da camélia japonica.)
Ou será que realmente foi só uma coincidência?
— Senpai, você gosta de neve?
As palavras que Tsubaki me disse no acampamento. Naquele momento, não dei muita atenção, mas agora soavam diferentes.
— E o que você faria se a visse? — Apesar de já não parecer interessada, Tsubaki mostrou curiosidade.
— Não é que eu realmente vá procurá-la. Só me senti nostálgico e pensei que seria interessante vê-la de novo.
O passado e o presente. Se nos encontrássemos de novo, provavelmente as coisas seriam diferentes.
Mas o melhor seria não vê-la. No fim, era só uma sensação passageira.
É mais provável que nada tenha mudado na essência. Não surgiria nenhuma emoção nova em mim. Seja Tsubaki e essa garota tenha alguma conexão ou não, continua sendo um pensamento sem importância.
*
O lugar onde me haviam chamado estava atrás do dormitório, perto do depósito de lixo. Não havia passado muito tempo desde o final das aulas, então ainda era um local deserto.
Quando cheguei, essa pessoa já estava lá, esperando nas sombras.
— Te fiz esperar? — falei em voz baixa, e ele deu um passo à frente saindo da escuridão.
— Me surpreende que você tenha vindo sem tentar fugir.
Era um estudante da Classe C: Kitou Hayato.
Desde que me transferi, não havia falado com ele uma única vez.
— Se um colega de classe me chama, é meu dever responder.
— Agora você se acha o líder da classe?
— Não acho que esteja interpretando errado a situação. Parece que, pelo menos por agora, a maioria me aceitou para liderar a classe. Embora, pelo visto, você não pense o mesmo.
Minha relação com Kitou não era exatamente boa, mas também não era ruim. Pelo menos antes de me transferir, eu podia cumprimentá-lo sem problemas.
— Não te reconheço como líder.
— Bem, considerando que você nem sequer me dirigiu a palavra até agora, não me surpreende. Você continua sem aceitar ninguém além de Sakayanagi, não é?
— Não... Para mim, não se trata de Sakayanagi ou de outra pessoa.
— Isso é curioso. Então, por que seguiu Sakayanagi sem questioná-la?
— Não sou o tipo de pessoa que pode liderar uma classe, mas alguém tem que fazer isso. Quando chegou o momento de escolher entre Katsuragi e Sakayanagi, simplesmente escolhi quem tinha mais chances de vencer. Achei que essa opção nos traria mais perto de nos formarmos na Classe A — Kitou falou com um tom irritado. — Mas no final... Sakayanagi só pensava em si mesma.
— É verdade que também estou tentando fazer o que quero. Para você, Kitou, isso deve ser o mais irritante do mundo. Mas pelo menos, planejo elevar nossa classe o suficiente para termos a chance de ascender à Classe A. Isso não é o suficiente?
— Não posso acreditar. Por isso, dessa vez, ao invés de fazer um julgamento geral apenas com base em vantagens e desvantagens, decidi me envolver um passo além. Algo assim. Deixe-me conferir por mim mesmo se você é digno de confiança…
Dizia isso enquanto Kitou ajustava suas luvas de couro negro e apertava com força os punhos.
— Sei que você é forte... Agora, use sua força para sufocar minhas reclamações.
Não se tratava de estratégias para os exames especiais nem de analisar os pensamentos do oponente. Kitou não desejava esse tipo de enfrentamento. Por mais impressionantes que fossem as habilidades que mostrasse, a dúvida sempre persistiria.
Se eu mostrasse superioridade em força, ele aceitaria sua derrota e seguiria as ordens.
— Sua forma de pensar é parecida com a de Ryūen, mas, em si mesma, não está errada. Se esse for o método que você prefere, não me importo de seguir o jogo, mas antes, quero te avisar sobre algo.
Kitou já estava em posição de combate, mas não fazia ideia de qual advertência eu me referia.
— Aviso...? O que você quer dizer?
— Posso ver que, embora você não seja bom com palavras, confia bastante em sua força. Então, ao menos, quando Ryūen invadiu a sala de aula, você deveria ter sido o primeiro a reagir.
— Você queria que eu batesse em Ryūen?
— Não. O que estou dizendo é que, se você tivesse agido imediatamente, poderia ter evitado que Sawada estivesse em perigo. Naquele momento, ela poderia ter se machucado gravemente.
Kitou estava sentado perto de Sawada, mas preferiu ficar parado e observar.
— Não me faça rir. Eu...
— Se sua razão é que não me reconhece como líder da classe, isso é infantil demais. Até Kōenji, do seu jeito, age quando um colega de classe está em perigo. Não estou tentando impor uma visão antiquada de que os homens devem proteger as mulheres. Mas, se somos colegas de classe, não é necessário um motivo para os fortes protegerem os fracos.
— Colegas...? Então, enquanto eu não ver isso dessa forma, não há problema?
— Se você realmente acredita nisso lá no fundo, então não há problema. Mas, nesse caso, a existência de Kitou Hayato é desnecessária para a Classe C.
Exigir sem oferecer nada em troca, sem cooperar com a classe... Essa postura só é aceitável para quem possui uma força indiscutível. Caso contrário, simplesmente desaparecerão.
— Mgh...
— Está bem... Se você ganhar, seguirei suas ordens a partir de agora... Se você ganhar.
Kitō cortou suas palavras e estendeu seu braço longo na minha direção. Antes que sua mão alcançasse minha camisa, a segurei e a impedi. Mas ele não se moveu; em vez disso, tentou me atrair para perto dele, com o braço preso.
Desde o início, entendi sua intenção: lançar um único golpe de qualquer ângulo e fazer com que eu perdesse a vontade de lutar. A maioria das pessoas fica em silêncio depois de receber esse tipo de golpe ameaçador.
Mas ao perceber que não conseguia me atrair facilmente, Kitou rapidamente afastou meu braço. Não atacou imprudentemente, mas observou a situação. Definitivamente estava acostumado a lutar, detectando o perigo de forma instintiva.
Ele recuou e, com passos leves e provocativos, bateu os pés no chão.
— A maioria das pessoas, quando me olha, sente pelo menos um pouco de aversão e medo.
Não era apenas porque ele era forte. Havia também em sua voz um matiz de autodesprezo, como se soubesse que sua aparência inspirava temor.
— Desculpe, mas essas coisas superficiais não me interessam.
Talvez minha falta de reação o incomodasse ainda mais, porque ele me olhou com um olhar intenso e afiado. E no instante seguinte, avançou com força e desferiu um golpe direto com a mão direita.
O som do vento cortado pelo golpe ressoou nos meus ouvidos, um movimento limpo e sem desperdício. Sem pressa, dei um passo para trás para desviar. Esquivei-me da mesma forma de um segundo e terceiro golpe, e Kitou parou com os pés no chão, visivelmente irritado.
— Por que você não ataca...?
— Quem sabe? Por que será?
— Tsc...
Ao desviar de sua pergunta, Kitou estalou a língua e desferiu outro golpe, desta vez com a esquerda. Mas também não me alcançou.
Normalmente, contra alguém com o alcance de Kitou, a estratégia seria usar o jogo de pés para encurtar a distância e ir para o combate corpo a corpo. Mas ele sabia disso. Exatamente por isso, não lhe daria o prazer de me aproximar tão facilmente.
Kitou começou a se frustrar ao perceber que meu estilo de luta não correspondia às suas expectativas. E mais ainda porque eu nem sequer mostrava sinais de contra-atacar.
Desta vez, decidiu usar as pernas e desferiu um pontapé. Justo quando a ponta de seu pé estava prestes a me atingir no abdômen, esquivei-me e, na abertura que ele deixou, empurrei ligeiramente seu corpo com a palma da mão.
Kitou perdeu o equilíbrio e retrocedeu um passo, desestabilizando ligeiramente seus pés.
Se eu comparasse com Ryūen, este último usava tanto as mãos quanto os pés de maneira eficaz e era hábil com ataques imprevisíveis. Por outro lado, Kitou não era tão bom com os chutes. No entanto, seus movimentos com a parte superior do corpo eram mais refinados que os de Ryūen, e ele compreendia bem a vantagem que seu longo alcance lhe dava em uma luta.
Justo quando sua atenção estava voltada para recuperar o equilíbrio...
Lancei um golpe com a esquerda no abdômen dele. A dor fez com que ele abafasse um grito. Ele havia abaixado a guarda, confiando que eu não o atacaria.
Kitou tentou reagir, mas seus braços, que ele pensava usar para o contra-ataque, se dirigiram instintivamente para o abdômen, buscando se defender.
Não planejava lançar mais golpes. Não usei minha mão dominante, mas considerei isso suficiente. Mesmo assim, Kitou dobrou os joelhos e imediatamente retomou sua postura de combate. Seu espírito de luta ainda estava intacto. Embora a diferença de poder fosse evidente nesse breve confronto, ele ainda não havia cedido.
Antes que seu cérebro pudesse aceitar a derrota, Kitou se impulsionou do chão e reduziu a distância entre nós, com as duas mãos estendidas. Era fácil desviar de suas mãos, mas decidi recebê-las.
Usando todos os seus dedos longos, ele agarrou meu pescoço e me empurrou contra a parede com esse impulso. Normalmente, a reação instintiva seria tentar tirar as mãos de cima de mim, mas isso seria um erro.
Separar os braços dele não era tão fácil. Em vez disso, abri as mãos e as usei para golpear ambas as orelhas de Kitō ao mesmo tempo. Seu rosto se contorceu de dor e seus braços me soltaram. Nesse momento, dei um pontapé frontal nele, dobrando novamente seus joelhos.
Guh...! Kitō, com uma expressão de dor, caiu de joelhos, mas não se desmoronou completamente. Ainda queria continuar lutando.
— Que forte... Há tanta diferença...?
— Você também é forte, mas por isso mesmo, deveria usar sua força de maneira mais inteligente. Em uma escola normal, a violência não é necessária. Mas às vezes, há estudantes que acabam em situações perigosas. Eu gostaria que você os protegesse. Em troca, prometo que levarei a Classe C a uma posição onde você possa aspirar à Classe A.
— Não vou acreditar tão facilmente.
— Está bem. Os resultados virão com o tempo.
Sem mostrar medo, Kitou me olhou com firmeza. Estendi a mão.
— Você não tem medo de que algum dia eu pegue sua mão e te arraste para baixo?
— Isso também poderia ser interessante.
Kitou assentiu levemente e pegou minha mão. Talvez, como primeiro passo para a Classe C, um encontro violento como este não fosse algo tão ruim.

Aos que buscam diálogo, oferecer diálogo.
Aos que buscam força, mostrar força.
Chegar até cada estudante da maneira mais adequada para eles é o ideal. Se for necessário para alcançar isso, estarei disposto a jogar o jogo deles em qualquer coisa.
*
Quando a jornada escolar terminou, Ayanokoji saiu da sala rapidamente. Ao ver isso, Morishita se levantou de seu assento e, sem hesitar, cravou com força um lápis tático no ombro esquerdo de Hashimoto, que estava absorto olhando para seu telefone. Mais do que um simples toque, foi quase uma facada.
Hashimoto, com expressão de dor, se virou para olhá-la. Morishita lançou-lhe um olhar para que a seguisse e se dirigiu ao corredor. Com um ligeiro atraso, pressionando seu ombro esquerdo com a mão direita, Hashimoto também saiu da sala.
— Ai, Morishita! Não chame a atenção assim de forma tão agressiva.
— Vou direto ao ponto. Saia comigo.
— Hã? — Hashimoto arregalou os olhos, esquecendo por um momento a dor. — Nossa, nossa, que ousada… Não imaginei que você gostasse de mim.
— Ah? Do que você está falando? Eu me referia a me acompanhar até a sala do conselho estudantil.
— Faltou o sujeito nessa frase, né?
— Se por algum momento você se iludiu achando que eu poderia ser sua namorada, ou pior, imaginando como seria minha roupa íntima ou meu corpo nu, só achei que seria uma boa oportunidade para colocar uma distância adequada entre nós, como colegas de classe.
— Por que você fala essas coisas tão rápido e sem filtro? Enfim, relaxa, não sou o seu tipo.
— Os homens são todos uns animais. Não vai usar o velho ditado "rejeitar o que está servido é uma vergonha para um homem" como desculpa, vai?
— Não, claro que não... Mas se você quer que eu te acompanhe, poderia pedir de uma forma mais educada. Aliás, por que eu? Não tenho nada a ver com o conselho estudantil.
Morishita claramente desconfiava de Hashimoto, até poderia-se dizer que o desprezava.
— Se não quer ir sozinha, peça para Ayanokoji.
— Ele foi embora tão rápido que nem teve tempo de ir ao banheiro.
— Ah, é? Então tente amanhã.
— Não é algo que eu possa esperar. Quero observar o estado de Suzune Horikita o quanto antes.
— Horikita? Por quê? — Pela primeira vez, Hashimoto mostrou um pouco de interesse nas ações de Morishita. Finalmente, a dor em seu ombro começava a diminuir.
— Depois do exame especial de ontem, a classe dela perdeu para a de Honami Ichinose. Quero ver como ela está.
— Sim, se você levasse Ayanokoji, o assunto da transferência monopolizaria a conversa. Mais do que o resultado do exame, isso seria o problema.
— Exatamente. Mas você, mesmo que um pouco, tem contato com Horikita e tem talento para arrancar informações com suas palavras e truques.
— Isso é um elogio?
— Claro. É sua especialidade como traidor.
— Não tenho planos, então acho que te acompanharei.
— Mas que fique claro que, por mais que compartilhemos tempo juntos, seu "parâmetro de afeto" por mim não vai aumentar nem um milímetro.
— Sim, sim, já entendi…
— Posso acompanhar vocês também? — Quando Morishita estava prestes a andar, uma voz as interrompeu de trás. Com um olhar afiado e curioso, Shiraishi falou.
— Shiraishi? Desde quando você estava aqui...?
— Vi vocês saírem escondidos e fiquei curiosa.
— Desculpe, mas você não foi convidada.
— Podem guardar seus segredos, mas ainda somos colegas de classe, certo? — Mesmo Morishita a rejeitando friamente, Shiraishi manteve uma atitude calma.
— Não quero ir com alguém em quem não confio.
— Ah, então Hashimoto é alguém em quem você confia?
— Claro que não. Mas é uma questão de grau, como a diferença entre a superfície e a parte de baixo de um assento de vaso sanitário.
— Posso assumir que sou a superfície? Embora, de qualquer forma, as duas partes sejam desagradáveis…
— Tanto Morishita quanto eu deixamos tudo nas mãos de Sakayanagi durante esses dois anos. Não é raro que queiramos agir pela classe de vez em quando, certo?
Shiraishi não parecia afetada pela comparação com um assento de vaso sanitário e respondeu com calma.
— Você tem um olhar bastante perspicaz. Que insolente.
— Vou tomar isso como um elogio.
— Tudo bem. Se encontrarmos Ayanokoji, vai ser um problema. Venha conosco imediatamente.
Morishita, agora acompanhada pela inesperada convidada Shiraishi, começou a se mover.
— Por certo, Shiraishi, ouvi dizer que você foi a um karaokê com Ayanokoji e alguns garotos.
— Sim. Achei que seria útil para fortalecer os laços dentro da classe.
— Não me surpreende que agora você esteja chamando garotos, mas… não estaria tentando algo com ele?
— E se eu estivesse? Não posso me divertir com Ayanokoji?
— Não digo que seja errado, mas te aviso: você só vai acabar machucada.
— Não me importo. Até isso parece divertido.
Depois de responder com sinceridade, Shiraishi continuou.
— De qualquer forma, Ayanokoji teve uma vitória impressionante, não foi?
— Sim. Não só venceu com facilidade, como também usou Ryūen para consolidar sua posição na classe de uma só vez. Um ajudante de luxo.
Hashimoto sorriu com diversão, mas Morishita, desviando o olhar para ele, murmurou.
— Isso me dá um pouco de medo, Masayoshi Hashimoto.
— Medo? Do que está falando?
— De Kiyotaka Ayanokoji.
— Isso não é bom? Não queremos que ele tenha pena de nós e nos trate com condescendência.
— Sim, mas não acha que ele é frio e calculista demais? Parece que nem sequer tem coração.
— Ele não é um robô, não exagere. Tem emoções, só não as demonstra com frequência.
— E se tudo isso for apenas uma fachada?
— O que está tentando dizer?
— Não me importa o que aconteça com você, mas fica o aviso: é apenas uma relação baseada em conveniência. Para ele, somos apenas ferramentas. Não se esqueça disso.
Morishita expressou sua opinião com um ar incomumente sério. Hashimoto engoliu em seco. Shiraishi, sem intervir, apenas escutava.
— Eu sei. Sempre lidei com os outros dessa forma e não vou mudar.
— Espero que não. Não se envolva demais.
— E você, não está interessada demais nele para alguém que sempre preferiu ficar sozinha?
Com um sorriso provocador, Hashimoto brincou com Morishita, que se dirigiu até a janela.
— Não me diga que… você gosta dele?
— Sim, ali estão as carpas que o vice-diretor sempre alimenta.
Shiraishi respondeu com total calma.
— Haha, bom ponto, Shiraishi. Não esperava que entrasse na minha brincadeira.
— Nada de especial.
— Bem, deixemos as bobagens de lado e vamos para o conselho estudantil.
Morishita começou a caminhar como se nada tivesse acontecido.
— Mas, Shiraishi… parece que você realmente está interessada em Ayanokoji.
— E não seria estranho se eu não estivesse? Um garoto que escolhe se transferir para uma classe inferior por vontade própria. Hábil e com uma voz encantadora.
— A voz dele? Bom, tanto faz. Só te aviso que ele é perigoso. Você vai se queimar.
— Por isso mesmo é interessante.
Pela primeira vez, Morishita mostrou uma expressão de desconcerto.
Quando espiaram pelo corredor que levava à sala do conselho estudantil, a porta se abriu bem naquele momento, fazendo com que Morishita, Hashimoto e Shiraishi se escondessem instintivamente no canto mais próximo.
Não estava claro se realmente era necessário se esconder, mas pode-se dizer que agiram por puro reflexo, como quem sente culpa por suas ações.
— Você realmente é uma trabalhadora incansável, Nanase — disse uma voz.
Enquanto se escondiam, espiaram em silêncio a presidente do conselho estudantil, Horikita, e Nanase, a secretária do segundo ano.
— Não é para tanto. Isso se deve às instruções precisas da presidente Horikita-senpai — respondeu Nanase com modéstia.
Embora suas palavras pudessem soar como uma bajulação irônica, Horikita não as interpretou dessa forma. O olhar e o comportamento genuínos de Nanase faziam com que sua fala parecesse uma avaliação sincera.
Nanase foi designada para a Classe D ao ingressar e, após um ano de luta, ainda permanecia na mesma classe. Felizmente, ainda não estavam em uma posição desesperadora em relação às classes superiores no quesito pontos, o que lhes dava uma pequena esperança.
No entanto, Horikita pensava que, com Housen como líder, seria difícil que as habilidades de Nanase fossem aproveitadas ao máximo. Na verdade, parecia que, se ela estivesse no comando, a classe poderia almejar resultados melhores.
Ainda assim, para uma estudante do terceiro ano como Horikita, fazer tal declaração seria problemático. Mesmo assim, não podia evitar sentir certa afinidade por Nanase, embora isso tornasse seu julgamento um tanto parcial.
— Nanase, você também aspira à Classe A?
— Sim, é claro. Gostaria de me formar na Classe A. Mas, sinceramente, acho que o mais importante é terminar minha vida escolar sem problemas.
— Porque acredita que conseguirá garantir seu futuro, seja nos estudos ou no trabalho, por seus próprios méritos?
De acordo com os dados da OAA, as notas de Nanase eram bastante boas. Seu comportamento também não tinha nada a se criticar. Parecia que, desde que não almejasse algo extremamente alto, poderia alcançar qualquer meta com facilidade.
— Não é exatamente por isso, mas... A propósito, poderia lhe perguntar algo sobre Ayanokoji-senpai?
As palavras de Nanase não surpreenderam Horikita. O fato de Ayanokoji ter mudado de classe era algo que interessava a qualquer um que o conhecesse, até mesmo os alunos dos anos inferiores.
— Não me importo, mas não tenho muito o que dizer. Ele mudou de classe sem me dizer nada.
— Sem avisá-la, Horikita-senpai? Isso deve ter sido muito doloroso para você.
— Não posso dizer que estou bem, nem mesmo fingindo força. Mas já aconteceu, e não há como mudar. A partir de agora, tudo o que posso fazer é seguir em frente aos poucos.
— Tem certeza disso?
— Claro.
Apesar da transferência de Ayanokoji e da derrota no exame especial, a expressão de Horikita era surpreendentemente leve.
— Se não se importar, gostaria de tomar um chá no Keyaki Mall depois?
— Poderia me encontrar um pouco mais tarde? Quero fazer uma ligação para falar com uma amiga.
— Tudo bem se eu for na frente? Se for rápido, posso esperar aqui.
— Os cafés costumam estar cheios a essa hora, então acho melhor você ir antes.
— Tem razão. Então, irei primeiro.
— Sim, Horikita-senpai. Nos vemos mais tarde.
— Sim, até logo.
Os três que estavam escondidos prenderam a respiração enquanto ouviam a conversa. Felizmente, Horikita desceu pela escada do lado oposto, então não veio na direção de Hashimoto e dos outros. Eles se sentiram aliviados.
Enquanto observava Horikita se afastar, Nanase tirou o celular do bolso. Parecia que ele já estava tocando quando o pegou, então atendeu imediatamente.

— Não deveríamos nos comunicar a menos que fosse estritamente necessário. Esse não era o acordo, Tsukishiro-san?
Os três que estavam espionando não tinham interesse na ligação de Nanase, mas ao ouvir um nome familiar, trocaram olhares surpresos.
— Entendo. Continuarei com a vigilância de Ayanokoji-senpai por mais um ano, conforme o planejado. Mas o que me preocupa é, afinal, Kyō Ishigami. Como previsto originalmente, acho que ele não só possui uma grande curiosidade intelectual, como também desempenha um papel semelhante ao meu.
Nanase fez uma pausa antes de continuar.
— Além disso... um estudante do primeiro ano chamou minha atenção.
Seu tom ficou levemente mais sério.
— Não creio que tenha relação, mas... ele não interferiu, interferiu?
A conversa que estavam ouvindo não parecia, nem de longe, algo comum entre estudantes.
— Isso é... sim. Em caso de emergência...
Nanase tirou outro celular do bolso com a mão livre.
— Desculpe, surgiu um assunto urgente. Tenho que desligar.
Mesmo que a conversa parecesse que ainda continuaria, Nanase a encerrou de repente.
— Horikita-senpai? Aconteceu algo? ……… Ah, entendi. Certo. Então, estarei lá em dez minutos. Sim, sim. Com licença.
Nanase segurava um telefone em cada mão. Nesta escola, era proibido possuir mais de um celular. Os três que estavam espionando sentiram que haviam visto algo que não deviam e decidiram se retirar em silêncio. No entanto, esse pequeno movimento produziu um leve ruído. O corredor estava completamente silencioso.
Será que tinham sido descobertos ou não?
Diante daquela situação delicada, os três ficaram completamente imóveis. Se Nanase simplesmente continuasse andando na direção oposta, como Horikita fez, não haveria problema.
Era o que esperavam... mas, apenas alguns segundos depois...
— Senpai, o que fazem em um lugar como este?
Sem fazer o menor ruído, Nanase apareceu diante dos três, que estavam escondidos na esquina, e dirigiu a palavra a eles.
— Uh!
— Não, nós só... tínhamos um assunto com a Horikita, não é?
— Sim, acabamos de chegar. Tem algum problema com isso?
— Entendo. Horikita-senpai desceu pelo outro lado. Isso foi há mais ou menos um minuto, então, se se apressarem, ainda podem alcançá-la, Hashimoto-senpai, Morishita-senpai... e também Shiraishi-senpai.
Nanase disse os nomes dos três sem hesitar e sorriu.
— Então você sabe meu nome.
— Claro. Afinal, faço parte do conselho estudantil, então conheço todos os senpais.
Nanase observou Shiraishi como se estivesse avaliando-a, mas desviou o olhar após um momento, para não parecer suspeita.
— Bem, com sua licença, vou me retirar.
Fazendo uma reverência profunda, Nanase disse isso e desceu as escadas.
— Droga, quase me deu um treco. Suei frio.
— Espero que ela não tenha nos descoberto. Mas, além disso... ela estava com dois celulares.
— E, além do mais, esse Tsukishiro que ela mencionou... será o mesmo Tsukishiro? Que diabos está acontecendo com essa garota do segundo ano?
— Ela também mencionou o nome de Kiyotaka Ayanokoji... isso está me cheirando muito mal. Sinto que o sangue de detetive que corre em minhas veias está se ativando.
— Essa foi uma mentira descarada. Mas e agora? Vamos segui-la?
— Melhor não. Parece que ela é bem sensível a presenças.
Murmurando essas palavras, Shiraishi olhou para as escadas por onde Nanase havia desaparecido.
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